Eu senti que meu coração se transformava em pedra, e meu corpo inteiro congelava sob aquele olhar.

Era por ele que eu devia sentir ódio, foi por causa dele que estou perdida, sem vida, sem família. Mas, toda a minha sede de vingança tinha, simplesmente, desaparecido. E só conseguia ficar sem me mover.

– Senhor. – Kendall deu um aceno com a cabeça, mostrando o respeito que sentia.

– Pai.

Sem tirar seus olhos de mim, ele recuou dois passos.

– Vejo que você voltou, filho. Espero que os ladrões amaldiçoados não estejam mais vivos. – Escutar sua voz era como sentir uma faca afiada cortando pedaços da sua pele.

– Você podia mandar qualquer um para lá, até mesmo você poderia ter feito. – Pela primeira vez, o vampiro tirou os olhos de mim, senti como se eu estivesse presa e finalmente alguém havia me soltado.

– Por aquela era uma tarefa sua, James, você devia mostrar ser digno.

– Digno? Digno de quê? – Ele deu um passo a frente e Kendall o segurou pelo braço, advertindo-o com os olhos.

Eu estava lá, parada, incapaz de agir, incapaz até mesmo de pensar.

– Querido, é você quem vai assumir. Eu estou pronto para dormir a eternidade, me afundar mais nas trevas, deixar que a escuridão me leve. Afinal, vivi por mais de 1000 anos.

James abriu a boca para falar, mas, ele continuou.

– Depois que vi sua mãe morta, tive certeza que não queria mais vagar pela terra. Você precisa assumir a nossa raça, filho. Você é um dos últimos sangue puro.

– E por que você disse que não podíamos sair a luz do sol? Han? Diga-me, Caos! – Estremeci ao ouvir o nome dele.

– James... James... – Caos se aproximou de mim, me lançando um sorriso de canto e deu uma volta em torno do seu filho – Você tem que pensar como um líder. Como seria que os vampiros iriam ficar juntos sabendo que poderiam ir pra qualquer canto? Mas, do que nunca, querido, precisamos ficar juntos – Ele depositou a mão sobre o ombro de James – Somos uma raça em extinção. Apenas, fico feliz por você tenha vindo me visitar.

– Não estou de visita.

– Mas, peço-lhe que fique. Pelo menos por essa noite. Acho que à essas horas, a Angelique sabe que você voltou.

Vi pelo canto do olho James ficar tenso, e olhar em minha direção apreensivo. Mas, mantive meu olha acompanhando todos os passos de Caos.

– Encontro vocês mais tarde. – Ele se direcionou até a porta – Adorei a garota, se é que possa chamar-la assim. – Caos olhou por cima dos ombros – É um prazer rever-la, querida.

Então, desapareceu.

Senti meus joelhos cederem, e minha respiração falhou. Mas, que merda foi essa? Eu precisava sair desse lugar, foi um erro ter vindo aqui. Há milhas de distância dava para perceber o quanto ele era poderoso, nunca teria alguma chance contra ele.

E o que será que ele quis dizer? Onde nós já havíamos nos encontrado?

– Eu vou destruir-lo. – James falou entre dentes.

– Calma, James. Temos que esperar a hora certa. Não sabemos do que Caos realmente é capaz.

Coloquei minhas mãos sobre o meu rosto, tentando afastar toda aquela confusão dos meus pensamentos. Senti um braço deslizar pela minha cintura e não precisava olhar para saber que era o Kendall, provavelmente, tentando me dar apoio.

– Melhor nós sairmos daqui... Você não vai querer conhecer Angelique , Lua. – James falou com um tom frio.

– Por que ela não vai querer me conhecer James? – Uma voz angelical veio de cima, para onde meu olhar foi direcionado rapidamente, em uma janela alta estava sentada uma vampira de cabelos dourados.

Ela pulou, pousando perfeitamente no chão e caminhou até nossa direção - na verdade, até o James – e o beijou.

– Fico feliz por ter voltado.

– Eu não. – James resmungou.

– Oi Kendall. E você não vai me apresentar para a sua amiga? – Mordi o lábio.

Tem alguma coisa muita estranha aqui.

– Lua... Essa é a Angelique... – James parou um segundo, pensando se continuava ou não – Minha noiva.

Engoli em seco.

Primeiro: Eu não sabia que vampiros se casavam ou coisa do tipo, mas, depois de rês segundos pensando, lembrei que eles procriavam. E somente filhos de vampiros eram sangue puro, os outros eram ex-humanos, como eu.

Segundo: Se aquela vampira era noiva do James, por que ele transou comigo? Afinal, tudo aquilo que ele havia dito significava alguma coisa?

Senti uma raiva tão grande dele, minha vontade era de matar os dois, mesmo Angelique não tendo culpa do que havia acontecido. Um tremor queria tomar conta dos meus membros, mas, respirei fundo e fiz o máximo que pude para não libertar o meu lado lobo.

Isso tudo era porque eu estava com ciúmes.

“ Nada de emoções agora, Aili, por favor.”

E quem eu era pra julgar? Em nenhum momento falei para o James o que tinha rolado com o Logan e até mesmo com o Kendall. E o que nós tínhamos? Uma noite?

Ao invés de falar qualquer coisa, apenas assenti.

– Vem... Preciso te contar tanta coisa. – E, por fim, ela saiu o puxando pelo braço, James lançou um olhar triste para mim, mandou um pedido de ‘desculpas’ movimentando os lábios e sem resistência alguma deixou que Angelique o levasse.

– Eu não estou conseguindo entender nada.

– Mas, eu estou. – Kendall tirou o braço da minha cintura. – Tudo sempre fez sentido pra mim, Lua. Caos é a criatura mais maligna que habita a Terra, ele é capaz de tudo, e quem não está do lado dele, morre. Cansei de ser servo dele. Angelique e eu estávamos juntos quando ele decidiu que ela teria que assumir com o James, que eles teriam que dar continuidade a raça. Por isso, tentei matar o James. Ela era minha. Como eu disse, chega! É obvio que ele está tramando alguma coisa, só que dessa vez não sairá vivo.

– Por favor, não faça nada arriscado. Não vou agüentar ver mais ninguém morrer.

– Está preocupada comigo? – Levantei uma sombrancelha, esse vampiro me irritava demais, mas, ao mesmo tempo, a sua presença me confortava. – Vou procurar alguns antigos amigos. Está na hora de começar uma rebelião. – Ele sorriu sem mostrar os dentes.

– E o que resta para mim?

– Tente conhecer essa fortaleza. Garanto que ninguém vai te fazer mal.

(.)

Depois que me separei do Kendall, comecei a perambular em volta do muro, procurando alguma falha, para infiltrar os lobos e o resto dos vampiros. Mas, pelo que parecia, aquele lugar era impenetrável, só dava entrar pelo portão.

Droga.

Alguns vampiros passavam por mim, me olhando com olhar torto. Resolvi, por fim, acelerar o passo, correndo na velocidade inumana afastei-me daquela concentração de sanguessugas.

Foi então que notei, respirações e batimentos cardíacos normais... Humanos.

Comecei a caminhar devagar, deixando minha audição guiar meus passos, escutei um gripo feminino abafado. Alcancei o que parecia ser um penhasco, mas, na verdade, era um buraco. Fiquei paralisada com o que meus olhos captaram.

Cinco humanos acorrentados e um vampiro tentando injetar algum líquido nas veias deles.

“ Não, não pode ser.”

– Vejo que você descobriu o meu segredo.

Rapidamente senti meu braço sendo preso nas minhas costas e um mão apertar meu pescoço.

– Caos!

– Você é muito esperta, não é mesmo, Luanne? – Aquela voz era como uma tortura pra mim, parecia que estavam arrancando todos os meus membros. – E foi por isso, que escolhi você. – Ele me virou para ficar de frente para ele, para olhar em seus olhos – Você foi a primeira hibrida. – “não!” Tentei quebrar o contato visual, não queria ver aqueles olhos cinza, alguma coisa se remexia dentro de mim, mas eu não conseguia me mover nenhum milímetro – Fui eu quem criou você.