O Diário De Sophie escrita por HelenMárcia


Capítulo 15
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

A história terminou! Boa Leitura!



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Há momentos na vida em que você não sabe o que fazer, o que pensar e se vê diante de uma situação difícil, assombrosa. Nessas ocasiões você tem vontade de dar várias cabeçadas na parede e gritar com mundo. Entretanto nada disso mudará o desfecho da história.

Aquela noite foi uma dessas ocasiões. Eu estava perdido, confuso, triste, irritado, cansado, isso tudo ao mesmo tempo. Não havia nada que se pudesse comparar com a dor que senti naquele instante. Chorar? Talvez. Gritar? Melhor ainda. Mas eu estava com minhas mãos atadas, e também me encontrava tão infeliz comigo mesmo que beirava ao desespero. Ainda tinha dificuldades para acreditar no que Sophie havia me dito. Mas claro, isso não durou muito tempo, até que eu a vi desmaiar diante dos meus olhos. Tinha que ficar horrorizado. Eu era o maior idiota da face da terra, um cretino. Eu simplesmente joguei toda imundície dos meus problemas em cima dela, estando ela na mesma ou em pior situação do que eu. Infeliz!

Sophie gritou “EU ESTOU MORRENDO”. Sabe que naquele momento eu tive vontade de gritar “EU TAMBÉM” porque eu não acreditei nela? Quando penso nisso tenho vontade de me dar uma surra das boas. E volto àquela cena que se desenvolveu naquele quarto. Jeff estava lá, mas claro que estaria. Ele estava estagiando naquele hospital, e toda noite vinha me fazer uma visita. Ele é um bom amigo, sabe?! Sempre me dando maior força, apesar de eu ser um cabeça dura daqueles. Nossa amizade foi seriamente comprometida com avanço da leucemia e da minha querida depressão. Eu o afastei de mim, o coloquei do outro lado do muro. Sim, de fato construí um grande e alto muro ao redor de mim, para que ninguém se aproximasse. No entanto, ali estava o Jefferson em minha segunda tentativa de suicídio. Ele não sabia quais eram os meus problemas, e ainda assim tentou me ajudar. Sua ajuda foi tanta que por sua causa me apaixonei por Ela. Sim, no instante que Sophie me abraçou, sem se importar com a arma que estava na minha mão e que poderia disparar a qualquer momento, foi o gatilho que me tirou do mundo da depressão e me fez parar. Ela não me conhecia e nem eu a ela, mas foi o motivo que me fez acreditar que tudo poderia ser diferente.

Agora, se bem me recordo, Jefferson apareceu no quarto, e estava gritando, pedindo explicações a Sophie. De onde eu estava pude ver quando ele a agarrou pelos braços e ela tremia. Não entendia nada do que diziam, mas a expressão que Jeff tinha era aterradora. Ele parecia amá-la, eu pensava enquanto o via beijá-la e abraçá-la. Definitivamente eu era um imbecil. Como alguém que diz amar outra pessoa, pode fazer essa pessoa sofrer? Bom, eu era o alguém nesse caso. Eu queria dizer algo para ela. Eu tinha que dizer algo. Ela veio até mim àquela noite para por minha cabeça no lugar, para me fazer enxergar a oportunidade que estava na minha frente. E, bem, eu não dei à mínima. Como dizem, se arrependimento matasse, eu já estaria morto à bem tempo. Dizer para ela “EU SINTO MUITO” não me parecia ser o suficiente. Ela estava sofrendo e eu bancando o idiota. Certo, eu sabia o que tinha que fazer, não é?!

Nós não havíamos nos declarado oficialmente, mas eu sabia o que Sophie sentia por mim, e ela sabia o que eu sentia por ela, pelo menos eu achava que sim. Como o amor não pode ser medido em palavras, eu teria que mostrar a ela o meu amor. Eu, eu precisava largar essa pouca vergonha de orgulho que tinha e lutar. Ela me disse para lutar, para não desistir e eu ia fazer isso por ela. Deus, como eu pude terminar assim? Sophie, meu amor, eu sinto tanto por não ter acreditado em você, eu pensava enquanto a via abraçada ao Jeff.

Sophie! Eu chamei. Aquele seria o momento de colocar os pingos nos is.

Sophie olhou para mim. Também havia tristeza no seu olhar. Queria poder apagar toda a dor que ela pudesse estar sentindo. Ah, meu amor, sei que te fiz sofrer, e eu me mataria se isso fosse resolver as coisas. E ela estava vindo até mim quando tudo terminou. Sophie desmaiou e Jeff a segurou antes que batesse no chão.

O que aconteceu depois disso foi um terror. Acho que gritei. Entraram correndo duas enfermeiras e o doutor que me atendia. Jeff estava no chão e segurava Sophie enquanto chorar. Ele estava realmente desesperado. E como não estar? A morte rondava o ambiente.

Jefferson por favor acalme-se. Vamos, ajude-nos a colocá-la na maca. Dizia o doutor.

Enquanto isso, as duas enfermeiras ajudavam a levantar Sophie do chão colocando-a na maca, e logo após retiraram-se rapidamente. O doutor as seguiu e Jeff continuou no chão, como se não tivesse forças para levantar. Eu também não tinha forças para sair dali. Estava fraco e me sentia impotente. Desejava poder fazer algo, e não podia fazer nada. Jeff estava ali, abatido, desesperado, e olhava fixamente para a porta.

Jeff? Chamei, tentando estabelecer uma conexão com ele.

Ele rapidamente virou-se para mim. Em seus olhos havia algo mais além de tristeza, havia rancor. Ele se levantou e veio na minha direção com os cenhos franzidos.

Você. Ele apontou. − Você fez isso com ela. Você fez com que ela viesse até aqui.

Fiquei quieto. Nada do que eu dissesse mudariam as coisas. Jefferson estava certo, eu fiz Sophie vir até meu quarto. Ela estava preocupada comigo, por isso estava ali. E agora... e agora ela estava à beira da morte.

Eu olhei para todos que estavam naquele quarto. Olhei dentro dos olhos de cada um, e apesar de não haver julgamento em nenhum deles, eu me sentia condenado. Eu não enxerguei as pessoas que estavam do meu lado. E não digo àquelas que estavam no quarto, digo das demais. Minha mãe, meu amigo Jeff, e minha querida Sophie estiveram ali do meu lado e eu não enxerguei, não dei valor.

Jeff se foi. Ele estava muito arrasado, e eu também. Queria sair daquele quarto e saber como estava Sophie. Meu Deus! E se ela morresse sem que eu pudesse falar com ela por última vez? Não, isso não poderia acontecer.

Enquanto estava ali naquela cama meditativo, uma mulher ruiva que estava duas camas antes da minha, me chamou.

Hei, rapazinho! Você está bem?

Olhei-a e balancei a cabeça negando.

Pois então diga. Coloque para fora o que sente. Fala para mim, o que você quer fazer?

Não sei, não sei o que devo fazer. Me sinto mal, culpado. Nada que eu faça mudará isso.

Oh, que isso filho. Já pensou em falar com a mocinha? Diga a ela o que você sente, não duvido nada que ela vai te ouvir.

Não quero que ela me ouça, dona. Quero seu perdão por todas as coisas ruins que fiz a ela. Mas...

Nada de mas, sim?! Ela te ama filho. Pense, ela teria feito tudo que fez se não te amasse e se não tivesse te perdoado? Vá até ela e diga o que sente. Ela precisa saber.

Eu assenti e dei rédeas soltas ao choro. Tremia e soluçava. A única vez que chorei dessa forma, foi quando meu pai foi embora, e mesmo assim, agora parecia estar sofrendo mais.

Oh querido, não chore.

Ela va... vai mo... rrer. Eu não quero que ela morra. Eu não posso perdê-la. Ela não pode me deixar.

Filho, oh, filho!

Chorava tanto que nem havia percebido que a mulher ruiva já estava sentada ao meu lado na cama e me abraçava. Me agarrei a ela e chorei ainda mais. Meu Deus! Eu queria morrer. Se Sophie se fosse, eu iria também.

Passaram-se horas entre lágrimas e soluços, e palavras de consolo. A mulher ruiva ficou ao meu lado enquanto eu passava por aquela crise. Estava detonado, e apesar de estar chorando que nem uma garotinha, não estava de forma alguma envergonhado.

Quando finalmente peguei no sono, já era quatro horas da manhã. E despertei duas horas depois desesperado por ver Sophie. Chamei a enfermeira e disse que queria ver a Sophie, mas a enfermeira disse que não podia receber visitas no momento.

Como assim não pode receber visitas? O que aconteceu? Agarrei a enfermeira pelo pulso e a pressionei para que me desse alguma informação.

Ela está na UTI.

Ela, ela está bem? Disse já começando a suar de nervoso.

Estamos avaliando seu estado, mas ela está muito fraca.

Ok, ok. Você enfermeira vai me prometer uma coisa. Eu disse ainda sem soltar seu pulso. − Vai me prometer salvá-la. Está me escutando? Quero que a equipe médica desse hospital faça de tudo para salvá-la, entendeu?

Nícolas, já estamos tentando tudo. Mas só um milagre poderá salvá-la. Sinto muito.

Não. Gritei. − Ninguém sente mais do que eu. Ninguém.

Acalme-se Nícolas ou terei que drogá-lo.

Escutou a enfermeira Nícolas, acalme-se.

Olhei para porta e ali estava o Jefferson de novo.

Posso falar com ele um instante Paula?

Claro. E você está melhor? Paula perguntou ao Jeff.

Sim, estou melhor por agora.

OK. Disse e saiu.

Jefferson se aproximou e sentou em uma cadeira que estava ao lado da cama. Ficou alguns minutos em silêncio até que disse:

Eu vim me desculpar com você. Eu estava muito alterado naquele momento. Na verdade você não tem culpa do que aconteceu. Senti raiva. Ele fez uma pausa e me encarou. − Senti raiva e ciúmes ao vê-los juntos Nícolas. Sei que é uma bobagem, nós somos só amigos, mas o que eu sinto por ela vai muito além da amizade. E pensar que ela se importa tanto com você, que é capaz de descuidar de si mesma, me deixou louco.

Você a ama? Perguntei já sabendo a resposta.

Sim. A amo e não sei do que seria capaz de fazer por ela.

Então somos dois. Eu disse com um leve sorriso.

Jeff me encarou, e logo depois assentiu.

Ela disse que Sophie precisa de um milagre. Eu disse.

Sim, é o que todos estão dizendo. Ele murmurou.

Você acha que ela sai dessa?

Ele suspirou e baixou cabeça. Creio que pensava nas possibilidades de Sophie se recuperar. Mas a resposta que recebi não foi a que eu esperava.

Faço medicina Nícolas, e tudo que tenho visto nesta área de atuação apontam para nenhuma possibilidade. Ele fez uma pausa e lágrimas corriam. − Ela nunca me disse que estava doente. Nós passamos tanto tempo juntos e ela nunca me disse nada.

Ela não queria que sentissem pena dela. Falei e senti que era verdade, porque era por isso que nunca havia dito a ninguém sobre minha situação.

Foi por isso que nunca me disse que tinha leucemia? Para que não sentisse pena de você? Jeff perguntou.

Sim. Você e eu éramos amigos e se eu te dissesse tudo mudaria entre nós. Nunca quis ser coitado, e você sabe.

Podia ter me contado. Eu nunca pensaria em você como um coitado. Eu sei o valentão que você é, era só ter ameaçado me dar uma surra e estaria resolvido. Ele disse com um leve sorriso cínico nos lábios.

Como eu não pensei nisso antes? Disse sorrindo também. Esse era o clima da amizade. Como nos velhos tempos.

Dias passaram e tudo voltou a normalidade, exceto que Sophie continuava na Unidade de Tratamento Intensivo. E eu lutava. Acordava cedo, fazia terapia, tomava os medicamentos, descansava, andava pelos corredores, visitava Sophie, ou melhor, ia até a porta da Unidade e depois voltava para o meu quarto. Havia dias em que minha mãe vinha me ver ou então Jeff aparecia e passávamos um momento conversando. Também soube que os pais de Sophie ainda andavam na expectativa de que Sophie saísse com vida da UTI. E eles pareciam ter muita esperança.

Foi então que finalmente aconteceu. Sophie saiu da UTI e foi colocada em um quarto reservado onde contia muitos aparelhos que a monitoravam. Até hoje me arrepio ao lembrar da sensação que tive ao entrar naquele quarto. Todo o hospital comentava que a menina com câncer tinha passado para o quarto. Jeff também me contou quando veio me visitar uma noite. Ele também estava eufórico. Ele tinha esperança de que ela estava melhor. Na verdade, todos pensavam que um verdadeiro milagre havia acontecido. E eu como todos também acreditava nisso.

Um dia depois desse acontecimento, uma enfermeira veio me buscar para que fosse ver a Sophie, pois parecia que ao despertar a primeira coisa que disse foi que queria me ver. Eu achava aquilo inacreditável, mas fui. Estava ansioso para vê-la, tinha tanto o que dizer...

Fui levado em uma cadeira de rodas. Não que eu não tivesse movimentos nas pernas, mas os medicamentos me deixavam cansado e meio molenga. No corredor, na frente da porta de Sophie, estavam seus pais, o doutor Joelson e o Jefferson. Todos me olhavam como se eu fosse a solução que algum problema. Eu imaginava que seria, porque com certeza era estranho para os pais de Sophie saber que sua filha havia despertado e queria falar com outra pessoa e não com eles.

A enfermeira abriu a porta e me levou para dentro. Muitos aparelhos ligados, e no meio de tudo estava Sophie, deitada em uma cama com os olhos fechados. Era difícil saber quem estava mais pálido, o seu rosto ou o lençol. Meu Deus! Era difícil acreditar que depois de todos esses dias, ela estava ali, viva.

Vou deixá-lo aqui. Disse a enfermeira estacionado a cadeira do lado direito da cama, de forma que eu podia ver a porta.

Ok.

Assim que ela saiu, eu voltei a olhar para Sophie. Ela estava realmente pálida. Seus cabelos castanhos foram trançados e ela usava uma camisola branca com flores azuis. Estava linda de uma forma quase etérea. E de repente ela abriu os olhos e olhou-me. Segurei a respiração. Eu não estava preparado para olhá-la nos olhos, e então, desviei o olhar. Cristo, eu não podia ficar ali.

Por que não quer me olhar. Sophie disse com uma voz doce e suave.

Não consigo. Eu murmurei.

Claro que você consegue. Levante os olhos. Por favor Nick olhe para mim.

Eu não podia não atender a um pedido como esse. Tinha prometido a mim mesmo fazer tudo que Sophie me pedisse. Então a olhei, e ela sorriu. Um sorriso radiante. Senti vontade de chorar. Sophie era tão linda, tão pura e gentil.

Eu queria falar com você. Ela disse. − Quero que saiba que fiz tudo aquilo para que...

Não. A interrompi. − Não precisa dizer mais nada. Sei que fez tudo para me ajudar. Eu é que quero te dizer algo Sophie. Por favor, me perdoe. Me perdoe por ser um idiota e não ter te dado atenção. Me perdoe por ter feito você sofrer. Se não fosse por mim, você...

Não estaria aqui? Ela completou. − Não Nícolas. Eu já estava aqui. Já estava com os minutos contados, mas precisava falar com você.

E eu não quis te ouvir. Falei com pesar.

Sim, você é muito cabeça dura. Ela disse sorrindo e eu não pude resistir e sorri também.

É.

Você parece bem.

Sim, estou fazendo o tratamento. Como você queria.

Isso é bom. Fico feliz em ouvir isso. Você vai ficar bem Nícolas. Vai sair dessa!

Assim como você.

Não, Nícolas. Como eu não. Dessa eu não saio. Ela disse com um leve sorriso nos lábios.

O que você quer dizer com isso Sophie? Perguntei preocupado.

Eu lutei Nícolas, para voltar, só para te ver e saber se estava bem. Ela disse tocando meu rosto.

Isso quer dizer que...

Que vou morrer. Mas não se preocupe, tudo bem?

Não Sophie, não está tudo bem.

Como ela podia dizer aquilo tão tranquilamente. Ela ia morrer e estava aceitando isso? Ela só queira me ver bem e depois partiria? Eu não podia deixá-la fazer isso. Havia outras pessoas ali que queira vê-la viva, que a amavam, como seus pais e o Jeff. E eu também a amava, e como seria minha vida sem ela? Não, eu não podia permitir.

Você não pode morrer Sophie. Eu disse já começando a chorar.

Por favor Nick, não chore. Eu não vou te deixar. Estarei com você sempre. Já aceitei o meu destino. Você fica bem, Jeff fica bem, meus pais ficam bem e acabou. Ela disse secando minhas lágrimas.

Sophie, não posso perdê-la. Eu te amo. Disse com o coração acelerado. Tomei suas mãos e as beijei.

Sentia tanto amor e tanta dor. Não havia milagre ali. Sophie não estava curada. Em realidade, o único milagre que havia acontecido foi o de ela ter despertado, mas nada mais que isso.

Oh Nícolas. Ela disse também chorando. − Sempre quis ouvir isso de você.

Me perdoe por não haver dito antes.

Só te perdoarei se fizer algo. Ela disse suavemente.

O que você quiser meu amor.

Me beije. Ela disse tão baixo que quase não a ouvi. No entanto havia escutado muito bem.

Aquele era um desses momentos que você sempre sonhou, e que quando enfim se realiza você não acredita. Eu por várias vezes desde que Sophie e eu começamos a fazer faculdade juntos, cogitei a possibilidade de beijá-la. Sonhei com isso, fantasiei muitos vezes imaginando como seria, que sabor sua boca teria, e se os seus lábios seriam tão macios como aparentavam ser. Mas isso havia sido em outras circunstâncias. Não que eu não desejasse beijá-la, mas seria muito mais doloroso. Ela não ficaria comigo para sempre. Eu não poderia repetir a experiência outras vezes. E ela nunca seria minha namorada.

O quê? Perguntei mesmo sabendo a resposta.

Quero que você me beije. Ela disse desta vez mais alto.

Você tem certeza disso? Eu não se...

Se você não quiser tudo bem. Ela disse desviando o olhar.

Não, por Deus Sophie. Não é isso. Eu quero beijar você. Sempre quis. Eu disse massageando suas mãos. Ela virou-se para mim e me olhou com aquele olhar de ternura.

Sério?

Sim. Sorri, e ela ficou corada. Ao parecer ela ainda tinha glóbulos vermelhos o suficiente para deixá-la ruborizada.

Apoiei-me na cama e me impulsionei para cima. Ela fez o mesmo e sentou-se na cama. Ajudei-a com os travesseiros, de forma que ela ficasse confortável e sentei-me ao seu lado. E sorri.

O que foi? Ela perguntou.

Bom, acho que já sonhei em estar assim com você. Ela ficou corada de novo. − Sinto muito, mas você perguntou.

Certo, e agora?

Eu, ah, acho que vou te beijar. Agora eu é que estava envergonhado, dado que as coisas não estavam saindo muito de forma natural.

Aproximei-me para mais perto dela até que nossas testas estiveram juntas. Sophie olhou-me uma última vez e fechou os olhos. Toquei sua bochecha levemente. Ela estava quente e isso era bom. Sua pele era suave e macia. Deus, como sonhei com esse momento. Percorri com um dedo desde sua testa até o seu nariz. Passei pelos seus lábios rosados e ela tremeu.

Tudo bem? Perguntei

Hmhum! Foi sua resposta.

Continuei. Beijei de leve nos dois lados de seu rosto. Beijei seu pequeno nariz e beijei sua boca. Ela respirava rápido, e eu estava preocupado dela passar mal ou algo assim.

Sophie, tem certeza?

Por favor. Eu quero isso antes de morrer. Ela olhou-me e tocou meu queixo. − Vá, eu estou bem. Continue.

Oh Sophie!

E beijei-a. Seus lábios eram realmente macios. Tudo que eu poderia esperar daquele beijo, não era o que eu esperava. Era melhor. Ela se apoiou em mim e eu me aproximei ainda mais. A beijei profundamente, colocando todo o meu amor. Nossas línguas se entrelaçavam, a nossa respiração se misturava, e o nosso amor aumentava. Estávamos unidos naquele momento, uma mesma paixão e um mesmo pensamento. Desejei não soltá-la nunca mais. Ficar ali para sempre. Sophie era a minha salvação, era o amor da minha vida.

Quando ficamos sem fôlego, paramos. Estávamos ofegantes e felizes. Aquela havia sido a melhor experiência de nossas vidas. Um beijo ardente e apaixonado. E eu estava feliz demais. Continuei beijando Sophie, beijando-a na testa, nas bochechas, no nariz, na boca, no pescoço e não podia parar. Ela era tudo o que eu queria. Meu único amor.

Ela tinha as mãos no meu pescoço e no meu cabelo. Ela também não disse uma única palavra. Ela só suspirava, o que me dizia que estava tão feliz quanto eu. Mas não podíamos ficar ali para sempre, alguém podia entrar e nos ver, e não queríamos público.

Melhor pararmos. Eu disse com resistência.

Não queria, mas tenho que concordar com você. Ela sussurrou.

Fico feliz em ouvir isso.

Nos olhamos nos olhos e ficamos em silêncio. Nada precisa ser dito, porque tudo já havia sido dito. Ela partiria e não havia volta. Aquele tinha sido nosso primeiro e último beijo. Pumft! Que vida cruel!

Sophie, você é meu anjo. O anjo que me trouxe à vida. Eu disse alisando suas mãos.

Bem, isso significa que já terei algo que fazer no céu. Tomar conta de você. Ela sorriu e eu também sorri.

Ela soltou suas mãos e segurou meu rosto.

Eu estarei de olho em você Nick, então é bom fazer tudo certinho, ouviu?

Sim meu anjo, ouvi sim.

Te amo Nícolas e te amarei para sempre. Ela sussurrou com os olhos marejados.

Ah Sophie, eu também te amo, e te amarei para sempre. Eu disse e dei beijo em sua testa e nos abraçamos.

Foi quando então a porta se abriu e os pais de Sophie entraram.

Sophie faleceu aquela noite, na véspera de seu aniversário de dezenove anos. Houve uma comoção geral no hospital, todos estavam triste com sua morte. No entanto, ninguém derramou lágrimas alguma, em respeito ao último desejo de Sophie. Que ninguém lamentasse sua morte.

Os pais de Sophie ficaram abalados, mas ao parecer já haviam se preparado para aquele momento desde que ela havia estado na UTI. Sua mãe derramou algumas lágrimas, mas logo estava firme, e começou a providenciar todo o necessário para velarem sua filha.

Jefferson esteve com Sophie antes que ela partisse e saiu do quarto triste, mas não tão angustiado. Veio até a mim e me abraçou. Foi bom para ambos. E assim tudo terminou.

***

Jefferson Berini tornou-se um grande médico especializado em Oncologia. Fez às pazes com seu pai, e mora na Barra, onde tem um consultório médico. Casou-se e teve dois filhos.

Dona Ângela e seu Raul decidiram viver para sempre no Brasil. E trabalham como voluntários em um orfanato da região.

Eu, Nícolas Teixeira, sou psicólogo e terapeuta. Abri uma clínica no centro de Petrópolis, e trabalho com pessoas que sofrem de depressão. O tratamento contra o câncer deu resultado e estou curado há onze anos. Sou casado e tenho uma filha de três anos chamada Sophie. Até hoje sinto que alguém me vigia, e sei que é Sophie me olhando lá de cima, como prometeu.

Todos os que tiveram algum contato com Sophie em vida, sofreram boas mudanças em suas vidas. Ao receber esse diário, achei importante compartilhá-lo com vocês como prova de um milagre. O milagre que ocorreu em minha vida através de Sophie. Ela com certeza sabia o que fazia ao deixar esse legado. Espero que mudanças ocorram na sua vida também.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Devo escrever outro livro?
Postem suas opiniões, elas ajudam o autor principiante a saber se está indo bem ou não.



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