Our Heart escrita por Mellorine, Sandy


Capítulo 1
Capítulo único - Quando um coração pertence a dois




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Eu sou um pouco diferente dos outros caras. Eu conheci minha esposa quando tinha apenas sete anos de idade.

E essa estória que eu vou contar agora é a mais linda história de amor que eu já vi na vida, e ela aconteceu comigo.

Eu estava cansando de ser transferido constantemente de quarto para quarto. Nunca tinha um fixo. A única coisa que eu queria na vida era voltar para casa e brincar com os meus carrinhos, como qualquer outro garoto normal da minha idade faria. Meu pai tinha feito a casinha na árvore que eu tanto pedi e eu não tinha aproveitado quase nada dela. Quando voltasse para casa, estava pretendendo fazer dela meu esconderijo quando brincasse com as crianças do bairro de esconde-esconde.

Estava muito irritado com a demora. Estava irritado com tantas tentativas falhas de transplante, pela fila de espera que não parecia ter fim, pelo cheiro forte de hospital e agulhas, cansado dos medicamentos injetados em mim às cinco da tarde.

Quando fui transferido de quarto pela sétima vez naquele ano, eu fui parar no quarto 777 e nele havia um anjo.

Você acredita em anjos?

Eu também não acreditava.

Na manhã seguinte, eu acordei meio sonolento e cansado. Embora eu ainda fosse uma criança sonhadora na época, sabia que fantasmas e anjos não existiam. Se não, onde estaria o anjo que me protegia? Aquele que não me deixaria estar ali definhando em tão pouca idade? Eles disseram que meu coração não batia muito bem. Temos que achar um coração novo para ele, eles disseram. Às vezes sentia o coração bater mais lento e aquela dor aguda no peito aumentar, mas ficava caladinho para que as enfermeiras não dissessem perto de mim aquela palavra. “Coitadinho”.

Mas quando eu vi aquela menina, quando acordei, ele começou a bater tão forte que eu pensei que estava curado só de vê-la, fazendo um desenho de um sol com giz de cera amarelo.

Aparentemente, tinha a mesma idade que eu. Tinha cabelos loiros que brilhavam intensamente com o reflexo da luz do sol, que entrava pela janela, iluminando seu rosto pálido.

— Oi! Você acordou! — Ela sorriu pra mim. E era um sorriso tão contagiante... Eu tinha a certeza naquele momento de que um dia, quando saísse dali, a levaria para brincar comigo na casinha da árvore que papai construiu pra mim.

— Oi... — Eu respondi meio incerto, com vergonha. Eu não falava muito com meninas, não sabia como falar com uma. Os meninos maus diziam que eu era meio tapado, meio bobo... Não queria estragar tudo. — Você pa-parece um anjo!

Ela riu e, nossa, como era linda.

— Qual o seu nome? — Perguntou me oferecendo mais um sorriso.

— O meu nome é Natsu.

— Oi, Natsu. — Eu não gostava tanto assim do meu nome, mas na boca dela, pareceu o nome mais lindo do mundo... — O meu nome é Lucy. Você quer ser meu amigo? Eu fiquei feliz quando te trouxeram para cá. Eu estou aqui sozinha há muito tempo.

— Q-Quero.

— Você tem muitos amigos? Eu só tenho o ursinho Teddy e o dinossauro Fredy, mas eles são legais. Eles ficam comigo todos os dias. E nos domingos também, quando papai não pode me ver. Ele está sempre trabalhando muito para pagar o meu tratamento.

Ela era meio tagarela, mas era tão bom ouvi-la falar. Acho que acumulou palavras durante o tempo em que esteve só naquele quarto de hospital. Ela falava com os seus bichinhos, mas eles não respondiam com palavras como eu.

— Lucy... O que você tem? Por que está aqui?

— O que eu tenho?! — Ela indagou com aquele jeitinho de menina. — Ah, eu não sei. Mas acho que é algo relacionado com o meu sangue... Eles não me dizem. E você, Natsu, o que tem?

— O meu coração não está funcionando direito. Eles vão trocá-lo por um novo.

— Que bonito! — Ela disse sonhadora, com os olhos brilhando. — Alguém poder doar o coração para alguém, como nos filmes e novelas... É tão bonito.

— Você vê filmes e novelas? Eles te deixam? Eu quis ver alguns desenhos, mas eles disseram que eu estava proibido.

— Não, eu também não assisto. — Ela voltou a colorir o desenho inacabado. — Mas eu já ouvi falar pelas enfermeiras.

Eu passei dois meses no mesmo quarto de Lucy. A gente passou a brincar e a conversar muito, todos os dias. Fizemos muitas promessas para quando nos curássemos do câncer que cada um tinha. E quando um chorava, o outro chorava junto. A gente só não fazia caquinha juntos... Mas estávamos sempre juntos.

Choramos juntos quando os cabelos de Lucy começaram a cair. Ela chorava mais algumas vezes. Me dava vontade de pegar o seu giz de cera e desenhar alguns fios na cabeça dela, só para voltar a vê-la sorri. Mas ela não sorria. Mas ela se acostumou quando eu pedi ao papai para que cortassem os meus cabelos também. A gente formou a tribo das cabeças peladas. Teddy e Fredy também faziam parte da tribo.

— Natsu... Quando eu crescer... Eu posso me casar com você, como nos filmes e novelas?

Eu nunca fiquei tão vermelho, mas eu fiquei mais tranquilo quando vi que ela também estava. — Vamos... Vamos casar agora?

Teddy nos casou e Fredy e as enfermeiras foram as testemunhas. Papai riu quando soube e deu um beijo na minha careca e um lírio branco para Lucy. Ela disse que era o seu buquê.

À medida que o tempo passava, não chegavam coração e doadores de medula óssea. Nós estávamos definhando aos poucos.

Certo dia, eu acordei entubado. O médico disse ao papai que a cirurgia foi um sucesso. Parece que eu estava curado, mas eu não estava no mesmo quarto que Lucy e fiquei triste. Eu queria correr e contar para ela. Eles disseram que eu não podia vê-la agora, mas que quando me recuperasse, eu podia levar pra ela um buquê de flores de verdade e uma peruca loira.

Eu corri, mas Lucy não estava mais lá. A enfermeira me disse que ela morreu, mas que doou seu coração como nos filmes e novelas.

A Lucy está dentro de mim, até hoje. E para sempre.


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