Sete Dias Para Viver escrita por Cerine


Capítulo 5
Capítulo 5




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Caminhávamos lado a lado, sempre a passos iguais. Ele olhava para mim o tempo todo, porém, toda vez que eu o encarava de volta, ele virava o rosto, como se fugisse do encontro de nossos olhos. Tirei a lista da mochila para decidir qual seria o próximo desejo a ser cumprido.

-Tem alguma venda de algodão doce por aqui? –perguntei, enquanto lia os desejos da lista.

-Hã? Algodão doce? Acho que não, por quê? –ele perguntou, e esticou o pescoço para espiar o papel que eu estava segurando.

-Nada... –respondi de maneira vaga, sem prestar atenção na reação dele. Porém, tomei um susto quando ele se aproximou de mim e roubou a lista de minhas mãos.

-Essa é a tal lista de desejos? O que têm aqui? –disse ele, enquanto começava a ler o que havia escrito no papel.

-Ei! Devolva! Não pode ler! –falei exaltada, tentando pegar a lista de volta, mas sem sucesso, pois Brian era muito mais alto e mais forte do que eu. –Devolva-me! É minha!

-Qual o problema em lê-la? Eu vou ficar sabendo de tudo quando tirar as fotos! –argumentou ele, enquanto mantinha a lista bem acima de sua cabeça para que eu não fosse capaz de alcança-la.

-Eu não quero que você leia! Devolva essa lista agora! –grasnei aborrecida.

Enquanto eu lutava para reaver minha lista, Brian continuava lendo-a.

-Comer algodão doce? Ir ao parque de diversões e brincar em todos os brinquedos? Dançar uma valsa com um lindo vestido de princesa?– perguntou ele, contendo-se para não rir.

-Ah! Isso é vergonhoso! Pare de rir! – falei constrangida.

-Dançar na chuva? Que tipos de desejos infantis são esses? –ele continuou, e desta vez, começou a gargalhar.

Num movimento repentino e brusco, arranquei a lista da mão de Brian, e ele pareceu perplexo com minha agressividade.

-Pare! Pare de rir! Você não entende! Eu passei minha infância inteira estudando, sou filha única e meus pais nunca me deixaram sair com meus amigos! Eles nunca me deixaram fazer nada além de estudar! –respondi com a voz trêmula e os olhos marejados de lágrimas.

Brian olhou para mim com uma expressão de pena.

-Sério que você não teve infância? Isso é deprimente... Sinto muito por rir dos seus desejos, prometo que não farei mais isso... Desculpe.

-Tudo bem... –respondi ainda constrangida.

Caminhamos por mais alguns minutos em silêncio, até que eu avistei um Shopping.

-Podemos entrar ali e cumprir meu desejo número 4? –perguntei, entusiasmada.

-E o que é exatamente esse desejo?- replicou Brian, com um mau pressentimento.

-Espere e verá! –falei com um sorriso malandro.

Ao entrar naquele lugar fortemente iluminado, com o piso brilhante e rodeado de lojas de todos os tipos, minha mente deu voltas de tanta empolgação. Era o momento de fazer o que quase todas as mulheres amam: Compras!

Corri em direção à primeira loja que vi, e lá tinham muitos vestidos, bolsas e sapatos.

-Aqui é o paraíso! –falei com uma voz cheia de entusiasmo.

-Ah não, compras não! –resmungou Brian.

As reclamações de Brian pararam no mesmo instante em que eu experimentei o primeiro vestido. Por algum motivo, logo ele se empolgou com a “brincadeira” e, enquanto eu experimentava todas as roupas e sapatos da loja, ele também opinava sobre meu visual, tirava fotos e me observava da cabeça aos pés, sempre sorrindo e sendo bastante sincero ao dizer quais roupas ficavam melhores em mim. Desde quando uma pessoa mal-educada como ele se tornou um rapaz tão cavalheiro? Isso me deixou um pouco cismada, porém, não havia tempo para pensar nessas coisas.

Depois de passar mais de quatro horas na loja e comprar dezenas de sapatos, vestidos, blusas, calças e saias, além de algumas joias, maquiagem e outras coisas inúteis, finalmente saímos do Shopping carregando inúmeras sacolas.

-Não vamos passar o dia todo carregando essas coisas, vamos? –perguntou Brian, tentando equilibrar-se no meio de tantas sacolas.

-Não se preocupe, eu já chamei o serviço de entrega, eles devem estar chegando a qualquer momento e irão deixar tudo isso na portaria do condomínio onde eu moro. –respondi, ao mesmo tempo em que derrubava cinco sacolas no chão. –Oh Droga! –reclamei.

-O que vai fazer com todas essas roupas? Quer dizer, você só tem sete dias...

-Eu sei... Quando eu morrer, provavelmente todas elas serão devolvidas.

Depois que o serviço de entrega chegou, Brian e eu continuamos nossa caminhada.

-Já é quase meio dia, então... Devemos ir comer alguma coisa? –disse Brian.

-Claro... Que tal pizza? –perguntei, com aquele sorriso malandro no rosto.

-Pizza? Tem certeza? – perguntou Brian.

-Esse é meu desejo número 10! –respondi.

-Sério? Ainda estou tentando me acostumar com esses seus desejos esquisitos. –disse ele. -Mas... Não tem nenhuma pizzaria perto daqui!

-Não se preocupe, eu dou um jeito nisso! –falei, enquanto caminhava para fora da calçada e esticava o braço. –Táxi! –chamei, e logo um carro parou em minha frente.

-Ei!Espere por mim! –gritou Brian, e logo correu em direção ao táxi, entrando nele em seguida. –Aonde vamos? –perguntou ele, cismado.

-Eu sei de um ótimo lugar onde podemos comer pizza! E ele sempre está aberto ao meio dia!

-Lá vamos nós de novo! –resmungou o fotógrafo, soltando um suspiro.


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Notas finais do capítulo

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