O lugar era no meio do nada. Sem sinal de celular, sem internet, sem nada. Pensei que seria dormitórios, mas imagina minha surpresa quando os garotos foram para um lado e as garotas pro outro e tendas e barracas começaram a ser armadas. Eu fiquei como uma barata tonta, sem saber para onde ir ou o que fazer, então apenas me sentei perto de uma arvore e me limitei a falar a quem passasse que me chamasse, caso precisasse de ajuda.

Os professores montaram as barracas e as colocaram uma ao lado da outra. Eu me apressei para levar minhas coisas para a barraca de Iris e das outras garotas, mas fui interceptada pela irmã de Nathaniel. Meu corpo vibrou de susto ao vê-la.

– O que foi agora? - Pergunto em duvida se outro tapa virá.

– Prima do Castiel, é? - Ela sorri, o sorriso mais falso que já vi em minha vida. - Olha, o professor nos colocou na mesma barraca. Espero que possamos ser amigas.

Colocou? Como assim?

Ela entra na barraca ao lado da de Íris e das garotas. A ruiva aparece ao meu lado tão logo as outras somem.

– Estou com elas?

A ruiva suspira e acena.

– A professora passou avisando da divisão das barracas, você não estava aqui e Ambre disse que adoraria ficar com você... Desculpe, tentei desfazer, mas como você veio com autorização do pai dela... eles pensam que vocês são amigas.

Amigas? Nossa!

– Será que aqueles tapas mais cedo não foram o suficiente para desfazer essa ilusão?

Reviro os olhos. E empurro minhas malas pra barraca de Ambre.

A barraca é grande, mas não dá pra ficar em pé. Eu me curvo para entrar. Há quatro sacos de dormir, dois juntos num canto e os outros dois distantes. No meio as malas amontoadas.

– Aqui, Juh. - Ambre está sentada em um dos sacos de dormir e aponta para o do seu lado. - Esse é o seu.

Mas que inferno essa garota está fazendo? Será que ela quer me matar enquanto durmo?

– Qual é a sua? Primeiro me bate e depois me agrada, não to entendendo. - Solto.

– Nada disso, amiga! Eu me equivoquei. Pensei que você gostasse de Castiel.

– Bem, não gosto!

Não tinha certeza das palavras que sairam da minha boca. Mas isso era um assunto que eu continuaria a empurrar com a barriga até que fosse esquecido.

– Eu entendi agora. E também entendi que você está com meu irmão... - Ela sorri – Tenho certeza que podemos ser grandes amigas e nos ajudar no aspecto romantico. Vamos ser melhores amigas, Juh.

Pesadelo começando.

Deixo as malas ali e saio da barraca, preciso de ar. Vir ao acampamento deveria ser algo bom, algo divertido, não um pesadelo. Meu rosto ainda arde das unhadas que aquela vaca me deu. Se ela pensa que a ajudarei a conquistar o Castiel ela se engana profundamente.

Começo a andar sem prestar atenção ao caminho. Tudo que quero é ficar longe da cobra.

Nathaniel não falou comigo depois que chegamos, ele ficou o tempo todo ao lado da Melody. Ta certo que eu vim para passar mais tempo com meus amigos, mas não custava ele me dar um pouquinho só de atenção? Ele não sabia o verdadeiro motivo, logo, ele deveria estar aqui.

Um barulho me chama atenção. Olho em volta. Arvores e mato me rodeiam. Não lembro mais de que lado vim. Outro barulho. Um galho quebrando sobre o peso de passos. Não consigo saber de que lado vem. E se for um bicho? Merda. Pego o celular no bolso, só para lembrar que não tem sinal aqui.

– Olá? - Eu chamo. Não devo ter ido tão longe, provavelmente é alguém do acampamento.

– Oi – A voz sussurra ao meu ouvido. Grito. Me afasto assustada e tropeço.

É Jason. Ele ri.

– Você quase me matou de susto!

– Calma, vai enfartar desse jeito! - Ele me estende a mão. Estico a minha meio incerta e ele me puxa. Mas invés de me soltar, me puxa para perto dele.

– Me solta... - digo entre dentes.

– Não deve andar sozinha pela floresta, Juh. É perigoso, pode acabar encontrando um tarado... - Ele sorri e pisca, debochando da minha cara. O que esse cara tem na cabeça? Porque ele não me solta?

– Um tarado... Por exemplo você? - digo encarando-o irritada, com uma sobrancelha arqueada.

– Quase isso, - disse sorindo e piscando pra mim. Suspiro.

– Me solta, Jason. - digo com uma voz firme.

Ele me segura um pouco mais, me encara com humor nos olhos e então me solta. Eu caminho para longe dele.

– Você é mais sem vergonha que aparenta, em garoto.

– Você nem imagina, morena. - digo em uma voz baixa e quente, como se estivesse me provocando. Agora me diga, eu mereço?.

– Juh? - A voz conhecida me chama de trás de mim. Eu me viro e vejo Nathaniel nos olhando. O encaro sem hesitar, irritada por ter esquecido de mim.

– Whoa, então lembra do meu nome, estou surpresa considerando que me ignorou a viagem inteira!

– Nossa, garota esquentada, em Nath. Deve dar trabalho apagar esse fogo. - diz Jason piscando pra mim, me fazendo corar, e se virando pra ir embora, mas não antes de receber um belo dedo do meio no seu rosto, o que causou uma risada.

– O que estava fazendo com esse garoto no meio do nada? - diz olhando pra mim, não de forma acusadora, mas quase isso.

– Me divirtindo, ao contrário de você que passa o tempo todo na volta de Melody fazendo lá deus sabe o que! - digo cruzando os braços. Mas em vez de reclamar ou se defender Nathaniel sorriu.

– Está com ciumes?

– Não! Só estou brava por que o cara com que estou saindo passou o tempo todo com outra garota e nem me deu um beijo ou falou comigo. - digo emburrada.

– Desculpe, - disse se aproximando de mim. - Mas você sabe que eu tenho responsabilidades e esse é um passeio da escola. Não ignorei você de proposito.

– Eu... - abri a boca pra falar, mas ele me interrompeu pressionando um dedo em meus lábios. - Adoro que sinta ciume. - sussurrou antes de me beijar.

Seus lábios roçaram nos meus antes do beijo começar verdadeiramente. Sua lingua explorava minha boca devagar, como se estivesse saboreando.

Nathaniel era doce, delicado. Seus dedos acariciaram meu rosto, e não passaram dali. Ele era mais cuidadoso também.

Uma imagem em lembrança do beijo entre mim e Castiel interrompeu meus pensamentos, mas a empurrei para o fundo da minha mente, onde era seu lugar.

Ele se afastou de mim sorrindo e acariciou meu queixo.

Caminhamos de mãos dadas para o acampamento. Não vamos para os alojamentos, invés disso ele me leva para o meio, o lugar entre as duas areas. E lá está sendo preparado toras de madeira que, aparentemente, servirão para a fogueira. Lysandre está com Castiel e Jason num canto, eles têm um violão. Castiel olha em minha direção no momento que apareço. É como um imã. Eu também o achei antes de qualquer coisa. Ele me lança um meio sorriso, eu correspondo. Mas seu pequeno sorriso some, quando ele vê que eu e Nathaniel estamos de mãos dadas.

– Eu tenho que voltar, mas prometo que vou ficar com você na fogueira, está bem? - Nathaniel diz suavemente sorrindo pra mim. Eu apenas acenei. Ele me dá um beijo rápido nos lábios e me deixa ali.

Percebo duas coisas a minha volta. A carranca de Castiel antes de desviar o olhar e a carranca, ainda pior, de Melody, que assistia tudo de longe.

Caminho para o lado das barracas femininas, já não me importo com Ambre. Me sinto melhor depois do meu momento com Nathaniel. Apesar das imagens em minha mente...

Volto pra barraca, Ambre não está lá. Me jogo no saco de dormir, e me arrependo rapidamente pois o colchão era fino e minhas costas batem no chão arrancando um grunhido de dor de mim. Com uma bufada me viro e começo a pensar em várias coisas interessantes que podem acontecer neste acapamento...