Christine POV

Assim que ele se afastou, ela entrou no cômodo em que estávamos e me levou para outro bem ao lado. Como eu odiava não enxergar direito. Não podia ver nada do que estava ali, senão um borrão prateado aqui ou ali, e algumas coisas que eu não conseguia identificar em cima de uma mesa. Depois de checar as amarras que me prendiam, ela parou na minha frente e sorriu.

- Pode me ver ou é do tipo que fica cega sem os óculos? - não respondi. - Não vai me responder? Vai ser pior pra você.

- Não tenho medo de você.

- Sabe, uma das coisas ruins do extremis é que, enquanto ele é aplicado, parece que nosso sangue pega fogo - ela disse, se afastando. - É uma dor muito intensa, que pode te deixar fraco por dias. E, é claro, você tem que passar por isso mais de uma vez. Não são todos os que resistem a isso. Alguns são muito fracos pra aguentar tanta dor.

- Dor é psicológico. Se você acha que pode aguentar, você aguenta qualquer coisa.

- Não me interrompa quando eu estiver falando - ela me deu um tapa no rosto. - Como eu ia dizer, acho que você não está preparada pra passar por um procedimento desses. Por isso, vou te preparar, te fazendo sentir uma dor que você nunca sentiu antes.

Ela foi até a mesa e pegou alguma coisa pequena, que eu não consegui ter noção do que era até ela se aproximar novamente. Era uma seringa, contendo um líquido avermelhado.

- Já que você se julga tão esperta, sabe me dizer o que é isto? - mais uma vez, não respondi. Tentei me lembrar de tudo que li sobre venenos ou algo do tipo, mas nada me veio à cabeça. - É claro que não sabe. Isso foi criado aqui, e só nós temos acesso à fórmula. É um composto muito útil, que pode ser usado em várias ocasiões. Se ingerido em grandes quantidades, pode matar. Mas não se preocupe, não vou acabar tão fácil com você.

Ela enfiou a agulha no meu braço e injetou o líquido em meu sangue. Não podia fazer nada quando a isso, já que não podia nem me mexer. Em poucos segundos o efeito começou. Meu sangue parecia feito de chumbo derretido. Era como se tivesse ficado mais denso. Não chegava a doer, mas foi a pior sensação que já tive.

- Me diz, garota, você não pode sentir o sangue correndo agora? Cada vez mais denso, cada vez mais pesado.

Minha visão ficou embaçada de vez. Não conseguia mais ver nem o que estava em minha frente. E então o efeito foi diminuindo aos poucos, como se tudo estivesse voltando ao normal. Devo ter demonstrado algum alívio, pois ela riu.

- Ah, não fique feliz, querida. Primeiro esfria pra depois queimar.

A reação foi instantânea. Começou por onde ela aplicou a injeção, e foi se espalhando por todo o corpo. Era como se meu sangue fosse feito de brasas incandescentes. Tudo parecia literalmente estar em chamas. Era como se eu estivesse queimando de dentro para fora, uma dor realmente insuportável. Tive vontade de gritar, mas me contive. Não ia dar esse prazer a ela.

Tony POV

Peguei o envelope da IMA com as informações sobre o extremis, o endereço, e não perdi tempo. Assim que foi possível, eu caí na estrada. Miami não era perto, mas eu conseguiria chegar lá depressa. Precisava pensar em um plano no caminho. Mas eu não fazia ideia de como era o lugar, de como era a segurança, nem do que eu teria que enfrentar. Mais pessoas indestrutíveis? Talvez coisa pior? E quantos? Eu não tinha informações que me permitissem criar um plano específico. E toda essa ansiedade estava me deixando louco.

Já estava na estrada há mais de meia hora, e nada tinha vindo à minha cabeça. Entrar lá, encontrar as duas, libertá-las e sair em segurança, era do que eu precisava. Mas as coisas nunca funcionam como eu preciso. De um jeito ou de outro, eu precisava tirar Christine de lá. Eu a envolvi nisso tudo, é tudo culpa minha. Se ela foi sequestrada, se ela está presa, se se machucou, foi tudo por culpa minha. Se eu não conseguir sair de lá, pelo menos tenho que conseguir fazer com que ela saia.

OK, Tony. Um plano. Eles sabem que eu vou. Provavelmente foi por esse motivo que levaram Christine. Eles levaram alguém importante pra mim, porque sabiam que eu iria atrás dela. É estranho terem levado Christine, qualquer outra pessoa teria levado... ah, meu Deus, Pepper. Se levaram a Chris, provavelmente estão com ela também. E provavelmente a estão torturando ou sabe-se lá que tipo de coisas estão fazendo. Ao pensar na imagem de Pepper machucada, ensanguentada e gritando, o ar pareceu sumir dos meus pulmões. Minha cabeça começou a girar e eu estacionei o carro no acostamento. 

Estava começando tudo outra vez. Mais um ataque de pânico. Fechei os olhos e tentei respirar, mas não teve muito efeito. Pepper estava em perigo, assim como Christine. Eu não fazia ideia de como tirá-las de lá. Na verdade, não fazia ideia de como eu entraria lá. Não tinha um plano, não tinha nem noção do que iria enfrentar. Mas que droga de herói eu sou que não sei nem proteger quem eu mais amo? Como eu vou proteger a pessoa mais importante pra mim nessa droga de vida se não consigo nem me proteger?

Saí do carro e me sentei no chão, tentando respirar fundo. Tentei bloquear os pensamentos, tirar aquilo tudo da cabeça, me acalmar. Aos poucos fui conseguindo, e minha capacidade de respirar foi voltando ao normal. Respirei fundo algumas vezes para me acalmar. Não sei se se passaram dois minutos ou vinte, mas eu consegui voltar ao normal. Voltei para o carro e olhei mais uma vez o endereço. Não sei se estão realmente com a Pepper, mas estando ou não, eu tenho alguém a salvar. E ficar me torturando com esse tipo de pensamento não vai me ajudar em nada.