Tony POV

- NÃO!

Acordei assustado com um grito vindo do andar debaixo da casa. É incrível o jeito como toda vez que eu consigo dormir um pouco, tem que acontecer alguma coisa pra me acordar. Levantei da cama e desci as escadas, praticamente me arrastando. Não encontrei ninguém por lá, então resolvi subir de novo pra aproveitar mais os meus raros momentos de sono. Já estava na metade da escada quando ouvi o grito outra vez. Vinha do laboratório. Ignorei o sono e desci correndo, com medo de que fosse Pepper. Mas não. Era Christine.

Ela definitivamente não estava normal. Estava caída de joelhos no chão, chorando, tremendo e gritando. Não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo ali, então fiz o que qualquer pessoa normal faria: entrei em desespero. Não sabia o que fazer, se ia ajudá-la, se chamava ajuda... Por sorte, o celular dela começou a tocar. Atendi tão rápido que quase o deixei cair no chão.

- Chris, você ta...? - alguém que eu não fazia a mínima ideia de quem fosse começou a falar, mas foi interrompida por outro grito. - Ah, meu Deus.

- Por favor, me diz que você sabe o que fazer - falei.

- Quem é você?

- VOCÊ QUER POR FAVOR ME DIZER O QUE FAZER?? TEM UMA MENINA TENDO UM ATAQUE AQUI!

- OK, eu ia dizer pra não entrar em pânico, mas você já ta em pânico.

- Ah, que bom que você percebeu.

- Certo, ham... você só tem que... segurá-la. Bem forte.

- E depois disso eu faço o quê?

- Manda ela fechar os olhos, diz que ta tudo bem, que já passou... rápido, antes que piore. Você realmente não vai querer ver quando ficar pior.

- Muito obrigado pelo incentivo.

- Ela vai apagar por um tempo depois disso, e depois volta ao normal. Por favor, cuida dela por mim, OK? Seja lá quem você for.

Desliguei o telefone e o coloquei de volta na mesa. Depois corri até Christine e a levantei do chão, abraçando-a o mais forte possível. Ela continuava a tremer e gritar e se debater, mas eu continuei segurando.

- Calma... fecha os olhos... ta tudo bem. Já passou - falei, me sentindo meio idiota por fazer aquilo. Não achava que ela estava me ouvindo. Mas, mesmo assim, continuei. - Ta tudo bem, tudo bem. Calma. Os olhos, fecha os olhos...

Ela aos poucos foi parando de se debater e tremer, e não gritou mais. Em alguns minutos, ela simplesmente desmaiou. Coloquei-a em cima de uma das mesas e sentei na cadeira ao lado, respirando fundo. Por que na minha vida nada pode ser simples e sem nenhum probleminha?

Christine POV

Acordei do mesmo jeito de sempre: como quem acorda de um pesadelo terrível. Abri os olhos de uma vez e sentei, ofegante. Olhei ao redor, me lembrando de onde estava quando tudo começou. Ao meu lado, sentado em uma cadeira de costas pra mim, estava Tony. Desci da mesa onde me encontrava, o sapato fazendo barulho ao bater no chão. Minha cabeça doía e parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão.

O barulho que meu sapato fez ao bater no chão provavelmente chamou a atenção do Tony, fazendo com que este se virasse para mim.

- Graças a Deus, você acordou - ele levantou.

- Tony, foi você que...?

- O que foi aquilo? Eu quase tive um ataque junto com você!

- Me desculpa, mesmo. Eu não acredito que isso aconteceu aqui... Por favor, me perdoa, eu juro que não vai acontecer outra vez...

- CHRIS, FICA CALMA! Eu só queria que você me explicasse o que acabou de acontecer, OK?

- Tudo bem - respirei fundo, sentando em uma cadeira próxima à dele. - Por onde eu começo?

- Por qualquer lugar, desde que me explique.

- Certo. Meus pais eram dois cientistas. Juntos, eles criaram um projeto que, como eles diziam, iria "revolucionar o mundo". Algumas pessoas ficaram sabendo do projeto e quiseram comprá-lo dos meus pais, mas eles recusaram... bom, pra resumir, eles torturaram e mataram meus pais na minha frente. Eu só escapei porque era nova de mais pra entender alguma coisa. Desde então, eu tenho tido que... "esvaziar" minha mente de tempos em tempos. Sabe, eu sou o tipo de pessoa que presta atenção em cada detalhe de tudo. Geralmente, eu desenho pra ajudar a... como posso dizer? É como se desenhar me fizesse tirar algumas coisas da cabeça. Você entende? - perguntei, depois de perceber que ele não tinha falado nada, nem sequer balançado a cabeça enquanto eu falava.

- Acho que sim. Mas como isso explica o que aconteceu?

- Bem, ultimamente eu tenho ficado bem ocupada e não tenho desenhado tando. É como se minha mente sobrecarregasse. E então... eu tenho um desses ataques de pânico.

- E isso acontece com muita frequência?

- É a primeira vez em quinze meses.

- Uau. Bom, eu acho que... se você ta tendo esses ataques por estar sobrecarregada... não seria melhor se você arrumasse um outro emprego?

- Não, não é pelo emprego, eu juro. Trabalhar com você é um sonho se tornando realidade. Por favor, não me mande embora, eu prometo que isso não vai mais acontecer.

- Se acontecer...

- Não vai. Eu juro.

- Tudo bem, tudo bem. Mais uma chance. Mas só porque você é uma boa assistente.

- Muito, muito, muito obrigada! - o abracei, me afastando logo em seguida. Ele é seu chefe, não seu melhor amigo, idiota, pensei, encarando o chão. Sem abraços. - Então... alguma chance de voltar ao trabalho agora?

- Eu sim, você não. Vai pra casa e... desenha um pouco ou sei lá. Faz o que você quiser.

- Prometo que amanhã vou estar aqui.

Peguei meu celular e minha bolsa e já estava a meio-caminho da saída quando me lembrei de uma coisa.

- A propósito, muito obrigada, Sr. Stark.

- Tony. Já ta me irritando essa coisa de me chamar de Sr. Stark. No começo era legal, mas agora eu já to me sentindo velho.

- Desculpa, Sr. Sta... Tony. Até amanhã.

- Ta bem, ta bem. Até amanhã, Christine.