O Sol Negro E A Lua Branca escrita por Gabby


Capítulo 27
Psicose


Notas iniciais do capítulo

NÃO reclamem da demora, porque a criatividade é minha e ela não vêm quando eu quero :P Muito obrigada à: Camila, Néphély, Firefly (não me interessa que cê mudou o nome, porque agora eu já me acostumei) e Byakuya. Recomendo cês ouvirem: https://www.youtube.com/watch?v=obdJakfyO6g



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“Ao nascer do céu noturno
Hoje à noite as bruxas
Povo selvagem e raça de Lilith
À espreita passeiam nos ventos ocultos.”

FAUN

Era fim de tarde e tudo estava muito laranja e amarelo lá fora. Era outono, época das folhas secas, alaranjadas e amarelas. O sol já estava baixo, quase sumindo no horizonte, proporcionando a singela luz. De cor laranja, é óbvio.

Neliel se surpreendeu com dois pontinhos que caminhavam lá embaixo, na grama amarelada. Na verdade, um destes pontinhos tinha cabelos de uma cor de laranja exuberante e muito vivo. Ela percebeu, pela silhueta do outro, que eram Orihime e Uryuu, caminhando.

Ela endireitou-se. Estava na biblioteca do castelo, sentada em uma poltrona perto da janela. Sem a família real dentro do castelo, o trabalho havia diminuído consideravelmente e os empregados estavam quase de folga. Nell passava o tempo observando lá fora, esperando Rukia ou Rangiku voltar, porque não tinha casa para voltar, vida pessoal para cuidar.

Neliel sentia muita saudade de Rangiku. Byakuya fora quem avisara para todos que ela havia fugido e deixado uma carta, mas não falara o motivo e muito menos deixara os empregados verem a carta —Nell não sabia ler, mas mesmo assim seria reconfortante. Matsumoto era uma moça muito aventureira, mas ela não os abandonaria assim, sem falar com ela pessoalmente. As duas eram muito amigas.

Ou talvez não. Pois, se realmente fossem, Rangiku falaria com Neliel antes de fugir para um lugar desconhecido.

Nell controlava as vozes, para serem mais baixas, como um ruído de fundo; no entanto, com esta súbita conclusão, ela foi invadida por sentimentos fortes, e não pôde mais controla-las. Os mortos berravam dentro de sua cabeça.

Ou talvez nem mortos fossem.

Nell já havia ouvido relatos de pessoas que ouviam vozes, que viam coisas que realmente não estavam ali. Parentes a enviavam para um manicômio e ela voltava de lá renovada, sem alucinações, completamente comum.

Nell preferia ser louca do que bruxa, pois já falaram na igreja que quem morria nunca mais voltava para este mundo, que subia ou descia, e quem assumia a identidade de mortos era o demônio.

Nell colocou a mão em sua cabeça, que doía como se alguém a martelasse, e pensou que seria bom pegar um pouco de água, talvez com açúcar — que a acalmava —, pois claramente suas alucinações estavam ligadas às suas emoções.

Cambaleou com certa dificuldade até a cozinha. Seu senso de equilíbrio não estava em seus melhores dias, porém ela conseguiu descer as escadas sem nenhum tombo.

Quando chegou a cozinha, Hirako Shinji estava cozinhando, em frente a uma grande panela de feijão. Ele havia preso o cabelo loiro para trás e, quando ele saudou Neliel, seu pequeno rabo de cavalo balançou. Se não fosse seu estado debilitante, ela riria.

Nell pegou um copo d’água e misturou com um pouco de açúcar. Bebeu e concentrou-se no sabor e também na sua respiração. Aos poucos, as vozes começaram a tornar-se um ruído de fundo suportável novamente.

—Está com raiva. —afirmou Shinji, sentando-se em uma cadeira da mesa, as pernas bem abertas. Ele olhou para ela de modo distraído, pegou um cigarro do bolso e o ascendeu. — De quem?

—De ninguém em especial. —Nell se sentou em uma cadeira também, observando a parede branca. Via a fumaça passar rala, suave, e enfim desaparecer. Virou-se subitamente para ele, fazendo barulho com a cadeira, que arrastou no chão. — Você já teve raiva de uma situação?

Ele inclinou a cabeça, o cigarro na mão levantada, quase na boca.

—Todo mundo tem raiva de uma certa situação, Nell. Percebi que anda estranha, talvez doente, mas percebo que já há pessoas demais perguntando sobre isso e a pressionando a responder. —Era verdade. Orihime, principalmente, estava bastante chata esses dias. A preocupação fazia isso com ela. A ruiva vivia perguntando como Nell estava, dava lições de saúde e chegara a proibir Neliel de fazer certas coisas. —Por isso, não vou perguntar.

— Agradeço muitíssimo, pois não tenho certeza do que está acontecendo comigo.

Hirako fez um aceno de mão.

—E quando temos certeza?

Ela sorriu para ele, grata, e em seguida mudou de assunto.

—O que acha de repolho para acompanhar o feijão? —ela sugeriu. — Não quero me gabar, mas sei fazer um repolho delicioso.

Shinji apagou o cigarro no cinzeiro da mesa.

—Parece bom.

—O que parece bom? —uma voz feminina indagou. Neliel pensou que fosse Rangiku, sempre curiosa e inesperada. Imaginou toda a cena em apenas um segundo: Neliel correria até Rangiku, a daria um abraço incontrolável e bem apertado, e depois Matsumoto se desculparia por tê-la abandonado. Nell não ficaria brava, é claro, apenas a acolheria e as duas cozinhariam juntas.

Mas era apenas Orihime, que se esgueirava na porta, os cabelos ruivos soltos. Ishida estava atrás dela, quase apagado.

—Neliel vai fazer salada de repolho. — respondeu Hirako, e em seguida se levantou, fazendo um ruído preguiçoso de esforço.

Uryuu sorriu para Neliel, mas Inoue ficou transtornada. Adentrou a cozinha totalmente e ficou lançando olhares desconfiados para todo o lugar, sempre voltando a olhar para Nell, e em seguida demorou o olhar no copo, com os restos de açúcar no fundo.

Orihime caminhou devagar até o copo e todos ficaram em silêncio. Ishida e Neliel trocaram olhares, preparando os ouvidos para um chilique. Ela colocou o copo bem perto do rosto, quase enfiando o olho dentro do recipiente.

Aparentemente não achou nada suspeito, pois colocou o copo no balcão novamente. Mas então, quando todos já soltavam o ar que prendiam, ela afirmou, com convicção:

— Neliel, você está doente. Precisa descansar.

— Estou é doente de tédio. — ela retrucou, assoprando um fiapo de cabelo que caía no seu rosto.

— Acho que deveria pegar um ar. —sugeriu Uryuu, com muito cuidado. — Sair um pouco pelos arredores, talvez ir a feira amanhã. Com a saída de Rangiku e o casamento da Princesa Rukia... — Ishida rapidamete alcançou uma cadeira e sentou-se, para assim poder conversar com Nell olho a olho. —Você tem passado por muitas coisas.

Nell apoiou a bochecha na mão.

— Eu sei que tenho. — resmungou.

— Então dê uma voltinha! —incentivou Orihime, sorrindo docemente para ela. Inoue também era uma querida amiga sua, justamente por ser sempre tão gentil e prestativa. —Ainda não anoiteceu e o povo dos arredores do castelo é muito decente. Não há perigo algum; isso só irá lhe fazer bem!

Pois nem Neliel nem Orihime sabiam que, quando nós não temos problemas reais, a mente inventa alguns para nós.

///

Não havia tantas pessoas quanto de dia, mas mesmo assim a rua não estava vazia. Havia uma boa parte da população, moradora do centro da cidade, zanzando por ali. Várias carruagens passavam pelas ruas, com a parcela mais rica do reino dentro delas, indo para o teatro. Neliel era apenas mais uma pessoa comum passeando no Centro, sem história, sem personalidade, com um rosto apagado. Apenas mais uma estranha para todos que andavam na rua. E isso foi reconfortante.

Na verdade, Neliel nem acreditava que dar um passeio pudesse ajudá-la; no entanto, tomar ar fresco foi realmente bom para ela. O ar frio pareceu invadir sua cabeça, refresca-la, congelar todos os demônios que viviam nela. Ela aspirou um pouco mais de ar, ponderando ficar na rua mais tempo que o previsto, talvez morar lá...

Ela quase tropeçou em uma pessoa caída no chão, mas por sorte voltou a prestar atenção na vida real antes que de fato o fizesse. Era um rapaz de cabelos pretos, barba de uns sete dias, deitado de lado, os joelhos dobrados, apertando a barriga.

—Olá? —chamou, um pouco preocupada. O garoto não respondeu, embora piscasse com os olhos negros.

As pessoas não observavam o rapaz caído no chão, nem o ajudavam, embora desviassem dele. Parecia se erguer uma espécie de campo de força em torno do garoto, que afastava as pessoas e o tornava invisível para todos —exceto Neliel.

Ela abaixou-se, para assim observar melhor o rapaz. Tinha cílios bem longos e uma falha bem no começo de uma das sobrancelhas. Era bonito. E parecia vagamente familiar.

— O senhor precisa de ajuda?

Ele levantou-se com certa dificuldade, gemendo e rangendo. A mão ficava grudada em sua barriga, escondendo algo, mas Nell pôde ver um pequeníssimo filete de sangue escorrer de sua mão.

— Meu nome é Anthony. — ele disse e estendeu uma das mãos, a que estava suja de sangue, para Neliel. Com receio, ela a apertou, e sujou sua mão de vermelho também. Anthony colocou sua mão na barriga novamente e trocou o peso de um pé para o outro, cambaleando só um pouquinho. Ficava olhando-a bem nos fundos dos olhos, e Nell teve medo de que ele visse mais do que devia do seu interior, da sua alma. — Fui atacado.

Nell juntou as sobrancelhas.

— Atacado? Mas por quem?

Neliel teve a impressão de que ele realmente iria responder, porém Anthony inflou o nariz, ficou com os olhos bem alarmados, virou para trás e correu. Ela só foi perceber que o rapaz havia visto algo atrás dela quando viu um vulto, correndo muito rápido, que a derrubou no chão.

As pessoas começaram a olha-a, mas Neliel não ligou. Se levantou rápido e correu na direção do vulto e de Anthony, esgueirando-se pelas ruas estreitas do reino Kuchiki, desaparecendo no escuro, se entregando a loucura.

Ela nem mais sabia aonde estava, as poucas casas pontilhadas pela cidade estavam escuras e não havia ninguém na rua. O tempo havia passado rápido demais, e ela estava perdida no reino em que vivera a maior parte da vida, sem nunca ter realmente o explorado.

Acabou se distraindo e, no escuro, não viu de onde veio a pancada. Ela cambaleou, com a mão na cabeça, que doía e latejava, e sentiu o rosto metálico de sangue na boca.

Sua visão estava prejudicada, com alguns pontos escuros, mas ela conseguiu ver claramente um homem de meia idade, carregando um bastão. Tinha um nariz grande que parecia uma batata e olhos bem miúdos. Ela não o conhecia, mas mesmo assim o homem usou um tom agressivo ao gritar:

— Onde está o desgraçado do Anthony?! —ele ergueu o bastão, ameaçando bater nela de novo. — Vamos, responda! Não tenha consideração com aquele traidor, pois ele não hesitaria em te vender como escrava na primeira chance que tivesse!

O homem se engasgou e caiu, da sua ferida vertendo muito sangue. Anthony estava atrás dele, com uma faca, mas uma expressão muito assustada no olhar. Neliel gritou alto, porém Anthony se adiantou, pulando por cima do homem, largou a faca, e tampou a boca dela com as mãos brancas, frias e de dedos finos.

— Não acorde mais mortos. — sussurrou Anthony, depois gritou. O homem, ainda caído, havia esfaqueado sua panturrilha com a faca que ele largara no chão.

Anthony chutou o homem, depois deu alguns saltinhos e se afastou, correndo como pôde. Neliel olhou para ele, suplicando que isto fosse apenas um sonho.

Mas não era.

Quando Neliel olhou para o chão, o homem não estava mais lá. Pois estava já levantado, segurando a faca e correndo até Anthony, que mancava e não parava de olhar para trás, de modo apavorado.

Neliel pegou rapidamente o bastão, lidando até bem com o peso, e correu até onde estava o homem, acertando-lhe a nuca. Foi horrível o som do taco batendo no homem e igualmente horrível quando ele caiu no chão, duro.

Neliel olhou para Anthony, que observava a cena, espantado, e logo depois olhou para o homem no chão, desacordado e talvez morto.

Anthony abriu um sorriso e levantou a mão de Neliel até a altura de seu peito.

— Muito obrigada, senhorita! Salvou-me de muita dor. — pulou o corpo do homem, com uma indiferença que beirava a casualidade. Ficava olhando bastante para Neliel, com os olhos negros sorridentes. Puxou-lhe a mão, não a largando quando acelerou o passo. — Precisamos ir antes que ele acorde.

Neliel estava surpresa demais para fazer algo, se não deixa-lo puxa-la para o escuro, para um rumo que nem mesmo Anthony sabia.

///

Neliel via vultos brancos enquanto corria pelas ruas já desertas. As vezes tinha vislumbres de rostos humanos, de máscaras, ouvia sussurros, música, o farfalhar de tecido; sentia cheiro de ervas, de perfume e de putrefação. No entanto, Anthony não deixava que ela parasse para ver exatamente o que era aquilo. O rapaz corria muito rápido e a arrastava junto, e nem parecia á Neliel que ele ainda mancava.

— Você não está mais mancando. — observou ela, em voz alta.

— Minha perna dói, porém eu já não tenho mais tempo nem condição para mancar. Este tipo de capricho é para os ricos. — ele falou, e em seguida entrou em uma rua qualquer. — Qual é o seu nome?

— De quem estamos fugindo, Anthony? — indagou ela, ignorando a pergunta do rapaz propositalmente. — Quem são essas pessoas?

— São... são... — ele estalou a língua, incomodado, depois diminuiu o passo e ficou balançando a cabeça. — Argh! Gente morta, eles estão todos mortos!

Neliel parou e puxou a sua mão, a desgrudando da de Anthony e fazendo o rapaz se desequilibrar.

— O quê?

Anthony, de costas para ela, virou a cabeça.

— Eles. Estão. Mortos. — repetiu, muito vagarosamente. — É Halloween; os mortos voltam.

Nell balançou a cabeça e fechou os olhos, convencida de que isto era um delírio. Tentou encontrar uma maneira de sair dele, mas no final não conseguiu pensar em nada.

— E por que os mortos estão te seguindo? — questionou, rendendo- se a situação.

— Porque são mortos e querem matar alguém, sei lá! — retrucou Anthony. — Não há motivos; eles estão com raiva por terem morrido e precisam descontar em alguém. São completamente insanos! — Anthony riu um tiquinho, depois parou e ficou olhando para Nell com atenção. — Agora, qual é o seu nome?

— É Nell. — ela respondeu, um pouco contrariada. — Por que você não para de ficar me olhando nos olhos?

Ele inclinou a cabeça para o lado e sorriu.

— Acreditaria se eu disse que você tem belos olhos?

— Não.

— Então, pois bem, preciso me certificar de que você não está mentindo. E você também precisa.

Neliel não entendeu exatamente o que ele dissera, mas sabia que havia um vago sentido para isto. Abria a boca para pedir mais explicações, porém logo ouviu murmúrios e barulhos de passos.

— Merda! — fez Anthony, segurou forte o braço de Nell e a puxou, machucando-a um pouco.

Os dois correram pela rua estreita e fechada, que não estava muito bem-feita. Embora nela houvesse bastante casas, todas eram escuras e um pouco sujas. Havia ervas daninhas crescendo em seus quintais e nas extremidades da rua esburacada, em que uma carruagem nunca passaria.

Neliel respirava fundo, em grandes golfadas de ar, cansada da corrida e muito assustada. Ela transpirava, sua visão ainda não estava boa, as vozes haviam voltado junto com uma enxaqueca e nenhuma água com açúcar poderia silenciá-las.

A rua acabava em uma cerca alta feita de arame, o que contribuiu para o pânico da situação. Anthony agarrou a cerca e ficou a balançando. Neliel encostou-se na cerca e observou a multidão de mortos: pessoas usando farrapos, algumas ensangüentadas, outras usando máscaras brancas e sem traços. Havia desde crianças a idosos, gemendo em um tom inconsolável. Pareciam o coro de vozes que Neliel tinha na cabeça.

Escorregou pela cerca, ficando em cócora com o rosto grudado nos joelhos. Escondeu a cabeça com os braços de um modo protetor. Estava delirando. Não sabia o que era real nem o que era alucinação.

— Isto não é real... Isto não é real. — ela lamentou-se, chorando, repetindo em voz alta para si mesma a fim de sua mente finalmente se convencer.

— Pois é bem real sim. — Anthony falou, a cutucando delicadamente com o sapato de bico fino. — E eu achei uma saída.

Neliel ficou animada com isso e levantou-se rapidamente, olhando para Anthony e ignorando propositalmente a multidão de mortos, movendo-me de forma muito vagarosa. Ela questionou-se por um segundo se os mortos realmente queriam matá-la, pois não faziam movimento nenhum que fosse ameaçador. No entanto, querendo matá-la ou não, aqueles seres haviam tornado a vida de Neliel um Inferno e ela nunca os perdoaria.

Anthony apontou com o pé para um buraco na rede de arames, provavelmente feito com um canivete ou algum tipo de lâmina.

— Alguém deve ter feito. — comentou ele, logo depois se ajoelhou, levantou o arame e engatinhou para o outro lado.

Neliel dirigiu um último olhar para os fantasmas, que pareciam em súplica, abaixou-se e passou pela cerca. Estava na Floresta Proibida, mas nem ela nem Anthony sabiam que ela era proibida por um motivo real.

///

Não fazia nem dez minutos que estavam dentro dela quando a floresta começou a mostrar sinal de porque era proibida. Tentavam encontrar uma saída, talvez para o castelo Kuchiki, no entanto ouviram um barulho.

Anthony rapidamente abaixou-se, se escondendo em uma grande raiz de uma árvore muito velha. Neliel ficou em pé, alerta, tentando decifrar do que era aquele barulho e de onde ele vinha. A floresta era escura, silenciosa e sombria. Tinha árvores velhas, escuras e altas, e um solo negro e fértil coberto de folhas secas.

Ela ouviu novamente o som, uma espécie de canto, alguns passos descalços nas folhas secas. Sabia de onde vinha e decidiu explorar, pois nada poderia ser pior de que ficar amedrontada, catatônica, escondida em uma raiz de árvore em uma floresta escura e assustadora.

Levantou Anthony, o segurando forte pelo braço. O rapaz murmurou um bocado, reclamando, mas no fim não fez nada mais do que resmungar.

Andaram apenas um pouco para contemplar uma clareira. E nela havia um círculo de pessoas nuas. Todas estavam de mãos dadas e dançavam em completa sincronia ao redor de uma caverna. Elas cantavam, absortas em suas almas e seu louvor, e não perceberam nem Anthony nem Neliel. Mas, mesmo assim, eles se esconderam atrás de uma árvore. Havia um pequeno altar, contendo uma adaga e um pote de madeira no meio do círculo.

Pois da caverna surgiu uma figura: uma mulher, usando um manto, com cabelos longos trançados. Eram negros como o céu noturno, e seus olhos eram brilhantes como as estrelas. Sorriu serenamente para seus seguidores.

— Rainha do povo fada! — uma mulher, de cabelos compridos castanhos, suspirou, destacando-se dos outros. Neliel notou várias velas dispostas ao redor da caverna, assim como pétalas de rosa e algumas ervas. — Venho pedir-lhe sabedoria para com o nosso povo. Ensina-nos a ser tão prósperos quanto as fadas.

Unohana ponderou, balançando a cabeça.

— Seguimos todos os ensinamentos do Povo Seelie! — argumentou a mulher. — Levamos os pecadores para a Floresta, para assim servirem de sacrifício. Nos ilumine com esta sua eterna sabedoria, com este teu sangue sagrado! — Ela pegou a adaga dourada do altar e a ergueu a cima da cabeça, mostrando-a a Unohana e a todos os seus seguidores.

Unohana sorriu e concordou com a cabeça, retirando o manto, revelando sua pele nua, pálida e macia — além, é claro, de belas asas transparentes, que fizeram com que Neliel arquejasse.

A Rainha desviou o olhar do povo e da adaga e dirigiu o olhar diretamente para onde Nell e Anthony se escondiam. Ela fechou os olhos e sorriu, de um modo assustador, e ordenou:

— Saiam agora desta árvore.

Neliel nem Anthony pareciam ter livre-arbítrio, pois acataram a ordem na mesma hora. Unohana parecia ter total controle das ações de ambos. O círculo de pessoas se virou, observando os dois com uma indiferença que beirava a crueldade, os olhos bem críticos.

— O que estão fazendo aí? — indagou Unohana, com os cílios longos escondendo a metade dos olhos.

Neliel engoliu em seco, mas Anthony disse, não aparentando medo algum, observando Unohana nos olhos:

— Estávamos apenas caminhando. — a casualidade com que disse isso foi uma afronta.

Ela ergueu uma sobrancelha, de modo rígido.

— Quando este sol nascer, você desaparecerá e migrará direto para o Inferno novamente.

— Eu sei disso. —respondeu Anthony, sem rodeios. Havia algo em seu olhar: encarava Unohana de igual para igual. — Por isso que eu não tenho medo de você. Não há nada que possa fazer para mim que os demônios não façam de um jeito mais doloroso.

Ele sorriu, expondo os dentes brancos, com caninos levemente afiados. Unohana irritou-se, pois não estava acostumada a lidar com alguém tão desrespeitoso onde morava.

Com um gesto de mão da Rainha, a camisa de Anthony foi rasgada e caiu no chão. Neliel arquejou quando viu o que estava entalhado em sua barriga: MENTIROSO. Flashbacks lhe invadiram a mente, de um sonho onde corpos eram pendurados e queimados, da vez em que ela colocou flores para estes falecidos.

AVARENTO

ORGULHOSA

GANANCIOSO

MENTIROSO

Anthony era o mentiroso e foi por isso que ele era vagamente familiar, foi por isso que ele sabia tanto dos mortos e foi por isso que ele iria para o Inferno novamente.

O choque foi tamanho que Neliel desmaiou.

///

Acordou com alguém a cutucando. Abriu os olhos, com as pálpebras tremendo e com a cabeça latejando.

— Anthony? — ela chamou, ainda sonolenta.

— “Anthony”? — indagou uma voz feminina. Era Orihime, abaixada para observar o rosto de Neliel. — Quem é Anthony?

Nell não respondeu, pois tentou se levantar. Se não fosse por Orihime e por Ishida, teria caído por causa da tontura. Eles a ajudaram e ela olhou em volta. Estava de manhã e feixes de luz passavam pela janela de seu quarto no castelo.

Aquilo teria sido apenas um sonho?

— Te procuramos por toda a parte, Neliel. — afirmou Ishida. — Te achamos atrás do castelo, perto da floresta, desmaiada. Como você foi parar ali?

Nell passou a mão na cabeça, desolada e cansada. Aquilo não havia sido um sonho. Poderia ser real ou era apenas um delírio?

— Resolvi deitar na grama e acabei pegando no sono. — ela mentiu.

— Hum. — Ishida emitiu, mas nem ele nem Inoue pareciam ter acreditado na sua justificativa. Porém, não falaram mais nada.


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Notas finais do capítulo

Eu NÃO consigo mais escrever capítulos pequenos, e olha que esse capítulo não foi tudo que eu imaginei, não... Mas espero que tenha agradado! Sugestões, críticas construtivas, elogios, tô aqui prontinha para responder um bocado de comentários! *-* Amanhã começa as minhas aulas, então gostaria de, se o primeiro dia de aula for um desastre, ter uns comentários para me animar!