O barulho se tornava mais crescente conforme os minutos passavam, a cantina já estava apinhada de estudantes, todos conversando sobre assuntos aleatórios, tentando fazer com que suas vozes soassem cada vez mais altas para serem ouvidas. Eu mesma estava cercada pelos meus antigos amigos, que falavam sobre o que haviam feito nas férias e eu ria por tê-los novamente ao meu lado.

Percorri meus olhos pelo lugar, a maioria ali parecia desconhecida para mim, dava para ver quem era novo ou não. Os veteranos ficavam em grupos grandes rindo alto por qualquer coisa, já os calouros permaneciam quietos ou em pequenos grupos, entretidos no próprio mundo. Ri baixinho quando vi uma menina encolhida em um canto, parecia que estava olhando a mim mesma no ano anterior.

Ao continuar vasculhando o local um par de olhos me chamou atenção. O menino estava sozinho, encostado a uma parede, me olhando fixamente. Seu braço estava cruzado a frente do peito, o uniforme do colégio parecia impecável, mas algo em sua postura o deixava relaxado e tudo nele parecia emanar tédio.

Permaneci o encarando e durante todo o tempo que se passou ele parecia não ter nem piscado, eu me sentia totalmente hipnotizada por ele, me sentia sem ar e...

... Ele sorriu.

Não um sorriso com humor, não. Parecia algo totalmente irônico, como se estivesse debochando de algo, ele piscou lentamente, quebrando o contato visual, descruzou os braços e saiu de onde esteve o tempo todo. O acompanhei com o olhar e soltei minha respiração pesada, só então me dando conta de como tudo estava silencioso.

Droga, já estava atrasada para a primeira aula.

Suspirei derrotada olhando pela vigésima vez o papel em minha mão. Eu tinha certeza de que estava colocando a senha certa no meu armário, mas por algum motivo ele não abria! Comecei mais uma vez a colocar minha senha, resmungando baixinho. Realmente não acreditava que já havia começado mal o ano.

“Saia” - uma voz disse, em um tom baixo e suave. Me encolhi por uma fração de segundo ao levar um susto. Por mais sutil que aquela voz tenha saído, ela era a mais fria que eu já havia escutado.

Parei o que estava fazendo, me virando lentamente para a pessoa que estava atrás de mim, e me deparei com os olhos penetrantes do garoto que havia visto mais cedo.

“Desculpe?” - perguntei com a voz falha, deixando meu olhar passar por ele. Ele parecia mais entediado do que nunca, estava com uma das mãos no bolso e sua gravata estava um pouco frouxa. Voltei meu olhar novamente para o seu rosto e ele suspirou como se eu o estivesse cansando.

“Meu armário, saia” - ele disse com a mesma voz baixa, sem emoção, parecia que sua boca nem havia se mexido ao falar aquilo. Continuei parada, o encarando sem entender nada, a cada segundo que passava o ar entediado em volta dele aumentava.

Dei um passo para o lado e o vi caminhar até o armário para colocar a sua senha, vi também quando o armário abriu facilmente. Olhei confusa para o papel na minha mão, no topo dele dizia que o meu era o número 108. Mas ao olhar novamente para aquele armário notei que era o 109. Senti minhas bochechas corarem imediatamente, eu devia estar parecendo tão estúpida.

Abri a boca para me desculpar, mas tudo o que senti foi um rajada de vento bater no meu rosto quando ele fechou o armário com força. Virei minha cabeça para o corredor vendo ele sumir no meio dos alunos.

Ele era tão... irritante.