Nikita colocou uma peruca de cabelos negros espetados, passou pó no rosto e batom cor de boca. Delineou os olhos até parecer com Chris Angel. O corpete que usava achatava seus seios, tornando-os quase invisíveis. Colocou a boxer clarinha e a meia 3/4 preta. A seguir a calça jeans skinny e a regata de listras horizontais. Quem a visse poderia confundi-la com um rapaz ou uma drag king. Uma jaqueta universitária e um gorro de fraternidade e pronto, sua caracterização para agir em campo estava completa. Faltava apenas seguir com o que lhe fora recomendado: prostituir-se. Nas últimas semanas aquilo vinha lhe oprimindo. Quer dizer, você pode ser uma doida varrida, transar com vários homens diferentes sem nem sequer saber o nome deles, mas quando você faz isso profissionalmente, então as coisas pesam mais. Principalmente quando você não quer fazê-lo. Conferiu seus apetrechos de comunicação e sua pistola. Seguiu para a porta de saída. Uma van iria levar a equipe até um ponto na cidade onde se dispersariam. Ela teria que estabelecer comunicação de 2 em 2 horas, para fazer relatórios. Com sorte poderia resolver tudo em uma semana.

Após algumas horas Nikita chegou ao seu destino. Um sobrado pertencente a um negociante de arte. Ele estava contratando jovens profissionais do sexo para trabalharem em suas festas particulares. Fazia questão de visual andrógino. Nikita e outros jovens que ela não soube dizer se eram mulheres ou homens, foram recebidos e levados para uma ala, onde poderiam se acomodar e prepararem-se para a festa logo mais. Nikita ficou comovida com seus companheiros de sorte. Eles eram muito jovens e percebia-se pelas marcas nos braços, que eram viciados. Todos estavam apreensivos, pois se não agradassem poderiam ser mandados embora, e aparentemente viver nas ruas era pior do que se prostituir para milionários. Nikita apenas trocou sua roupa por outra de couro negro, mas manteve a maquiagem e a peruca. alguns adereços góticos e ela estava pronta. Os outros jovens também estavam fazendo cross-dressing, os rapazes usavam vestidos e as moças usavam calças. Nikita sentia-se condoída por eles, mas não poderia botar a missão a perder para tentar ajudar aqueles jovens.

Eles seguiram para o salão de festas, havia muitos convidados, mais homens que mulheres. O dono da casa estava elegante e satisfeito, embora não usasse traje muito sofisticado. Ele conversava animadamente com seus convidados, quando viu Nikita. Aproximou-se dela imediadatamente. Abraçou-a pela cintura por trás, pegando Nikita desprevenida. Ela agiu por instinto, torcendo o braço do homem que a tocara, mas ao ver quem era, ela o soltou imediatamente e baixou a cabeça. "Que merda que eu fiz!"

_ Aw! Você é perigosa hein? Vou gostar de domá-la. _ Disse o anfitrião que se chamava Gerber. Ele apanhou um copo de bebida que estavam servindo e ficou olhando apreciativamente para Nikita, enquanto bebericava.

_ Você deveria livrar-se dela. Vê-se que não tem modos. _ Disse uma voz rouca e sensual. Nikita sabia de quem era mesmo sem olhar para a cara do indivíduo. Michael.

_ Não meu caro, com o tempo aprende-se a apreciar gatas ariscas como essa aqui. O segredo é deixa-las bem raivosas, daí usar um corretivo. Acredite-me, são mais excitantes do que aqueles tipos ali. _ Gerber apontou com o copo de bebida para um grupo de rapazes travestidos de mulheres, languidamente recostados na parede.

_ Que tipo de corretivo você recomendaria para ela? _ Michael perguntou com o olhar frio e depreciativo.

_ Humm... Talvez algemas, mas acredito que sua imaginação poderá dar conta do recado. _ Gerber virou-se para Michael e apontou Nikita com o copo de bebida. _ Se quiser ela é sua por hoje.

_ Não sei, prefiro mulheres submissas, mas a idéia de corrigi-la e mostra-la qual é o seu verdadeiro lugar me atrai.

_ Ahahah! Eu sabia. Bem, divirta-se. _ Gerber afastou-se e foi conversar com outros convidados.

_ Acompanhe-me. _ Michael ordenou a Nikita e seguiu por um corredor.

Nikita seguiu atrás, com a cabeça baixa e segurando as mãos. Ela sabia que Michael era seu companheiro, mas em missão ele era um completo estranho e poderia elimina-la apenas para dar veracidade ao seu disfarce. Ele entrou em um quarto luxuoso e começou a retirar as roupas. Nikita entrou e fechou a porta do quarto. Cruzou os braços e ficou inquieta por presenciar Michael despindo-se. Ele ficou apenas de cuecas e aproximou-se dela. Nikita baixou a cabeça e mudou a postura do corpo para não confrontar Michael. Ele a enlaçou pela cintura, enquanto virava-a de costas para ele. Passou a beija-la no pescoço e sussurrou algo em seu ouvido.

_ Este quarto tem escutas e câmeras escondidas. Gerber vigia tudo. Ele não pode suspeitar que somos espiões. Eu terei que ser violento com você. Você terá que me resistir. Tente fazer isso parecer real para convencê-lo.

Então Michael tornou-se mais agressivo e rude, empurrando Nikita contra a parede e tentando tirar as roupas dela forçadamente. Ela não precisou refletir. Por impulso acertou-o com o cotovelo e atingiu-o no peito com o ombro. Michael já esperava algo assim e agarrou-a pelo braço torcendo-o, Nikita teve que se ajoelhar para que seu braço não fosse quebrado.

_ Então cadela, quem manda aqui? Responda! _ Michael gritou com ela.

_ Aiii! Você manda aqui! Você! _ Nikita gritou.

Michael aliviou a torção do braço e a arrastou para a cama, retirou suas roupas com violência desnecessária e deixou-a apenas com a boxer e o corpete ultra apertado. Afastou-se e procurou nas gavetas por alguma coisa. Trouxe algemas e uma tira de veludo negro. Nikita arrepiou-se e começou a tremer. Com os infernos que ela continuaria com aquilo. Se Michael achava que ela estava disposta a tudo pela Section, estava muito enganado. Sentou-se na cama e aproximou-se da beirada, olhou em volta como se procurasse uma rota de fuga. Michael percebeu seu estado de espírito, e procurou acercar-se dela antes que fugisse, o que aconteceu logo depois, com Nikita pulando para alcançar a porta, mas Michael a alcançou antes e a atingiu com um soco. Nikita reagiu por instinto, derrubou-o com uma rasteira, quando já estava no chão. Ele teve que usar o peso do corpo e a atingiu novamente com o punho duas vezes. Nikita ficou desacordada. Michael arrastou-a para a cama.

Gerber estava em seu escritório observando um grande monitor dividido em várias câmeras de segurança. Em todos eles havia um casal, e somente em um deles o casal estava brigando com socos, era Michael e Nikita. Gerber sorriu satisfeito com o espetáculo. Resolveu ele mesmo procurar companhia, quando por fim Michael nocauteou Nikita e a algemou na cama. Gerber encontrou o que procurava e não deu mais atenção ao que seus convidados faziam nos quartos com os brinquedos sexuais. Na verdade tudo estava sendo gravado e ele admiraria nos mínimos detalhes depois. Na manhã seguinte todos levantaram bem tarde. Michael e Nikita apareceram às 10:00 para o café da manhã. Gerber recebeu-os com um grande sorriso.

_ Então minha tigresa selvagem, você deu uma canseira no meu amigo aqui, não foi? _ Gerber perguntou com um olhar lascivo.

_ Digamos que ela foi domada. _ Michael procurou tranquilizar o anfitrião. Nikita abaixou a cabeça envergonhada.

_ Venham tomar café. Depois iremos tratar de negócios. _ Gerber convidou-os.

Michael e Gerber retiraram-se mais tarde para um dos escritórios. Nikita ficou calada e quieta. Após o café da manhã procurou pelos outros jovens. Ainda sentia-se responsável por eles. Alguns apareceram para o café, outros ainda se encontravam nos quartos com os convidados. Um terceiro grupo estava no alojamento dos jovens contratados. Nikita foi procura-los. Tentou puxar conversa com eles, mas não estavam de bom humor. Ao lembrar-se do que havia acontecido entre ela e Michael na noite anterior, até dava razão a eles. Entretanto ela ficou de coração partido quando um dos jovens abriu um estojinho para aplicar heroína.

_ Acho melhor que você não faça isso aqui. O patrão pode não gostar. _ Nikita falou com um nó na garganta.

_ Eu lhe garanto que ele não dá a mínima, além disso eu não preciso dos antebraços para exercer minha profissão, apenas do rabo. _ Então o jovem amarrou a tira de borracha no braço e injetou a substãncia na veia.

_ Sabe, eu já fui viciada. Já cherei e injetei, já consumi. Não sinto saudade daquele tempo. Você não gostaria de tentar outra coisa que não fosse se drogar? _ Nikita perguntou num fio de voz, sabendo de antemão, que nada do que dissesse iria mudar coisa nenhuma na vida daquele jovem. Além disso ele já estava chapado.

_ Ele não vai te ouvir Mona. Ele já está em alfa. O caminho que ele tomou não tem volta. _ Falou-lhe uma jovem de cabelos curtos e olhos fortemente delineados como os de Nikita. Ela também usava roupas de couro negro. Aquilo era quase como uma farda.

_ Não existe caminho sem volta. Sempre tem uma saída. Sempre há uma saída do inferno. Só precisamos ter coragem... _ Nikita interrompeu o raciocínio ao lembrar a própria situação.

Ela estava no inferno. Era obrigada a matar, mentir, agredir, e agora prostituir-se. Está certo que fora com Michael e não com qualquer um daqueles outros caras, mas ela não queria que tivesse sido daquele modo. Ela sempre esperou que sua primeira noite com Michael fosse mágica, ou pelo menos significativa, e não porque Operations mandou e um safado pervertido estava observando tudo por uma câmera. Nikita sentiu náuseas. Ajoelhou no chão e colocou a cabeça no colo do rapaz drogado, como se ela própria estivesse chapada. Ela não aguentava a própria realidade. Permaneceu no alojamento o resto do dia, velando pelo rapaz. Não se preocupou em fazer relatórios, pois Michael estava no caso, e ele poderia manter a Section informada. À noite teria que se apresentar novamente no salão de festas. Talvez daquela vez outro homem a quisesse e ela teria que se submeter. "Mas nem que a vaca tussa. A Section nem ninguém merece esse sacrifício. Que me matem, mas não vou me submeter."

_ Então tigresa, está pronta para outra rodada? _ Gerber lhe perguntara com um sorriso no rosto. Nikita o encarou com ódio, mas então forçou-se a sorrir educadamente e ouviu a si mesma dizendo: "pois não".

_ Gerber, se não se importa, eu gostaria de ficar com ela de novo. Eu gostei da experiência. Um tanto cansativa tenho que admitir, mas foi bem estimulante. _ Michael se manifestou.

_ Ora, ora, mas não é que temos fila de espera agora? Tudo bem meu caro, os convidados vem em primeiro lugar. Que espécie de anfitrião eu seria se não desse do bom e do melhor para meus convivas? Ela é toda sua. Aproveite. _ Gerber afastou-se com um sorriso.

Ao ficar sozinho com Nikita, Michael passou a inspecionar as roupas dela, fazendo-a virar-se lentamente para que ele pudesse avaliar o material. Enquanto isso falava baixinho, como se estivesse falando palavras lascivas.

_ Operations quer que você durma com Gerber para conquistar sua confiança. Eu disse a ele que isso não dará certo. Gerber não confia em ninguém. O jovem com quem passou a noite ontem sumiu. Acho que ele o matou. Ele provavelmente a matará depois de servir-se de você. Temos que evitar isso. _ Michael falou sussurando com um sorriso meloso, como se estivesse falando obscenidades.

_ Devo agradecer-lhe por sua preocupação? Você é tão desprezível quanto Gerber. Eu tenho nojo de você. _ Nikita falou sussurando, mas com tanto ódio e repulsa, que seus olhos falavam por si.

_ Devemos ir para o quarto agora. Não apronte uma cena Nikita. Tudo vai ficar bem. _ Michael virou-se e dirigiu-se ao mesmo quarto do dia anterior, mas Nikita não o seguiu. Ele percebeu e virou-se para ela, olhando-a apreensivo.

_ Parece que a tigresa ainda não foi domada, meu caro. Eu farei o serviço para você. Verá que amanhã ela estará mais cordata. _ Gerber pronunciou-se aproximando-se de Nikita e segurando no pulso dela.

Nikita não reagiu a Gerber e deixou-se conduzir. Michael ficou desnorteado, mas conseguiu permanecer impassível enquanto via aquele ser asqueroso arrastar Nikita para o quarto dele.