Hanna ficou paralisada, tentando absorver aquilo que acabara de ouvir. Seus sentimentos estavam embaralhados, uma mistura de surpresa, dor, raiva e uma pitada de compaixão própria. Sua situação acabava de ficar ainda pior. Não bastasse estar apaixonada por sua melhor amiga e ter que esconder esse sentimento, agora teria que lidar com o fato de que ela havia se tornado hetero. Até alguns minutos atrás ela sequer sabia que era possível alguém se tornar “ex-gay”.

Possível ou não, o fato era que suas chances – que já eram mínimas – acabavam de reduzir drasticamente, se aproximando bastante a zero. Basicamente a vida estava querendo sinalizar de uma maneira mais evidente que Emily e ela jamais ficariam juntas. O melhor seria começar a aceitar e aprender a lidar com isso definitivamente.

Ainda em estado de choque, Hanna pôde ouvir quando a morena se despediu carinhosamente do namorado ao telefone. Ela já havia lidado com um relacionamento de Emily, mas agora era diferente. Ele era um homem. Um homem que podia proporcionar coisas que ela jamais poderia, ao menos fisicamente. Isso a deixava insegura e com medo de perder para sempre o amor de sua vida. A verdade era que lá no fundo ela ainda cultivava uma - talvez ingênua - esperança de um dia conquistá-la. Sonhava com o dia em que teria coragem de revelar o que sentia, e já que se tratava de um sonho, se permitia imaginar que Emily correspondesse esse sentimento. E agora esse sonho se tornava ainda mais inalcançável.

- Eu já falei pra vocês pararem de dizer isso. – disse Emily, afastando-a de seus pensamentos. – Ele não é meu namorado. – murmurou, com um sorriso sem graça.

Hanna, ao ouvir aquela confissão, soltou o ar que sequer havia notado que prendera. Nunca se sentira tão aliviada em sua vida. Faltou muito pouco para que ela se levantasse da mesa e fizesse a sua – muito ridícula e vergonhosa – dança da vitória. Mas talvez fosse cedo para comemorar...

- Então quer dizer que você continua solteira? – perguntou Hanna, sem poder evitar transparecer sua animação.

- Tecnicamente, sim. – respondeu a morena um pouco incômoda. – Sam e eu somos apenas amigos... – explicou, fazendo o sorriso da loira se ampliar. – Amigos com certos benefícios, digamos...

Essa última frase apagou ligeiramente o sorriso de seu rosto, mas tentou manter uma atitude positiva. Ao menos não era nada sério.

- Então, a que horas a gente se encontra lá em casa pra irmos para a casa do lago? – perguntou Spencer.

- Que tal às 18:00? – sugeriu Aria. – Ainda tenho que passar no mercado para comprar algumas coisinhas pra levar.

- Não se preocupe com isso, Aria. – disse Emily. – É a sua despedida de solteira, fica por nossa conta.

- Se vocês fazem tanta questão... - sorriu Aria. - Vou aproveitar para encontrar com Ezra. Vai ser a última vez que nos veremos antes do casamento. - disse com malícia.

Pediram a conta e cada uma seguiu para suas respectivas casas, exceto Emily, que fora visitar um lugar que havia significado muito para ela no passado. Aquele lugar, cercado pela natureza, sempre lhe trazia paz e muitas recordações. Sorriu ao pensar em Paige e nos encontros que tiveram ali. Haviam sido muito felizes durante o tempo em que estiveram juntas. A vida havia se encarregado de fazer com que seus caminhos se separassem, porém sempre guardava boas lembranças sobre a morena. Ambas sofreram com o rompimento, mas haviam decidido que aquilo seria o melhor. Cada uma iria para um extremo do país e seria complicado manter um relacionamento à distância.

Pensar em Paige fez com que Emily se perguntasse onde e como ela estaria. A última notícia que tivera sua fora a de que cursava Educação Física na Universidade de Saint Louis. Esperava que independente de onde estivesse, fosse feliz. Ela havia sido alguém importante em sua vida e Emily sempre lhe desejaria o melhor.

Aproveitou mais alguns instantes da paz e tranquilidade que aquele lugar lhe proporcionava e foi se encontrar com as meninas no mercado. Aparentemente, fora a primeira a chegar, então foi pegar um carrinho. Estava prestes a entrar no estabelecimento quando seu celular apitou. Era uma mensagem de Hanna, avisando que já havia chegado e pedindo para que a encontrassem na sessão de bebidas. Enquanto terminava de ler a mensagem, sentiu que seu carrinho se chocava com algum obstáculo.

- Ai, meu pé! Não olha por onde anda, seu... – e antes de que pudesse terminar a frase, a jovem se deparou com aqueles olhos escuros e cheios de mistério que sempre lhe haviam encantado. – Emily?! – exclamou surpresa.

- Paige! – a morena também não disfarçou sua surpresa com o encontro. – Me desculpe! Eu te machuquei? – perguntou sem graça. – Acho que fica provado que celular e direção realmente não combinam. – tentou descontrair.

- Isso também se aplica para carrinhos de supermercado, senhorita. – disse Paige, fingindo estar brava, mas sorrindo.

Emily ficara nervosa com a presença de seu antigo amor, ainda mais depois da maneira com que haviam se encontrado. Não sabia muito bem como agir ou o que falar.

- Eu não sabia que você estava de volta à cidade. – comentou Paige, rompendo o pequeno momento de incômodo.

- Pois é... Na verdade não estou de volta, vim para o casamento da Aria e aproveitarei para passar umas semanas. – respondeu.

- Ah, que bom! Então ainda teremos outras oportunidades de nos encontrar. – disse a jovem, com um sorriso genuíno.

- Isso seria muito bom, podemos marcar qualquer coisa um dia desses. – disse Emily, se despedindo da ex com um abraço.

- Tome o meu telefone. – disse a morena, pegando em sua bolsa um bloquinho, anotando seu número. – Eu sei que você estará muito ocupada por esses dias, então, me ligue quando puder, estarei à sua disposição.

Enquanto Emily pegava o papel com seu número de telefone, sentiu alguém abraçando-a por trás.

- Então vocês já se encontraram? – perguntou Spencer, cumprimentando também a Paige. – E eu que esperava presenciar a primeira reação. – brincou, deixando ambas sorrindo sem graça.

- Hanna já está lá dentro nos esperando. – disse Emily, encerrando o assunto. – E com certeza nos xingando de todos os nomes possíveis por fazê-la esperar.

Todas riram, sabendo que provavelmente aquilo era exatamente o que Hanna estaria fazendo naquele momento.

- Foi bom te ver, Paige. – disse, abraçando-a uma vez mais. – Te ligarei assim que tiver um tempinho.

- Esperarei sua ligação. – respondeu Paige, se despedindo também de Spencer.

Quando se afastaram, Spencer não perdeu a oportunidade de provocar a amiga. As duas entraram rindo e ao chegar à sessão de bebidas encontraram uma Hanna fora de si.

- Vocês tem noção de quanto tempo eu estou aqui, esperando as duas? – perguntou, cruzando os braços, irritada. – Eu já estava quase criando raízes de tanto ficar aqui parada! – exclamou.

- Desculpe, Hanna. – respondeu Spencer. – É que nos entretivemos com um encontro inusitado. – explicou, olhando para Emily com um sorriso malicioso.

- E eu posso saber que encontro foi esse? – perguntou a loira sem paciência.

- Emily simplesmente deu de cara com Paige, o grande amor de sua vida. – disse Spencer. – E pelo visto esse encontro rendeu, porque quando eu cheguei as duas estavam trocando números de telefone.

Hanna não sabia se ria ou chorava com tamanha falta de sorte. Ela odiava estar apaixonada. Odiava Emily por fazê-la sentir tudo aquilo que sentia. Odiava Paige, por ter tido uma história com a SUA Emily. Odiava o tal Sam, que era seu amigo e tinha “benefícios” que ela, com mais de 15 anos de amizade, jamais havia tido. Resumindo: amar era uma merda.