Ainda bem que aquele final de semana ainda não tinha terminado, era meio insano pensar que aconteceu aquilo tudo no reino em apenas um dia no mundo real, eu sei que o tempo é alterado, mas lá parecia uma eternidade um dia. Eu já estava terminando de me arrumar,então minha produção não foi nada demais, tratei de me vestir bem básica e ao mesmo tempo dentro do meu estilo, uma vez que achei que achei já tinha perdido por conta dos milhares vestidos do reino e da Jessi se entrometendo nas minhas roupas.

– Vamos? Uau, nem vou comentar de onde vem a revolta.

Era o Noah que apareceu no meu quarto provisório. Ele sorriu enquanto eu terminava de passar meu delineador e sorri com o que ele havia falado, eu o encarei de frente e peguei a minha bolsa enquanto nós descíamos para a garagem.

– Preparado para dar uns beijinhos no Paul na frente de todos hoje?

– Não me enche

Ele falou brincando enquanto entrava no carro comigo. Não demorou muito tempo, eu me certifiquei com o Noah de que o Bruce não iria, não estava afim de vê-lo aquela noite. Ao chegarmos no barzinho era um lugar bem aconchegante de verdade, tinham muitas pessoas rindo e foi quando meus olhos bateram na mesa onde estava John, Wendy e o Jensen. Eu caminhei apressadamente para eles e sorri.

– Nossa como senti saudade de vocês

– Fumou Sophie? Só ficamos um dia sem se ver - Era o John que falou irônico e eu ri por isso. O Jensen tratou de se levantar e me cumprimentar me dando um abraço caloroso até demais, era sempre brincadeira dele enquanto eu dava um tapa no seu ombro para me soltar.

– Mas não muda nada nem um dia em que eu fico fora.

– Claro minha gatinha, eu sei que estava com saudades de mim.

Eu ri e cumprimentei a Wendy que parecia mais feliz do que nunca com o John e foi quando me sentei ao lado do Noah e ele susurrou no meu ouvido

– Esses dois aí só vivem agarrados agora.

– Falando em agarrar cadê o Paul? - Eu falei alto e todos ficaram me olhando enquanto o Noah sorria e aos poucos a tensão foi se quebrando. No mesmo instante o Paul apareceu atrás de mim e eu sorri me levantando indo abraçá-lo.

– Ai estou feliz por vocês.

Ele permaneceu um pouco assustado pela minha reação tão afetiva, eu não era muito de ficar abraçando todo mundo, mas hoje eu estava.

– O que houve com a Sophie? - Paul olhou para todos da mesa.

– Ela fumou baseado hoje, só pode - John ainda insistiu na droga e eu ri por isso.

– Vamos celebrar o novo casal.

Eu falei enquanto pedia para o garçom algumas bebidas. Não demorando muito alguns canecos de Chopp vieram até a nossa mesa, nós brindamos e começamos a beber. Foi bem descontraído o momento, eu estava feliz por vê-los ali ao meu redor, porém faltava algo... faltava ele naquele meio e toda vez que eu pensava nisso um aperto no meu coração surgia. Nós conversamos sobre tanta coisa, era bom falar besteiras aleatórias, por um momento eu me desliguei e isso era muito revigorante. Eu já devia estar na minha terceira caneca de chopp quando ouvi alguém por trás cumprimentando todos da mesa. Era ele... Eu só fiz olhar para o Noah e a sua expressão foi de como: " eu não sabia''.

– E aee brow - O Jensen o cumprimentou enquanto ele falava com todos na mesa e pelo menos se sentou perto do Jensen e do Paul, me deixando um pouco longe, porém de frente para mim. Eu tentei agir o mais normal possível e evitei não o olhar, acho que isso fez com que algumas pessoas percebessem na mesa.

– Com licença eu preciso ir no banheiro

Eu falei sorrindo sem graça e caminhei. Assim que eu entrei eu me olhei no espelho, comecei a respirar fundo enquanto tentava me recompor, aquele aperto no coração era inevitável deixar de sentir, era um misto de sensações que eu queria esquecer.

– Você está bem?

Eu olhei para o lado e era a Wendy que estava um pouco serena enquanto se posicionava ao meu lado me olhando através do reflexo.

– Sim, eu acho que bebi demais e estava desacostumada.

– Tem certeza?

– Sim, porque não?

– Quando o Bruce chegou você ficou assim e você mal o olha.

– O que? Não Wendy, não foi nada demais, foi a bebida que me deixou assim.

– Tudo bem, se quiser conversar eu estou aqui tá?

A Wendy era simpática e certamente não só ela havia percebido isso, eu podia ver o John me olhando e o Jensen era o único desligado daquela história toda que continuava a fazer piadas. Eu respirei fundo e tentei voltar para a mesa. O banheiro dava acesso a um pequeno palco montado, onde uma banda local estava tocando.

– Olá, eu lembro de você. - Uma voz de um homem veio interromper o meu caminho de volta para a mesa.

– Você é a menina que cantou em um barzinho com a nossa banda, ainda te perguntei se queria seguir carreira. - Ele prosseguiu.

– Ah sim, me lembro agora. - Eu falei tentando ser simpática.

– Quer cantar algo essa noite?

– Não... obrigada

Eu o olhei sorrindo e assim que dei as costas eu senti um aperto ao olhar aquela mesa novamente onde ele estava um pouco quieto e sereno, foi a primeira vez que nossos olhares se cruzaram, aquilo me fez esquecer de respirar e virei as minhas costas voltando-me para o homem

– Eu quero sim... sabe essa música?

Eu sussurrei a música no ouvido e assim que ele comunicou aos músicos eu subi ao palco. Ninguém prestava atenção, era apenas mais uma música cantada por outra pessoa, eu percebi que ninguém daquela mesa notou a minha presença, exceto ele.

As batidas começaram, eu só quis fechar meus olhos, minhas duas mãos estavam apertando o microfone, me esqueci completamente que estava ali e abri meus lábios para inciar aquela música que honestamente era o que precisava, era um desabafo.

I'll wait for you there like a stone

I'll wait for you there alone, alone

Vou esperar por você lá, como uma pedra

Vou esperar por você lá, sozinho, sozinho

Minha voz saia sem ao menos eu medir a intensidade de cada verso, quando o solo da guitarra entrou eu não evitei uma lágrima vim ao meu rosto, por conta do meu cabelo foi imperceptível. Não era apenas pelo Bruce, era por tudo que eu estava vivendo. Era a morte dos meus pais, a mudança da minha vida para aquela cidade, as humilhações amorosas que sofri, o meu sequestro no reino, minha memória apagada, a raiva da Lilyh ser o Senhor dos seres malígnos, o quase beijo do Nathan, o beijo do Bruce, a Priscilla no seu quarto.... era tudo ao mesmo tempo, sentimentos que se confundiam e apenas me causavam dor naquele momento e quando retomei a cantar era um alívio que surgia, alívio não porque estava tudo esquecido, mas porque pude expressar de alguma forma. Os problemas ainda continuariam, mas "desabafar" eles, era uma forma de amenizar o que estava sentindo. Assim que terminei eu abri meus olhos, todos estavam quietos no bar e aplaudiram, eu não sei até de que forma eu atingi e até os músicos me cumprimentaram enquanto o vocal da banda sorria para mim.

– Eu já disse que você leva jeito não é? Deveria se juntar a banda.

– Um dia eu posso aceitar, mas por enquanto minha vida anda cheio de problemas e... não seria bom pra banda sabe?

– Tudo bem, como é seu nome?

– Sophie.

– Tudo bem Sophie, meu nome é Jason, no dia em que quiser aqui está meu número e meu cartão certo?

Eu peguei o cartão e sorri o agradecendo. Caminhei de volta para a mesa onde todos do bar me olhavam, era um pouco estranho ser o centro das atenções, no reino tudo bem eu estava me acostumando, mas no mundo real ainda era intenso.

– Sophie, você precisa investir nessa carreira, sério eu me arrepiei com sua voz

Noah falou enquanto sorria me olhando e eu voltava para o meu lugar e pegava o caneco de chopp e dava um gole intenso.

– Ele tem razão Sophie, foi linda e a música do Audioslave é demais - Wendy complementou sorrindo.

– Sophie é você?

Eu olhei para trás e eis a visão que tenho de um menino alto, seu cabelo era um loiro escuro porém não mais sobre a sua testa, ele estava completamente diferente, seus olhos esverdeados ainda continuavam vibrantes. Eu me levantei calmamente.

– Ryan?

– Sim.

Eu mal formulei alguma resposta senti seus braços envolta do meu corpo, certamente o Ryan estava mais forte agora, estava virando um baita de um homem, as suas feições de menininho estavam em mudança e até a sua voz estava mais grossa.

– Uau, você está diferente. Faz quanto tempo? 2 anos?

Ele me olhou enquanto me soltava lentamente e eu o encarava, seus olhos me analisavam percorriam pelo meu rosto, por mais tempo que a gente não tinha se visto eu sabia que aquele seu olhar era analisador.

– Você também está Sophie... está linda.

– O que faz aqui Ryan? - Eu o olhei curiosa.

– Eu me mudei para cá essa semana, meu pai foi transferido.

– Que mundo pequeno não? - Eu sorri o olhando e foi quando eu senti o Noah fazer algum barulho com a garganta, afinal todos queriam saber quem era ele.

– Gente esse é o Ryan, um amigo de Boston. Ryan, esses são Noah, Paul, Wendy, John e Bruce.

Ryan como sempre era simpático, ele sorriu e cumprimentou todo mundo da mesa, eu olhei para o Bruce e ele permanecia quieto sereno como sempre, era um pouco indecifrável saber o que ele estava pensando, porém não me prendi a aqueles pensamentos.

– Quando vi uma menina subir no palco me deixou em dúvidas se era você, mas quando começou a cantar eu não tive mais. - Ryan me olhou enquanto colocava seu braço envolta do meu ombro, era meio loucura aquilo, parecia que o tempo não tinha parado para nós dois, ele parecia o mesmo amigo de anos atrás e foi quando eu ouvi o Noah.

– Bom, vocês tem muito o que conversar claramente.

– Seu amigo está certo, temos mesmo muito o que conversar. Porque não vamos dar uma volta como nos velhos tempo?

Fiquei sem reação, eu olhava para a Wendy e ela sorria como se fosse um incentivo e o Noah balançando a cabeça como se me falasse " era tudo que você precisava", eu sentia isso, pelos olhares era uma conversa silenciosa. Concordei e saímos daquele bar,começamos a caminhar pelas ruas lado a lado até que encontramos uma pracinha ali perto e nos sentamos.

– E a Giulia? - Eu o olhei curiosa.

– Terminamos 2 meses depois que você foi embora. Ela era problemática e na verdade disse que eu mudei depois que você foi embora.

– Como assim?

– Nós éramos muito próximos Sophie, eu e você. Quando você partiu uma parte de mim se foi junto.

– Eu sei Ryan, também doeu bastante em mim, além de perder meus pais, perdi um grande amigo, um irmão...

Eu não sei de onde aquele irmão tinha saído, certamente naquela época não era isso que ele significava para mim, porém deixei claro até para que futuramente más surpresas não venham me assombrar.

– Qual é a do playboyzinho lá?

– O que? - Eu o olhei confusa, não sabia o que ele queria dizer.

– O tal de Bruce.

– Ah nada demais, ele é meu "primo".

– Se não fosse seu primo, diria que não gostou nenhum pouco de me ver ali.

– Porque fala isso?

– Pela forma como me olhou.

– Bobagem, o Bruce é daquele jeito mesmo.

– Se você está dizendo... é que conhece melhor do que eu.

– Certamente

Eu sorri enquanto o Ryan se aproximou mais do meu lado. Havia uma mecha que estava solta no meu rosto e ele fez questão de segurar e colocar atrás da minha orelha, aquilo me incomodou um pouco e foi quando fomos distraídos por uma buzina. Eu não me toquei que era para mim, por isso ainda continuei olhando para o Ryan e a buzina insistiu, eu olhei para o lado e era o Bruce no carro.

– Seu primo parece querer falar com você.

– Argh, vou lá ver o que ele quer, já volto.

Eu caminhei até o acostamento e o olhei um pouco ansioso segurando o voltante e me olhando, eu apenas me inclinei para olhar em seu rosto.

– O que quer?

– Preciso falar com você.

– Pode ser outra hora?

– Não, tem que ser agora.

– Bruce eu estou conversando com..

– Eu sei, com o seu amiguinho, entre logo no carro é sobre o reino.

Eu me estremeci em pensar o que poderia ter sido que aconteceu no reino, eu sei que Bruce falava sério.

– Tudo bem, espera aqui.

Eu caminhei apressadamente até o Ryan o olhando um pouco agoniada, talvez ele ainda me conhecesse bem, estava com aquele olhar analisador.

– Está tudo bem?

– Está sim, só que eu preciso ir com o Bruce agora resolver algumas coisas.

– Eu vou te ver novamente?

– Acho que sim - Eu sorri encostando meus lábios em sua bochecha apressadamente, assim que me afastei eu caminhei de volta para o carro, eu ouvi ele tentar falar alguma coisa

– Sophie onde você....

Assim que entrei no carro o Bruce acelerou, eu sei que talvez não tenha sido a melhor forma de mal ter encontrado alguém de anos me "despedir". Provavelmente encontraria o Ryan daqui há mais 2 anos talvez.

– O que houve?

Eu olhei para o Bruce um pouco ansiosa, aquilo certamente era algo sério pois ele estava apreensivo, sem demorar muito de falar ele pronunciou:

– Alguém do reino morreu.