Livro Da Perdição escrita por Alan Mcgregor


Capítulo 10
Capítulo 6 - Parte Final


Notas iniciais do capítulo

Eae, pessoal! Segue abaixo a última parte do Capítulo 6. Espero que gostem, foi um capítulo muito bom de se escrever devido aos acontecimentos. Boa leitura! =D



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Derek não podia acreditar no que via. A mansão dos McGregor... Destruída! Ele acabara de chegar em Leimbra e tomou o caminho rumo à casa, para ter notícias de Helena e Marlen. Tentava acreditar que elas tivessem bem, mas, com o estado da casa...

Mesmo já estando de noite, Derek conseguiu perceber um amontoado alto de terra próximo ao escombros, que parecia ser uma cova. Temeroso, desceu do seu cavalo, Ryuzan, e foi em direção ao amontoado de terra para averiguar. No momento em que ele se curvou para ter certeza de que era uma cova, uma luz muito forte veio de suas costas. Derek se virou e percebeu que ela vinha da parte central de Leimbra.

“Outro incêndio... Isso não pode ser bom.”. Derek correu e montou novamente em Ryuzan, partindo o mais rápido que pôde para o vilarejo, para entender o que estava havendo.

–--//---

Com cada membro do corpo ardendo com a dor e o calor que faziam dentro da casa, Daniel tossia e tentava desesperadamente respirar. A cada ver que sorvia o ar, inalava muita fumaça, que o fazia tossir e deixava a garganta muito seca. A fumaça tomou conta de tudo. Ele ainda podia ouvir os brados dos habitantes de Leimbra lá fora, que se regozijavam com a “vitória”.

Daniel também tentava entender o que era aquela fina, porém insistente luz branca que reluzia pelo seu corpo. De alguma forma ele tinha certeza de que ela o protegera dos golpes que recebeu e o estava mantendo agarrado à sua própria vida. A luz esteve acompanhada o tempo todo por uma canção: suave, amena, que acalmava e confortava o coração de Daniel. Era como se ela quisesse dizer: “Acalme-se, querido. Tenha fé e tudo vai se resolver. Tudo vai ficar bem.”.

Então ele percebeu que seu bolso estava muito quente, porém um calor diferente daquele fogo infernal que o circundava. Percebeu que algo dentro de seu bolso parecia emanar um tipo de energia, que ele não conseguia ver, mas conseguia sentir. Levou a mão do seu braço que ele conseguia mexer ao bolso, e ao tatear para entender o que emanava tal energia, percebeu que era a pedra que ele recebeu do pai, no embrulho marrom que estava junto da cara. A inscrição branca brilhava intensamente e era o centro da luz que permeava por todo o corpo de Daniel, como se estivesse o protegendo. Daniel sentia um leve formigamento ao segurar a pedra, e de tempos em tempos, ela piscava ao mesmo tempo em que emanava uma nova onda de energia envolvendo seu corpo, mantendo a proteção.

Sem saber como, Daniel conseguiu compreender o que significava aquele símbolo que estava na pedra: “Proteção”. Nesse ponto a canção ficou mais forte em seus ouvidos, fazendo com que ele não ouvisse mais os gritos que vinham de fora. Ela era formada por várias vozes, todas em harmonia, em um tom tranquilizante, que o fazia pensar em um lugar melhor, pensar em sua família adotiva aguardando por ele em um lugar tranquilo, como ele imaginara dias antes. Ele entendeu que tudo daria certo. Tudo estava bem. Estava protegido.

–--//---

Ao se aproximar, Derek entendeu o que estava acontecendo. Pelos gritos de “filhote de demônio”, “que ele queime por toda eternidade” e “Viva o Poderoso!”, pela casa que estava sendo queimada, que era a dos Bloom e por Rubro estar presente, Derek já havia percebido a gravidade da situação. Cavalgou em disparada, na direção da casa, gritando:

– SAIAM DA MINHA FRENTE, SEUS IMUNDOS!

Derek partiu sem hesitar para cima da multidão, sabendo que eles recuariam e abririam espaço. Não era para menos. Derek tinha um ar furioso, emanava uma aura perigosíssima e o céu parecia corresponder à sua fúria. Trovejava muito e a cada novo relâmpago Derek parecia mais assustador. Aqueles que antes gritavam, agora corriam para abrir caminho para ele. Ninguém mais sequer falava, tamanho o susto e a força da presença de Derek. Nem Rubro, que gostava de se mostrar de valentão teve a coragem de dizer algo ou protestar.

Derek cavalgou até o portal da casa e com duas palmadas rápidas em Ryuzan, pediu para que os fizesse permanecer afastados da entrada da casa. Ryuzan pareceu compreender e assim que seu mestre desmontou, começou a relinchar e levantar as patas ameaçadoramente para todos que ameaçavam entrar.

O fogo era intenso e a fumaça, sufocante. Mas algo brilhava mais que o fogo e era ainda mais intenso. Logo a sua frente, no chão, Derek viu o pequeno Daniel, amigo de Alan, com uma energia o envolvendo, que começava a ofuscar sua visão. Apesar de toda a situação, parecia que Daniel estava em paz, tranquilo. Derek se aproximou dele e percebeu que seu braço esquerdo e perna direita estavam em ângulos estranhos, provavelmente quebrados ou deslocados. Havia também cortes e inchaços por toda a parte do corpo dele. O estranho era que alguns pequenos cortes pareciam estar se fechando, curando rapidamente! Derek estava tão assustado que ficou alguns segundos tentando entender toda a cena, antes de se dar conta de que tinha que sair dali com ele logo. Ao pegá-lo no colo, com cuidado, percebeu que ele segurava algo firmemente em sua mão direita, e balbuciava algo, como: “Amenon... Amenon...”. Derek ficou intrigado e se perguntou se realmente Daniel estava utilizando a palavra primordial ou estava delirando. Decidiu descobrir depois, a prioridade era a saúde de Daniel.

Ao sair da casa em chamas, com Daniel no colo, Derek perguntou para ele:

– Tem mais alguém ali, Daniel?

E Daniel conseguiu responder:

– Só eu.

Logo em seguida desmaiou, levando consigo a energia que o envolvia. Derek olhou para os que estavam do lado de fora, encarando-os raivosamente:

– O que vocês pensam que estão fazendo? Olhem o que estão fazendo a uma criança! – Derek dizia isso, olhando nos rostos de cada um deles.

Alguns pareceram se sentir envergonhados ao ver o garotinho todo machucado, parecendo uma boneca de pano velha nos braços de Derek, mas antes que surtisse efeito, Rubro respondeu:

– Ele está compactuando com o mal também! Ele deve perecer, porque o Poderoso...

– Cale essa sua boca imunda, Rubro. Você não tem a menor dignidade para poder falar do Criador. Você diz agir em nome dEle, mas acha que é isso realmente que ele pensou para sua criação? Que se destruísse, matasse crianças indefesas? É isso que vocês acham que Ele queria? – Derek respondeu em tom desafiador, ainda deixando emanar sua aura assustadora, fazendo com que aqueles de vontade mais fraca se encolhessem.

Ninguém respondeu. Alguns olhavam para os próprios pés, incapazes de encarar Derek. O crepitar do fogo das tochas era ouvido perfeitamente, tamanho o silêncio que se fez. Rubro ameaçou falar duas vezes, mas viu que havia perdido o apoio de seu exército.

– Não acreditem no que ele diz! Peguem-no, ele quer apenas nos distrair, para que ele leve o demônio embora, para que ele possa nos castigar depois! Vamos, peguem-no!

Rubro gritava em busca de apoio, mas ninguém quis se aproximar de Derek. Por fim, ele respondeu:

– Vocês vão sofrer por tudo o que vocês fizeram, Rubro. Você, principalmente. Cada dia da sua vida você se lembrará de como foi covarde e como está mentindo descaradamente, só ainda não descobri o porquê. Vocês irão amargurar até o último dia de suas vidas com o pensamento do que fizeram essa criança indefesa passar. Não queria ser um de vocês quando o dia da prestação de contas chegar.

E com esses dizeres de impacto, Derek saiu a pé com Daniel em seu colo, acompanhado de Ryuzan. Ele sabia que Daniel estava fora de perigo, apesar de estar bem machucado. Ele precisaria de alguém para curá-lo antes de poder viajar. Ele também queria saber se Daniel tinha informações sobre o que houve com os McGregor. Estava pensando nisso, quando, das árvores à sua esquerda, saiu um velho, andando encurvado, com uma pequena e frágil bengala de madeira. O rosto muito enrugado, poucos dentes na boca, trajando alguns trapos que lhe cobriam o corpo, bem sujos. As mangas cobriam perto da ponta dos dedos das mãos e ele caminhava bem vagarosamente.

Inexplicavelmente, ele se sentiu confortável com a presença do homem e deixou que ele se aproximasse, pois apesar das circunstâncias da situação, ele parecia ser bem frágil.

– Olá. Ele está muito ferido? – disse o velho, com a fala um pouco arrastada e cantada.

– Sim, está. Mas fora de perigo. O que o senhor está fazendo por aqui sozinho, à uma hora dessas? – disse Derek, desconfiado.

Agora que o olhava mais de perto, percebeu que seus olhos eram leitosos, como os de um cego. A todo momento o velho fungava e mexia as orelhas. Possuía também uma mania de lamber os beiços a todo instante. Derek sentiu uma vontade estranha de rir.

– Hm... Sei... Estou só passando por aqui. Eu tenho umas coisas aqui para ajudar, será que eu poderia...

– Não é necessário, ele está bem, eu cuidarei dele. – Derek temia que aquilo fosse uma armadilha, apesar de não conseguir se sentir mal perto do velho. Muito pelo contrário, sentia uma profunda simpatia por ele, mas isso não era necessariamente uma boa coisa, poderia ser um sentimento forjado por algum tipo de encantamento.

– Aaah... – o velho fez uma cara sofrida ao ouvir a recusa de Derek, apertando os olhos e franzindo a testa. – Deixe de ser desconfiado, Derek. Por favor, deite-o perto daquela árvore ali.

– Mas como o senhor sabe o meu nome? – Derek estava surpreso que o velho o conhecesse. Nunca o havia visto, muito menos em Leimbra, onde todos se conheciam. E quando algum forasteiro chegava, rapidamente todos sabiam, devido à grande língua dos habitantes da vila.

O velho pareceu não ouvir a pergunta de Derek ou simplesmente a ignorou, encaminhando-se para a árvore que havia apontado. Ele andava olhando para todos os lados, apesar de Derek ter quase certeza de que era cego. Agora que voltara a andar, todos os seus tiques eram feitos freneticamente. Ao se aproximar da árvore, ele se sentou com dificuldade e começou a procurar algo na bolsa marrom que levava nas costas. Derek permanecia parado, encarando o velho, tentando decidir se era uma boa ideia ou não.

– Ande logo, Derek, não tenho a noite toda. Ou você não pode agradar um velho? – disse isso e logo depois deu um largo sorriso, de boca fechada, fazendo com que a sua pele flácida do rosto tomasse uma forma engraçada, novamente deixando Derek com vontade de rir, mesmo com aquela situação desconfortável.

Derek se deixou seduzir, e levou Daniel ao local indicado pelo velho e depois deixou Ryuzan livre para dar uma volta. Deitou o menino sobre a grama, aos pés de uma grande árvore e sentou o seu lado, de frente para o velho. O que ele estava fazendo ali e porque queria ajuda-lo, ele ainda não sabia, mas ele não podia deixar de sentir uma simpatia pelo frágil velhinho.

– Hmm... Deixa eu ver onde eu coloquei... Pombas, eu tinha certeza que estava... HÁ! Achei! – disse o velho, muito alegre por ter encontrado o que queria.

De dentro de sua bolsa, ele retirou um pequeno frasco, cujo conteúdo lembrava lama fresca. Ele começou a cantar alegremente, o que deixou Derek mais à vontade ainda, pois a simpatia e segurança que o velhinho passava com a música eram incríveis, irresistíveis. Derek finalmente se acalmou e sentiu-se seguro quanto ao idoso misterioso. Mas mesmo assim não deixou de prestar atenção no que ele fazia com Daniel.

O velho pegou um pouco de conteúdo do frasco com a ponta dos dedos e começou a passar sobre os ferimentos de Daniel enquanto cantarolava. Assim que ele começou a trabalhar, Derek percebeu que, até onde ele podia ver, os braços do velho estavam completamente enfaixados, a não ser pelos dedos. Ás vezes o velho se perdia com a beleza da música, mas logo em seguida voltava ao seu trabalho de restabelecer a saúde do garoto.

– Pronto, bem melhor. Agora o braço e a perna dele, me ajude, Derek. Já sou bem velho e estou fraco, não tenho mais força para essas coisas. Faça força por aqui, mas devagar, vamos chegar esse osso para o lugar... Isso, com cuidado. Pronto! Agora a perna é algo mais complicado e vai demorar um pouco. Eu vou fazer isso aqui... – ele derramou um pouco do conteúdo do frasco em umas faixas de pano e misturou com um pó branco de outro frasco. Depois de umedecer o pano com essa mistura, usou-o para enfaixar a perna quebrada de Daniel.

O velho terminou de enfaixar a perna com cuidado. Derek notou que a aparência de Daniel já estava bem melhor, vários cortes já estavam fechados e muitos inchaços já haviam sumido.

– Você tem um longo caminho pela frente, Derek. Daniel e Alan vão precisar muito da sua ajuda daqui para frente. Ambos estão órfãos e se apoiarão um no outro para poder sobreviver com dignidade. Você tem uma importante função, a de resgatar as origens, colher os frutos ainda verdes para que os faça amadurecer, todos juntos, para que cresçam unidos, em harmonia. Tenha fé, Derek.

Nesse momento Derek realmente se espantou. Ele olhou para o velho, incrédulo, tentando entender como ele parecia saber tanto. Quando abriu a boca para perguntar quem ele realmente era, o velho levantou a mão para ele, pedindo para que parasse e disse:

– O que realmente importa, Derek, é que você acredite neles. Acredite neles e você obterá êxito em sua jornada.

E com mais um largo sorriso desdentado, ele baixou a sua mão, ao mesmo tempo que Derek caía num profundo sono.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês também tenham ficado um pouco mais reconfortados após essa leitura! HAHAHA Finalmente, parece que algo deu certo! =D Torcendo para que tenham gostado! Dúvidas, sugestões e/ou reclamações, comentem aqui ou deixem um MP. A opinião de vocês é muito importante, obrigado a todos que favoritaram, comentaram, estão acompanhando ou de alguma forma me ajudaram nesse processo! Valeu mesmo, vcs são demais =D



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