Johanna Mason escrita por Juhhh


Capítulo 1
Capítulo 1




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Está chovendo. Assim como em todas as Colheitas que consigo me lembrar. As pessoas já estão se movendo para a praça, onde é dado o veredito. Minha mãe e eu estamos nos preparando emocional e fisicamente na nossa pequena casa. Estamos todas vestidas e meu pai provavelmente ainda está no trabalho. Ele é um lenhador, um dos melhores do Distrito 7, portanto quase nunca está conosco. Infelizmente.

Minha mãe está colocando algo na mesa para eu comer, mas não quero. Não tenho apetite hoje. Tate está construindo algo pequeno que não luto para descobrir o que é. Nossa vizinha está olhando para ele, com uma cara que me irrita profundamente.

Meu irmão é realmente bonito, e tem um corpo definido, por causa da pressão de nosso pai para que mantessemos uma vida sempre saudável. Ele tem 19 anos agora, portanto seu nome não pode ser sorteado, ao contrário do meu, que ainda estará lá por mais 3 anos depois desse. Mas apesar de Tate ser realmente bonito e simpático, ele não é muito dotado de inteligência, o que faz todas as meninas do nosso Distrito o tratarem como um objeto sexual. E foi assim que aprendi a ser sarcástica com as pessoas, para que elas não mechessem com ele.

– Jo, você está linda. - Minha mãe toca meu cabelo, o qual prendi um pequeno pregador de uma flor no lado direito.

– Obrigada mãe. - Dou um beijo em sua bochecha e sorrio.

Ficamos um bom tempo sem realmente falar. Todos estão em um silêncio profundo, esperando a hora certa de ir para a praça, encontrar com outras famílias aflitas e desesperadas. Quando finalmente saimos de casa e chegamos, já está tudo cheio, as crianças e adolescentes numa fila, com caras horríveis. E eu provavelmente estou com essa cara.

– Calma, Jojo. - Tate me abraça forte, o que me faz soltar algumas lágrimas. - Não chora não, você não é fraca. Você é a garota mais forte que eu conheço. - Ele sorri e minha mãe nos abraça.

Nos separamos, e vejo minha mãe se segurando em Tate. Respiro fundo, levanto minha cabeça e caminho até o meu lugar.

– Sejam bem-vindos, crianças! - Diz George, que representa a Capital no nosso Distrito. - Estamos prontos para começar o 71º Jogos Vorazes! - Ele bate as palmas, como uma criança animada com um brinquedo novo. - E veremos quem serão os sortudos que veremos lutar por uma digna vitória na arena. - Ele sorri, com uma cara superior. - Feliz Jogos Vorazes! - Irônico, penso. - E que a sorte esteja sempre ao seu favor!

George coloca a mão dramáticamente sobre o pote com os nomes das meninas do Distrito 7. Ele pega um papel, e o mostra ainda dobrado para a multidão. Ninguém aplaude. Ele abre o papel, lentamente. Sorri novamente e olha para todos nós.

– E a grande sortuda desse ano é… Johanna Mason.

Johanna Mason. Johanna Mason. Sou eu. Eu sou um tributo. Vejo os Pacificadores se aproximarem de mim, estou em choque. Eles me levam até o palco, meu rosto já vermelho de choro. Algumas pessoas soltavam gargalhadinhas de alívio, outras, de pura maldade, rindo pelas minhas lágrimas, mas começo a chorar de verdade enquanto subo os degraus do palco. George me cumprimenta e não comenta minhas lágrimas.

Estou parada, encarando o público, com os olhos embassados, mas consigo ver as pessoas rindo do meu choro.

– E vamos ver quem será o outro sortudo! - Ele faz o mesmo drama de quando pegou o papel com meu nome e finalmente diz: - Rory Wood!

Rory Wood. Eu o conheço da escola, mas não somos exatamente amigos. O que me ajuda. Ele é corpulento, mas não é extremamente forte. Sei que ele é filho de uma professora da escola, então prezumo que ele é inteligente. Mas me parece que ainda não entendeu o que estou fazendo. Mais lágrimas caem dos meus olhos quando ele me cumprimenta, frio.

O hino então toca, e somos levados por um corredor. Rory olha para mim, com pena. Só olho para o chão, sabendo que estou sendo filmada. Quando me trancam numa sala, desabo no sofá e choro mais.

Mas meu choro não é medo. Não é raiva. Não é tristeza. É inteligência, estratégia.

Ouço a porta bater e meu pai, minha mãe e Tate entram, os dois últimos com os rostos inchados de choro. Sorrio para eles. Tate me olha, sem entender.

– Eu sou forte, Tate. - Digo, sem alterar a minha voz, e então pelos olhares da minha família, sei que meu pai, que sabia que esse dia poderia chegar mais cedo ou mais tarde e portanto nos treinou para isso, será o único a entender. As três únicas pessoas que tem valor para mim se despedem, tristes.

– Filha? - Diz meu pai, assim que Tate leva a minha mãe, aos prantos para fora. - Eu estou orgulhoso de você. - Ele me abraça.

– Pensei que estaria com vergonha de ter uma filha chorona como eu. - Sorrio e ele sorri de volta.

– Eu entendi, minha filha. - Então ele me solta, - Boa sorte. Eu te amo. - E então ele sai da sala, me deixando sozinha.

Nesse momento sei que nem mesmo ele acredita que eu posso ganhar os Jogos. Mesmo que ele tenha entendido tudo o que estou fazendo. Mesmo que ele soubesse que sou forte, que sei atirar e fazer milhares de coisas. Ele acredita que vai me perder. Que vou morrer.


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