Closed Minds escrita por lovemyway


Capítulo 8
Capítulo 8 — Decisões


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal. Perdão por não ter postado em outubro; não consegui terminar o cap. O próximo só em dezembro, porque vou ter aulas até lá, e muitas provas daqui pra frente.
Sobre Faberry: de acordo com o meu planejamento, elas vão se ver lá pelo cap. 11, talvez 12. Não faço promessas. Se passar disso, não vai ser muito. Quero tanto esse reencontro quanto vocês.
Enfim, leiam as notas finais, ainda quero conversar umas coisinhas. Por enquanto, é só. Boa leitura!



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Rachel







— Você me ama?



Seus dedos estão entrelaçados aos meus. Seus olhos verdes avelã me lançam um olhar intenso, e eu sinto um arrepio subir pela minha coluna. Involuntariamente, suspiro. Com a mão livre, toco seu rosto, e acaricio sua bochecha. Ela sorri, e eu sorrio também, porque ela é tão linda, tão perfeita, que é impossível sentir qualquer outra coisa senão felicidade quando estou ao seu lado.

— Por que ainda pergunta? Pensei que a resposta fosse mais do que óbvia.



— Talvez — ela diz, dando de ombros. — Mas por mais óbvia que seja, eu jamais me cansarei em ouvir.



— Se é assim — digo, revirando os olhos e abrindo um sorriso ainda maior —, eu te amo. Te amei ontem, te amo hoje, te amarei amanhã, e por todos os dias da minha vida.



— Você só está dizendo o que eu quero ouvir — ela brinca.



— Talvez — sussurro, aproximando-me um pouco mais e afastando seus cabelos loiros de seu rosto. "Tão linda", penso, prendendo a respiração. "Como uma pessoa tão linda poderia querer alguém como eu?" — Mas isso não significa que não seja a verdade.



— Então você promete me amar? — ela pergunta, num arquear de sobrancelha. — Independentemente de tudo o que possa vir a acontecer. Apesar do que eu sou? Ou do que possa me tornar?



— O que você é? — indago, franzindo o cenho. — Além da garota mais bonita que já conheci?



Ela dá de ombros, e seus olhos voltam-se para a segunda visão mais bonita (porque ela sempre será a primeira) que já vi: a cidade de Lima, ao longe, tão pequena, e tão grande ao mesmo tempo. É como me sinto, às vezes. Pequena e grande. Fraca e forte. Infeliz e feliz. É possível ter tantos sentimentos contraditórios guardados dentro do peito? Eu os tenho. E talvez esse seja o certo. Talvez essa seja a única forma da balança ser equilibrada: sentirmos dor na mesma intensidade que sentimos o amor. Deve ser por isso que dói tanto. Porque eu a amo demais. E olhar para ela, ver seu rosto, ouvir sua voz; até o seu cheiro, carregado pela brisa, é levado em direção ao meu peito, e o corta como se fosse uma navalha. Porque apesar de ela estar bem ao meu lado, segurando minha mão, há essa vozinha em minha mente que diz que ela nunca será minha. Não realmente.



— É tudo tão irreal — ela diz, observando o Sol se pôr e a cidadezinha ir, aos poucos, escurecendo.



"Ela está certa"; é o que diz a voz em minha mente. Eu sei que deveria saber o que há de errado em nosso momento, mas não consigo descobrir o que. Não quando ela está tão perto de mim. Não quando posso ver seu rosto com tanta clareza. Quero chamar seu nome. Quero que ela olhe para mim novamente. O resto pode esperar. Entretanto, a voz está presa em minha garganta. É estranho, porque eu conseguia falar perfeitamente bem há apenas alguns segundos. Mais estranho ainda é eu não conseguir me lembrar de seu nome. É bonito, como ela, disso eu sei.



— Olhe para mim — quero dizer, mas não consigo. Então eu pisco, e ela parece estar mais longe. Não lembro de ter me afastado. Não lembro de ter me deitado, também, mas estou estirada no chão, e a visão de Lima desapareceu por completo. Tudo que consigo ver é preto e laranja. É confuso. De repente, o nome dela não é o único que me escapa à mente. Não sei quem sou. Não sei onde estou. Respirar é doloroso. Sinto uma dor enorme no ombro, e tudo o que consigo enxergar é o preto e o laranja.



É quando eu escuto. Os gritos. Eles parecem vir de longe, muito longe, e não reconheço a voz. Soa assustada. Mas, ainda assim, consigo perceber um pouco de sua beleza. Tanta beleza… Fecho os olhos por alguns instantes, porque a dor se torna insuportável, e os gritos, mais altos.



— Você está bem? — grita alguém. — Rachel, você está bem?



Estou perto de reconhecer a voz, sei disso, mas não consigo me concentrar. Porque a dor não é apenas em meu ombro — sinto-a em meu corpo todo. Um “bip bip” irritante começa a soar em meus ouvidos, e é tão alto; só quero que acabe, quero que tudo acabe. Meu peito arde. Minha garganta está seca. E, de repente, não vejo mais preto e laranja, mas um branco forte e intenso, e mais vozes, e mais barulhos, e mais dor…

x

Soltei um gemido ao sentir o baque com o chão. Pisquei algumas vezes, em um pânico mudo, completamente desorientada. Só depois de alguns segundos, quando meus olhos se ajustaram à escuridão, foi que percebi que estava no meu quarto, e havia caído da cama. Um suspiro de alívio escapou por entre meus lábios e, aos poucos, meu coração ia voltando ao seu ritmo normal. Tentei de lembrar do motivo de me sentir tão assustada, mas não consegui e deixei para lá — tudo o que eu queria era levantar do chão e voltar para a cama. Mas eu sabia que não conseguiria. Ainda estava agitada demais. Levantei-me, então, lentamente, tendo cuidado para não esbarrar em nada, e soltei um palavrão baixinho ao ver que eram duas da manhã. "Que ótimo", pensei, "vou estar que nem um zumbi no trabalho". Já conseguia até imaginar nas piadinhas que Puck provavelmente ia fazer. Revirei os olhos.

Caminhei até a porta e acionei o interruptor de luz. Meu quarto estava completamente desarrumado, o que não era um costume, mas passei a noite toda vasculhando por papéis antigos, e agora eles estavam espalhados pelo chão. "Preciso arrumar isso", pensei, fazendo uma careta diante da bagunça. "Mas não agora". Abri a porta do quarto e fui tateando as paredes até chegar à escada. Eu morava em um duplex num condomínio de casas que ficava próximo ao Governo. O trânsito de Nova Iorque era caótico, então era mais fácil ficar mais perto do trabalho. Assim, eu raramente chegava atrasada, e podia deixar o carro na garagem, se quisesse. Só o uso quando já saio em cima da hora.

Desci as escadas, prestando o máximo de atenção para não tropeçar, e fui em direção a cozinha. No escuro mesmo, andei até a geladeira, e peguei uma garrafa de água. Tomei um gole e me apoiei no balcão. Pensei em Brittany — na verdade, desde minha conversa com Noah, ela não fugira um segundo sequer de minha mente — e, mais uma vez, perguntei-me como todos nós nos metemos em tamanha confusão.

Um barulho me distraiu. A cozinha tinha uma porta de vidro que dava para um pequeno quintal. O insufilm não me permitia distinguir a fisionomia com clareza, mas, sem sombra de dúvidas, havia alguém querendo entrar. Outro barulho. A pessoa bateu no vidro, como se tentasse quebrá-lo, e, silenciosamente, agradeci por ter seguido a sugestão de Noah e ter colocado um vidro mais reforçado, não tão fácil de quebrar. Comecei a me mover lentamente, para não chamar atenção, e fiquei feliz por não ter ligado a luz; teria me denunciado na hora. Abri uma gaveta onde guardava os talheres, tirei o fundo falso o mais silenciosamente que pude, e puxei a arma reserva que escondera ali para casos de emergência. Não era meu primeiro esconderijo, e nem o mais seguro, mas, no andar de baixo, foi o melhor que consegui arrumar. No de cima, a arma sempre ficava perto de mim — dentro da gaveta da minha mesa de cabeceira.

Peguei a arma, destravei-a, e procurei me esconder no vão ao lado da geladeira — e, quem quer que fosse, não conseguiria me enxergar. Não era um lugar muito grande, e a pouca visibilidade seria uma vantagem para mim. Preparei-me, sentindo a adrenalina fazendo meu coração bater mais rápido, e assim que a pessoa conseguiu arrombar a fechadura da porta — tinha desistido de quebrar o vidro —, caminhando até o centro da cozinha, esgueirei-me sorrateiramente por suas costas e coloquei a arma em sua cabeça.

— Mãos para cima, ou eu atiro.

Mas a pessoa foi mais rápida. Virou-se para mim e tomou a arma de minha mão. Retribuí com um chute forte na panturrilha, e a pessoa se inclinou para frente, perdendo o equilíbrio. Recuperei a arma e dei-lhe um soco forte. A pessoa soltou um palavrão. A voz era grave e rouca, e a constituição física era, definitivamente, de um homem. Tentei dar uma coronhada em sua cabeça com a arma, mas ele foi rápido e desviou, abaixando-se, e me agarrando pelas pernas. Apontei a arma para o que eu imaginava ser sua cabeça, mas antes que eu pudesse atirar, ele afastou meu braço e o prendeu acima de minha cabeça.

— Pare! — ele disse. — Eu não sou o inimigo!

Franzi o cenho. A voz me parecia familiar. No meu segundo de distração, ele me dominou por completo e inclinou-se sobre mim, aproximando-se de meu ouvido e sussurrando:

— Eu não quero te machucar. Entrei pelos fundos porque não queria ser visto, isso pode me comprometer. Mas acredite, Rachel, eu estou aqui para ajudar.

— Ajudar com o que? — perguntei, tentando me livrar de seu aperto.

— Ajudar com sua amiga. Brittany.

— O que você sabe sobre ela? — perguntei desconfiada.

— Não muito — ele admitiu. — Mas conheço alguém que a conhece, e... Será que você pode parar de lutar?

Foi só então que finalmente reconheci a voz. Senti minha boca se escancarar, e meus olhos se arregalarem. Não era possível, ou era? Eu nunca imaginaria. Se Noah soubesse... Então, uma realização me atingiu.

— Foi você! Você que ajudou o garoto a escapar! Você é o espião! Como...

— Isso não importa agora. Estou correndo um risco enorme confiando em você dessa maneira, ainda mais porque nos conhecemos tão pouco, mas você e Noah Puckerman parecem ser dignos de confiança. Mas você não vai contar a ele desse nosso encontro. Diga-lhe que a ideia foi sua, que você pensou em tudo sozinha. Não posso te ajudar sem me comprometer, então a parte difícil ficará com você.

— O que? Do que diabos você está falando? Que ideia é essa?

— A ideia que você vai sugerir a Noah Puckerman para ajudar a amiga de vocês. Eu já pensei em tudo. Vocês só precisam seguir o plano.

— Como sei que posso confiar em você? Qual o seu motivo para estar fazendo isso? — indaguei.

Ele hesitou por alguns segundos. Soltou minhas mãos, saiu de cima de mim e me ajudou a levantar. Não pude ver a expressão em seu rosto, mas sabia que ele estava se fazendo a mesma pergunta sobre mim. Ele deve ter decidido me dar um voto de confiança, porque disse:

— Minha irmã.

— O que?

— Minha irmã é uma leitora. Ela conhece Brittany. E isso é tudo que você precisa saber. Vai confiar em mim, ou não?

"Você está enlouquecendo, Rachel", pensei. Respirei fundo e ergui a cabeça.

— Muito bem. Qual é o plano?




x



— Estive procurando por você — disse Noah, assim que entrei no nosso escritório. Ele estava sentado na beirada de sua mesa, e tinha uma bola de tênis em mãos. Era uma espécie de passatempo que ele havia arrumado — arremessar a bola na parede e pegar com a outra mão (para testar seus reflexos e habilidades motoras, segundo ele; para se exibir, segundo eu) sempre que se sentia entediado, ou não tinha nada para fazer. Particularmente, eu achava que ele estava exagerando na maratona de House, mas não era algo que realmente incomodava, então eu não ligava a mínima.

— Mesmo? — perguntei, dirigindo-me até minha própria mesa e colocando minha bolsa em cima dela. Virei-me na direção do meu parceiro e cruzei os braços sobre o peito. — Estou aqui. Precisa de mim para alguma coisa? Ajudar a comprar roupas decentes, quem sabe...

— Ha ha, que engraçada. Sério, Rachel, sua piada foi tão boa que até Silent Hill — e, então, ele começou a rir. — Sacou? Silent Hill? O filme? Mas acaba soando como...

— Como um idiota — retruquei. — Claro que entendi, babaca. É sério, qual o problema?

— Nenhum, eu acho — ele respondeu, franzindo o cenho. — Só que o Lynn passou aqui ontem, se achando o último Ken do mercado, dizendo que o chefe queria dar uma palavrinha com você.

— Estranho. E por que diabos ele mandaria o Lynn? Weston faria mais sentido, não? Já que ele trabalha com a gente, e tudo.

— Não sei — disse ele, dando de ombros. — Weston estava aqui no momento em que ele veio.

— Estava, é? — disse, arqueando a sobrancelha. — Quanta informação você acha que um nível quatro tem?

— Muita, eu suponho. Mas não tanta quanto a gente. Acho que só o básico para conseguir trabalhar na missão. Você lembra que nunca nos davam os detalhes?

— Quase nunca — corrigi-o. — Mas nos informavam quando eram essenciais para a missão. Fico me perguntando o quanto alguém como o Weston sabe.

— Por que esse interesse todo no B-boy? — perguntou Noah, arqueando a sobrancelha.

— Não o chame assim — disse, revirando os olhos. — Parece nome artístico de ator pornô.

— Exatamente — concordou ele, abrindo um sorriso malicioso. — Ele bem que tem cara de um. E corpo, também.

— Você é nojento — resmunguei. Ele riu.

— Que seja. Você vai falar com a chefia agora?

— Não — neguei, contornando a minha mesa e me sentando na cadeira. Peguei minha bolsa, e puxei os arquivos nos quais estava trabalhando na noite anterior. Coloquei-os sobre a mesa e abri a pasta. Observei a foto de Brittany anexada ao arquivo. Era velha – vasculhando alguns álbuns antigos, encontrei algumas fotos minhas na época do colegial. Brittany e Santana estavam em uma delas. Noah, Sam e Finn Hudson, também. Bem como muitos outros que eu conheci através do coral da escola. Kurt, Mercedes, Artie, Tina, Mike... não tive uma relação tão forte com eles quanto a que tive com Noah, mas, ainda assim, lembrei-me deles com carinho. "Onde será que estão agora?". Poderiam estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa, sem nenhuma preocupação além de trabalho e contas para pagar. Eu os invejava, de certa forma. Pelo menos estavam vivendo a vida que tinham escolhido viver, e não para a qual haviam sido arrastados. Ergui a cabeça e observei Puck por alguns instantes. Senti um aperto no peito; ele poderia ser como os outros. Se não fôssemos amigos, se eu nunca tivesse o arrastado para o governo comigo... Quem sabe, então, ele não tivesse se tornado algum cantor de sucesso? Ou ator? Com certeza alguma coisa que não envolvesse estar numa agência secreta do governo, funcionando bem à vista de todos, indo atrás de pessoas que podem ler mentes. E pensar que, um dia, minha vida já foi simples...

— Caraminholas na cabeça, senhorita Berry?

— Sério? Você tem vinte e cinco anos, N. Não está na hora de largar os livros de Harry Potter?

— Nunca! — exclamou ele, com uma expressão ofendida. — Vivemos em um mundo onde pessoas podem ler mentes, Rachel. Então me desculpe se ainda tenho esperanças de receber minha carta de Hogwarts.

— Melhor aceitar que você é trouxa, dói menos — brinquei. — Mas, escute, eu tive uma ideia sobre como podemos ajudar Brit...

— Não diga o nome! É tabu!

— Qualquer que seja, crianção — murmurei. Ele me lançou um olhar penetrante, e eu bufei. — Está bem, idiota. Descobri uma maneira de ajudarmos Você-Sabe-Quem.

— Assim está melhor — disse Noah, sorrindo. — Agora diga, Dumbledore, como vamos derrotar a Agência-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada para ajudar Você-Sabe-Quem?

— Dumbledore não ajudaria Voldemort, gênio.

— E você não é Dumbledore, retardada. Diz logo seu plano, B.

— Vem aqui — disse, chamando-o com o dedo. — Não quero correr o risco de ser ouvida.

— Não me provoque, Berry — disse Noah, andando em minha direção. — Pode vir quente que eu estou fervendo.

— Babaca — murmurei. — Acho que deveríamos criar uma armadilha.

— Não estou entendendo, você quer que ela seja capturada?

— Sim e não. A armadilha não é para ela. É para o Governo.

— Estou escutando.

— Veja — disse, abaixando meu tom de voz. — Se deixarmos isso por conta do governo, nós sabemos que eles vão encontrar Brittany... E muitos outros. Não quero defendê-los. Mas não quero entregá-la, e muito menos aquele garoto. O que fizeram com ele aqui... Não podemos deixar que isso se repita. É só uma criança. Então, para defendê-los, precisamos agir com eles e contra nós mesmos. Mas precisamos ser extremamente cuidadosos... se nos descobrirem... Nem preciso dizer o quão ruim seria nossa situação.

"O que precisamos é encontrar uma forma de nos contatar com Brittany, ou alguém relacionado a ela. Então podemos criar uma emboscada – ou o governo vai pensar que é uma –, atraindo Brittany para fora do esconderijo da resistência, onde quer que isso seja, para que nós possamos interceptá-la no meio do caminho. Então nós a capturamos. Só que, mais na frente, haveria um grupo deles, da resistência, posicionados para pegar Brittany de volta. Com certeza vai haver combate direto. No meio disso, nós podemos forjar a morte dela. Sem Brittany, sem interrogatório, e voltamos à estaca zero. Ela é a esperança que o governo tem de conseguir mais informações – informações que eles esperavam conseguir com o garoto –, então forjar sua morte é, provavelmente, o mais seguro"

— É um bom plano — sussurrou Noah. — Mas Rach, as chances de dar errado...

— Eu sei — disse, suspirando. Passei a mão pelo rosto. Eu não confiava no espião. Não inteiramente. Mas o plano que ele sugeriu, apesar de brechas, era, definitivamente, a melhor chance que tínhamos de manter Brittany em segurança. — Ela vale a pena, não é? Estaríamos fazendo a coisa certa? Eu sinto como se Brittany fosse uma pessoa completamente diferente da que nós pensávamos conhecer. Então será que vale mesmo a pena arriscar tudo por ela?

Noah sentou-se na beirada da minha mesa e levantou gentilmente meu rosto, para que eu pudesse encará-lo.

— Você precisa confiar nos seus instintos. Não vou dizer o que é a coisa certa a se fazer, até porque não há uma resposta correta aqui. Brittany pode ter mentido para nós. Ou não. Seja no que for que você decida acreditar, você precisa levar isso até o fim. Sem dúvidas. Porque elas sempre vão existir quando trabalhamos com base nos nossos instintos. Então você deve estar certa da sua escolha. E eu acho que você já está, ou não teria surgido com esse plano. Seja como for, Rachel, tome sua decisão. Não faça isso se seu coração te diz que não é o certo. Mas, se você sente que é o certo, então faça. Não tenha medo de agir. E se lembre de uma coisa... Se tudo der errado, eu estou aqui por você. Sempre.

E então, ele sorriu. Tentei sorrir de volta, mas não consegui. Uma sensação de culpa embrulhou o meu estômago, e eu precisei me conter para não derramar nenhuma lágrima. Se ele ao menos soubesse...



x




— Estão pedindo atualizações sobre o caso — disse Brody, assim que entrou na sala. Ele notou minha presença e abriu um pequeno sorriso sem graça. — E você está sendo chamada pelo chefe. Ele quer conversar com você em particular.



— Ele disse o motivo? — perguntei, levantando-me da cadeira e passando a minha pasta de arquivos para as mãos de Noah. Estivemos discutindo, pelos últimos trinta minutos, maneiras de fazer o plano funcionar. Mas a verdade é que eu ainda não havia tomado minha decisão. Só o pensamento de sermos apanhados me dava calafrios. Uma sensação estranha no fundo do peito, algo ruim. Até porque havia uma chance dupla de tudo dar errado. Primeiro, e possivelmente a mais grave, se o Governo descobrisse nossas reais intensões. Segundo, e não menos importante… O que aconteceria se fôssemos capturados no fogo cruzado pelo inimigo? Noah e eu concordamos que, de forma alguma, poderíamos revelar nossa verdadeira identidade para ajudar Brittany. O que me leva a acreditar que, se colocassem suas mãos sobre um de nós, estaríamos ferrados. Não temos ideia do que essa resistência é capaz de fazer para conseguir o que quer. Eles têm mantido o perfil baixo, tentando não chamar atenção, mas isso não significa que não sejam capazes de passar por cima de tudo e de todos para conseguirem o que querem. A maior prova disso foi o espião que colocaram dentro do governo. Quem jamais iria desconfiar dele? A resistência é muito mais inteligente do que a temos dado crédito.



— Não — disse Brody, dando de ombros. — E não é como se fossem me informar, mesmo que eu perguntasse. Sou só um nível quatro, senhorita Rachel.



— Suponho que eu preciso ir até lá e descobrir — comentei, suspirando. — Você dá conta de tudo por aqui, Puckerman? Não vai destruir o escritório até eu voltar?



— Não me tente — alertou ele, rindo. — Vai logo, Berry.



Revirei os olhos, mas caminhei para fora da sala e olhei por cima do ombro antes de sair, bufando ao ver a interação Brody-Puckerman. Sério, como se não bastasse o estresse do dia-a-dia, eu ainda precisava aguentar aquilo? Balancei a cabeça, rindo para mim mesma, e apressei o passo ao andar pelo corredor. Cheguei ao elevador, apertei o botão e esperei. Não tinha ideia do que a chefia poderia querer comigo, mas, confesso, estava preocupada. Ele não podia estar ciente do que Puck e eu estávamos planejando, ou podia?



A porta do elevador abriu. Só havia duas pessoas dentro — dois homens, e eu não os reconhecia. Eles levantaram a cabeça ao me ver entrar, e acenaram em minha direção. Fiz o mesmo. Era comum esbarrarmos em agentes de outros níveis; aqueles dois pareciam pertencer ao quatro. “Ou talvez sejam um seis”, pensei. Tecnicamente, não há um sexto nível. Os agentes vão apenas até o nível cinco, evoluindo gradativamente até poderem começar a se envolver em missões em campo. Só que é de conhecimento geral que um pequeno grupo de agentes, os de grande confiança da chefia, têm informações privilegiadas. Informações que, para ajudar Brittany, poderia ser a diferença entre o êxito e o sucesso. Se pelo menos um de nós dois pudéssemos ter acesso a essas informações… Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não era hora, e nem lugar, para ficar pensando sobre isso. O elevador parou. As portas se abriram, e eu saí.



A sala do chefe não ficava muito longe. Só tinha estado nela algumas vezes — quando fui promovida para agente de nível 5; antes da minha primeira missão e, alguns meses depois, quando ele me chamou para perguntar se estava tudo bem. Foi no dia em que recebi a notícia sobre Shelby. Minha mãe nunca foi muito presente em minha vida; tudo o que ela tem feito, desde o momento que nos conhecemos, foi me decepcionar. Acho que é a única coisa que ela saber fazer. Quando o chefe me chamou ao seu escritório naquele dia, ele disse que Shelby estava, provavelmente, trabalhando para o inimigo. Ela estava fugindo do governo, e se supunha que ela estava trabalhando com antigos agentes que haviam largado seus cargos, em busca de seus próprios objetivos ambiciosos. Fui instruída a entregá-la se ela entrasse em contato comigo. O que nunca aconteceu. Não que eu me importe.



Parei em frente a porta do chefe, e estava para bater quando ela se abriu. De dentro dela, saiu a última pessoa quem eu gostaria de ver: Ryder Lynn. Ele tinha um sorriso convencido no rosto, que foi substituído por uma careta de nojo assim que ele me viu. Senti uma onda de aversão percorrer meu corpo. Eu simplesmente detestava aquele cara. Ainda não me esquecera do que ele fizera ao garoto quando ele foi capturado. Sem contar nas inúmeras amostras gratuitas de violência que ele apresentou ao longo dos anos. Um verdadeiro imbecil. E, para minha infelicidade, o imbecil parecia satisfeito demais consigo mesmo, o que só poderia significar uma coisa.



— Consegui a promoção — disse ele em voz baixa. — O pirralho não me prejudicou, afinal de contas. É melhor você manter o olho aberto daqui em diante, Berry. Se eu suspeitar que você, ou que aquele seu amiguinho idiota, estão envolvidos com isso — então, ele abriu um sorriso enorme —, bem, eu ficaria realmente triste em fazer isso… Mas, você sabe, é minha nova função. Então eu teria a obrigação de contar tudo ao chefe… E sei que ele não gostaria nada disso.



— Você é um otário, sabia? — retruquei, num sussurro. — Não tenho nada a ver com a fuga do garoto. Isso não é problema meu. E não precisa me ameaçar, Lynn, sei muito bem que você adoraria ir correndo contar ao chefe qualquer coisa sobre mim, mas eu não sou você. Eu resolvo minhas diferenças por mim mesma. Sou grandinha o suficiente para não me esconder debaixo da asa da mamãe.



— Não é como se você tivesse uma asa de mãe sob a qual se esconder, não é? — perguntou ele maliciosamente.



Respirei fundo e contei até dez, fazendo o máximo possível para não perder o controle e meter a mão na cara daquele desgraçado ali mesmo. Ryder deu um risinho, e bateu em meu ombro.



— A gente se vê por aí, colega.



— Não sou sua colega — murmurei em resposta. Ele se afastou ainda rindo, e o xinguei mentalmente de todos os nomes possíveis. Ryder como um nível cinco seria um verdadeiro desastre. Eu só podia esperar que não me colocassem em nenhuma missão com ele; é tortura demais para uma pessoa só suportar.



Ajeitei minha postura, ergui a cabeça, e repeti mentalmente para deixar isso de lado e me concentrar no que realmente importava. O chefe. Bati três vezes na porta, e assim que escutei um “pode entrar” em voz abafada, abri a porta e entrei. Ele estava em pé, atrás de sua mesa, observando a cidade pela janela. Caminhei até sua mesa, mas ele não se virou para mim, então fiquei na dúvida se deveria ficar em pé ou não.



— Senhor? — chamei-o, incerta.



— Rachel — ele disse, num suspiro, finalmente se virando para me encarar. —Sente-se, por favor.



Fiz o que ele me pediu. Ele passou a mão pelos cabelos desarrumados, e caminhou até sua própria cadeira, sentando-se. Apontou para mim uma garrafa de whisky que estava sobre a mesa, mas balancei a cabeça.



— Perdoe-me, então, mas eu vou tomar um gole — ele disse, servindo-se em um copo e bebendo o líquido. — Confesso que a promoção de Lynn me trouxe, e pode vir a trazer ainda mais, dor de cabeça. É um agente competente, claro, mas tem um temperamento… — o chefe balançou a cabeça e suspirou. — Você é uma das minhas melhores, Rachel. Você sabe disso.



— Senhor Carter…



— Ryan — ele me corrigiu —, não há ninguém por perto, e esta não é uma conversa oficial, então prefiro que me chame de Ryan, se você não se importa. Você entende o que eu quero dizer, Rachel?



— Entendo — confirmei. Quando Ryan me chamou para conversar sobre minha mãe, ele disse a mesma coisa. “Esta é uma conversa informal. Ou não 'oficial', se você preferir. O que eu quero dizer é que, como seu chefe, eu não posso te cobrar isso. Não é sua obrigação. A partir do momento em que você deixa este prédio, você é livre para tomar suas próprias decisões a respeito de sua vida – e das pessoas que te cercam. Portanto, eu vou fazer esse apelo como um amigo. Nós nos conhecemos a bastante tempo. Eu vi você progredir mais rápido do que qualquer outro. Sua força de vontade, sua coragem, sua determinação, tudo isso te fez ir mais longe, com mais facilidade, do que a maioria dos agentes que já vi passar por esta sala. Por isso, preciso dizer isso. Preciso que você saiba que sua mãe pode vir te procurar. Preciso que você saiba que ela, possivelmente, está trabalhando com o inimigo. Ela é um perigo para você, Rachel, e para as pessoas ao seu redor. Se Shelby tentar se comunicar, eu peço que me avise. Você não precisa, se não quiser. Você pode escolher ignorar este pedido. Quero apenas que você pense sobre isso. E, quando a hora chegar, você precisa tomar sua decisão”.



Esse era, provavelmente, o motivo pelo qual ele havia me chamado. Ele queria uma decisão. Uma decisão em relação ao caso que havia sido colocado sobre minha mesa. Cheguei a imaginar que tenha sido aleatório, que talvez ninguém soubesse minha relação com Brittany — mas, se ele estava me chamando para esta conversa, então eu estava enganada. Ele sabia. Ele fizera de propósito. “Um teste de lealdade?”, pensei. Talvez fosse isso. Talvez não. Não tinha como saber.



— Você ainda se lembra das coisas que eu te disse quando houve a possibilidade de Shelby reaparecer procurando por você?



— Lembro.



— Bom, muito bom — ele acenou a cabeça, e tomou outro gole de sua bebida. — Se você se lembra, então não vou repeti-las. Mas, diferentemente daquela vez, a hora de tomar uma decisão chegou. Eu preciso saber de que lado você está, Rachel. Eu preciso saber a quem sua lealdade pertence. Porque vai haver um momento em que você vai se encontrar em uma situação difícil, e você não vai poder tomar a decisão certa para si mesma se estiver dividida. Você me entende?



— Sim — murmurei, sentindo meu coração bater mais rápido no peito.



— Se você escolher o outro lado… Você sabe que não posso mais mantê-la aqui. Você pode sair por essa porta, pegar suas coisas, e ir embora. Nós sabemos que você não tem nenhum envolvimento atual com ninguém da Resistência, então não aconteceria nada a você. Mas, caso você decida ficar, e acabar tendo um lapso de julgamento… Se você ajudar alguém, terá que lidar com as consequências. E trabalhando aqui por sete anos, eu sei que você sabe que não seria nada agradável. É tudo ou nada, Rachel. E você precisa escolher. Então, neste momento, eu te pergunto: qual a sua decisão?



Foi como levar um murro no estômago. Toda a insegurança que senti desde que o arquivo de Brittany veio parar em minhas mãos aflorou. Será que valia a pena arriscar minha cabeça para salvá-la? E se eu fizesse tudo isso e acabasse quebrando a cara? E se ela não fosse a pessoa que eu achava que ela era? Eu poderia colocar minha família e amigos em perigo por conta de alguém que conheci há anos, e que sequer faz parte da minha vida? Alguém com quem não possuo mais nenhuma conexão?



Pensei, então, no garoto. O que o governo havia feito com ele. O que nós havíamos feito com ele. Será que eu realmente queria fazer parte disso? Parte de algo que machucava pessoas inocentes? “Mas será que são mesmo inocentes?”, perguntei-me. Eu já não sabia mais. Não sabia quem eram os vilões ou os mocinhos. Não sabia o que era o certo ou o errado. Tudo o que eu sabia é que meu tempo estava acabando. Não haveria mais espaços para dúvidas. Qualquer que fosse minha decisão, eu precisaria mantê-la até o fim.



Você precisa escolher, Rachel”, disse uma voz em minha mente. “Você esteve adiando este momento, mas agora é a hora”. Passei a mão pelo rosto e soltei um longo suspiro. Observei, então, pela janela de Ryan, a cidade de Nova York, com seus prédios altos e magníficos; com o Sol brilhando forte sobre a cidade; com as nuvens se movendo lentamente no céu. Imaginei as pessoas andando na rua, com pressa, realizando seus afazeres cotidianos. Imaginei o quanto minha vida seria diferente se eu fosse uma delas. Alguém que não estivesse envolvida com tudo isso. Alguém que não precisaria escolher entre o preto e o branco. O problema é que eu estava envolvida, querendo ou não.



Encarei Ryan. Ele observava o copo que segurava em mãos como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Senti-me grata pelo que ele estava fazendo. Ele sempre foi bom para mim. Quando entrei no governo, ele ainda não era o “chefão” — era só um agente nível cinco, muito talentoso, que tinha destaque em relação aos demais. Ele me treinou. Ele me tornou a agente que sou hoje. E, agora, ele estava me dando uma escolha, mesmo sabendo que isso poderia significar ter que me deixar partir. E eu tinha a absoluta certeza que, se fosse outra pessoa, eu não estaria recebendo a mesma oportunidade. Foi quando ele ergueu a cabeça, e seu olhar encontrou o meu, que eu finalmente tomei minha decisão. Respirei fundo, e disse:

— Eu vou ficar.


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Notas finais do capítulo

Então, eu sei que vocês estão desesperados com o nível lesma que as coisas estão caminhando. Paciência, meus caros. Paciência. Tudo vai ter seu momento certo. Sei que essa indecisão da Rachel, ou no cap. interior a Quinn "quebrando" ao descobrir de Rachel + governo pode parecer meio chato, mas saibam que nada é aleatório.
Tenho uma pergunta pra vocês. Mais uma curiosidade, na verdade. Como vocês acham que vai ser o encontro faberry? O que vocês esperam? Quero saber genuinamente a opinião de vocês, então, por favor, contem-me nos reviews. Custa nada, né? :)

Enfim, espero que tenham gostado. Até o próximo!

P.S.: A formatação ficou uma porcaria em algumas partes, sinto muito, tentei ajeitar, e como não foi, vai ficar assim mesmo pkspdakspdksao :p



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