One-short: O Violino Encantado escrita por Maisa Cullen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

espero que a historia esteja ao agrado de vocês, e só pra constar, os nomes verdadeiros dos personagens são:
Leila-Bella
Lavuta-Edward
Dronha-Tanya
Catina-Kate



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Capitulo único

Numa bela casa rodeada por um bosque enorme e sombrio viveu muito tempo atrás um barão viúvo e rico, com suas três filhas. A mais velha se chamava Tanya e era talvez a pessoa mais insuportável das redondezas. Porque além de muito feia, com sua boca enorme de dentes pontiagudos, ela conseguia deixar uma impressão horrível em todos os que a conheciam. Achava que o mundo conspirava contra ela e não poupava ninguém do seu mau humor, com suas palavras sempre ríspidas e seus olhos apertados em constante irritação. A filha do meio era mais tonta do que propriamente de má índole. Mas era preguiçosa e impaciente, e maltratava todo mundo exigindo que seus desejos fossem satisfeitos imediatamente. Seu nome era Kate e sua aparência se igualava a de Tanya em feiura. O pior de tudo era o contraste entre as duas e a irmã mais nova, Bella. Não havia ninguém que não gostasse dela. Linda como um botão de rosa, parece que sua beleza tornava-se ainda mais exuberante pela alegria e doçura que acompanhavam todos os seus gestos, pela graça do seu olhar, pelo acolhimento atencioso que dispensava a quem se aproximava dela. Por sua causa, a situação das outras irmãs ficava ainda mais delicada. Era evidente, por exemplo, a preferencia do velho barão pela filha mais nova e, o mais grave, todos os jovens do povoado só pediam a mão de Bella em casamento. Para garantir que as outras duas não ficassem solteiras, o pai dizia que só permitiria que Bella se casasse depois das irmãs. Isso não adiantou nada, já que ninguém aparecia para cortejar Tanya e Kate.

Um dia elas pediram ao pai que não deixasse mais Bella ir junto com elas aos bailes e festas, para ver se alguém as convidava para dançar. Assim foi feito, mas mesmo Bella tendo concordado de bom grado em não sair de casa, as irmãs ficavam a noite inteira sentadas num canto da festa, ignoradas por todos. A raiva que as duas sentiam de Bella foi aumentando dia a dia, até que Tanya chamou Kate e lhe disse:

__Temos que fazer alguma coisa para nos livrarmos da Bella. Se ela continuar viva, não há esperança para nós, vamos ficar solteiras até a nossa morte.

__Que horror.__ Disse Kate__, ela é nossa irmã, você não pode nem pensar em fazer nada contra ela. Não conte comigo para nenhum plano.

__Pois então está bem. Cuido de tudo sozinha, não preciso mesmo de uma idiota que só atrapalha como você.

No dia seguinte Tanya convidou Bella para dar um passeio no bosque. Bella ficou feliz, afinal quase nunca saia de casa e adorava caminhar no meio das arvores. As duas passaram a tarde conversando enquanto se embrenhavam cada vez mais para o fundo do bosque, onde havia um grande precipício a beira do caminho. Foi para lá mesmo que Tanya conduziu a irmã sem que ela desconfiasse de nada.

__Nossa__ disse Bella__,eu nunca tinha chegado até aqui. Imagina se alguém cair lá embaixo, dá medo só de pensar.

__Que tal experimentar esse medo pessoalmente?__ Gritou Tanya, empurrando Bella com toda força abismo abaixo.

No meio da queda, a pobre menina agarrou um ramo de zimbro enraizado no morro e ali ficou dependurada, tentando não soltar a mão de jeito nenhum.

__Por favor__ ela dizia__, não faça isso comigo, Tanya. Não me deixe morrer neste lugar. Ajude-me a sair daqui.

__Vou ajuda-la, com certeza__ respondeu a irmã completamente transtornada. E, pegando um pedaço de pau, Tanya bateu com fúria na mão da irmã que segurava o galho de zimbro.

Com um grito de dor, Bella largou o galho e caiu nas profundezas do abismo. A irmã olhou para baixo e não viu nem sinal dela. No silencio daquele lugar tenebroso ficou guardado o segredo do seu crime, e ela foi para casa certa de que tinha feito o que era necessário e que agora sua sorte ia mudar.

No dia seguinte o barão achou estranho que Bella não estivesse em casa e que ninguém soubesse dizer para onde ela tinha ido. Preocupado, ordenou que os empregados dessem uma busca nos arredores, depois foi ele mesmo acompanhado de homens valorosos procurarem a menina nos quatro cantos daquele reino, dia e noite sem parar. Mas Bella tinha desaparecido e, por incrível que pareça, ninguém se lembrou de procura-la no abismo do bosque. Um ano se passou, e enquanto na casa-grande o barão chorava a perda da sua filha querida, Bella jazia sem vida no fundo do precipício. Mas enquanto seu corpo se decompunha e se misturava à terra, às folhas secas, às pedras e à areia, o ramo de zimbro que permanecia na sua mão foi se enraizando e ganhando força no meio daquele solo fértil e úmido. Depois de dois anos transformou-se numa arvore comprida, cujos ramos mais altos chegavam até o caminho à beira do abismo. A copa imponente da arvore de zimbro balançava ao vento, e de seus galhos emanava uma estranha melodia, que em tudo se parecia com uma musica cigana.

Todos os dias, atraído por essa melodia, um jovem pastor cigano chamado Edward se aproximava da arvore e sentava-se embaixo dela. Ele era conhecido como o melhor tocador de violino da região. As pessoas diziam que, quando ele tocava, era como se os mais melodiosos espíritos da floresta estivessem animando seu coração e seus dedos. Todos paravam seus afazeres para escuta-lo, até as crianças, as plantas, os animais e os rios se aquietavam num silencio embevecido, quando Edward tocava.

Toda vez que ele ouvia o lamento da arvore de zimbro, deixava seu rebanho e vinha para perto dela, sentava-se, punha seu velho violino sob o queixo e começava a tocar. O violino estava bastante estragado, mas Edward gostava dele como se gosta de um amigo querido. Um dia, enquanto tocava entretido embaixo da arvore, o arco do violino se partiu, e no mesmo instante o violino escorregou precipício abaixo. Ele se levantou de um salto, mas não conseguiu pega-lo. O pastor desesperou-se, pois aquele violino era tudo que ele tinha neste mundo, e chorou por muito tempo, até adormecer inconformado, deitado de bruços, com o rosto na terra.

E então ele teve um sonho: ele estava ali, naquele mesmo lugar, escutando o murmúrio dos galhos da arvore de zimbro, e aos poucos o triste lamento foi se transformando numa musica que soava como um violino. Ele percebeu que era seu violino que tocava sozinho e, junto com ele, uma voz de mulher cantava uma triste melodia cigana. Ele compreendia muito bem as palavras da canção, que dizia:

‘’Edward, pegue seu violino e toque, para todo mundo saber que eu fui morta por uma mulher má de dentes pontiagudos. ’’

O pastor, dentro do seu sonho, pensou que não poderia tocar, pois o violino tinha caído no precipício. Como se tivesse escutado seus pensamentos, uma voz ecoou lá do fundo do abismo, dizendo-lhe que cortasse o alto do tronco da arvore de zimbro e que com a madeira fizesse outro violino.

Quando acordou logo em seguida, Edward se lembrou do sonho com todos os detalhes, achou tudo muito estranho, mas ao mesmo tempo resolveu não dar muita importância, pois aquilo tinha sido apenas um sonho.

Depois de reunir o rebanho, ele voltou para seu quarto, que ficava num lugar distante, dentro das terras do barão. Naquela mesma noite ele teve outro sonho: via uma linda jovem entrar no seu quarto segurando um violino. Olhando melhor, percebeu que era seu violino que ela estendia na sua direção. Em língua cigana, ela lhe dizia:

__Toque seu violino e depois quebre-o de encontro à mesa. Se fizer isso, eu serei sua mulher.

Em seguida ela desapareceu no ar e Edward acordou. Nesse mesmo momento tomou uma decisão. Na manhã seguinte, assim que se levantou, foi até a beira do precipício para cortar a arvore de zimbro. Passou o dia inteiro esculpindo e moldando a madeira, até que o violino ficou pronto quando a noite chegou. Feliz da vida, admirando sua obra, Edward se preparou para experimentar o violino, mas assim que levantou o arco, o violino começou a tocar sozinho. Era a mesma melodia e a mesma voz cantando a canção cigana do seu sonho.

A melodia soava muito alta e chegava lá fora, pela janela aberta do seu quarto. O cuidador dos cavalos do barão, que passava por ali naquele momento, ouviu as estranhas palavras daquela musica e foi falar com Edward:

__Quem está cantando?__ ele perguntou.

Edward lhe contou toda a historia desde seu primeiro sonho, e o amigo o aconselhou a mostrar o violino encantado para o barão.

__Você sabia__ ele disse__ que a mulher do barão era cigana? Acho que ele vai gostar de conhecer esse milagre e vai até compreender as palavras da canção.

Os dois foram juntos até a casa-grande e pediram para ver o barão. Quando ele apareceu, o violino começou a tocar e o pobre velho arregalou os olhos, sobressaltado:

__É a voz da minha filha. Onde é que ela está?

Ele correu pelos cantos da sala, por toda parte, e não encontrou ninguém. Mas as palavras da musica ele havia entendido muito bem, e sabia perfeitamente quem era a mulher má de dentes pontiagudos. Horrorizado, ele foi atrás da filha mais velha e não teve muito trabalho em fazê-la confessar o que havia feito. O velho barão expulsou as duas filhas de sua casa, dizendo-lhes que nunca mais voltassem, achando que Kate tinha sido cumplice da irmã, embora ela não soubesse de nada.

Enquanto isso, de volta ao seu quarto, Edward ficou um certo tempo segurando o violino encantado, pensando na jovem que havia aparecido no seu sonho.

__Será que é mesmo Bella, a filha do barão?__ Ele dizia para si mesmo.__ Ela prometeu que se casaria comigo se eu quebrasse o violino na mesa.

Ele não sabia se devia acreditar ou não no sonho. Olhou o violino pela ultima vez e com um gesto firme espatifou-o de encontro à mesa. No mesmo momento, Bella apareceu, viva, diante dele. Na mão ela trazia seu velho violino, consertado, com cordas novas, a madeira brilhando, perfeita. Completamente aturdido, Edward escutou sua historia.

__Durante dois anos eu fiquei enterrada no abismo.__ ela começou, falando com voz doce e perfumada.__ Minha mãe foi uma cigana conhecedora das artes da magia. Quando meu pai a conheceu, ficou encantado com sua beleza e apaixonou-se por ela. Ela também o amou, mas antes de se casarem ela foi amaldiçoada por um espirito que a desejava para si. O espirito determinou que todas as crianças que nascessem daquela união seriam feias e más. Depois que minhas duas irmãs nasceram, minha mãe suplicou ao espirito que a libertasse do feitiço. Ele concordou com uma condição: quando ela tivesse outra criança, deveria morrer e ir viver com ele no reino dos espíritos. O preço da minha beleza foi a morte da minha mãe. Depois, quando minha irmã me empurrou no precipício, a alma da minha mãe se converteu no ramo de zimbro que eu agarrei na queda. E foi segurando o ramo, a mão da minha mãe, que eu cai lá embaixo. Criando raízes, o ramo virou arvore e eu pude nascer pela segunda vez do corpo da minha mãe. Mas a minha forma humana eu só poderia recuperar se um homem transformasse a madeira da arvore no objeto mais querido do seu coração. Você amava seu violino, Edward, e quando ele caiu no abismo eu sabia que apenas você, com seu amor, poderia me devolver à vida. Por isso apareci no seu sonho e agora estou aqui.

__Pareci que o que tinha que acontecer já foi feito__ disse Edward.__ Eu recebi meu violino de volta e você voltou à vida. Mas também me lembro de uma certa promessa...

__Eu não a esqueci__ disse Bella com um sorriso encantador.__ Você não quer experimentar seu violino, antes de mais nada?

Edward se preparou para tocar e, como antes, o violino começou a tocar sozinho a melodia do sonho acompanhada da canção cigana. Pouco depois o barão entrou, atraído pela musica, e mal pôde acreditar quando viu a filha estendendo os braços para abraça-lo.

__Meu pai__ ela disse__, o pastor Edward me devolveu à vida e eu prometi casar-me com ele.

O velho barão estava tão radiante que não fez nenhuma objeção ao casamento. Pouco importava se seu futuro genro era um pobre pastor, a única coisa que ele queria era ver sua filha feliz e viva.

E ele nunca teve nenhuma razão para se arrepender do seu consentimento. O pastor Edward ficou conhecido em todo o reino, não por ter se casado com a filha do barão, mas sim por ser o maior violinista de que aquele povo teve noticia. Até hoje se contam historias que falam de como Edward e Bella se amaram, dos filhos que tiveram e de como o pastor prosperou e tornou-se senhor daquelas terras, graças à sua arte, que a todos encantava. Mas todas as historias que foram contados, de geração em geração, começam falando do verdadeiro amor e da sabedoria de uma mulher cigana.


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Notas finais do capítulo

fiquem a vontade para mandar seus comentarios, sejam eles criticas ou o que mais gostaram, favoritar ou quem sabe até recomendar, ficarei muito feliz de qualquer modo.



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