Quando entrou novembro o tempo esfriou muito. As serras em torno da escola viraram cinza-gelo e o lago parecia metal congelado. Toda manhã o chão se cobria de geada. Hagrid era visto das janelas dos andares superiores do castelo degelando vassouras no campo de quadribol, enrolado num casacão de pele de toupeira, com luvas de coelho e enormes botas de castor.

Começava a temporada de quadribol. No sábado, nós estaríamos jogando nossa primeira partida depois de semanas de treinamento: Slytherin vs. Gryffindor, aparentemente um clássico. Se Slytherin ganhasse, estaríamos muito longe do alcance das outras casas no campeonato.

Quase ninguém nos vira jogar porque Flint decidira que, sendo armas secretas, nossa participação deveria ser mantida em segredo.

Era quase uma sorte, que estivéssemos acostumados com o regime de treinamento dos times de basquete e beisebol na escola mundana. Se não, não daríamos conta dos deveres de casa e trabalhos extras, diante dos treinos de quadribol convocados por Marcus na ultima hora.

Hermione tornara-se nossa amiga após o incidente do troll, também menos tensa com relação às infrações ao regulamento e tentava ser uma pessoa mais simpática.

A sala comunal de Slytherin estava muito barulhenta na noite da véspera da partida. Eu, Chris e Draco estávamos sentados junto à lareira, Chris verificava o dever de Draco para a aula de feitiços. Nós nunca deixávamos os outros copiar. Como mais eles iriam aprender?

Fomos dormir despreocupados, sabíamos que se perdêssemos não faria diferença.

A manha seguinte amanheceu clara e fria, acordei com Chris me cutucando, seguimos o ritual habitual, tomamos banho, nos vestimos e fomos para as cozinhas, os elfos eram muito felizes em nos ceder as cozinhas todo sábado de manhã.

Ai pelas onze horas a escola inteira parecia estar nas arquibancadas que cercavam o campo de quadribol. Muitos estudantes tinham levado binóculos. Os lugares ficavam no alto, mas, às vezes, ainda assim era difícil ver o que acontecia.

Nos vestiários, nós e o resto do time estávamos vestindo as roupas verdes de quadribol (Gryffindor iria jogar de vermelho)

Marcus pigarreou pedindo silencio.

_Muito bem, rapazes

_E moças_ acrescentei olhando para Chris

_Tanto faz_ concordou Marcus._Este na hora, esse é o melhor time que Slytherin já teve nos últimos anos. Vamos vencer, é obvio que vamos._Encarou os jogadores como se dissesse “Ou vão ver”

Eu acompanhei Chris na saída do vestiário e entramos na quadra debaixo de vivas, mas provavelmente eram para o time de Gryffindor.

Madame Hooch era a juíza. Estava parada na meio da quadra esperando os dois times, de vassoura na mão.

_Quero ver um jogo limpo, meninos._Disse quando estavam todos a sua volta. Eu reparei que ela parecia estar falando com nosso capitão.

_Montem suas vassouras, por favor._

Eu e Chris subimos em nossas Nimbus 2000.

Os gêmeos Weasley pareciam perplexos em ver Chris com um bastão de batedor.

Madame Hooch puxou um silvo forte no seu apito de prata e quinze vassouras se ergueram no ar. Fora dada a partida.

O amigo dos gêmeos, Lino Jordan, estava irradiando a partida, vigiado de perto pela Prof. Minerva.

“Slytherin esta realmente jogando com força total. Se eu não fizesse a contagem a cada minuto eu juraria que Chris Benedetti fez um clone, pois ela esta sempre no caminho dos balaços, direcionando-os para os artilheiros de Gryfindor, os gêmeos Weasley estão vendo isso como um desafio, mas não parecem estar aos pés da novata.Slytherin ganhando por 60-0 e não parecem dar folga. E o incrível: os jogadores de Slytherin estão jogando limpo!”

A torcida de Slytherin enche de berros o ar frio, e a torcida de Gryffindor de lamentos.

Muito acima deles eu sobrevoava o jogo, procurando um sinal do pomo. Isso fazia parte da estratégia montada por mim e Marcus.

_Fique fora do caminho até avistar o pomo_ dissera Marcus _ não queremos que seja atacado sem necessidade.

Uma vez eu avistei um lampejo dourado, mas era só o reflexo do relógio de um dos gêmeos e outra vez um balaço resolveu disparar em minha direção e mais parecia uma bola de canhão, mas eu consegui desviar e Chris veio atrás dele.

_Tudo bem ai, Harry?_ Ela tivera tempo de gritar ao rebater o balaço com fúria em direção a Oliver Wood.

“Slytherin em posse da goles” Lino Jordan continua narrando “ O artilheiro Pucey se desvia de dois balaços, dos dois Weasley, da artilheira Bell e voa para – esperem ai – será o pomo? “

Correu um murmúrio pelas torcidas quando viram Adrian Pucey deixar cair a goles, ocupado demais em espiar por cima do ombro o lampejo dourado que passara por sua orelha esquerda.

Tomado de grande agitação, mergulhei em direção ao rastro dourado. O apanhador de Gryffindor vira o pomo também. Cabeça a cabeça, nós nos precipitamos em direção ao pomo – todos os artilheiros pareciam ter esquecido do que deveriam fazer, pararam no ar, para observar.

Eu fui mais rápido que ele – estava vendo a bolinha redonda, as asas batendo, disparando para o alto –, imprimi mais velocidade...

_Ohh!_ Um rugido de surpresa saiu da torcida de Slytherin em baixo. Minha vassoura deu uma guinada súbita e eu perdi o controle dela, me segurei com tudo para não cair. O outro apanhador perdera o traço do pomo e a torcida pensou que o mesmo acontecera comigo. Mas era como se minha vassoura estivesse tentando me derrubar. Eu sabia que ninguém tinha percebido ainda que não era por acaso, por isso assoviei para Chris que estava do outro lado do campo, meu assovio chamou não só a atenção dela mas também de Joradan.

“ A vassoura de Potter perdeu o controle e esta tentando derruba-lo do ar. Benedetti acabou de perceber a situação e esta zunindo para – Mas o que diabos ela esta fazendo?” Antes de ela chegar em mim ela se virou e sentou ao contrario na vassoura eu entendi na hora o que ela estava fazendo - já havíamos treinado essa técnica para casos de emergência, mas nunca para usa-la em um jogo –, ela transferiu o bastão para a mão esquerda e se posicionou abaixo de mim.

Sem hesitar eu cai de minha vassoura, causando um suspiro surpreso dos telespectadores, peguei na mão dela em pleno ar e, em um movimento forte, usei-a de apoio para me balançar e subir na vassoura pelo outro lado, estando de costas para ela, minha vassoura continuava enlouquecida e tentou avançar para cima de nós, dei um movimento brusco com a vassoura em que estava e mandei a minha voando contra os alicerces da arquibancada.

Assoviei novamente, dessa vez para Marcus.

_Continue esse jogo, vamos continuar assim. _ Ele pareceu hesitar antes de assentir.

Na confusão, é claro, o pomo de ouro desaparecera de vista outra vez.

Mudei de tática e voei como Chris estava antes de me pegar, tendo certeza de ficar no caminho dos balaços, mas ainda procurando a bolinha dourada.

Vi um reflexo perto da grama e com um olhar melhor disparei para baixo, desviando de todos os jogadores e fazendo uma descida íngreme até o chão, onde no ultimo segundo eu mudei a inclinação da vassoura ficando a centímetros do chão.

_Chris, você no comando! _ ela virou logo que falei e controlou a vassoura enquanto eu soltava as mãos. O pomo estava muito alto para alcança, mas se levantássemos a vassoura ele iria fugir, uma idéia iluminou minha mente.

Fiquei de pé no cabo da vassoura e apliquei a pratica que tive com surf e equilibrismo alguns anos atrás.

Quando minha mão fechou sobre o pomo eu saltei da vassoura, correndo um pouco para não me estatelar no chão. Ergui o pomo com orgulho.

“ Potter pegou o pomo depois de uma manobra para lá de inusitada!” Jordan comentava boquiaberto. “ E com isso Slytherin ganha, 250-10. “

A torcida de Slytherin foi estrondosa depois desse anuncio. Mas eu não dei muita bola e fui buscar minha vassoura abatida contra a arquibancada dos professores. Ela havia quebrado em uma série de lugares, mas nada que não se possa consertar.