A Bela e a Fera escrita por Acyd-chan


Capítulo 8
Capítulo 8




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Kagome terminou de supervisionar todas as tarefas domésticas, depois foi para cama. Deitada de costas, fechou os olhos e sentiu uma forte compaixão pelos pais. Disciplinar uma criança teimosa não era fácil. Uma mulher adulta encontrava dificuldades para impor sua vontade a um menino! Pensativa, sentiu que não estava mais sozinha. Quando abriu os olhos, viu Inuyasha se sentando na cama ao seu lado.

-# Ele é teimoso..... - murmurou o pai constrangido.

-# Sim.

-# E temperamental.

 

-# Oh, sim, certamente.

Inuyasha riu do tom enfático da resposta.

-# Bek criou dificuldades?

-# Algumas, mas se dedicou a cumprir a tarefa. Espero que ele compreenda que o trabalho é difícil e sinta um pouco de piedade por aquelas criadas que se responsabilizam pela lavagem das roupas.

 

-# Sim. Essa é uma lição que ele precisa aprender. Ele não teve quem o ensinasse. Não com a vida que levou até agora.

-# Eu sei. Por isso me limitei a censurá-lo de maneira tão branda na primeira vez. Mas ele precisa aprender. E tem de aprender do início.

-# Sim, e você precisa de um tempo longe de tudo isso. - Ele se levantou e a puxou pela mão, indicando que devia acompanhá-lo.

-# Eu preciso, não é?

-# Sim, precisa. Tem trabalhado duro desde que chegamos aqui. Primeiro cuidou de mim até a ferida fechar, depois se dedicou à supervisão das tarefas domésticas. E agora ainda tem de medir forças com um menino teimoso. Sim, precisa se afastar por um tempo. - Ele a levou para fora do quarto.

-# E para onde fugirei?

-# Para um recanto muito sossegado que encontrei cavalgando pela propriedade.

Ela não fez mais perguntas, porque já se aproximavam do estábulo. Inuyasha havia mandado ensilar apenas um cavalo. Ele a acomodou na frente do corpo e juntos deixaram a área protegida da propriedade. Inuyasha recusou a oferta da escolta. Kagome mantinha os olhos voltados para a terra diante dela. Cansada da jornada, ela pouco notou quando chegaram, e ainda não havia tido oportunidade para explorar a área além das muralhas.

O local onde pararam a deixou momentaneamente sem fala pela beleza. Irrigado pelo mesmo riacho que cortava Riverfall, a área era verde e exuberante. Havia flores em abundância. A água corria pelo leito rochoso entoando uma canção envolvente. Kagome se aproximou do riacho e molhou os dedos na água fresca.

-# É tão gelada quanto parece – ela murmurou, secando a mão na saia.

Sentando com as costas apoiadas contra um tronco de árvore, Inuyasha assentiu:

-# Ela recebe pouca luz do sol.

-# Uma pena. Parece convidativa. - Ela foi se sentar ao lado do marido e riu quando ele a tomou nos braços. - É tão tranqüilo aqui.... Quando encontrou esse paraíso?

-# Quando percorria as fronteiras da propriedade.

-# A terra é boa?

-# Parte dela, sim. Não vai nos fazer ricos a ponto de nunca termos de contar nossas moedas, mas também não vai nos empobrecer.

-# É boa o bastante, então.

-# Sim. - Inuyasha a beijou demoradamente. Quando encerrou o beijo, ele disse: - Posso falar com Bek, se quiser.

-# Não. Acho que será melhor se eu cuidar disso sozinha.

 

-# Sim, eu também penso assim, mas quis fazer a oferta. Creio que as coisas mudaram depressa demais para o menino. Ele perde o controle sobre seu temperamento com mais freqüência que antes.

Kagome segurou as mãos dele.

-# Ele vai se aquietar. Deve estar com medo de você deixá-lo de lado. Logo perceberá que seu lugar está assegurado. Suspeito de que ele também não esteja habituado a cumprir ordens de uma mulher.

 

-# É verdade. Ele tem vivido em um mundo de homens...... - Inuyasha franziu a testa ao perceber que o cavalo se agitava repentinamente.

Sentindo a súbita tensão no marido, Kagome perguntou:

-# Algum problema?

-# Não sei. - Colocando-a no chão a seu lado, ele tocou a espada. - Alguma coisa perturbou o cavalo.

Kagome começava a se levantar cautelosa quando uma flecha cortou o ar. Ela gritou aterrorizava ao ver que a ponta afiada encontrava o tronco da árvore e prendia o braço de seu marido. Quando fez menção de ajudá-lo, Inuyasha usou a mão livre para fazê-la parar. Praguejando vigorosamente, ele usou a adaga para cortar o tecido da manga da casaca e libertar-se. A flecha não causara nenhum ferimento. Mas era um alvo perigosamente fácil. Ele ainda terminava de se libertar, quando outra flecha zuniu no ar e se cravando no tronco da árvore, agitando seus cabelos.

Livre, Inuyasha segurou a mão de Kagome e correu para montaria. Ele parou furioso ao ver que o animal era atingido por uma flecha. Virando-se rapidamente, correu para o bosque, buscando a proteção das árvores e da penumbra.

Identificando um bom esconderijo, fez Kagome se abaixar e se ajoelhou ao lado dela. O inimigo teria de caçá-lo, expondo-se nessa busca. Essa era uma pequena vantagem da qual pretendia tirar grande proveito. Certificando-se de que Kagome estava bem controlada, embora um pouco ofegante, ele estudou a área que os cercava.

Kagome tentava se manter quieta enquanto respirava profundamente, buscando recuperar um mínimo de tranqüilidade. Inuyasha não estava ferido. Seu marido era um homem de muita sorte. Mais do que qualquer outro que já havia conhecido. Esperava que essa tendência se mantivesse. Sabia que precisariam de uma carroça transbordando de sorte para poderem escapar ilesos.

Ela ouviu alguém se aproximar e sentiu que Inuyasha ficou tenso, os olhos buscando a origem do som. O breve toque do dedo indicador em seus lábios nem era necessário, porque sabia que devia ficar quieta. Conhecia o valor do silêncio em situações como essa. Movendo-se o mínimo necessário, olhou na mesma direção em que Inuyasha olhava e viu três homens caminhando cautelosos na direção em que eles estavam. Sabiam que eles haviam sido enviados por Hojo para matar Inuyasha.

-# Acho que isso não é muito inteligente – resmungou um deles. - Ele pode estar escondido em uma infinidade de buracos no meio de tantas árvores.

-# Quieto, cachorro covarde. Ele é só um homem, e ainda tem de proteger a mulher. Vamos nos separar aqui – decidiu o mais alto dos três. Ele olhou para o mais hesitante - Você vai na frente. Eu vou pela direita. Vamos pegar esse pássaro.

-# Eu acho.....

-# Nada. Você não e pago para pensar. Encontre-o e ache também aquela maldita mulher. - O líder seguiu pela direita.

Um sorriso frio surgiu no rosto de Inuyasha, e Kagome estremeceu ao vê-lo. Ali estava o homem que conquistara o apelido de Diabo Branco. Cercada por proteção e segurança nos outros confrontos, nunca o vira realmente nessas circunstâncias. Sabia que logo veria a morte, e precisava endurecer o coração . Esses homens planejavam matar Inuyasha. Misericórdia seria um erro fatal.

Mesmo reconhecendo que aquela era uma atitude necessária, Kagome ficou chocada com o que viu. Ele era veloz e ágil. Considerando o seu tamanho, o movimento foi ainda mais surpreendente. Inuyasha esperou até que o homem estivesse diante deles. Então atacou. Com um salto impressionante, cobriu a boca do atacante com uma das mãos e o puxou para trás. O desconhecido ainda levantava os braços para tentar se safar quando teve o coração perfurado pela lâmina da adaga. Kagome ecoou o espasmo sufocado que brotou do corpo que caía.

Inuyasha não esperou que ela reagisse realmente ao que acabara de ver. Ele soltou o corpo e a amparou com um braço. Tentando respirar com alguma normalidade enquanto a levava para outro esconderijo, ele a impedia de protestar ou fazer perguntas. Kagome sufocava o grito de terror, lembrando-se de que lutavam pela sobrevivência. Inuyasha a jogou entre os arbustos altos e abaixou-se a seu lado. Alguém se aproximava. Ele se levantou de um salo para interceptar outro atacante.

 

Kagome desviou os olhos. Preferia não ver quando o marido pusesse fim a mais essa ameaça. Resignada e entorpecida, ela se sentiu arrastar novamente, como se fosse uma bagagem qualquer, até ser depositada em um novo esconderijo. Para seu desespero, o último inimigo não morreu tão rapidamente nem tão silenciosamente. Inuyasha precisava de respostas, por isso o enfrentou com a espada preparada e apontada para seu peito. Ele obteve todas as informações de que precisava antes de pôr fim à vida do homem.

O homem revelou que eram apenas três atacantes, por isso sabiam que agora estavam seguros. Portanto, foi sem nenhuma surpresa que ela se sentiu arrastada pela mão, dessa vez para fora do bosque. Inuyasha depositou-a sobra a relva macia cercada por arbustos que posicionavam proteção e alguma sombra, Kagome o viu usar a barra da túnica para limpar a espada e depois cortá-la, jogando-a para o lado.

Recuperada de tudo que acabara de ver e sentir, ela se preparava para fazer algumas reclamações, quando o marido a encarou. As palavras morreram em sua garganta ao ver a expressão dele. O desejo escurecia seus olhos e endurecia seus traços. Ela sentiu uma resposta imediata. Decidindo deixar as queixas para mais tarde, abriu os braços e riu ao vê-lo praticamente mergulhar neles.

O ato sexual foi rápido, selvagem, atribulado. Kagome se sentia tomada pela ferocidade do encontro. Só quando estavam já saciados nos braços um do outro, ela percebeu que se deixara possuir deitada na relva como uma camponesa qualquer. Nem haviam se despido. Tinha as saias erguidas até a cintura, e Inuyasha ainda estava com a calça presa aos tornozelos. Quando o marido revelou o próprio constrangimento levantando-se para erguer a calça, ela riu.

Aliviado, ele a viu se arrumar sem pressa.

-# Machuquei você?

-# Não, embora deve encontrar alguns hematomas em pontos estratégicos.

Ele a abraçou e beijou.

-# Tê-la por perto quando ainda tinha o sangue quente da batalha foi uma tentação irresistível.

Lembrando o que havia aquecido seu sangue, ela ficou repentinamente séria.

 

-# Acha que pecamos por nos termos entregado à paixão depois de.... depois de tudo?

-# Não. Eles queriam nos matar, Kagome.

-# Eu sei. Sei que tinha de agir como agiu. Ser misericordioso teria sido seu fim. Mesmo assim, sentir esse desejo tão intenso quando há três homens mortos...... Não sinto que tenha feito algo de errado, mas parece tão insensível!

 

Aliviado por ela não estar arrependida e por ter sentido prazer em sua companhia, Inuyasha tentou explicar sentimentos que eram muito familiares para ele.

-# Talvez. Sempre pensei algo muito parecido. A luxúria não me domina no meio da batalha. Não sou tão cruel a ponto de me inflamar por derramar o sangue de um homem.

-# Enquanto se vê cercado pela morte e por mortos, ainda vive.

-# Sim. - Ele a olhou demostrando apreciação por sua percepção. - É nesse momento que surge a necessidade. Olho em volta, e sei que sobrevivi para outro dia....- Ele encolheu os ombros, incapaz de descrever claramente o que sentia.

-# Então, procura provas mais concretas de seu bem estar – ela deduziu. - É uma celebração?

-# Talvez. Você não lutou essa batalha, mas se viu envolvida nela. Talvez tenha acontecido a mesma coisa com você.

-# Pode ser. Acho que tudo isso teve muito a ver com como você me segurou.

-# É mesmo? - Não devia deixar a admissão de Kagome subir-lhe a cabeça.

 

-# Sim. Realmente. Todo aquele ardor..... Senti como se o fogo brotasse de seu corpo e queimasse o meu.

-# Vou tentar me lembrar disso.

-# Oh, então devo ser mais cuidadosa?

-# Não, para poder descobrir exatamente o que a inflama tanto, depois praticar bastante.

-# Pode ser difícil.... - ela murmurou, sorrindo.

Inuyasha riu, mas interrompeu a gargalhada de repente e olhou em volta, ouvindo com atenção.

-# Cavaleiros.

-# Deus não permita! Mais assassinos contratados? - Ela se encolheu entre os arbustos.

Recolhendo rapidamente a túnica e a espada, Inuyasha se abaixou na frente dela, olhando na direção de onde viera o som.

-# Se Hojo tivesse mais homens por aqui, eles já teriam atacado. A chance de me matar seria muito maior. De qualquer maneira, é melhor agirmos com cuidado. Há outros com quem devemos nos preocupar.

Kagome teve a impressão de que horas se passaram até os cavaleiros surgirem. Ela quase desfaleceu de alívio ao reconhecer Miroku na frente do pequeno grupo. O medo que havia sentido era tão intenso, que demorou um pouco para levantar-se e cumprimentar os homens, como Inuyasha fazia.

-# Não disse que desejava ficar sozinho? - ele disparou, embora sorrisse.

-# Sim, eu me lembro de alguma coisa nesse sentido – Miroku respondeu. - Porém, algo me chamou a atenção e nos fez pensar que poderia apreciar alguma companhia, afinal.

 

-# O que foi isso? - Inuyasha perguntou passado o braço em torno da esposa.

-# Takashi retornou da cidade contando uma história interessante. Estranhos foram vistos por lá nos últimos dias.

-# Quantos?

-# Seis, de acordo com o que nos contaram.

 

-# Bem, agora são três, então.

Miroku o encarou com os olhos cheios de curiosidade.

-# Está dizendo que não temos mais de nos preocupar com os outros três?

-# Se não quer deixá-los entregue à natureza, os corpos estão no bosque – disse Inuyasha.

-# Isso pouco me incomoda. Onde esta seu cavalo?

-# Morto. Precisamos de uma montaria. Você nos salvou de uma longa caminhada.

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Logo Kagome e o marido paravam diante do castelo em Riverfall, onde um mensageiro do rei esperava por eles. Kagome estava curiosa quando à mensagem, mas temia que fosse uma convocação.

Como cabia ao seu papel de esposa, ela se retirou e deixou Inuyasha lidar com o homem em total privacidade. Era claro que esse era um assunto de homens. Contendo o ímpeto de voltar ao salão e exigir informações que, em última análise, diziam respeito a sua vida, ela subiu a escada para ir se lavar e se recompor no quarto. Mais tarde acabaria sabendo de tudo, não tinha dívidas disso.

Depois do banho, usando um vestido limpo e exibindo os cabelos brilhantes e ainda úmidos, Kagome estranhou as batidas na porta de seus aposentos. Esperava não ter de resolver dificuldades domésticas agora, porque precisava de paz e sossego para refletir sobre os eventos daquela tarde. Foi com grande surpresa que viu Bek abrir a porta ao receber autorização para entrar.

 

-# Terminei de lavar os lençóis – ele disse.

 

-# Trabalho duro, não? - Kagome perguntou enquanto escovava os cabelos. Quando chegasse á idade adulta, Bek partiria muitos corações com aqueles olhos âmbares e profundos.

-# Muito.

Ela deixou a escova sobre o toucador e encarou o menino.

-# E mesmo assim, fez Janet repeti-lo por dois dias consecutivos.

-# Sim. - Ele baixou os olhos. - Isso não foi correto.

 

-# Perceber seu erro é o primeiro passo para tornar-se o melhor cavaleiro da Inglaterra. - Ela sorriu para o menino, depois ficou séria novamente. - As coisas não são mais como antes, nos tempos de meu pai. Naquela época era apropriado tratar bem os servos e o povo de modo geral, mas agora, depois da peste, esse cuidado tornou-se ainda mais importante. Temos sorte por contarmos com os braços necessários aqui em Riverfall para realizar todo o trabalho – ela comentou séria. - Está entendendo o que eu digo? Não quero que pense que deve demonstrar consideração só para manter os servos trabalhando.

-# Eu sei. Devo agir assim porque essa é a atitude correta. Fui cruel com Janet, e crueldade e sempre condenável. Mas eu estava zangado.

-# Eu percebi. Todos nós ficamos zangados de vez em quando. Bek. Já viu seu pai ficar furioso.

-# Mas ele nunca comete uma crueldade.

-# Não que eu tenha visto, e isso é algo que conferiu a ele muito respeito. E você, Bek, acaba de me mostrar que tem a mesma qualidade. -Ela conteve o sorriso ao ver que o menino inchava o peito com orgulho.

-# Serei um cavaleiro tão valoroso quanto meu pai.

-# Não tenho dúvidas disso. E provavelmente será tão grande quanto ele. - Podia antever também esse detalhe, porque Bek já era alto demais para a idade.

-# Acha mesmo?

-# Bem, vai ser mais alto do que eu, é certo.

 

 

 

Inuyasha bebeu mais um gole de cerveja, olhando para o mensageiro do rei com evidente contrariedade. O rei estava no Oeste se preparando para enfrentar rebeldes e ladões. E requisitava sua presença na corte. Ainda devia ao rei quarenta dias de serviço. Era claro que a dívida era cobrada.

-# Vamos, não precisa ficar tão taciturno – Miroku manifestou-se.

 

-# Tenho meus problemas para resolver. Essa é um péssimo momento para ser chamado a solucionar dificuldades de nosso soberano.

-# Talvez não.

 

-# Em que está pensando?

 

-# Bem, duvido que Hojo e o tio se atrevam a atacar enquanto você estiver na corte.

 

-# Mas ele pode aproveitar minha ausência para atacar Kagome.

 

Inuyasha franziu a testa.

-# Não pretende levá-la? Não seria mais seguro mantê-la a seu lado?

 

-# Você acha que seria? Sabe como é a corte.......

-# Sim.... E Kikyou vai estar lá.

 

-# Tenho de pensar nisso, embora não me referisse a ela. Estava pensando em todos aqueles homens bem-vestidos pulando de cama em cama como pavões exibicionistas.

Miroku balançou a cabeça.

 

-# E é claro que eles vão se exibir na sua cama. E Kagome vai permitir. Sendo você como é, porque seria diferente?

-# Miroku – Inuyasha tentou silenciá-lo, irritado com o tom sarcástico.

 

-# Continua denegrindo o nome dela sem causa. Pois marque minhas palavras, meu amiga. Kagome não é tola. Logo ela vai deduzir seus pensamentos, se é que já não o fez. Quando perceber o quanto você pensa mal dela, como desconfia de sua conduta, talvez faça exatamente aquilo que você teme e espera. Já que a condena sem causa, ela pode lhe dar esse motivo.

 

-# Ah, entendo. A culpa será minha? Eu mesmo porei chifres em minha testa?

 

-# Sim, Inuyasha, se continuar esperando por eles, eles virão. - Miroku bebeu o que restava de sua cerveja e se levantou da mesa no salão.

 

Inuyasha também esvaziou sua caneca. O que mais o aborrecia era poder detectar a verdade nas palavras de Miroku. Quando se esperava pelo pior, o pior acontecia. Sabia disso. Infelizmente, também sabia que muitas mulheres como Kagome acabavam fazendo exatamente o que se esperava dela. Vira acontecer. Estava condenado. Cortejava o desastre, fosse por ter uma esposa bela e atraente como Kagome.

Desanimado, ele se recolheu aos seus aposentos. Podia levar a esposa à corte com ele. Talvez estivesse abrindo espaço para mais problemas, mas precisava pensar na segurança dela.

Quando entrou no quarto, ele encontrou kagome e Bek rindo. Vendo a esposa feliz, formando um elo com o seu filho, podia quase acreditar que o idílio dos últimos meses poderia perdurar. Queria acreditar nisso, mas parte dele se agarrava ao medo da traição, do deboche e da humilhação que havia conhecido no passado.

 

-# O mensageiro trouxe más notícias?

-# Inconvenientes, mas não exatamente ruins – ele respondeu. - Fomos chamados à corte.

-# Nós fomos? Você e eu?

 

-# Sim, você e eu. Partiremos em três dias.

 

 

 

-# Sango, como foi capaz de fazer isso comigo?

 

Sofrendo os efeitos de um ataque de espirros, Sando se sentou na cama e viu Kagome andando pelo aposento.

 

-# Acha que sofro assim por opção? - Ela pegou a caneca de caldo sobre a mesa de cabeceira e bebeu um gole para amenizar a dor na garganta.

 

Kagome suspirou e foi se sentar na beirada da cama da prima. A pobre Sango parecia estar muito mal, especialmente por causa do nariz vermelho e dos olhos inchados e lacrimejantes. As três mulheres que dividiam o quarto com ela haviam fugido, temerosas de contrair a enfermidade. Era egoismo sentir-se contrariada porque a prima não poderia acompanhá-la à corte.

-# Estou me comportando como uma tola insensível.

 

-# Não, Kagome, eu entendo. E gostaria muito de ir, embora não entenda sua aflição com à viagem.

 

-# Aquela mulher vai estar lá!

-# Lady Kikyou? A mãe de Bek?

 

-# Sim, ela.

 

-# Tem certeza?

 

-# Pelo pouco que Inuyasha me contou sobre ela.... sim. O fato de lady Kikyou freqüenta a corte foi a única razão pela qual ele me contou o pouco que revelou sobre ela.

 

-# Mas Inuyasha também disse que não tem nada a ver com essa mulher agora.

 

-# Sim, mas não disse que deixou de amá-la. Ele a evita, e essa é a resposta para sua questão. Para mim, isso indica que a tal mulher ainda pode ter poder sobre meu marido, ou ele não sentiria necessidade de se manter longe dela.

 

-# Bem.... se ele ainda se interessa pela megera, merece ser deixado nas garras do sofrimento. Mas espero que seus temores sejam infundados.

 

-# Eu também. - Kagome se levantou e surpreendeu ao encontrar Miroku na porta do quarto. - Sabe onde está meu marido?

-# Com o responsável pelas armaduras. Por isso vim visitar Sango antes de ir falar com ele sobre o que Takashi e eu descobrimos. Ela está melhor?

-# Está péssima, mas vai sobreviver. - Balançando a cabeça, ela saiu e deixou Miroku na companhia da pobre Sango. Precisava encontra o marido.

Ele saía do galpão das armaduras e sorriu satisfeito ao vê-la. Porém, mesmo diante do sorriso radiante, Kagome ainda sentia medo. A visita à corte deveria ser motivo de excitação e alegria, mas temia que ela custasse sua felicidade e seu casamento.

Talvez devesse confessar o amor que sentia por Inuyasha. Assim, ele teria mais um motivo para continuar evitando lady Kikyou e permanecer a seu lado. Porém, se ele não correspondesse ao sentimento, a relação seria composta apenas de culpa e obrigação, e isso era algo que não desejava. Era uma mulher orgulhosa. Se ele não soubesse o quanto era importante em sua vida, também não poderia saber como a magoaria se a deixasse para seguir Kikyou.

Caminhavam juntos de volta ao castelo fortificado.

-# Quanto tempo de viagem até a corte do rei?

 

-# Alguns poucos dias. Não mais do que isso. Não será uma viagem tão árdua quanto as outras que fizermos.

 

-# Quanto tempo passaremos lá?

 

Kagome parou no hall para instruir uma criada. Queriam vinho, pão e queijo no salão.

-# Receio que tenhamos pelo menos quarenta dias de obrigações – Inuyasha revelou enquanto se sentava à mesa.

-# Tanto assim? Estamos em guerra então!

-# Bem, não houve uma declaração oficial. Na verdade, o rei busca rebeldes e ladões, pois está farto dos constantes ataques e das ameaças veladas. Para caçar esses bandidos é preciso ter tempo e inteligencia, porque eles vivem escondidos em seus covis sombrios.

 

Ela assentiu, depois se virou para servir o vinho trazido pela criada. Já se preparava para retomar a conversa sobre a corte, quando Miroku e Takashi entraram no salão. Ela os serviu e esperou impaciente pelo relato sobre a busca pelos mercenários de Hojo.

-# Encontramos os outros três – Miroku anunciou.

 

-# E? - Inuyasha incentivou-o.

-# Eles nos enfrentaram , mas conseguimos obter mais informações sobre os planos de Naraku antes de mandarmos os miseráveis para o inferno.

-# Ele o quer morto – Takashi revelou sem rodeios.

-# Eu já imaginava - Inuyasha respondeu.

 

-# Acreditamos que Naraku está envolvido na morte de Sesshoumaru. E, pelo que ouvimos dos mercenários, ele planeja a sua morte há mais tempo do que podíamos imaginar.

-# Também já havia considerado essa possibilidade. Lembro-me agora de alguns incidentes que tinham a marca de um atentado. Não foram simples acidentes ou conseqüências de uma luta justa.

 

-# Sim, também me lembro de alguns – Miroku concordou.

-# Então.... - Kagome mal conseguia falar. - Naraku planeja que Hojo seja senhor de Saitun Manor? Ele certamente planejou essa ação desesperada, depois de Hojo ter estado tão próximo de obter a herança e perdê-la.

-# Suponho que sim. No entanto, se ele matou Sesshomaru.....

-# Pagará por isso – Inuyasha anunciou com firmeza – Descobriram alguma coisa sobre as intenções que esse miserável tem com Kagome? - Havia pensado em tirá-la do salão, mas decidira que seria melhor ela ter conhecimento do que a esperava, por pior que fosse a ameaça.

-# Oh, sim, isso ficou muito claro - Miroku respondeu. - Naraku quer que Kagome se casa com Hojo, aquele idiota fraco e dominado. Assim, ele asseguraria o poder sobre Saitun Manor e ainda teria também a propriedade onde agora estamos.

 

-# E ele espera que a família de Kagome aceite tudo sem se manifestar, sem reagir?

 

-# Naraku terá Kagome como refém. Ela será sua proteção.


-# Sim, seria. Os Higurashi se sentiriam de mãos atadas, pois temeriam prejudicá-la com uma ação precipitada. Estou certo? - Ele olhou para a esposa.

 

-# Inteiramente – ela confirmou. - Levaria algum tempo até que o desespero oa impelisse a agir.

 

-# Exatamente. Chegaria um momento em que eles pensariam não ter nada a perder. - Inuyasha balançou a cabeça. - Não sei como esse sujeito espera escapar com vida. No iníci, quando agia de forma sutil, talvez..... Mas agora ele me ataca abertamente. E teria de levar Kagome pela força bruta. Haveria um alerta.

-# Creio que ele se tornou refém dos próprios planos. - opinou Miroku. - Agora vai ter de ir até o fim, porque não há mais como parar. Naraku já se revelou como seu inimigo. E você vai estar sempre alerta, vigilante.

-# Sim, eu sei, mas... Tem certeza de que ele não pretende matar Kagome também?

-# Pelo menos, não por ora, mas isso não significa que ela não sofrerá prejuízo. Naraku precisa dela viva no início, mas não vai se importar se tiver de matá-la.

-# Sim, entendo. Bem.... preciso servir ao rei agora. Você tem razão, Miroku, ao sugerir que Naraku vai recuar enquanto estivermos na corte. Usaremos esse tempo para surpreendê-lo com algum plano.

-# Como? - Kagome quis saber.

-# Ainda não sei, mais vou pensar em alguma coisa. Estaremos seguros na corte, minha querida, e isso é o que importa.

Kagome deixou os homens e se retirou do salão, pensando nas palavras do marido. Não conseguia pensar na corte como um paraíso de segurança. Era verdade que nunca havia estado lá, mas ouvira rumores e conversas em quantidade suficiente para suspeitar de que a corte poderia oferecer muitos perigos. Intriga e traição eram comuns nos corredores do palácio. E certamente, esse seria o lugar perfeito para Naraku pôr em prática seus planos e esquemas.

 

Inuyasha sabia muito mais que ela sobre o mundo de maneira geral. Se acreditava que Naraku os deixaria em paz enquanto estivessem na corte, teria de confiar em seu julgamento.

Sango também confiava em Inuyasha e em seus comandantes, a julgar por sua reação depois de ouvir o relato da prima.

-# Naraku sofre da doença da ganância. Não e uma enfermidade rara, pelo que ouço dizer. Porém, é difícil compreender como o homem espera realizar todos esses males e escapar ileso. Ele deve ser um pouco desequilibrado, também – Sango concluiu tossindo.

 

-# Eu ficaria muito mais tranqüila se ele estivesse morto..... Que Deus me perdoe por isso.

-# Ele a perdoará. O homem quer matar seu marido e quer atentar também contra sua vida. É um alívio saber que Inuyasha é um lutador habilidoso.

-# Sim, ele é muito forte, corajoso e capaz, mas se o inimigo continuar atacando em grande numero, acabará por superá-lo. Temo pela vida de Inuyasha.

 

-# Você o ama.

 

-# Sim. Amo muito.

 

-# Então, acabou a confusão. E acho até que sei quando ela acabou. Quando seu marido foi ferido.

-# Sim, foi quando percebi. Agi como se ele houvesse perdido uma perna. - Ela riu. - Bem, pelo menos não desmaiei quando cuidava do ferimento, nem afoguei meu marido em lágrimas.

-# E o que ele disse quando confessou seus sentimentos?

 

-# Eu não contei.

-# Não? Por quê?

-# Preferi manter segredo por um tempo. Sei que ele não corresponde ao sentimento, e sei também que essa falta de retribuição vai me ferir profundamente. Prefiro evitar esse sofrimento. E você não pode me criticar por isso.

 

-# Não, mas acho que deve tomar cuidado. Não deixe esse medo criar raízes profundas, ou vai acabar guardando silêncio quando chegar a hora de falar.

-# Eu sei. Além do mais, tenho de considerar Kikyou.

-# O que lady kikyou tem a ver com sua decisão de revelar seus sentimentos a Inuyasha?

-# Muito. Pensei em falar com ele antes de irmos para a corte, antes de ele reencontrar essa mulher.

-# Seria uma boa decisão. Daria a ele força, caso seja necessária, para evitar essa mulher.

-# Sim, isso o faria ficar do meu lado, mesmo que ela tente atraí-lo. Mas será que ele também sente o mesmo por mim, ou algo parecido, pelo menos? E se, mesmo sabendo de meus sentimentos, ele for atrás dela? E se revelar meu amor a ela? Eu não suportaria essa humilhação.

-# Ah, orgulho.

-# Sim, orgulho. Não é a mais nobre das emoções, mas todos nós temos em alguma medida. O meu diz que devo esperar. Falar com Inuyasha não me trará nada de positivo. Não falar me poupará da dor. A dor de saber o quanto ele poderá me magoar se decidir voltar para seu antigo amor. Não revelar o que sinto me permitirá ao menos preservar um mínimo de dignidade diante da derrota. Posso fingir que não me importo, e ele jamais saberá da minha agonia.

-# Kagome, não acredito que Inuyasha voltará para lady Kikyou, uma mulher que o tratou tão mal. Não quando tem você. Ele não é idiota.

-# Os homens sempre podem ser tolos quando se relacionam com uma mulher, e nós duas sabemos disso. Ela não é só uma antigo amor, mas mãe do filho dele, também. Esse é um elo inegável e forte. Sei que deseja aplacar meus medos, mas considero sensato me apegar a alguns deles. Assim estarei alerta para problemas que poderão surgir.

-# Sim, talvez você esteja certa. Bek falou alguma coisa sobre a mãe? Ele deve saber que lady Kikyou estará na corte.

-# Oh, ele sabe, mas fala pouco sobre o assunto, e eu não quero pressioná-lo. Bek não parece estar incomodado com isso. E ele também não parece estar feliz, agitado ou ancioso. Talvez tenha aprendido a esconder as emoções. Se lady Kikyou o importunar ou magoar de alguma forma, eu terei de interferir. Se não, prefiro ficar fora disso.

 

-# Sensata, como sempre – Sango aprovou.

 

 

 

-# Mais seis homens mortos. - Hojo olhou com evidente nervosismo para o tio que, carrancudo, dividia a mesa com ele. - Essa sua campanha está nos custando caro de mais.

-# Ninguém pediu sua opinião – Naraku respondeu, olhando em volta pelo chalé que usavam como esconderijo. - Quer passar o resto da vida assim?

-# Podemos consertar as coisas com meu primo. Então, retornaríamos a Saintun Manor.

 

-# Você não raciocina? Há meses tentamos matar o homem! Acha mesmo que ele vai simplesmente esquecer tudo isso e nos receber como parentes e amigos? Ele vai nos arrancar a cabeça do pescoço, isso sim.

-# bem, não podemos alcançá-lo na corte, e agora se tornou difícil encontrar mais homens para a missão. Temos cada vez mais mortos e menos dinheiro. Não devíamos ter começado com isso. Não devíamos..... - Hojo se calou ao ser atingido por uma bofetada do tio.

 

-# Pare de choramingar! Ainda não perdemos.

Hojo abriu a boca para argumentar, mas desistiu. A cada fracasso, o tio tornava-se mais violento, e era aterrorizante pensar que havia atado seu destino ao de um louco. Amaldiçoava a fraqueza que o mantinha ligado ao irmão da mãe, obrigando-o a participar de planos que não aprovava. Sempre havia sentido ciúme de Sesshomaru e Inuyasha, mas nunca desejara mal a nenhum deles. Também não queria o mal de Kagome, mas começava a desconfiar de que o tio tinha planos nefastos também para ela. Odiava pensar que nem essa certeza dava a ele a força necessária para combatê-lo.

-# Inuyasha e sua meretriz.... - Naraku dizia.

 

-# Kagome não é uma meretriz.

O protesto rendeu a ele outra bofetada, mas Hojo manteve a declaração.

 

-# Eles estarão ocupados na corte. Isso pode nos beneficiar. Teremos tempo para tomar Saitun Manor.

 

-# E como manteremos a propriedade? Precisamos de mais homens do que temos agora.

-# Teremos mais homens e teremos Kagome. Ela será nosso escudo em caso de ataque.

-# Se pudermos capturá-la. Ela é mantida em total segurança.

 

-# Já pus esse plano em ação. Não será fácil, mas, se recuarmos um pouco, talvez relaxem a guarda. Temos tempo. Se tomarmos Saintun Manor, podemos até evitar que o Diabo Branco saiba da perda por algum tempo. Podemos usar a mulher dele para tomar o lugar.

 

-# Ele virá atrás dela.

-# É claro que sim. E eu o quero também. Vamos atraí-lo usando a mulher como isca e depois o mataremos.

 

-# E eu me casarei com Kagome?

Hojo observava atento as reações do tio.

-# O quê? Ah, sim, é claro. O casamento é necessário para assegurar o domínio sobre as terras. Terá sua bela esposa.

Por um tempo, Hojo ouviu as palavras que não foram ditas. Não conseguia entender o que o tio lucraria com a morte de Kagome, mas sentia que era essa sua intenção.

O plano de Naraku era como uma rede cheia de furos. Ele realmente pensava que os homens de Inuyasha se retirariam quando ele fosse morto? Acreditava que a família de Kagome não reagiria? Estariam cercados de inimigos poderosos! E seu tio não parecia pensar nisso.

 

 

Sentada na cama, Kagome abraçou os joelhos e ficou observando Inuyasha se preparar para dormir. Na manhã seguinte partiriam para a corte. Ela tentava se convencer de que a jornada não representaria o fim de seu casamento, mas o medo persistia. Tentando deixar os temores de lado, concentrou os pensamentos nos problemas que Hojo e o tio representavam.

-# Fez algum plano com relação a Hojo e Naraku? - perguntou.

 

-# Nada concreto. Conversamos muito, mas as possibilidades são inúmeras. Temos de escolher com cuidado.

-# Entendo. Vai falar com o rei sobre esse assunto?

-# Também discutimos essa possibilidade, mas não decidimos nada.

-# Por que não revelaria esse problema ao rei? Naraku é um criminoso. O rei não tem o direito de saber? Ao menos terá a sanção real para qualquer atitude que se veja abrigado a tomar.

-# Sim, isso me pouparia de ter de dar explicações posteriores. Mas estamos tratando de uma questão familiar, uma batalha entre paredes. Reluto em revelar toda essa situação. Creio que seria melhor se pudesse manter essas dificuldades no âmbito privado, familiar. Entende o que digo?

 

-# Oh, sim. Mas os parentes não são meus, por isso posso ver benefícios e dificuldades que você não enxerga.

-# O mesmo ocorre com Miroku e Takashi – ele respondeu, apagando todas as velas, exceto a que estava ao lado da cama. - Eles acham que devo contar tudo ao rei. - Inuyasha se deitou e tomou-a nos braços.

-# Não pode estar preocupado com o que vai acontecer com Naraku. É em Hojo que está pensando?

 

-# Sim. Custo a crer que ele esteja por trás disso tudo. Hojo e fraco, fácil de dominar, mas nunca foi cruel. Ele não é um assassino. Nunca teve estômago para lutar.

-# Mas ele e Naraku podem mandar que outros matem por eles.

 

-# É verdade. Posso estar confundido a criança que ele foi com o homem que se tornou. Um homem moldado e comandado por Naraku.

-# Pobre Hojo.

 

-# Pobre Hojo? - Ele riu. - Eu sou alvo da espada!

-# Eu sei, mas não consigo deixar de sentir pena dele. Não o conheci realmente. Mas tenho a sensação de que ele é refém de algo que não quer ou não pode parar. É errado, eu sei, mas nunca senti nenhuma maldade nele. Por mais que me esforce, não consigo imaginá-lo por trás disso.

 

-# É o que sinto. Mas parte de mim insiste em dizer que sou apenas um fraco, um tolo emotivo que fica cego para razão. O resultado é a duvida, e esse não é um sentimento favorável para um homem que se vê na iminência de uma batalha.

-# Em resumo, não quer ter nas mãos o sangue de Hojo.

-# Não.

 

-# E não existe um meio de evitar isso? Não pode derrotar Naraku e poupar Hojo?

-# Talvez. Não sei. E se ainda assim eu estiver deixando uma faca apontada para as minhas costas? Sei que Hojo nunca me enfrentaria de frente, mas não posso ter certeza de que ele não se tornou capaz de me atacar pelas costas. Essa é uma dúvida com a qual não poderei conviver. - E não revelaria que a espada poderia estar apontada para ela também.

-# Não seria maravilhoso se Hojo tivesse forças para se libertar do tio, se passasse para o seu lado?

-# Sim, seria esplêndido. Nesse caso eu poderia confiar nele.

Ainda podia lembrar o primo na infância, o rosto pálido e amedrontado. Apesar de todo o esforço empregado com esse propósito, ele e Sesshomaru nunca conseguiram remover o medo dos olhos de Hojo. Agora percebia que Naraku já começava a dominá-lo. Poucas correntes eram tão fortes quanto aquelas forjadas pelo medo. Inuyasha duvidava de que Hojo houvesse conhecido outro sentimento.

 

Ainda sentia pena daquela criança, mas tinha de endurecer e resistir ao apelo das lembranças. A piedade poderia enfraquecê-lo em um momento de grande perigo. Seria justo. Não negaria ao primo nenhuma chance de reparar seus erros. O que não podia era permitir que a emoção interferisse no que tinha de ser feito.

Kagome se moveu, interrompendo seus pensamentos.

-# Acabei de pensar que.... Não contei nada disso a sua família – ele disse.

-# E acha que é necessário? - Kagome indagou.

-# No momento não preciso da força extra que eles podem representar.

-# Nesse caso, é melhor não dizer nada. Só causaria apreensão. Vamos guardar segredo por mais um tempo. Enquanto for possível. E tente tirar da cabeça todas essas preocupações, ao menos por algumas horas.

-# Seria ótimo não pensar em problemas por algum tempo. - Ele sorriu, abraçando-a com mais força.

-# Como sua esposa, é meu dever assegurar que você esteja sempre satisfeito. - Kagome o beijou no pescoço e sorriu sedutora.

-# Tem razão, essa é sua obrigação – Inuyasha concordou antes de Beijá-la.

-# Farei você esquecer Hojo.

 

-# Que Hojo? - ele murmurou rindo.

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Hojo olhou para o tio e caiu na cama rústica. Bebera cerveja até não poder mais, mas não conseguiu encontrar a paz que tanto queria ter. Imagens e pensamentos ainda o atormentavam, e giravam, e gritavam em sua mente num carrossel embriagado, confuso. Sentia-se tonto, enjoado. Deitado de costas e mantendo os olhos fechados, esperou que o tio e seus homens logo subissem ao forro do castelo, pois assim ficaria sozinho e em silêncio.

-# Por que mantém por perto o idiota bêbado?

-# Porque, Shiori, ele é o legítimo herdeiro de tudo que quero – Naraku respondeu. - Essa sempre fui sua única utilidade para mim. Acha que eu arrastaria esse peso morto se tivesse escolha?

-# Não pode consegui o que quer sem ele? - Bertrand indagou coçando a barriga.

-# Não. Se existe um meio, ainda não o encontrei. Depois que os pais dele morreram, obtive acesso aos bens por intermédio de meu sobrinho. Quando ele se casar com a bela Kagome e tiver um herdeiro, continuarei controlando tudo por meio dessa criança. Então ele não terá mais nenhuma serventia.

Shiori balançou a cabeça.

-# E difícil acreditar que esse sujeito fraco tem seu sangue.

-# Minha irmã era fraca. Só tive de cuidar para que o menino nunca desenvolvesse o espírito para me desafiar. É preciso começar quando eles ainda são jovens, submetê-los a sua vontade desde que ainda são bebês. Por isso ele ainda se curva ao meu comendo quando, na verdade, ele tem direito a tudo que eu domino. Criarei o herdeiro dele da mesma forma.

-# E terá o controle sobre tudo enquanto estiver vivo.

-# Exatamente. Bem, agora devemos descansar. Amanhã teremos muitas decisões a tomar.

Quando todos os sons cessaram. Hojo abriu os olhos e ficou fitando a escuridão, ouvindo o eco de tudo que acabara de escutar. Por um momento, ele experimentou uma força inesperada e envolvente, um sentimento que resultava da fúria. Desejava matar Naraku. Era uma pena estar embriagado demais para pôr em prática essa vontade e seguir o impulso.

Com o retorno da fraqueza veio também a dúvida. Estava bêbado. Talvez houvesse escutado mal. De repente ele pensou no rosto doce de Kagome. A bela e adorável Kagome. Ela era a única coisa que jamais havia havia desejado realmente. Por ela seguiria os planos do tio. Mesmo errados e até criminosos, eles o levariam até Kagome. E ela o tornaria imune aos pesadelos. Daria a ele força, faria dele um homem. Só quando a tivesse a seu lado, ele pensaria novamente nas palavras que havia pouco escutara da boca de seu tio. Sim . Kagome o ajudaria a se libertar de Naraku Onigumo.

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Tai gente como prometido, mais um capitulo!!!1
Espero que vocês gostem, no próximo capitulo a Kikyou aparece causando discórdia entre o casal......

 

 

 

 

 

 

 


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