Eu sabia que enfrentar a segunda feira seria a pior coisa que eu enfrentaria naquela semana, mas também sabia que não podia evitar.

Tentei não pensar muito sobre minha vida nem tentar adivinhar como seria aquele dia de aula enquanto andava pela rua.

No portão, tudo parecia igual, mas eu já esperava que não fosse o tempo todo assim, então procurei não me animar.

Lá dentro da escola, havia patotinhas de amigos por todos os lados, e eu me senti vazia por dentro. Eu não teria Beth pra conversar, pois sabia que ela estava muito chateada comigo – e com razão.

Também não teria Christopher, porque não podia colocar em risco minha convivência familiar por causa dele. Por outro lado, ele merecia um troco.

E por outro lado, ainda, eu só queria ele perto de mim, porque acreditava em tudo o que ele me dissera.

Teria que enfrentar as possíveis piadinhas de todos os que me viram sair da escola correndo como uma louca, e também – lógico – o que parecia pior: os comentários de Ashley sobre ela e Christopher.

Pelo jeito, eu teria de me conformar com Sthephy, e ainda agradecer por ter ela ao meu lado, já que nem isso eu merecia.

-E aí, Agatha? Ainda com dor de barriga? – gritou uma garota de um grupinho. Os amigos em volta riram e eu continuei andando rumo ao portão, segurando firme a alça da mochila na mão esquerda.

-Foi a empadinha, Agatha? Vomitou bastante? – perguntou outro garoto de outro lado do pátio.

Eu agradecia também por já ter me acostumado com as piadinhas infames.

Ashley apareceu na minha frente de repente. Ela e as amigas patricinhas me impediram de continuar andando, parando na minha frente. Mirian estava do lado dela, um sorriso sarcástico se formando no rosto.

-Agatha Symons! – disse Ashley reprimindo um riso – mas que coisa, não? Você é mesmo persistente, hein? Vir pra escola depois de um mico daqueles?  - e riu – me disseram que você saiu correndo com dor de barriga!! – mais risadas.

Eu não teria paciência pra aquilo. Ainda bem que minha mão direita está livre. Vou arrebentar esse nariz de papagaio com um soco só, agora mesmo. – pensei.

Mirian abriu o sorriso sarcástico, por fim.

-Sabe, Ashley. Não acredito que tenha sido isso. Com certeza alguém disse pra ela que ela era feia, e ela se revoltou e saiu correndo. Que pena, por que as pessoas não se aceitam como são, não é? – e todas caíram numa gargalhada.

Minha mão se fechou impulsivamente, e antes que eu tivesse levantado o braço, alguém passou o braço por mim, segurando em meus ombros com força.

-Ah, querida, você se esquece sempre que quando a loira oxigenada conta uma piada, agente ri dela, e não do que ela contou. Ah, Mirian, que mancada, já falei pra você não rir, seus dentes são muito tortos.

Mirian fechou a boca na mesma hora e Sthephanye me empurrou por entre elas, enquanto as garotas nos vaiavam.

-Obrigada, Sthephy.

-Ah, isso não ia ser legal. Me avise quando quiser socar Ashley e as garotas. Eu quero quebrar os dentes da Mirian pessoalmente. – e começou a rir.

Minha mão se soltou enquanto íamos para dentro da escola, mas antes que eu pudesse entrar, vi Christopher sentado num canto, sozinho, lá perto dos muros, olhando pra mim.

Desviei o olhar e entrei pra mais um dia de aula.

                                       *-*-*-*-*

Elisabeth não tinha respondido ao meu “oi” e eu fiquei pensando o resto das aulas em por que ela teria me ajudado a mentir naquele dia, então. Se ela estava brava, ele deveria ter ido embora, não era? Pra que me ajudar?

Sthephanye tampouco tinha uma resposta pra isso.

-O que eu sei, Ag – ela disse quando íamos saindo da escola – é que se você precisar de mim, vai lá em casa, ok? Você sabe onde eu moro, ainda não me mudei, não, viu?

Forcei um riso.

-Ok, Sthephy, valeu.

Mais tarde, o dia na sorveteria foi igualmente angustiante.  Eu estava completamente preocupada que Christopher podia aparecer a qualquer hora e claro, se isso acontecesse, meus pais saberiam e pensariam que eu os tinha enganado.

Eu não podia perder aquele emprego. Ele me mantinha ocupada, pensando em coisas menos desagradáveis do que magia e brigas.

Christopher por fim, não apareceu na segunda. Nem no resto da semana.

Eu o via todos os dias na escola, sempre afastado, no mesmo canto de sempre, sozinho e – aparentemente - triste. Eu queria, de verdade, poder falar com ele, mas não me arriscaria a tal. Seria definitivamente um fim.

Eu não agüentei e na quarta pedi a minha mãe que me deixasse ficar na casa de Sthephanye depois do trabalho. Receosa de que ela não deixasse, me surpreendi quando ela disse sim, mas ainda sabendo que era só porque Sthephanye era uma menina.

Sthephanye estava muito mais animada do que eu. O garoto do curso tinha mesmo levado ela ate o shopping em Long Vill, e ela já se dizia apaixonada. Pelo o que contava, eles estavam muito amigos, sempre juntos e conversando, e isso era uma coisa muito boa. É claro, ela estava triste pela briga com Beth, mas ainda assim aquilo não era nada comparado com a minha tristeza, e ela percebeu.

-Ag, você ficou mesmo chateada com o Christopher, não é?

-Não era pra ficar?

-Ah, claro que era. Aquela putinha da Ashley... meu Deus como eu a detesto! Ela é insuportável!

-É...

-Ag,... tem certeza de que não quer conversar com ele? Não quer tentar se entender? Você sabe que pode ter sido só uma armação, não é? Sabe como Ashley é. Eu, na verdade, não duvido nada disso.

-Pode ser... – aquela era mesmo uma coisa a ser pensada - Sthephy, você não quer tentar se entender com Beth?

Ela suspirou.

-Ah, Beth só da mancada. Ela foi muito má naquele dia do baile. Você foi uma vitima, mas ela não entendeu. Isso é porque ela não conhece a força de uma paixão, sabe? Só sabe ficar coma cara grudada naqueles livros de filosofia...

-Ficção cientifica, Sthephy, ficção cientifica...

-Que seja.

Eu consegui me distrair, rindo naquele momento com Sthephanye, embora minha mente já estivesse planejando algo.