No outro dia, logo de manhã, Willian entregava a Alicia um pouco de dinheiro para comprar o vestido e o que mais precisasse. Quando Alicia e sua amiga estavam prestes a sair, Adelaide apareceu pronta para interrompe-las.
-Aonde vosmecês estão indo?
- Vamos fazer compras a pedido do Sr. Bollier. - respondeu Alicia que logo montou na carruagem e saiu.
- O sinhozinho pediu pra elas fazerem compras? Eita, mais bem que podia ter pedido pra mim que então eu passeava um pouquinho.
No caminho, Alicia contou tudo o que havia acontecido entre os dois. Larissa ouvia tudo com muita atenção, não sabendo o que mais a impressionava: os acontecimentos ou a tranquilidade com a qual a amiga contava.
- Mas Alicia, você acha que é só por isso mesmo que ele a convidou ?
- Por qual outro motivo poderia ser?
- Ele pode estar gostando de tu! Oras, ele vive indo atrás de tu, não és mesmo? Ou tu achas que é apenas por que ele a conhece?
- Claro que é Larissa! Não fales besteira!
- Que besteira que eu falo? Corrige-me então se falei algo errado! Pode ser que eu esteja errada, mas tu quer que eu não esteja, não é?
- Oras Larissa! Fique quieta! Não trago-vos mais! Ele está noivo, ele conhece apenas eu e a Adelaide daquela casa, e eu era a unica opção, pois acho que a Adelaide não ficaria muito bem em um vestido de festa.
As duas riram o resto do caminho, e depois conversaram sobre diversos assuntos.
Ao chegaram na loja, as duas ficaram maravilhadas com a diversidade de vestidos. A dona logo ajudou-as a escolher e em poucos minutos o vestido já estava escolhido.
- Alicia, ele ficou lindo em tu! - Larissa ficou impressionada com a reslumbrância que o vestido causava em sua amiga.
Quando chegaram, Willian logo veio ver se tudo ocorrera bem e quando Alicia pegava o vestido para mostrar-lhe, Larissa saltou em sua frente pegando o vestido para si.
- Me desculpe senhor, mas deverá ser uma surpresa.
Alicia olhou assustada com a atitude tomada pela amiga e quando deu por si, Larissa já a puxava escadaria acima, para o quarto emprestado para que ela se arrumasse no outro dia.
- O que estás fazendo Larissa?
- Eu que pergunta para tu! O que pensas que estavas fazendo querendo mostrar o vestido para ele?
- Eu comprei com o dinheiro dele! Qual seria o problema dele ver?
- Alicia, você pouco sabe sobre esse assunto. Agora guarde o vestido e espere pelo amanhã.
Ela fez o que a amiga pediu. Larissa era uma mulata  de uns 30 e poucos anos, ensinara muitas coisas para Alicia e era o que chegava mais perto de uma mãe para ela. Então, ela nunca a desobedecia, apesar de sempre parecer que Alicia tinha mais juízo que ela.
Pelo resto do dia Willian não falou mais com Alicia, que sempre se encontrava atarefada adiantando o serviço do dia seguinte para poder ir ao baile.
Ao deitar-se, ele pensava o que poderia esperar daquele baile, mas não teve grandes esperanças. Seu mundo já não tinha tanta alegria ao lembrar-se que tudo aquilo seria por tão pouco tempo.
***
No dia seguinte, ao entardecer, todos estavam se preparando para o baile.
Willian logo que ficou pronto sentou-se na sala central para esperar a sua acompanhante. Ele trajava um terno preto, muito elegante. Estava um perfeito cavaleiro.
Pouco tempo depois, ele ouviu passos na escadaria e se levantou. Era a sua dama de companhia. Ele admirou-se ao vê-la.
Alicia estava estupendamente bela: usava um vestido rendado, as alças eram caídas em seus ombros e a manga aberta chegada até ao seu ante-braço. O cabelo estava preso, com apenas alguns fios soltos que contornavam o seu delicado rosto. Mas não era o vestido que a deixava bela, apenas realçava-lhe a beleza de princesa que ficava escondida atrás da camponesa.
Ele tomou sua mão e levou-a até a carruagem. Ao ver a escolhida para ir ao baile, Adelaide ficou furiosa, mas não pôde falar nada, pois eles partiram sem se despedir.
Ao chegarem no baile, a garota fez grande sucesso. Vários comentários sobre a beleza da acompanhante do  Duque corriam soltas no salão.
- Viu como você não me faz passar vergonha? Estás criando inveja nas demais garotas pela sua beleza.
Ela pouco ouviu. Estava admirada demais para poder prestar atenção em suas palavras. Tudo a fascinava: o imenso salão, as pessoas vestidas tão elegantes, os aperitivos e os olhares que caíam sobre ela. Era uma grande novidade que a deixava extremamente alegre.
Ao começar a música, logo vieram rapazes chamando-a para dançar. Antes que ela pudesse responder a algum deles, Willian pegou-a pela mão e a tomou para perto de si.
-Me desculpem, mas hoje esta senhorita irá me acompanhar. Não é?
- É-é...
Os dois então começaram a dançar. O casal chamava a atenção de todos pela leveza dos passos e tamanha sincronia.
- Você iria mesmo aceitar o pedido de um deles? - questionou Willian, que parecia estar enciumado, querendo que a bela jovem pertencesse somente a ele naquela noite.
- Eu não poderia fazer nada sem a sua ordem, não é meu senhor?
- Verdade senhorita. Mas posso pedir-lhe um favor?
- É claro meu senhor.
- Eu sei que não é uma boa hora, mas, você poderia sempre me acompanhar? Digo, como se fosse uma guarda minha.
- Não entendo o porque, senhor.
- Eu quero que você sempre esteja me vigiando, ao meu lado e cuidando de mim. Você poderia fazer isso?
- E-eu...
- Por favor, eu ordeno que cuides de mim.
- É claro senhor. - ela abaixou a cabeça. Não entendia tão repentino pedido. Mas não podia contrariar o seu senhor.
Ao terminar a musica, ela ficou só, pois Willian foi conversar com outras pessoas. O anfitrião da festa a convocara para ser sua protetora. O que ela poderia responder-lhe? De fato, não deveria sequer ter-lhe questionado, mas ainda assim ela não compreendia o motivo.
Acabara de virar protetora se seu senhor.
No baile em que se sentia princesa, ela era lembrada de que era apenas criada.