Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 1
O encontro.


Notas iniciais do capítulo

Como eu já havia dito no meu perfil, pra quem leu, eu não me considero uma excelente autora. Espero sim, do fundo do meu coração, que vocês gostem. Afinal, minha história já está a caminho, para em breve, ser publicada em um livro. Estou muito ansiosa pra isso, porque sei que virão muitas barreiras pela frente nas quais devo ultrapassar, assim também, como o apoio e admiração. Aceito criticas, sugestões e comentário. É meu primeiro trabalho já finalizado, então, me desculpem qualquer coisa.



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"Motivos para desistir você vai encontrar vários, mas para amar basta um. O suficiente para você amar loucamente, o suficiente que supera todos os motivos por piores que sejam para desistir." Tati Bernardi.

No meu último ano, em uma das muitas viagens que realizamos para nos despedirmos da turma, me apaixonei pela primeira vez. Na época, tinha meus dezoito anos, mas lembro-me como se fosse ontem. 

Tudo aconteceu muito rápido, mas aquele sentimento me fez ser o melhor que podia ser. Em meio aquele turbilhão de sentimentos, me vi perdido e atordoado. Mas estava feliz por me encantar por uma garota que um dia pude chamar de minha.

Iríamos para o litoral do país em um passeio de uma semana e longas horas de viagem dentro de um ônibus lotado. Do meu colégio, Quadrangular, que lecionava do ensino fundamental ao médio, saíram quatro transportes lotados.

No início, fiquei empolgado com a ideia de passar uma semana ao lado dos meus melhores amigos. As primeiras horas foram cheias de animação, energia e longas conversas. No entanto, conforme o tempo passava, as coisas foram se acalmando. Alguns já dormiam em seus bancos, outros liam. E eu, com os olhos fixos em um ponto qualquer do lado de fora, fiquei perdido nos mais longos pensamentos.

Lá fora, o céu já escurecia em um grande manto de azul escuro e trazia poucas estrelas. A vegetação a beira da estrada já parecia uma grande floresta negra e sem vida.

Um monitor andava pelo corredor do ônibus conferindo, minuto a minuto, se não havia algum espertinho com a cabeça para fora da janela ou, até mesmo, algum casal se pegando nos bancos traseiros do ônibus. Mas, depois de cinco horas dentro daquele veículo, já estavam todos muito cansados para fazer qualquer tipo de besteira. Parecia que nunca chegaríamos ao destino final.

Impaciente, fui fechando os olhos aos poucos. Ao meu lado, meu melhor amigo, Guilherme Mendes, adormeceu com fones em seu ouvido. Uma mania, talvez. Por sorte, ele não tinha um estilo de música tão diferente do meu, o que facilitou com que eu adormecesse depressa.

—Galerinha, atenção! Ouçam-me agora – o monitor chamou a atenção em alto tom e estalou os dedos para que todos pudessem despertar e olhar para ele. — Finalmente, chegamos! Mas esperem porque quero que todos fiquem juntos até o jantar. Há outros colégios aqui e, consequentemente, mais de mil alunos. Podemos imaginar a bagunça que vai ser se não tivermos organização. Portanto, as turmas que estão aqui são de minha responsabilidade, entenderam? Tudo que acontecer, por favor, me procurem e vamos tomar as devidas providências. E pelo amor de Deus, não perturbem, não sejam tolos e infantis. Já são todos grandinhos e sabem o que podem ou não fazer em certos lugares ou ambientes. O primeiro ponto é o restaurante onde acabamos de chegar. Vamos todos sentar em pequenos grupos e nos servir um a um. Duração de duas horas e meia para tudo isso. Mas não entendam que terão que virar uns animais esfomeados e correr para fila do self-service – fez a maioria rir. — Quando estivermos de saída, darei um toque a vocês e voltaremos para o ônibus para que possamos seguir em direção ao hotel. Não muito longe daqui, não se preocupem. Sei que estão todos cansados. Alguma dúvida? Levantem a mão, um por um.

Um garoto, no fundo do ônibus, chamou o monitor.

— Monitor, não me lembro de ter ouvido você dizer o seu nome.

— Ah sim – sorriu. — Desculpem-me. Meu nome é Carlos.

— Carlos, será que poderíamos ir comer de uma vez? Tudo parece bem claro já e meu estômago está faminto.

Saímos do veículo e entramos para um lindo restaurante a nossa frente de janelas transparentes, espaço amplo, cadeiras e mesas de madeira escura, além da música clássica ao fundo e garçons por toda parte.

Eu e Guilherme sentamos com alguns colegas de classe em uma mesa ao fundo do restaurante. Voltamos a nos divertir planejando o que comeríamos e o que queríamos aproveitar durante a viagem.

Em nossa vez, seguimos até o self-service e fomos pegando a nossa frente o que mais nos agradava. Quando meu prato estava razoavelmente cheio, peguei um copo de refrigerante e voltei à mesa para comer.

Após terminar o meu primeiro prato e conversar com os colegas, peguei mais comida e a sobremesa. Quando terminava, já satisfeito, senti o pescoço queimar como se alguém olhasse fixamente para mim. Rapidamente, olhei em volta para verificar, mas nada encontrei. Talvez fosse coisa da minha cabeça, já que o lugar estava cheio de alunos e algumas pessoas pareciam assustadas com a nossa presença.

Ríamos das piadas de Augusto quando vimos o monitor chamar a turma para irmos para o hotel. No ônibus, ansioso com os próximos acontecimentos da viagem, pude sentir aquela agitação e animação voltar dentro de mim. Percebi que o mesmo acontecia com o resto do pessoal.

O hotel era um prédio alto de pintura clássica e inúmeras janelas em sua fachada jovial. O hall parecia aconchegante e estava bem movimentado, como se todos que estavam hospedados estivessem por lá. Enfileirados, assinamos alguns papéis na bancada, certificando que todos que estavam ali. Por fim, fomos informados de como seríamos acomodados nos quartos alugados para o colégio.

Guilherme e eu estávamos certos de que jamais nos separaríamos. Desde nossa infância foi assim, como se fossemos irmãos de mães diferentes.

— Quarto 210 – disse Guilherme conferindo em um pequeno cartão entregue na portaria.

Ao abrir a porta, pudemos ver duas camas, uma ao lado da outra, separadas por um criado-mudo. As paredes estavam pintadas em um tom de oliva, o piso era de azulejo escuro, alguns poucos carpetes e quadros a tinta óleo pendurados na parede. Atrás do guarda-roupa de madeira branca estava um pequeno banheiro.

— Nada mal – conferiu Guilherme. — Mas ainda assim prefiro o meu quarto.

— Quem não prefere? Mas devemos tentar nos acostumar para que seja agradável. Arrume logo suas coisas e deixe um espaço para mim, não esqueça – ordene. — Vou tomar um banho para conferir se o chuveiro é bom.

Tranquei a porta e comecei a tirar a roupa que já pesava no corpo. Calça jeans preta, camiseta cinza sem estampas e um All Star sujo. Deixei a água, quente e tranquilizadora, escorrer sobre meu corpo levando junto aquele peso que sentia de um longo dia de calor. Mais um dia de verão.

Para minha sorte, uma toalha branca estava a minha espera ali pendurada. Sai do banheiro deixando meu cabelo pingando sobre o piso e fui procurar uma roupa limpa na mala. Um short de malha fria, uma camiseta clara e chinelos. Com o cabelo ainda despenteado, ajeitava minhas coisas no pouco espaço deixado por Guilherme, que havia sumido desde que sairá do chuveiro.

Cansado, deitei-me sobre a cama de colchão macio e fechei os olhos para descansar mesmo com a luz forte fluorescente queimando meus olhos.

Já estava de barriga cheia, corpo limpo e mente tranquila. Agora só me restava deitar de lado e dormir até o dia clarear. Mas algo me dizia que Guilherme estava metido em alguma roubada lá fora. Provavelmente, estava fazendo seu próprio tour pelo hotel.

Apaguei as luzes, tranquei a porta e fui atrás daquela criatura desejando encontra-lo imediatamente, pois queria dormir e estar certo que ele estava bem.

Pelos corredores, encontrei outros alunos do colégio que pareciam ter tido a mesma ideia de Guilherme, deixando o ambiente movimentado e turbulento.

Onde está aquele garoto? Pensei comigo enquanto caminhava e tentava demonstrar simpatia aos desconhecidos. Após alguns minutos tentando encontra-lo, virei em um corredor vazio e esbarrei em alguém, deixando suas coisas caírem no chão.

Quando levantei o olhar fiquei surpreso com o que via na frente. Uma linda jovem. Linda até demais. Exageradamente perfeita. Seus cabelos eram ondulados em um tom de dourado, seus olhos traziam tom de mel, o corpo magro coberto por um fino vestido de renda rosa, um sapatinho baixo claro e uma tiara prendendo o cabelo.

— Pronto – sorri timidamente para ela. — Essa é a parte onde abaixamos para pegar suas coisas e, acidentalmente, nossas mãos se tocam fazendo com que acenda uma chama da paixão.

— Boa – ela riu e levou uma das mãos para tampar a boca bem desenhada.

— Exatamente – ainda sorria para ela. — Eu pego suas coisas.

Abaixei para pegar o que caíra de seus braços e pensei como alguém havia deixado uma moça tão delicada carregar tantas coisas ao mesmo tempo.

— Desculpe, acabei te atrapalhando – falei ao levantar.

— Ah, não foi nada – ela abriu um sorrido tímido e ajeitou uma mecha rebelde de cabelo atrás da orelha. — Eu que acabei te atrapalhando. Você parecia estar com pressa.

— E estava. Procurava por um amigo – disse.

— Ah, você também está hospedado aqui? – perguntou ela. Assenti com a cabeça. - Eu estava justamente levando minhas coisas até o quarto.

— Olha, que legal – falei sem pensar em algo melhor. — Permita que eu te ajude. Faço questão.

— Já que faz questão, eu agradeço. Também estava perdida e as coisas estavam mesmo muito pesadas.

Acompanhei-a sem direção. Ela falava algo qualquer que não consegui entender, já que o que me chamava a atenção era o jeitinho encantador que ela tinha ao andar, ao falar e até mesmo como ajeitava o cabelo atrás da orelha.

Conferindo o número de seu quarto em um cartão parecido com aquele retirado por Guilherme na portaria, ela disse:

– Meu quarto é o 217.

Guiando-a até o corredor que também estava hospedado com Guilherme, percebi que nossos quartos eram bem próximos.

— Bem pertinho do meu, o 210. Se precisar de algo pode me procurar.

— Obrigada! Você foi muito gentil comigo – disse ela abrindo seu quarto e pegando suas coisas de mim.

Sem me despedir, resolvi deixar a simpática menina cuidar de si mesma.

— Ei, eu poderia ajudar você encontrar seu amigo. Posso? – perguntou de forma educada.

— Eu adoraria a sua companhia. Quer dizer, eu certamente iria ficar satisfeito. Acho que dois à procura dele facilitaria muitas coisas - disse abaixando o olhar.

Ela abriu um sorriso tímido, talvez com a minha falha ou pelo meu jeito desajeitado. A garota fechou a porta e veio depressa ao meu encontro.

— Mas não iria atrapalhar na arrumação de suas coisas? – perguntei quando ela já caminhava ao meu lado.

— Eu arrumo depois, não me importo. Na verdade, eu não gosto muito de arrumar minhas coisas. Sempre tive alguém que arrumasse para mim. Não sou muito boa nessas coisas – falou demonstrando ser algum tipo de riquinha que pode ter tudo nas mãos a qualquer hora.

Tentando não fazer julgamentos, continuei a procura de Guilherme. Enquanto isso, ela vinha atrás tentando acompanhar meus passos rápidos. Não pude deixar de notar que ela lançava um olhar curioso para mim, talvez assustada com a minha aparência. Não me importei. De alguma forma, aquilo não me incomodava.

— Como seu amigo é? Eu não o conheço. Acho que ficaria mais fácil se soubesse como ele é ou com qual roupa está.

— Bom, seu nome é Guilherme. Ele tem o cabelo ralinho, bem cortado. A pele morena e os olhos clarinhos como os seus. É alto e magro. Usava um short jeans escuro, uma camiseta vermelha e tênis esportivo.

— Por acaso ele faz o tipo jogador de futebol? – perguntou lançando-me um olhar curioso, mais uma vez.

— Na verdade, sim – confessei rindo. — Ele bem que parece um jogador. E não só parece, ele adora jogar qualquer tipo de esporte, ao contrário de mim.

— De mim também – ela riu comigo. — Na verdade, no máximo eu vou à academia duas ou três vezes por semana depois da escola.

— Eu vou ao parque ou em ruas andar um pouco de skate. Esse é meu máximo.

— Você parece mesmo um pouco radical – olhou para mim. — Ah, lembrei! Enquanto procurava o quarto, eu vi que lá embaixo, pertinho da recepção, tinha uma sala de jogos com games, mesa de sinuca e pebolim. Enfim, uma de minhas amigas certamente também está por lá.

— Esse lugar é a cara dele. Vamos até lá então.

Descemos no elevador lotado por alunos.

— Finalmente, te encontrei – falei colocando uma de minhas mãos em seus ombros.

— Cara, você precisa ver melhor esse lugar. Tem de tudo que você possa imaginar. Olha só a fila dos games – apontou boquiaberto. — Pensei que você ia dormir, senão teria te arrastado até aqui para curtimos juntos.

— Eu estou te procurando há meia hora. Você acredita? – perguntei sem mostrar empolgação.

Uma morena oriental dirigiu-se para a menina que estava comigo.

— Amiga, o que faz aqui?

Virando-se para mim, ela disse:

— Vejo que vocês dois também já se conheceram. Ai está a amiga que te falei.

— Sou Amanda Teixeira, prazer – cumprimentou a japonesa beijando levemente meu rosto.

— Opa! Vamos nos apresentar – falou Guilherme virando-se para a loirinha. — Sou Guilherme. Para você, Gui.

— Olá, Guilherme! Falamos de você pelo caminho – ela riu. — Sou Maria Luíza, mas me chamem de Malu, odeio meu primeiro nome.

— Bom, só falta você – Amanda despertou-me dos devaneios com Malu. — Como se chama?

— Daniel Ferraz – finalmente disse.

— Lindo nome! Tenho um primo também chamado Daniel, mas não gosto muito dele – disse ela com uma careta. — Guilherme! Acabo de me lembrar, preciso te mostrar um lugar. Você vai adorar!

Levando-me para fora do salão, Malu se lembrou da amiga.

— Eles vão se dar muito bem. Guilherme é o tipo de garoto que Amanda adoraria passar horas jogando games, futebol ou coisas desse tipo. Sem contar que ela fala incontrolavelmente o tempo todo, coisa que ele pareceu não se importar.

Calei-me sorridente, sem ainda conseguir tirar meus olhos dela. Ao perceber, ela desviou o olhar e abriu um sorriso tímido. Notando que estava deixando-a constrangida, passei a me controlar e parar de lançar tantos olhares.

Percebendo que aquela agitação do hotel não era sua praia, nem a minha, perguntei se gostaria de fazer algo.

— Adoraria – olhou para mim sorrindo.

Saímos do hotel para que pudéssemos, finalmente, fazer o nosso tour antes de nos apanharmos em nossos devidos quartos.

— Também está aqui a passeio da escola? – perguntei enquanto subíamos as escadas vazias.

— Sim, você também?

— Também. Além de sua amiga Amanda, há outra? É isso?

— É. A outra se chama Beatriz. Deve estar por ai com o namorado, Murilo.

— E o seu namorado? – perguntei desejando que ela não levasse a pergunta para o lado pessoal.

— Terminamos há oito meses. Como todos dizem, não é o cara certo para mim – confessou.

— E você concorda com isso? Se importa com o que pensam? – perguntei curioso.

— No começo, não me importei. Eu até gostava dele, mesmo com aquele jeito duro e seco de me abraçar. Mas depois de um tempo tive que concordar com a opinião alheia.

— Ah – disse quase em um sussurro. — Eu nunca tive uma namorada, nunca fui bom para esse tipo de coisa. Mas creio que se tivesse, iria amar com todo meu coração e ninguém seria capaz de duvidar disso.

— Talvez ele não gostasse tanto assim de mim. E nem eu dele – pausou pensativa. — Mas você nunca ter namorado é algo que me surpreende muito.

— Ué, por quê? Não é possível? – perguntei sorrindo.

— Você me parece alguém extremamente especial. Provavelmente, onde você vive as meninas são estupidamente cegas para não notarem algo em você. Algo que eu notei quando nos cruzarmos no corredor e, até agora, não sei explicar.

Suas palavras eram suaves e fizeram com que meu corpo estremecesse. De fato, ela era perfeita. Nenhuma outra garota havia dito algo tão breve e tão bonito em toda a minha vida. E se desde o primeiro instante eu já havia me encantado com toda a sua beleza, agora estava ainda mais. Era sincera e verdadeira.

De todas as formas, eu gostei muito de ouvir aquilo e nunca mais esqueci, mesmo depois de tanto tempo. E por mais que fosse dedução: aquele encontro poderia mudar a minha vida. E mudou completamente. Mas naquele momento ainda era uma incógnita. Algo dentro de mim estava nascendo.


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Notas finais do capítulo

Capítulo longo não é?
Bom, todos vão ser assim pra infelicidade de alguns.

Mesmo assim, gostaram? Me contem!