Enjolras chegou na faculdade e viu uma certa movimentação. Logo encontrou os amigos.

-O que está acontecendo? Por que tanta gente estão indo embora?

-As aulas foram suspensas porque vão fazer teste para a peça do fim do semestre. E como bem sabemos elas são abertas para quem quiser assistir.

-De verdade? Bom,isso veio a calhar podemos ir trabalhar na impressão de mais folhetos...

-Nós vamos assistir os testes,Enjolras.

-Ah,vocês vão? Otimo eu vou para a biblioteca. Bom divertimento.

-De jeito nenhum!  Você vem conosco- Bossuet e Combeferre grudaram cada um em um braço de Enjolras e o arrastaram ate o teatro da Universidade. Enjolras reclamava que era perca de tempo ir assistir pessoas que não querem nada com a vida e acham que a vida é uma festa enquanto varias coisas importantes aconteciam ao redor.

Marius e Cosette já estavam ali e haviam guardado lugares para todos na primeira fileira. O teatro estava lotado.

Os candidatos tinham que escolher um monólogo e apresentar para os universitários .

Enjolras não queria estar ali,não queria perder tempo quando eles estavam quase perto de alcançar a perfeição para a manifestação mas os amigos o arrastaram para ali,alegando que ele precisava se distrair  um pouco.

Muitos escolheram Shakespere ou as irmãs Bronte,para Enjolras tudo aquilo era um saco ele já  conhecia todas aquelas historias.Quando ele decidiu tirar um cochilo pois não perderia nada,uma voz conhecida veio do palco.Enjolras deu um pulo e começou a prestar atenção na garota no palco. Quando ele entrou ali nem passou pela sua cabeça que Éponine poderia ser uma das candidatas.

-Bonjour.Meu nome é Éponine Thénardier,estou fazendo  o teste para Sally Bowles e meu texto escolhido é Monologos  da Vagina-  Éponine falou sem hesitar,sem ficar vermelha. Pode se ouvir algumas exclamações horrorizadas pela palavra que ela havia acabado de pronunciar. Mas Éponine sabia que causaria essa reação ao escolher esse texto.Assim ela teria toda atenção do seu publico.Logo em seguida as luzes se apagaram so  deixando um holofote nela que retirou o casaco que e revelou estar usando uma calça jeans,saltos,cabelos preso e apenas uma faixa enrolada nos seios como se fosse um top para escondê-los.

Enjolras nunca tinha visto Éponine atuando antes, ele sabia que ela vivia para o teatro, mas nunca a tinha visto em um palco.

Ele se lembrou da primeira conversa que eles tiveram na biblioteca que ela havia mostrado aquele livro para ele. De repente ela tinha toda a atenção dele.

Enjolras não conseguia tirar os olhos dela,estava tão bela,tão simples,tão ousada e tão Éponine.

Éponine respirou fundo e olhou para a frente.

-Venho de uma geração que mesmo depois de séculos  ainda sentem medo de falar e se referem as suas vaginas como "lá embaixo"- Éponine apontou seus dedos indicadores para a genitália . Isso é -  ela soltou uma risada sarcástica - quando raramente são usadas.Mas não se preocupem,não é nossa culpa. Fomos educadas assim porque nossas mães foram educadas assim. E hoje eu pretendo fazer esses muros que temos ao redor dessa palavra caírem .Afinal todas as mulheres tem e faz parte do nosso corpo,do nosso ser. Por que os homens podem falar pênis sem as pessoas ficarem horrorizadas? Muito pelo contrario,você chegam a achar ate graça.  Afinal vagina é o nome que os médicos  usam para definir essa parte do corpo feminino. Por que não sentimos vergonha ao falar braço,perna ou pescoço? São partes do corpo igual ao nome vagina que é uma parte muito importante do corpo.Vejam quantas vezes ja falei vagina agora sem me sentir envergonhada? Vagina - Éponine falou como se falasse "oi"- Vagina,vagina,vagina! Eu não estou me sentindo envergonhada,mas aposto que tanto mulheres quanto homens na platéia  estão se sentindo envergonhados e estão vermelhos agora. Eu também  tinha esse problema. Me sentia intimidada com a palavra "vagina". Era quase como se fosse um palavrão, um pecado falar vagina. Porque pensamos em vagina como uma coisa tão intima,certo? Mas ate que achei um livro que me fez mudar de idéia  quanto a isso. Vagina é so  uma palavra. Defina o órgão  reprodutor feminino?-  ela perguntou- "La embaixo?" ,"Coleguinha?","Pepequinha?"-  Éponine fazia uma voz infantil e lezada - Não!-  ela gritou - Va-gi-na. Repitam comigo - ela pediu - Va-gi-na – ninguém  repetiu.- Tudo bem,quando saírem  daqui vocês vão estar falando vagina sem se incomodarem. Como disse vou fazer esse muros cairem. Mais uma pergunta: Quando vocês vão ao ginecologista,essa é outra palavra que causa muito medo nas mulheres; eles por acaso perguntam "Qual o problema la embaixo?" ou "Muito bem vamos examinar a coleguinha!".- Ela tinha um sorriso sarcástico  no rosto – Não - ela respondeu seria. -Ele vai falar vagina. Durante esse monologo eu vou falar vagina no mínimo  100 vezes. Porque mulheres tem vagina e eu sou mulher então... eu tenho vagina - ela falou dando de ombros - Mas não pensem queridos amigos que vou lhes falar besteiras aqui. Posso não tem escolhido Shakespere, mas esse monologo não é menos importante. E ele é um desafio para eu fazê-lo  geralmente são três mulheres e cada uma  conta uma história do livro. Mas espero  que vocês gostem. Então se você não gostou peço que por favor se retirem, mas vão perder informações importantes e que deveriam ser interesses de todos... Vocês sabiam que yoni é como chamam a vagina na India? Muitos de vocês podem estar horrorizados com o que estou falando. Eu também  fiquei ao descobrir o que vou contar a vocês agora.- Éponine se virou e destampou uma caixa e escolheu uma roupa,ja não era mais Éponine que estava ali. Era a personagem que ela estava  contando a história. Depois de vários  personagens e trocas de roupa,o publico já  não se sentia mais "intimidado" "horrorizado" e "envergonhado" por Éponine dizer vagina e ate riam de alguns casos. Éponine tirou o figurino e se encaminhou para frente do palco.

-Acendam as luzes por favor-  ela pediu - Essa informação quero contar olhando nos olhos de cada um de vocês e peço toda a atenção de vocês. - Como se fosse impossível  não prestar atenção em Éponine no palco. Enjolras não havia conseguido desgrudar os olhos dela em nenhum segundo. Ela fazia aquilo muito bem.  Éponine olhou atentamente para o publico,havia uma emoção naquele olhar, depois de alguns segundo ela recomeçou a falar -Para fazer esse monologo tive que fazer pesquisas alem do que estava no livro para saber do que estou falando e passando para vocês. Vocês sabiam que na Bósnia, as mulheres eram estrupadas  como estratégia   para começarem uma guerra? -ela falou em tom indignado.-Eram estrupadas para os malditos começarem guerra! E isso aconteceu recentemente foi em 1993...fazem - ela parou olhando para cima como se estivesse pensando-20 anos! A idade da maioria das pessoas aqui- ela gritou,sua voz era carregada de raiva.-Eu vi fotos de algumas dessa mulheres elas tinham expressão de desespero e choque. De perda. Vergonha .E o mais triste disso tudo é que eu sei como elas se sentem -Éponine deu um sorriso triste. Ela fixou o olhar cheio de dor em Enjolras- Vou contar uma história para vocês que não está no livro. E eu refleti muito se deveria acrescentar esse fato ao monologo, por ele ser tão pessoal. Mas a partir do momento que eu decidi fazer esse monologo e não um texto dramático ,não criticando meus colegas que foram excelentes em suas escolhas, eu tinha que falar, eu tinha que ser verdadeira aqui com vocês e comigo. Eu tinha que contar . Isso realmente aconteceu e ate hoje tenho pesadelo com isso,ate hoje esse fato me persegue como um fantasma... Quando eu tinha treze anos eu fui estrupada por um amigo do homem que eu chamava de  pai - Éponine começou a  falar e algumas lagrimas começaram a correr pelo seu rosto, Enjolras ficou pasmado com o que descobriu, ela continuava olhando para ele- contei para o monstro que chamava de mãe,de quem nunca ganhei um afago,um abraço ou um beijo de boa noite ,que aquele homem tinha me machucado. Sabem o que ela me disse? "Continue fazendo o que ele gosta. Enquanto o dinheiro estiver vindo para minha mão, você não deveria se importar". Que tipo de mãe fala isso para uma filha? Que tipo de mãe acaba com um dos momentos mais precioso de sua filha por dinheiro e debaixo do próprio  teto?... Eu não agüentei . Depois da segunda vez eu bem.... Fugi de casa e comecei a morar na rua. Foi quando depois de dois anos vivendo na rua, eu já  tinha ate saído  da cidadezinha em que eu nasci, e tinha passado por situações que nenhuma criança deve passar,três anjos apareceram na minha vida. Minha amiga Cosette ,seu pai e sua mãe.  Eles me tiraram das ruas, uma criança traumatizada e com uma vida miserável  e com aquela idade ja tinha pensado em suicídio  para acabar com todo sofrimento. Para falar a verdade não faltava muito para isso acontecer. Eles me deram oportunidade de estudar. Eu ganhei carinho, coisa que nunca tive em toda minha vida. Eu tinha 15 anos.  Me trataram como se eu fosse filha deles.  Eles me pagaram tratamento psicológico ,me ensinaram a viver de novo e não sentir medo e nem vergonha de mim mesma,não foi minha culpa. Eles me prometeram me proteger. E eles cumpriram. Hoje se eu estou aqui e consigo ter uma vida normal,sem medos, e sem sentir vergonha do que me aconteceu foi por causa deles. Eu saio,tenho amigos, posso ter um namorado sem sentir medo. Tento aproveitar a vida o Maximo  porque so tenho essa. E sabem o que doi ? Você se esforçar tanto,para ter uma vida normal depois de um trauma desses e ainda tem que aturar as pessoas te chamando de "vadia",so porque você tenta não deixar transparecer que você tem um problema. Eu sei o que essas mulheres sentem e jurei a mim mesma que ia tentar mudar esse fato. Isso foi perturbador ,mas não mais perturbador que descobrir que nos Estados Unidos cerca 500 mil mulheres são estrupadas em um ano.Esse numero pode ser maior. No Brasil uma mulher foi estrupada dentro de um ônibus , os passageiros foram obrigados assistir aquela cena sem poder fazerem nada,porque o homem ameaçou atirar em todos. No Brasil também  uma grávida  foi estrupada e morta logo em seguida enquanto voltava do mercado.  100 milhões! Isso mesmo eu disse 100 milhões de mulheres tiveram suas genitálias  mutiladas no mundo inteiro e a lista não para por aí. São números  altíssimos  e que não podemos mais fechar nossos olhos para isso e fingir que não esta acontecendo debaixo do nosso nariz! Quantas garotinhas como eu fui um dia vão ter que perder sua inocência para vermos que apenas nós podemos mudar isso? Quantas mulheres e crianças vão ter que passar por tratamento psicológicos  para poder voltar a ter suas vidas de volta? E se fosse sua mãe? Sua irmã ou sua namorada? - Éponine desviou o olhar de Enjolras e começou a apontar para a platei a enquanto perguntava, ela tinham seu rosto manchado de lagrimas, pela primeira vez Enjolras a via como a garota indefesa que ela era e ele queria invadir o palco e por um motivo desconhecido abraçá-la e pedir perdão pelas coisas que ele havia dito para ela aquela noite. Ele sentia o coração apertado de culpa- Eu digo "vagina" porque quero que essas coisas horríveis   acabem. Elas não pararão enquanto não reconhecermos que elas existem e são um problema nosso! Não devemos ter medo. Não devemos sentir vergonha. Não devemos sentir que isso é uma vingança divina. Isso não é. Essa parte do meu monologo vai dedicada para as mulheres da Bosnia .- as luzes se apagaram voltando o foco para Éponine.

Enjolras sentia uma admiração por ela, um certo orgulho e pela primeira vez tinha visto Éponine falar sem sarcasmo na voz,pela primeira vez Éponine mostrava uma parte dela.

"O teatro me permite ser quem eu sou e quantas pessoas eu desejo ser.Quando estou no palco tudo que eu faço é verdadeiro,não existe mentiras.Cada fala,cada personagem tem um traço meu.E quando eu chego no meu ápice que é chorar em um palco que chega ate dar exaustão que me faz querer deitar no chão e me abraçar igual a uma bola para me confortar,que eu tremo de raiva e você consegue vê-la e apalpá-la você pode ter certeza que eu viajei para o lugar mais escuro e profundo do meu interior,e que eu não estou interpretando,estou revivendo meus demônios  encima do palco"

 Enjolras se lembrou quando Éponine disse para ele por que havia escolhido o teatro como forma de ganhar a vida.

"Por que você escolheu ser advogado?" ela perguntou levando a xicara de café a boca

"Para ajudar as pessoas pobres com seus problemas com o direito que elas tem e não sabem" Enjolras respondeu sem hesitar.

"Eu escolhi o teatro pelo mesmo motivo que você.Para  ajudar as pessoas com seus problemas psicológicos . Você pode não saber mas teatro é uma terapia que ajuda,por isso sem me gabar é claro sou tão boa no que faço".

A confissão de Éponine chocou a todos, a garota limpou o rosto e vestiu trapos, como se fosse uma mendiga.

-"Há alguma coisa entre as minhas pernas.Não sei o que é.Não sei onde está.Eu não toco.Não agora.Não mais.Não desde..." Minha vagina era muito animada,não podia esperar.Tinha tanto o que dizer e não podia para de falar oh sim,oh sim - Éponine gemia no palco de olhos fechados - Ate que um dia sonhei que havia costurado um animal morto lá embaixo. E o cheiro era ruim e não podia ser tirado. Sua garganta foi cortada e sangra através das minhas roupas- quando ela disse isso o vestido velho que usava se manchou de vermelho - Minha vagina cantava todas as canções. Ate aquele dia.- Éponine abriu os olhos,mas eles nada viam estavam desfocados. Uma expressão de pavor, de dor e desespero surgiu no rosto da garota. Ela suava e tremia.- Não,desde que os soldados enfiaram um longo rifle dentro de mim - a garota caiu de joelhos segurando as mãos,os olhos ainda desfocados - Tão frio o cano de aço,abatendo meu coração - ela falava com uma voz triste e com dor,como se estivesse acontecendo aquilo naquele momento .- Não sei se dispararão o rifle ou atravessarão meu cérebro com ele. Na verdade prefiro que me matem de uma vez ! São seis ! Seis deles se aproveitando de mim. Medicos  monstruosos que deveriam estar ajudando pessoas. Usavam mascaras negras e enfiavam garrafas quebradas dentro de mim, varas e um cabo de vassoura -  Éponine se contorcia no palco, a dor dela era palpável   por todos que estavam em silêncio entretidos com o sofrimento da garota. Enjolras queria tirá-la do transe em que estava,e dizer para ela que não deixaria nunca mais alguém  machucá-la. Como alguém  poderia fazer mal para uma garota tão especial como Éponine?

Enjolras  arriscou um olhar para seus amigos. Todos tinham uma expressão de choque no rosto enquanto não conseguiam tirar os olhos de Éponine deitada no chão,gritando e implorando que homens invisíveis  parassem de machucá-la. Cosette chorava,assim como Joly.

-"Não desde que consegui ouvir a pele rasgando, produzindo sons uivantes ,penetrantes; não, desde depois de gritar e implorar que parassem .Depois de me maltratarem e fazerem tudo que queriam um pedaço de minha vagina apareceu em minha mão ; uma parte do lábio. Hoje so tenho um deles"- Éponine se levantou suada soluçou auto e com nojo voltou a falar -"Não,desde que faziam turnos de sete dias cheirando a fezes e carne defumada; deixando seu sujo esperma dentro de mim - ela se arranhava e se batia como se estivesse com nojo dela mesma- "Tornei-me um rio de veneno e pus;a colheita morreu assim como os peixes"-novamente Éponine limpou seu rosto e desolada e cambaleante voltou a falar- Minha vagina,vila banhada pela água.

Eles a invadiram,chacinaram e queimaram.

Não a toco mais.

Não a visito.

Agora,moro em outro lugar

Que não sei onde é". - Éponine se recompôs . Para ela tinha sido difícil  confessar tudo isso. As pessoas poderiam achar que ela estava apelando, mas ela sentiu que tinha que dizer isso e a sua antiga psicóloga , que Éponine procurou para saber se ela deveria contar ou não disse "Se você tiver coragem de dizer isso, pode ter certeza que você está curada do seu trauma e isso não te assombra mais. Não vou dizer para você contar. Você tem que seguir o que o seu interior quer. Mas fique sabendo que teve uma atriz brasileira muito famosa que sofreu a mesma coisa que você e ela contou e continuou sendo adorada e ninguém  a tratou com nojo ou pena que é o que você teme que aconteça com você".- Esse é foi um dos depoimentos dado por uma das vitimas. Ate quando vamos ser tratadas como um objeto? - Éponine tirou a roupa e a colocou de volta na caixa. - Vocês sabia que 80 e 100 milhões de meninas e mulheres já sofreram mutilação genital . Nos países onde ela ocorre, principalmente na Africa todos os anos. Cerca de 2 milhões de jovem podem esperar - a garota pegou uma caixa e tirou uma faca de dentro mostrando para a platéia -Faca, navalha ou um pedaço de vidro para cortar seus clitóris ou removê-los completamente.- ela mostrava os objetos- Ou então os grande lábios  são costurados com categute  ou espinho. Tudo para a mulher não ter prazer. Apenas o homem tem direito a ter prazer no sexo. Mas o homem vai atingir o prazer se a mulher achar desagradável  o ato? Curiosamente essa "cirurgia" não pode ser feita no homem porque inclui amputação total do pênis.  Essa "cirurgia" que geralmente são feitas assim que as meninas nascem causam vários  problemas como infecção, hemorragia, agonia durante o parto que se torna perigoso e o por ultimo e menos importante como sempre : A morte.- ela disse em tom sarcástico .- Muitas mulheres que moram na rua,so estão onde estão porque seu lar não era seguro. Foi o que aconteceu comigo. Preferi a rua aos meus pais biológicos . Muitas vezes sofreram incesto,por isso fugiam. Nos abrigos para sem teto é muitas vezes onde elas se sentem seguras.O próximo  monologo se trata de uma história de uma mulher que fugiu de casa após o pai a estrupar . Essa história esta longe de ser brutal e incomum,e também  não é tão perturbadora quanto a anterior. Mulheres pobres sofrem violência sexual que não são registrada oficialmente . Agora me digam,so porque vivem nas ruas ou não tem dinheiro,não tem o direito de ser tratado como igual ? Não tem direito de ser protegido ? Onde vamos parar se as autoridades apenas percebem o problema quando alguém  rico, um artista é atacado? Apenas eles são humanos e tem direito a ter uma vida decente? Essas mulheres não tem direito a terapia ou outro metodo de ajuda. O abuso destrói  a auto-estima e as conduz as drogas,prostituição, Aids e em muitos caso a morte. No caso dessa mulher,ela teve um final feliz- Éponine tinha um sorriso sereno no rosto - Ela conheceu outra mulher,se apaixonaram e hoje moram juntas e tem uma vida maravilhosa .Esse monologo é dedicado a elas, para mulheres que sofrem e necessitam de nós.  - Éponine vestiu um robe de cetim preto e delicado e soltou os cabelos negros, ficando sexy aos olhos de Enjolras. Ela contava a história da garota que havia sido estuprada por um homem quando tinha sete anos e ao 13 conheceu uma mulher de 24 anos que a fez conhecer o prazer e não a odiar mais sua vagina . Depois daquela noite a garota descobriu gostar de garotas e nunca mais viu a bela mulher que a ajudou a não se odiar mais.- Vocês já ouviram falar no estupro de correção? Ele acontece quando uma mulher é lesbica  e o homem a estupra para ela virar mulher. Agora me digam: isso é certo? Onde está a liberdade de escolhas e poder amar quem quiser  sem esse estúpido  preconceito? Isso também  infelizmente acontece muito.  Agora aqui quantas de vocês ja treinaram gemidos? Não sintam vergonha de falarem,eu mesma ja treinei mas sempre me parecem muito falsos aos meus ouvidos. Vamos a um exemplo simples e tosco, quando estamos apertadas para fazer xixi e quando vamos ao banheiro inconscientemente gememos. Sabem por quê? Por que os gemidos estão ligados ao fato de você não conseguir uma coisa de imediato, o gemido é um pedido de realização . Eu amo torta de limão mas não é sempre que eu como,então quando eu tenho a oportunidade de comer não posso evitar de soltar um "Hmmm" a cada mordida na torta. É normal. Mas existe vários  tipos de gemido que sinto vergonha de admitir,tive que assistir alguns pornôs  para isso... Brincadeira. Aí já é chegar ao fundo do poço. Tambem  conversei com mulheres especialistas em sexo e aqui vão um dos mais famosos. Espero conseguir reproduzir bem sem soar falsa.- a platéia  deu uma gargalhada e conforme Éponine ia fazendo os diversos sons de maneira divertida e fazendo caras engraçadas todos riam . Aquilo já não era mais constrangedor, se tornará normal. Naquele meio tempo Enjolras se pegou pensando como seria fazer Éponine ter aqueles gemidos . Ele ficou assustado com o próprio  pensamento. Ele tinha sua paixão e prometera nunca se envolver com uma mulher,mas ali estava ele,desejando justamente aquele que não poderia ter.- Agora para encerrar o meu monologo não podemos falar de vaginas se não falarmos do parto. Tudo bem que agora existe a cesaria  que cá para nós é bem melhor que parto normal. Mas gosto de compará-la ao coração. Porque o coração é capaz de fazer sacrifícios .

A vagina também .

O coração é capaz de perdoar e reparar.

Pode mudar de forma para nos deixar entrar ou se expandir para nos deixar sair.

A vagina também . Pode sentir dor por nós,se esticar e morrer por nós e sangrando nos colocar dentro desse mundo difícil  e maravilhoso.A vagina também !Então queridos amigos,espero que os muros tenham caído .E agora eu gostaria que vocês falassem comigo "vagina". Pode ser? No três.Um...dois...três - e todos inclusive Enjolras gritaram vagina. - Isso muito lindo,muito lindo. Esperem que vocês levem consigo o que aprenderam aqui hoje, e espero que tenham aprendido.  Vamos nos unir para mostrar que somos fortes e vamos cuidar umas das outras - o holofote que estava nela se apagou e logo em seguida todas as luzes se acenderam. Éponine agradeceu ao publico com um sorriso verdadeiro de satisfação,de trabalho feito. Todos aplaudiam ela de pé, alguns gritavam,outros assobiavam e tinha aqueles que seguidos por Grantaire gritavam "vagina".

Éponine saiu do palco e logo depois outro monologo começou,mas a plateia  não prestava mais atenção. Estavam conversando sobre o assunto abordado por Éponine.Ela tinha conseguido o que ela queria.

-Ela é realmente muito boa - Courfeyrac falou para Enjolras com admiração.

-Sim ela é - Enjolras respondeu do seu jeito frio.

-Quem iria imaginar que ela passou por uma coisa como aquela -Joly falou.

-Estou orgulhosa de minha amiga,ela conseguiu superar e falar desse problema que a sufoca ha anos. Quem sabe agora ela consiga viver sem magoas e desconfiada de todos-  Cosette falou abraçada a Marius que concordou.

Enjolras percebeu que ele e Éponine não eram tão diferentes assim, ambos lutavam para as pessoas com problemas serem vistas. Ele lutava pelo o direito das pessoas e Éponine lutava para as pessoas não sofrerem mais traumas psicológicos  como ela sofreu.

Já Éponine estava apreensiva,agora a idéia  de contar sobre o que aconteceu com ela parecia apelativa demais, desesperada demais, o que antes parecia bom no começo,se mostrava agora ser impensada . Ela não sabia o que tinha conseguido das pessoas que a assistiram. O que ela sabia era que tinha estragado sua chance de conseguir o papel por um capricho seu.

Quando Éponine saiu dos bastidores do um monte de pessoas pularam nela e a parabenizaram. Ela sentiu abraços de quem ela nunca tinha visto na vida. Ela conseguia ouvir alguns gritando "vagina" outros falavam para ela permanecer sempre forte, e "estamos com você".

Os amigos ficaram em um canto observando enquanto Éponine tentava sair do meio das pessoas. Algumas a paravam para conversar e Éponine em momento algum foi rude, ela respondia pacientemente as perguntas e desconversava quando alguma pergunta era sobre  o que tinha acontecido com ela.

Quando as pessoas finalmente a tinham deixado sair,ela sentia as bochechas doendo de tanto ficar sorrindo, mas estava feliz das pessoas terem se interessado pelo assunto. Éponine andou até onde os amigos estavam,  Cosette assim que a viu se aproximando saiu correndo e abraçou Éponine que a retribuiu. Cosette ainda chorava.

- Você estava linda no palco. Eu estou tão orgulhosa de você!- Cosette falou entre um soluço e outro.

-Menos Cosette, menos.  Não precisa tanto... Por favor  não baba no meu cabelo- Éponine pediu e Cosette começou a rir e desgrudou de Éponine que olhou para o cabelo- Ah! Fala serio, Cosette! Meu cabelo ta todo babado mas que nojo- Éponine fez uma careta enquanto olhava para a mecha de cabelo babada.

-Me desculpe.

-Éponine de você irradia uma luz que as estrelas e o sol sentem inveja. Você é a luz que todas as borboletas procuram para se guiar. Você estava magnífica  no palco! Peguei essa rosa para a mademoiselle.

-Merci, Jehan. Belas palavras. E esta rosa é linda!- Éponine agradeceu e o abraçou.

-Você sempre me surpreende, Eponine. EQuando eu penso que eu já vi o seu maximo  você sempre vai lá e faz melhor...  Agora aquilo que você falou,aconteceu mesmo?- Marius perguntou e Éponine assentiu, ela estava um pouco corada pelo o que ele tinha acabado de dizer para ela. Marius olhou para Cosette- Você sabia disso?

-Claro,né. Ela é minha amiga e morou na minha casa. Eu tinha que saber.

-Puxa, Éponine você quase me fez querer ter uma vagina- Grantaire falou passando o braço pelos ombros de Éponine- Mas dai eu me lembro que é mais legal ser homem. Eu posso fazer xixi de pé... Alguem  ta afim de ir beber alguma coisa?

-Sabe? Eu gostaria muito de ver o Grantaire  sóbrio  pelo menos uma vez na vida.- Éponine falou e os amigos assentiram. Grantaire chegou bem perto do ouvido de Éponine.

-Isso nunca vai acontecer!... Você estava ótima , agora se me dão licença vou procurar alguma coisa para beber.

-Fiquei pasmado com o que você disso, Ponine. So de pensar em quantas infecções e doenças poder ser causadas por essas monstruosidades.  Será que não sabem que apenas um medico pode fazer cirurgia? E eu odeio esses médicos  que so usam o poder do cargo para abusar das pessoas,principalmente mulheres... Adorei,nunca tinha assistido nada tão interessante,engraçado,dramático  e informativo. Por sinal acho que seria bom você ir tomar um banho,você rolou naquele palco sujo,onde outras pessoas já tinham pisado e vai saber onde elas pisaram. Ainda mais que eu ouvi algumas pessoas falarem "merda" é perigoso você pegar alguma doença de pele, ou acontecer alguma coisa no seu organismo,ainda mais se pisaram na merda. Na verdade seria bom você fazer alguns exames para ver se está tudo certo...

-Joly. Cala. A. Boca.- Éponine pediu rindo. Se dependesse de Joly Éponine estaria em coma isolada para não ficar doente.- ninguém  pisou na merda ali. Isso é uma expressão que no teatro significa "boa sorte".

-Ah sim... Mas mesmo assim. Um banho com um sabonete antisseptico  seria uma boa.

-Vem aqui me dar um abraço,Joly. Para de graça.

-Não,não,não- Joly a afastou com as mãos - tome o banho,depois nos abraçamos.

Enjolras estava ali assistindo os amigos elogiando Éponine. Ele queria dizer alguma coisa,mas se sentia envergonhado pela atitude que teve em relação a ela.

Éponine estava de costas para ele. Cosette estava agarrada ao braço dela, Marius estava com o braço entrelaçado ao outro braço de Éponine. Grantaire vinha sorridente com uma garrafa de cerveja.

O olhar de Cosette caiu sobre Enjolras, excluído  do grupo. Ela fez um movimento o chamando para se juntar a eles. Éponine percebeu o movimento e se virou para ver quem a amiga chamava e seu sorriso se fechou ao ver que era Enjolras.

Ele se aproximou com as mãos nos bolsos,ele sempre perdia o jeito perto de  Éponine. Ele era um mármore ,mas ela tinha a incrível  força de conseguir trincá-lo.

Enjolras olhou nos olhos de Éponine.

-Você foi ótima . Você realmente tem talento.

-Merci, M'sieur... – Éponine respondeu friamente e pegou no braço de Marius e olhou o relógio - Agora se me dão licença eu tenho que ir ouvir os juízes  vão falar sobre meu monologo. Eu tenho certeza que eu estraguei com qualquer chance de ganhar o papel. Tchau,ate mais- e Éponine entrou correndo pela porta lateral do teatro.

-Bom vamos ao trabalho.- Courfeyrac falou pegando a mochila e  entregando um punhado para cada um.-  Distribuindo o folheto informativo sobre a greve.

-Mas já ficaram prontos?- Enjolras perguntou surpreso não fazia tanto tempo que eles tinham feito... Ou será que fazia?

-Você anda tão alienado ultimamente. Lembra que eu disse que consegui em uma gráfica  que era mais barata e que ficava pronto em menos tempo que as outras?

Enjolras assentiu,lembrava vagamente desse assunto.

Todos os amigos se espalharam. Enjolras estava indo para a entrada da faculdade quando sentiu uma mão o segurando ele se virou e era Cosette.

-Não se preocupe,ela não vai conseguir ficar muito mais tempo sem falar com você. Ela nunca consegue ficar muito tempo brigada com alguém . Ela sente sua falta. Por mais que o que você fez não foi legal... E não fique bravo eu sei que você ama a sua pátria ,e você so se interessa por ela, mas eu acho você e Ponine formariam um casal muito fofo... Tchau.- Cosette deu um beijo rapido na bochecha de Enjolras e voltou correndo para onde Marius a esperava.

Eponine havia contado sobre a briga que eles tiveram para Cosette?

Se tivesse contado que diferença fazia? Logo os ensaios do casamento começariam e Enjolras não tinha tanta certeza sobre o que Cosette havia lhe dito.

Ele tinha certeza que Éponine continuaria lhe ignorando. Mesmo que tenha sido uma discussão besta, Éponine havia se sentido bastante ofendida.

Enjolras se perguntou por que ele tinha decidido ir atrás de Éponine. Se ele não tivesse ido não teria visto ela e Courfeyrac  juntos,ele não teria brigado com ela, ela não estaria ofendida e eles poderiam ser amigos ainda.

Mas a pergunta que mais o incomodava era: Por que ele havia se importado tanto com aquilo?