What If escrita por Olivia Hathaway, Maria Salles


Capítulo 14
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Gente, adoro invadir as contas alheias! Oiiii!

A pessoa que vos escreve aqui é Mands(LittleR/Agnes). Eu estou começando me achar heroina sabe? Sempre salvando as autoras para não serem massacradas pelas ameaças e vocês leitoras de não ficarem sem história, hahaha...

A Ferdi me deu carta branca para a nota inicial ser totalmente minha, mas eu não vou prolongar mais nada. Lá em baixo deixarei o recado dela pra vocês explicando as coisas que tem de ser explicadas =D

Esse capítulo contém cenas de Blood Promise.

Beijos, bom proveito dessas 8. 136 palavras, surtem, comentem e deixem um salve para mim: "Mandsss sua lindaaa!"



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Eu sempre achei que Eugene Lazar não teria o mesmo espírito diabólico que Kirova quando parávamos na diretoria. Ele sempre pareceu tão tranquilo, e tinha um rosto tão sereno que a maioria dos estudantes o achavam inofensivo para tratar desses assuntos.


Mas é como dizem: as aparências enganam.

E bem, ele não encarnou Kirova. Ele foi muito pior que ela. Provavelmente ele tinha agido assim por ter visto sua filha no meio da farra, e também descobrir que ela estava estragando a princesa Dragomir – transformando-a em uma garota festeira. Eu tinha que concordar com a última parte.

“Eu ainda não consigo acreditar que mesmo faltando três meses para a formatura vocês ainda não adquiriram maturidade” cuspiu, andando de um lado para o outro na sala. “O que vocês estão virando? A Corte não quer crianças imaturas. Eles querem indivíduos intelectuais e completamente civilizados para tratar de assuntos importantíssimos.” Seu olhar caiu em Lissa. “Em especial você, por se tratar da última Dragomir. Você tem uma reputação a zelar, um dos nomes mais poderosos de toda a Realeza Moroi. Você sabe o que isso significa? Eu acho que não. Porque com esse comportamento irresponsável, você está apenas destruindo o que todos os seus antepassados suaram para conseguir”

Aquilo foi como um balde de água fria jogado em cima de Lissa. Eu senti seu peito apertar e o arrependimento consumi-la. Ela estava se sentindo envergonhada com o que tinha feito, envergonhada por manchar a reputação dos Dragomirs. O Sr. Lazar acertou em cheio a ferida que ela tinha: carregar o fardo de ser a última Dragomir.

Ele continuou com o seu sermão, dando ênfase no quão imaturos nós tínhamos sido. O mesmo tipo de sermão que Kirova dava antes de Lissa e eu fugirmos. Vaguei meu olhar pela sala, passando por onde Alberta, Emil e Dimitri estavam. Os três estavam encostados na parede, parecendo mais como enfeites da sala do que supervisores. Mas assim como Eugene, eles não eram inofensivos.

Tentei ler Dimitri, mas era impossível. Aquela máscara de guardião estava perfeita e cuidadosamente colocada. Quando ele nos encontrou mais cedo, ele parecia extremamente furioso conosco, e surpreso por ter me visto ali. Essas foram as únicas reações que consegui enxergar antes dele trancá-las e nos arrastar para a diretoria.

Ele estava achando que eu realmente estivera lá apenas para me divertir. Eu sabia que ele estava profundamente decepcionado comigo. Minha raiva e frustração apenas aumentaram. Não queria que ele me enxergasse como uma garota irresponsável que jogou para o alto todos os seus ensinamentos.

Eu estava tão imersa em pensamentos e nas minhas emoções que não vi que o diretor estava falando comigo e com Christian. Foi apenas com os olhares que caíram sobre mim que eu voltei a real.

“Eu fui bastante claro, Srta. Hathaway e Sr. Ozera?”

Franzi os lábios e me arrumei na cadeira. Eu não sabia do que ele estava falando, mas perguntar naquela altura do campeonato poderia me render uma suspensão. “Sim, Sr. Lazar”

“Ótimo” ele disse, cruzando as mãos. “Vocês todos farão serviço comunitário pelos próximos três dias.”

Eu dei um pulo da cadeira. “Como é?”

“Srta. Hathaway” avisou o diretor. “Sente-se imediatamente!”

“Isso é completamente ridículo!” exclamei, fechando os punhos. “Christian e eu não participamos dessa maldita festa! Nós fomos até lá para tirar Lissa, que estava prestes a cair bêbada na piscina por causa da sua filha!”

“Já chega!” Ele se levantou, batendo a mão na mesa. “Não importa o que vocês foram fazer lá. Vocês foram pegos, e estarão pagando o preço por isso. Continue teimando e cancelarei seu teste com o Guardião Metanov”

Eu estava completamente dominada pela fúria. Ele não poderia estar fazendo isso. Eu não deveria pagar pelos erros dos outros, era completamente injusto! Abri a boca para protestar, mas o olhar de aviso que Dimitri me lançou me fez desistir prontamente da ideia. Cuidado, Rose. Retrucar só irá destruir o que você conseguiu até agora – era essa a mensagem que seus olhos me passaram. Infelizmente, ele tinha razão. Se eu perdesse esse teste, eu estava ferrada, porque ele aumentaria minha reputação. Eu me sentei a contragosto e trinquei os dentes. Queria continuar protestando, eu queria que eles acreditassem em mim, especialmente Dimitri.

E quanto mais o diretor falava, mais frustrada eu ficava. Aos olhos de todos eles agora, eu tinha voltado a ser aquela Rose completamente irresponsável que não se importava com nada. Dimitri estava muito mais do que decepcionado. Eu queria pular da cadeira e sufocar Avery por essa, e depois dar um longo sermão em Lissa por estar agindo como uma inconsequente.

Quando ele finalmente nos liberou para voltarmos para os dormitórios, eu me afastei de todos. Sentia que iria explodir a qualquer momento.

Lissa tentou tocar meu braço, mas eu me afastei. Aquilo a magoou. “Rose, me desculp—“

“Desculpar pelo o quê? Por ter me deixado mal na fita para todos por sua causa?” eu a surpreendi com meu tom de voz e o veneno que havia nela. Mas ao invés daquilo me fazer pegar mais leve, eu me vi cada vez mais ansiosa para dizer a ela o que eu realmente pensava daquilo tudo. “Estou farta de suas desculpas!”

“Meu deus” soprou Avery, olhando para nós duas. “São apenas três dias limpando carteiras, juntando lixo e limpando salas. O que tem de mais?”

“O que tem de mais?” falei sarcasticamente, elevando meu tom de voz. Cruzei os braços e atirei um olhar feio para ela. “Acontece é que não são todos aqui que conseguem ser bem sucedido tendo apenas sangue nobre e um sobrenome real e limpo como um passe. Alguns precisam quebrar os joelhos para triunfar, e um deslize como esse pode destruir completamente essa chance”

O queixo de Lissa caiu, e os olhos de Avery brilharam. Eu sabia que tinha sido um golpe baixo, mas não me importava. As duas estavam agindo como a maioria da Realeza. Aquela parte que não está nem aí para fazer algo produtivo, que não importava com o trabalho que seus antepassados tiveram para chegar aonde chegaram. Não se importavam com a vida dos outros, nem com seus sentimentos. Eram todos egoístas e só queriam saber do próprio umbigo.

“Não é como se você nunca tivesse feito isso antes” devolveu Avery.

Minha paciência acabou.

Em um movimento rápido demais para ser interrompido, eu avancei e envolvi seu pescoço, ao mesmo tempo em que usava a força do meu corpo para empurrá-la. Suas costas bateram na parede. Centímetros separavam nossos rostos, e pude sentir seu medo. Avery poderia ser mais alta que eu, mas eu a superava na força. E nós duas sabíamos que seu sobrenome e status não me impediriam de quebrar seu rosto naquele momento.

“Rose!” exclamou Lissa horrorizada. Eu a ignorei, e ouvi Christian impedi-la de se aproximar de nós. Meu corpo tinha sido dominado pela raiva e adrenalina. E agora pelo medo de Lissa.

“Uma palavra a mais” eu disse, pressionando mais meu braço contra sua garganta – mas não fazendo força o suficiente para cortar toda a sua respiração. “E eu juro que eu arrebento a sua cara e enfio uma garrafa de uísque na sua garganta. Tenho certeza de que seu pai ficaria mais do que contente por alguém finalmente ter te colocado na linha.”

Ela deve ter imaginado a cena, pois empalideceu ainda mais.

“Rose” agora era a voz de Christian. Havia aviso e preocupação nela. “Agora é sério. Chega”

“Eu ainda não terminei!”

“Rose, por favor!” implorou Lissa. “Você está me assustando!” Isso não é você!– Ela gritou pelo laço – Deixe-a ir! Nós sabemos que ela falou merda, mas deixe-a ir. Não perca seu tempo com ela!

Eu a ignorei.

Então uma voz na minha cabeça sussurrou, me dizendo que três dias de detenção era razoável. Que se Kirova estivesse ali, a punição teria sido muito pior. Eu provavelmente teria sido expulsa e perderia de vez minhas chances de me formar e virar a guardiã de Lissa.

Eu estava para considerá-la, quando eu percebi a verdade. Lissa tinha acabado de usar sua mágica em mim. Girei para ela. “Saia da minha cabeça! Pare de usar compulsão em mim!”

Seus olhos verde jade se arregalaram. “Mas eu não-“

“Solta ela, Rose!” exclamou Christian, agora assustado. Nunca o tinha visto tão desesperado. “Você a está asfixiando!”

Eu estava tão furiosa que não tinha percebido que tinha pressionado mais meu braço, cortando sua respiração. Eu rapidamente o puxei, e Avery quase caiu de joelhos no chão. Ela respirava com dificuldade.

Cruzei meus braços e a assisti se levantar. Havia medo em seu olhar, e também um profundo ódio – coisa que nunca esperava ver nela. Mas bem... Avery era habilidosa em mascarar seus sentimentos. “Eu espero que você tenha entendido o recado. E pense bem da próxima vez que decidir arrastar Lissa para o seu mundinho sujo e me contrariar”

Ela não respondeu. Apenas se virou e saiu em direção ao seu dormitório. E pelo movimento de seus ombros, eu sabia que ela estava chorando.

Isso mexeu com Lissa. “Satisfeita?”

“Chega!” exclamou Christian, ficando no meio de nós duas. Seu olhar se encontrou com o meu. “Rose, eu acho melhor você ir. Eu preciso” eu prontamente entendi o que ele queria.

“Eu vou indo então” falei, dando um breve aceno para os dois. Quanto mais eu me afastava, mais agitadas as emoções de Lissa ficavam. Mas não era por causa de mim.

Era Christian.

"O que está acontecendo com você?" exigiu ele.

Ela o encarou por alguns segundos. Sua mente ainda estava confusa por causa do álcool. "Nada. Eu estou completamente bem"

"Não minta para mim!" Vi um lampejo de raiva nos olhos de Christian. "Você acha que eu não sei que você decidiu agir assim por causa daquela briga com Rose. Que você está arrumando um jeito de se vingar dela. Fazê-la sentir o que você sentiu "

"Isso não tem nada a ver com a Rose!" rebateu ela, seu temperamento apenas piorando. Havia uma raiva não característica dela. "Por que é tão difícil de você entender?"

"Então me explique" Ele cruzou os braços. "Porque esse seu comportamento rebelde? Qual o problema? Você estava sentindo falta do tempo em que você era a típica garota da realeza e fazia coisas loucas junto com o restante da turma?"

Aquilo ferveu mais ainda aquela raiva. "E se eu disser que sim? É bom perder o controle às vezes."

O olhar frio que ele lançou a ela a fez se encolher. Senti um calafrio - vindo dela - quando a ficha caiu. Milhares de desculpas surgiram em sua mente, e ela estava pronta para se ajoelhar e pedir desculpas por ter dito aquilo. Mas era tarde demais. O estrago já estava feito.

Aí estava o problema. Se Lissa tivesse elaborado mais seus sentimentos, ou o quanto sua culpa e depressão a estavam comendo por dentro a fazendo sair de controle... Bem, eu acho que Christian estaria ali por ela num instante. Apesar do seu exterior cínico, ele tinha um bom coração – e Lissa era dona de grande parte. Ou costumava ser. Agora tudo que ele conseguia ver era ela sendo tola e superficial e retornando a um estilo de vida que ele odiava.

"Então eu digo que não posso mais lidar com isso" disse ele. "Eu não posso ficar com você se essa é sua vida agora, toda cheia de irresponsabilidade. Não posso mais suportar ver você tratando a Rose desse jeito sem ao menos procurar entender o lado dela. Aliás, eu não aguento mais vê-la sofrer por causa disso, e ao mesmo tempo fazer de tudo para proteger."

Os olhos dela se alargaram. “Você está terminando comigo?"

"Não. Estou dando um tempo" ele disse. Lissa foi tão consumida pelo choque e horror de suas palavras e isso a impediu de ver Christian do jeito que eu vi, não viu a agonia nos olhos dele. O destruía ter que fazer isso. Ele também estava magoado, e tudo que ele viu era a garota que ele amava mudando e se tornando alguém que ele não poderia ficar.

“Você não pode fazer isso,” ela chorou. Ela não viu a dor dele. Ela o viu como sendo cruel e injusto. “Precisamos conversar sobre isso – e dar um jeito—“

"Eu não estou com humor para conversar agora"

“Por favor, não faça isso,” ela implorou. “Eu posso mudar. Posso perdoar Rose... aliás, eu já estava querendo fazer isso porque eu realmente fui uma –“

"Chega!" exclamou ele. "Você não entendeu? Eu não quero que você perdoe Rose só para me agradar. Quero que você afaste essa merda desse seu egoísmo e espírito festeiro por cinco minutos e pense nos motivos que a impediram de te contar isso antes! Coloque-se no lugar dela apenas por míseros cinco minutos! E pense sobre o que você realmente quer da sua vida." Cada palavra era como um tapa na cara dela. Eu também estava chocada pela ferocidade que havia em seu discurso - eu tinha subestimado a lealdade de Christian. "Quando você fizer isso, vamos conversar. Você sabe onde me encontrar"

Ele se virou e abruptamente se afastou. Para ela, a partida dele foi fria e cruel. Mas de novo, eu vi a angustia nos olhos dele. Eu acho que ele partiu porque ele sabia que se ficasse, ele não ia ser capaz de cumprir sua decisão – essa decisão que doía, mas que parecia ser a certa.

***

No começo do dia seguinte, eu me arrastei até o estacionamento da Academia para me encontrar com Dimitri. Minha mente estava um turbilhão de emoções - uma mistura das de Lissa com as minhas, e eu me sentia cansada mentalmente.

Entretanto, esse cansaço foi logo substituído por admiração assim que eu o vi parado ao lado do carro, parecendo um general que aguardava seus soldados com aquela pose. Seu sobretudo de couro preto apenas acentuava mais essa visão. Era incrível o poder que ele tinha sobre meu corpo e mente.

"Você está atrasada três minutos" ele disse, se desencostando do carro.

Bufei. "Yeah, eu sei. Mas dessa vez eu tenho uma boa desculpa"

"É mesmo?" perguntou enquanto abria a porta para mim. "E qual seria ela?"

"O chuveiro queimou" falei, me sentando no banco passageiro. Ele deu a volta e entrou no carro.

"Presumo então que você esteja mais do que acordada agora" por mais que sua expressão estivesse com aquela máscara, eu detectei um meio sorriso em seus lábios.

Cruzei os braços. "Isso não teve graça"

Ele deu partida e com isso suspirei, lá começava mais tempo desperdiçado na estrada. Talvez fosse a ansiedade que estava fazendo disso uma coisa incomoda. Eu não sabia o que esperar desse teste e a confusão sentimental que minha vida se encontrava não melhorava em nada.

Normalmente, não tenho problemas com silêncio entre Dimitri e eu. Estava acostumada com o jeito calado dele, de forma que não ficava incomodo ou chato. Mas não hoje. Ele realmente estava bravo comigo?

Alguns minutos após termos saído da Academia, Dimitri começou a mexer no rádio. “E começamos a sessão túnel do tempo” provoquei, procurando suavizar a tensão. “Não vou mais implicar com suas músicas, camarada” tirei da bolsa o iPod que havia ganhado de aniversário e o exibi orgulhosamente.

Por um momento, identifiquei um olhar divertido em Dimitri, rapidamente substituído por sua habitual seriedade. Aquilo me frustrou, nós estávamos tão bem, eu podia senti-lo tão leve comigo, sem o peso das nossas responsabilidades sendo lembrados constantemente.

Decidi que estava farta da quietude que compartilhávamos. “Você está bravo comigo?” Cortei o silêncio com a voz forte e preocupada “Eu já disse que estava lá para tirar Lissa da fest—“

“Eu sei, eu acredito em você.”

“Christian está de prova que...” me interrompi confusa “Espera, o quê? Você acredita em mim? Pensei que você estava bravo comigo, sei lá.”

Dimitri não me respondeu de imediato. “Não estou bravo com você, Roza. Eu confio em você.”

Meu coração se encheu de alívio. “Confia?”

“Sim. Você não tem dado mais que provas de confiança, dia após dia. E eu confio em você, Rose. Esse é um dos requisitos para uma boa relação.” Ele me disse firme, como se quisesse encerrar o assunto e me fazer esquecer essa possibilidade, e deu um leve sorriso.

Apesar das verdades em suas palavras, senti que Dimitri tentava me distrair. “Dimitri, me diga o que te incomoda. E não me diga que não é nada.”

"Rose..."

"Não faça isso"

“Não gosto de te ver estressada” disse por fim, após uns segundos agonizantes, para mim. Seus olhos castanhos se encontraram com os meus através do espelho retrovisor, e eu praticamente mergulhei na intensidade deles. “Odeio te ver chateada assim, nem mesmo quando você está errada, o que não é o caso. Isso não te faz bem. Sinto-me impotente.”

Mordi os lábios. A conduta de Lissa não só trazia mal a ela, trazia a mim, e não por nossa briga estúpida. Era mais que isso. Era a escuridão que só crescia e se entornava como rio intenso sobre mim. Ele estava repudiando as ações dela e preocupado com as possíveis consequências que eu sofreria. Não poder controlar Lissa o deixava impotente e frustrado.

“Não é algo que esteja em seu controle” respondi tentando confortá-lo “Lissa logo cairá em si.”

Dimitri suspirou e senti que ele hesitou, desistindo de falar seja lá o que estivesse em sua mente. “Isso não vem ao caso agora. Você deve é se concentrar para o seu teste daqui a pouco.”

Sua lembrança provocou o nervosismo que eu estava tentando ignorado até então. “Merda. Eu tinha esquecido de que lutarei com o segundo do comando dos guardiões”

Pela primeira vez, Dimitri sorriu de verdade. Aquele sorriso que me tirava o fôlego. Tirou uma das mãos no volante e esticou o braço para apertar a minha em meu colo. Ela praticamente cobriu a minha, e senti aquela eletricidade tomar conta do meu corpo. “Vai dar tudo certo, Roza. Você irá vencê-lo quase tão facilmente quanto os guardiões no dia da sua formatura"

Com ele falando assim, eu acreditei.

***

A casa de Boris ficava poucos minutos de Billings. Nós entramos em uma pequena estrada de pedras e a seguimos até nos depararmos com uma casa de dois andares estilo vitoriano. Havia uma espécie de bosque em volta dela, o que era estranho para uma moradia Moroi. E perigoso. A maioria dos Morois preferiam morar nas cidades - ou até mesmo na Corte, e suas moradias eram projetadas para não deixar nenhum lugar desprotegido. Justamente para evitar ataques de Strigoi.

Nós estacionamos na frente da casa, e eu esperei que um senhor careca e com sotaque britânico aparecesse para nos receber. Não julgue minha imaginação, porque era o tipo de mordomo que eu imaginava para aquele tipo de casa. Mas ao invés disso, era um homem Moroi loiro com um bigode que aparentava ter a mesma idade de Dimitri que nos esperava lá.

Felizmente, nem Dimitri e nem o homem notaram minha decepção.

"Dima! Quanto tempo!" ele disse puxando Dimitri para um abraço. Ele imediatamente o retribuiu, e pela sua expressão, eu percebi que eles deveriam ser amigos de longa data. O apelido que ele chamou Dimitri também entregou isso. Eu logo descobri que seu nome era Alexander. "Você não mudou nada"

"Nem você" Dimitri disse, se afastando. Ele ficou do meu lado. "Esta é minha aluna, Rose"

"Oh! Então você é Rose Hathaway!" seus olhos azuis então caíram em mim, e eu me senti incomodada sobre seu olhar. Aos seus olhos, eu parecia ser algum tipo de experimento muito interessante. Um experimento que ele gostaria de estudar mais a fundo. Ele levou minha mão até seus lábios e a beijou. "É um enorme prazer conhecer a heroína de St. Vladimir. Ouvi muitas coisas a seu respeito."

"Imagino que sim" Eu não gostei de suas últimas palavras. Amigo de Dimitri ou não, ele estava se comportando como a Realeza quando colocava os olhos em algo valioso. Alexander, no entanto, ignorou minha petulância. Na verdade, meu comportamento o fez sorrir ainda mais.

Ele se virou para Dimitri. "Boris irá amar trabalhar com ela." então sua expressão se tornou séria. "E acredito que vocês terão que ficar para o jantar" falou, enquanto nos conduzia pelo hall de entrada. "Por causa da tempestade que está vindo. Parece que vai ser muito forte"

"Não precisa, Alex" Dimitri disse com um sorriso educado. Eu o conhecia o suficiente para dizer que ele não estava querendo incomodá-lo. "Quando formos abastecer para a volta, Rose e eu vamos comprar algum lanche. E temos a luz do dia. Não é perigoso"

"Yeah" eu disse, tentando imitar o sorriso de Dimitri. "Nós não queremos incomodar nem nada" Eu ainda estava surpresa demais com a hospitalidade dele.

Alexander rolou os olhos. "Incômodo será a única coisa que sentirei enquanto vocês estiverem aqui. Vocês só sairão dessa casa depois do jantar"

Eu ouvi Dimitri soltando um leve bufar. Sabia que ele também odiava ser contrariado. Também sabia que Alexander não voltaria atrás de sua decisão. Não tínhamos como escapar.

Alexander nos conduziu pela casa, nos levando até a pequena sala de treinos que ficava do outro lado da casa. Boris não pôde nos receber porque estava em um telefonema importante - provavelmente tinha a ver com seu cargo na Corte - mas nos esperava lá. E nós chegamos bem na hora em que ele desligou o celular.

"Belikov!" O saudou com um enorme sorriso. Mas ao contrário de Alexander, ele não o abraçou. "Estávamos esperando por você. Faz um longo tempo desde o nosso último encontro..."

Eu aproveitei para analisá-lo. Boris era troncudo e mais baixo que Alexander, e parecia estar na casa dos quarenta por causa das rugas e cabelo levemente grisalho. Seu rosto era bonito, com exceção do nariz que era meio torto - eu suspeitava que ele deveria ter quebrado ele no passado, em alguma luta. E como todo dhampir treinado para ser guardião, ele tinha o físico bem constituído.

Então ele se virou para mim.

"Rose Hathaway" Disse ele, estendendo sua mão. Sua expressão era ansiosa - e é claro, curiosa. "Não posso acreditar que finalmente estou conhecendo uma das mais incríveis guardiãs que o mundo vai ter, e é claro, que eu terei a honra de ver em primeira mão suas habilidades. Estou grato por Dimitri ter aceitado em trazer você aqui"

Eu a apertei e sorri. "É um prazer conhecê-lo, Guardião Metanov. E uma honra participar desse teste”

"Você tem a aluna perfeita" ele disse para Dimitri. "Não sei por que todos falam que ela é irresponsável e rebelde. Não faz sentido"

Dimitri e eu trocamos olhares, e tive que esconder um sorriso.

Quando Boris avisou que já estava tudo pronto, fui até o banheiro que tinha lá e coloquei minhas roupas que usava na maior parte dos treinos: top, calças largas e tênis. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e depois fui até onde ele e Dimitri estavam.

"Então" eu disse, cruzando os braços. "O que eu preciso fazer para provar a Rainha que sou digna de guardar a última Dragomir?"

"Cuidado com as palavras" avisou Boris. "Isso não se trata apenas de um teste particular. Eu se fosse você, ficaria agradecido pelos guardiões e até mesmo a próxima Rainha demonstrarem interesse em você. Isso é sinal de que eles estão considerando te designar para a princesa Dragomir"

"A maioria das pessoas está mais do que convencida da minha capacidade de ser guardiã de Lissa. E ao que me parece, apenas você e a Rainha ainda não acreditam nisso." devolvi.

Ele olhou para Dimitri. "Você deveria ter ensinado autocontrole a ela"

"Essa é uma das aulas que mais temos" Um fantasma de um meio sorriso se esboçou em seus lábios. "Mas ela é uma força impossível de ser contida"

"Eu gosto de guardiões com atitude e determinação. Eles são os melhores para proteger seus Moroi." Um sorriso zombeteiro esboçou seus lábios. "Mas odeio os arrogantes. Eles acham que sabem tudo e que são melhores do que todos. Consequentemente, morrem mais cedo por cometerem estupidezes. Nós também vamos descobrir aqui que tipo de guardiã você será. Ainda mais por causa de... suas habilidades peculiares."

Senti Dimitri enrijecer ao meu lado. "Se você está se referindo ao que aconteceu na caverna –“

"Sim" cortou Boris, me olhando. "Eu me refiro exatamente a isso. Cheguei a ler os relatórios dos guardiões que estiveram lá, especialmente de Alberta e Emil. Ela conseguiu de algum jeito convocá-los e eles espantaram os Strigoi. Se isso realmente for verdade, "

"Não" Dimitri disse rispidamente, sua expressão se tornando sombria. Boris o encarou. Dimitri se desencostou da parede e caminhou até nós. "Não há nada comprovado e Rose não fará nenhum tipo de teste relacionado a isso"

"Mas estas perguntas requerem respostas vindas dela" ele apontou para mim. "Ela pode ser a chave para a exterminação dos Strigoi!"

Aquilo deixou Dimitri mais chateado, e eu finalmente entendi o porquê disso. Se os outros soubessem dessa minha habilidade shadow-kissed, eu acabaria em problemas. Eu iria atrair atenção indesejada, e a Rainha poderia me forçar a fazer uma série de testes e me usar de arma contra os Strigoi, e provavelmente acabaria nem guardando Lissa. Eu não deveria chamar a atenção. "Vocês pediram para que eu trouxesse minha pupila para avaliar seus métodos de luta, não para um interrogatório"

"Você vê fantasmas?" perguntou Alexander, sua voz calma em contraste com toda a agitação da sala. Eu nem tinha visto que ele estava ali, sentado em uma cadeira perto da porta. Ele me estudava com aquele mesmo olhar penetrante e fascinado.

Dimitri fuzilou Alexander com o olhar. "Nós não sabemos."

"Dimitri está certo" eu disse para ele. "Nós realmente não sabemos. Muita coisa aconteceu naquela caverna"

"Mas tem relação com seu laço com a princesa, certo?"

Tentei esconder minha surpresa. Como ele sabia sobre isso? "Eu hm... acho que sim"

Minha surpresa apenas aumentou quando sua expressão se tornou preocupada. Mas antes que eu pudesse perguntar, Boris continuou a insistir sobre os fantasmas.

"Como instrutor dela, você deveria estar mais do que orgulhoso pela realeza estar de olho nela" Boris disse. "Pouquíssimos tem todo esse privilégio. Ela terá um futuro brilhante e entrará para a história como uma das melhores guardiãs. Por deus, ela já superou a própria mãe. E se ela realmente viu aqueles espíritos -"

"E como seu instrutor, é meu dever protegê-la da ganância da realeza" rebateu Dimitri - e se possível, ele estava mais irritado do que antes. "Você sabe muito mais do que ninguém os planos da realeza"

Eu estava prestes a perguntar para Dimitri quais planos eram esses quando Boris desistiu da discussão e anunciou que começaria o teste.

"Eu espero que ele não arranque meus olhos fora se eu acertar um soco em você" Falou ele, jogando um par de luvas de boxe para mim.

Eu sorri. "Não acho que ele faria uma coisa dessas", mas olhando para Dimitri agora, seus lábios em linha reta, Seu cenho franzido deixavam seus olhos escuros, já nem um pouco calorosos, piores. Seus ombros estavam tensionados e o corpo perfeitamente ereto, como se estivesse preste atacar, esperando apenas pela provocação do inimigo -- eu já não tinha certeza se podia discordar de Boris.

***

Uma hora e meia depois, o teste acabou. E Boris anunciou que eu tinha sido aprovada. Me chame de arrogante, mas eu sabia que iria passar. Ele estava impressionado com minha velocidade tanto para atacar quanto para defender, assim como minha capacidade de improvisar. E depois de derrubá-lo pela vigésima vez, ele decidiu que o teste estava encerrado.

Dimitri tinha ficado parado em um canto enquanto nos assistia. E quando terminou, o olhar de aprovação e orgulho que recebi dele junto com aquele meio sorriso fizeram meu coração quase explodir no meu peito. Eu vivia por esses olhares e sorrisos. Amava saber que ele tinha orgulho de mim, assim como fé. Ele sempre acreditou no meu potencial, até mesmo quando a maioria me via apenas como uma dhampir irresponsável e malcriada - não que eu ajudasse para mudar essa reputação. E eu estava muito mais do que feliz por deixá-lo orgulhoso.

Eu desejava perguntar a ele sua opinião sobre o teste, mas Boris me disse que precisava conversar com ele em particular.

Vagando pelo corredor, ouvi meu estômago roncar. Eu não tinha almoçado hoje - Dimitri e eu tínhamos feito apenas um pequeno lanche na estrada, então era óbvio que eu estava morrendo de fome. Especialmente depois de ter feito aquele teste. Meu organismo estava me cobrando qualquer coisa que fosse comestível.

Uma ideia surgiu em minha mente. Estava na hora de descobrir que realmente não éramos um incômodo naquela casa.

"Hey" eu disse para uma mulher Moroi que segurava uma pilha de toalhas na mão. Ela se assustou comigo. "Você pode hm... me dizer onde fica a cozinha?"

"No final do corredor, a direita" respondeu ela.

Eu segui suas instruções, e quase dei um encontrão em Alexander.

"Rose" ele esboçou com um pequeno sorriso. "Eu suponho que você esteja com fome depois daquele teste. Estou fazendo alguns sanduíches" ele apontou para os pães em cima da mesa com bandejas de queijo e presunto do lado.

Era como se ele tivesse lido minha mente. "Estou um pouco"

"Então venha e me ajude com esses sanduíches" convidou, se afastando um pouco para que eu pudesse ficar ao seu lado. Eu ainda estava um pouco cautelosa por causa de toda essa simpatia. "Vocês dhampirs tem que estar sempre comendo para ter toda essa energia"

Eu apenas concordei com a cabeça e o ajudei a fazer os sanduíches. Minutos depois, quando eu já tinha comido o meu segundo, ele me chamou para irmos para a sala. E assim que entramos lá, meus olhos logo pousaram para a enorme janela que havia lá. Poderia ainda estar escuro, mas dava para ouvir e ver o quão forte a chuva e o vento estavam. O amanhecer estava perto, mas eu duvidava que houvesse bastante luz. Alexander tinha razão quando disse que a tempestade iria ser forte.

Mordi o lábio. “Acho que nossa volta vai atrasar um pouco”

Ele girou um globo que tinha ali perto e levantou seu olhar para mim. “Metade de um dia, mas isso não será problema. Nós já acertamos os detalhes com a Academia”

Eu me virei para encará-lo. “O que quer dizer?”

“Você e Dimitri irão passar a noite aqui” anunciou ele apontando para a janela. “De jeito nenhum vocês irão voltar para St. Vladimir com essa tempestade!”

Eu apenas o encarei, chocada demais para dizer algo. Meu cérebro ainda estava tentando processar o que ele tinha acabado de dizer.

Um sorrisinho apareceu em seus lábios. “Surpresa?”

“Muito” admiti, olhando para os lados a procura de Dimitri. Passar a noite na casa do protegido do cara que me avaliara era estranho, e impossível. “Geralmente iríamos para um hotel aqui perto ou encarar a chuva. Temos ótimos reflexos”

“Oh, bem” ele passou a mão no cabelo loiro. “Não é comum Morois da Realeza oferecerem esse tipo de convite. Eu entendo seu choque. Mas eu sou uma pessoa extremamente hospitaleira, e sou um grande amigo de Dimitri”

"Mas eu tenho um Moroi para proteger!" falei, me sentindo nervosa. Merda. Eu tinha prometido a mim mesma que assim que voltasse, ficaria mais do que de olho em Lissa - e em Avery. Minha paciência com a alegre e festeira Avery tinha ido para o ralo e eu precisava fazer Lissa abrir os olhos e mantê-la longe dela. E é claro, ajudá-la a lidar com os efeitos da escuridão. Eu sabia que depois dessa briga ela só estava absorvendo mais e mais, e isso estava me afetando.

"Não se preocupe. Sua sanidade ainda não está totalmente comprometida como você imagina"

“Como você –“ eu arfei. Seu sorriso apenas se ampliou.

“Você demorou para adivinhar. Achei que já descobriria na hora” provocou ele.

“Então...então você é um usuário do Espírito.” exclamei, não conseguindo controlar a minha voz.

Ele deu de ombros, sua expressão divertida por causa do meu choque. “Se é assim que vocês definem...” Alexander caminhou até o armário e pegou uma garrafa de vodca com dois copos. “Então,” ele disse. “O que você gostaria de saber?”

“Wow. Você não perde tempo mesmo”

“Não vejo por que. Você deve ter várias perguntas. Vou fazer meu melhor para responder.”

“Como você sabia?” eu perguntei. “Que eu também sou uma shadow-kissed. Você sabia, certo?”

Ele assentiu. “Sua aura me disse isso”

Eu me aproximei dele, me sentindo cada vez mais maravilhada. Por todo esse tempo, eu conhecia apenas três usuários de espírito, e nenhum deles parecia saber muita coisa desse elemento tão poderoso e fascinante: Lissa, Adrian e Vladimir. O último tinha morrido há mais de trezentos anos, e seu diário tinha servido para ajudar Lissa e eu a entendermos um pouco do espírito – mas infelizmente ele deixara mais dúvidas do que soluções. Mas esse homem parado na minha frente parecia ter conhecimento sobre o Espírito. Provavelmente também uma solução definitiva para aquela escuridão que eu estava absorvendo de Lissa – e que estava me puxando cada vez mais para a insanidade.

“Ela está cercada de sombras, certo?”

Ele assentiu, e me ofereceu um copo. Eu prontamente o peguei, mas não bebi. Ele fez um sinal para que sentássemos nos sofás de couro marrom. Sentei na sua frente e esperei uma resposta.

“As auras dizem muito sobre as pessoas, especialmente sobre o seu estado emocional” ele disse, tomando um gole da sua bebida. “E a sua, bem... ela tem muita escuridão acumulada. Há raiva, e tristeza irradiando dela. Esses sentimentos tendem a te consumir e a exporem o seu pior lado. Estou surpreso por você ainda não ter sucumbido”

Encarei meu copo, milhões de pensamentos me invadindo. Minha esperança e alívio agora tinham iniciado uma guerra interna contra o medo e o desespero. As lembranças de como era ser uma marionete me invadiram. “A verdade é que hm... isso já aconteceu”

Ele me estudou por um momento, sem nada dizer. Mas eu podia ver em seus olhos que ele estava preocupado. Muito preocupado.

“Está acontecendo de novo, não?” suspirei, me recostando melhor no sofá. Senti meus olhos ficarem úmidos. “Estou absorvendo muito mais escuridão do que antes, e ficando cada vez mais perto de perder o controle. Eu deveria saber. Na verdade, eu sempre soube. Só estava achando que teria uma maneira de eu não acabar ficando louca no final”

“Rose” Ele se inclinou, de modo que nossos rostos ficassem nivelados. Meu olhar cruzou com os seus olhos azuis safira. “Isso é algo delicado. Mas, há uma maneira de impedir isso”

Eu praticamente pulei do sofá. “Como? O que precisamos fazer?”

“Como anda sua relação com a sua parceira de laço?”

Desviei o olhar.

“Foi o que eu imaginei” disse ele.

“Você pode ler mentes agora?”

Ele abriu um sorriso triste. “Não. Mas está escrito por toda a sua aura. Suas atitudes também dizem isso”

“Não é como se eu tivesse culpa por estarmos assim” disse na defensiva. “Ela quem decidiu se afastar e pensar mais em si mesma”

“Entendo” respondeu, pousando o copo na mesinha. “Mas como anda a confiança entre vocês? Ela ainda continua forte?”

Eu lembrei da nossa briga, do quão triste e traída ela se sentiu quando descobriu sobre Dimitri e eu. “Eu... eu não sei” admiti. “Por que você pergunta isso?”

“Porque toda essa escuridão pode ser curada. Por sua própria parceira de laço”

Eu encarei Alexander por vários longos segundos. Finalmente, idiotamente, eu perguntei, “Você disse...curar?”

Alexander me encarou igualmente surpreso. “Sim, é claro. Ela pode curar outras coisas, certo? Porque não isso?”

“Porque...” eu franzi. “Isso não faz sentido. A escuridão... todos os efeitos colaterais ruins... eles vêm de Lissa. Se ela pudesse simplesmente curar, porque ela mesma não se cura?”

“Porque quando está nela, está muito impregnado. Muito apertado no ser dela. Ela não pode curar do jeito que ela pode com outras coisas. Mas quando o seu laço puxar isso para você, é como qualquer outra doença.”

Meu coração batia com força no peito. O que ele estava sugerindo parecia ridiculamente fácil. Não, era apenas ridículo e ponto final. Não tinha como, depois de tudo que nós passamos, Lissa pudesse curar aquela raiva e depressão do jeito que ela podia curar uma perna quebrada. Victor Dashkov, apesar de seus esquemas, sabia uma quantidade impressionante de usuários de espírito e explicou para nós. Os outros quatro elementos eram mais de natureza física, mas espírito vinha da mente e da alma. Usar essa energia mental – ser capaz de fazer coisas tão poderosas – não podia ser feito sem efeitos colaterais devastadores. Estivemos lutando contra esses efeitos colaterais desde o inicio, primeiro em Lissa e depois em mim. Eles não podiam simplesmente sumir.

“Se isso fosse possível,” eu disse rapidamente, “então todos teriam feito. A Sra. Karp não teria ficado maluca. Anna não teria se suicidado. O que você está dizendo é fácil demais.” Alexander não sabia de quem eu estava falando, mas claramente não importava para o que ele queria expressar.

“Você tem razão. Não é nenhum um pouco fácil. É preciso um balanço cuidadoso, um circulo de confiança e força entre duas pessoas. Minha irmã também é usuária de Espírito, e tem uma ligação com seu guardião. Foi muito difícil para eles no começo...”

Nesse momento, Dimitri entrou na sala. Eu momentaneamente fiquei distraída pela sua figura alta e imponente parada ali, nos observando atentamente. Quando seus olhos caíram no copo que eu segurava, se tornaram desaprovadores. Maior de idade ou não, Dimitri ainda não aprovava que eu bebesse. Ok, eu ainda não tinha idade o suficiente para beber legalmente, mas mesmo assim.

Alexander esboçou um sorriso para ele. "Hey! Estávamos esperando por você."

"Rose," Dimitri disse. "Você sabe das regras sobre bebida"

“Oh, pare de ser duro com ela, Dima!” havia um olhar censurador em Alexander. Ele abriu os braços. “Vocês hoje são meus convidados, então eu quero que aproveitem tudo o que eu oferecer. Sem restrições. Agora tire essa cara de soldado que comeu terra e junte-se a nós!”

Dimitri apenas o encarou, escandalizado. Eu juro, aquele era um dos raros momentos em que ele era pego de guarda baixa. E lutava contra suas emoções entre manter aquela pose de guardião sério – ou a de um soldado que comeu terra e não gostou – e relaxar e agir como uma pessoa normal. Como se aquela visita fosse casual. Alexander repetiu o convite, e vi a mudança acontecendo nos olhos de Dimitri. Bufando, ele caminhou até onde estávamos e se sentou do meu lado, dobrando todo aquele quase dois metros de pura glória de uma maneira que o deixou apenas mais charmoso.

"Então" ele disse. "Sobre o que vocês estavam conversando?"

"Alexander sabe um meio de curar toda minha escuridão" revelei, ansiosa para ver sua reação.

Novamente, ele foi pego de surpresa. E essa surpresa em um piscar de olhos tinha sido substituída por um alívio que eu nunca tinha visto nele. Eu também vi esperança em seu olhar, assim como determinação - eu sabia que ele faria de tudo para me ajudar. Ver outra vez o quanto ele se importava comigo agitou meu interior.

"Como?" perguntou ele, se inclinando para frente. Havia urgência em sua voz. "O que precisamos fazer?"

Alexander balançou a cabeça. "Vocês não podem fazer nada. Apenas a princesa pode curá-la"

"Mas isso é impossível!" disparou Dimitri.

"Não, não é" Então Alexander contou todo o que tinha me falado, sobre Lissa poder fazer isso e que era necessário um círculo de confiança entre nós para dar certo. E infelizmente, esse era o problema.

Dimitri ficou em silêncio por alguns segundos. Pareceu ser uma eternidade. "Isso complica as coisas"

Alexander assentiu. "Sim, mas podemos reduzir os efeitos da escuridão por um tempo com aqueles talismãs de prata que vocês pesquisaram"

"Meu deus" silibei. "Você definitivamente consegue ler mentes!"

Aquilo arrancou uma risada dele. "Eu não diria isso. Um leitor de mentes tem acesso a tudo o que você pensa, em qualquer momento. Eu só consigo fazer isso quando as emoções estão muito fortes. A barreira fica mais fraca"

"O que mais você pode fazer?" perguntou Dimitri. "Consegue curar as pessoas? E encantar um talismã de cura para Rose?"

"Eu consigo curar, mas evito fazer isso por causa da escuridão. Quanto ao talismã, eu também posso fazer isso" ele me olhou. "Amanhã,antes de vocês partirem, vou te dar um anel de prata encantado. Você vai usá-lo quando se sentir instável e mostrará para a princesa para que ela possa saber como encantá-lo. E acredite em mim: ela irá saber como encantar o outro. A magia desse anel irá mostrar como foi o procedimento"

Eu queria me levantar e me atirar nos braços de Alexander e agradecê-lo por isso. Porque naquele momento, eu sentia como se tivesse tirado um peso do meu peito. Claro, ainda havia muitos problemas para resolver e minha escuridão não estava totalmente curada... Mas era um começo.

Eu não sei por quanto tempo estive absorta nisso, mas Alexander não deixou que durasse mais. Ouvi meu nome ser chamado e seus olhos estavam um pouco dilatados e em seus lábios um sorriso divertido. Ele recomeçou seu dialogo comigo “Então, Rose...” deu um gole em sua bebida “Não quer experimentar? Você nem tocou na sua bebida.”

“Ela não vai beber.” Dimitri se aprontou em dizer. Eu bufei.

“Ele é muito mandão e controlador, não?” Perguntou. Seu olhar caiu em Dimitri. “Já disse para não ser tão duro com ela, e a esta impedindo de aproveitar o que tenho a oferecer” Eu quis rir da carranca que se formou no rosto de Dimitri. “Vamos, prove. É vodca” Ele incitou.

Eu ponderei um pouco, mas que mal haveria? Dimitri ainda estava com um olhar de desaprovação, mas havia certa expectativa neles - não que ele estivesse me incentivando a beber. E bem... Era falta de educação recusar o que o anfitrião oferecia, certo?

Então eu ergui o copo e bebi tão rápido que demorei alguns – malditos! - segundos para sentir o liquido ardendo em minha boca e garganta. Cuspi quase instantaneamente. “Mas que m—“ Tossi, como se isso fosse aliviar o gosto e a queimação minha garganta “Isso parece combustível de foguete!”

A sala se preencheu da risada sonora de Alexander e, quando olhei para Dimitri em busca de auxilio, vi um meio sorriso em seus lábios. Aquilo me irritou, pois ele deveria estar com aquele olhar dizendo que havia me avisado ou até irritado por ter cedido a Alexandre e ter bebido. Não. Ele estava rindo. De mim.

"Isso é vodca" Alexander disse como se aquilo parecesse água para eles.

"Não, não é" rebati. "Eu já bebi vodca antes"

Dimitri sorria. "Mas não a russa"

Eu o fuzilei com o olhar. “Você poderia buscar um copo d’água pra mim em vez de estar rindo da desgraça alheia” Não houve uma demora grande e logo nosso anfitrião já me oferecia um copo de água. Bebi como se fosse um oásis no deserto. Me perguntei como eles conseguiam beber algo como aquilo. Como as pessoas bebiam aquilo. Russos eram extremamente estranhos.

“Bom...” Dimitri suspirou, ainda com um ar descontraído. Por um momento eu quis tirar aquele miúdo sorriso de seu rosto, mas logo me maravilhei. Desde o incidente da festa, ele não se mostrava tão leve quanto agora. "Eu avisei"

“É, eu sei, camarada.” rolei os olhos.

“Não é como se você nunca tivesse feio isso, Dimitri” Alexander pigarreou “Sabe, beber. Ou se divertir. Era algo muito comum, para falar a verdade.”

Me virei para Alexander. “Como assim?”

“Dimitri e Ivan eram terríveis juntos, Rose.” ele bebericou mais um pouco de sua bebida. Olhei para a silhueta morena e imóvel ao meu lado, seu olhar era escandalizado, como se tivessem o caluniando da pior forma possível. Bom, e era. Alexander o estava difamando em algo que ele vivia me reprimindo.

“Ah, é?” Me debrucei interessada.

“Não era bem assim” Começou Dimitri, coçando a garganta.

“É claro que sim. Terríveis.” Seu olhar ficou perdido por um tempo, com sorriso nos lábios “Nossa turma era bem festeira.”

“Você não é um bom exemplo a se falar” rebateu Dimitri, em forma de defesa. Mas não havia ofensa como intenção. Era um momento descontraído e de lembrar sobre o passado.

"Yeah, você tem razão. Era eu quem controlava a entrada e saída de bebidas da escola" Alexander franziu os lábios. Seus olhos em outra época. “Eram bons tempos”

***

"Foi gentil da parte dele nos deixar passar a noite aqui" eu disse enquanto Dimitri acendia a luz do quarto que Alexander tinha cedido para nós. Foi quando meus olhos pousaram na enorme cama de casal a poucos metros de onde estávamos. Eu congelei e prendi a respiração, e vi que Dimitri havia feito o mesmo.

"Você acha que ele sabe de nós?" perguntei, buscando seu olhar.

"Muito provavelmente" respondeu ele, como se aquilo não fosse nada demais. Ele colocou nossas mochilas em cima de uma cadeira que tinha lá. "Por causa da leitura de aura."

"Yeah, eu esqueci desse detalhe" falei. Mas havia outra pergunta. "E você acha que ele fez isso de propósito?"

Um meio sorriso apareceu em seus lábios. "Conhecendo Alex, eu tenho certeza de que ele fez isso de propósito"

"Estou surpresa por você não estar escandalizado. " Eu abri um sorriso e acrescentei. "Dima"

"Você também não"

"Ah, qual é" eu me joguei na cama. "É muito melhor que Dimka. E menos estranho também" além de eu achar apelidos russos extremamente estranhos e confusos, eu não o iria chamar de Dimka. Seu apelido em russo me lembrava da tia de Christian, Tasha Ozera. No inverno passado, ela tinha feito uma proposta para Dimitri ser seu guardião - para que eles pudessem ficar juntos. E quase deu certo, mas Dimitri decidiu assumir seus sentimentos por mim.

"Dimka é o original" rebateu ele, se aproximando da cama.

"Você deve preferir ele porque sua mãe te chamava assim..." aquilo arrancou um grunhido dele. Mordi o lábio para segurar a risada. "Ok, ok. Então eu fico com o camarada"

Dimitri de repente se abaixou, apoiando suas mãos em cada lado do meu rosto. Ele encostou nossas testas, e me vi presa com seu olhar. Meu coração disparou com a pouquíssima distância entre nós.

"Eu juro, Rose, que vou descobrir os livros onde você arruma todo esse material e vou sumir com eles"

Ergui meu rosto e nossos lábios se encontraram em um pequeno beijo, que logo se intensificou. Ele queimou dentro da minha alma, e enquanto meus lábios se pressionavam mais ansiosamente nos dele, eu senti aquela conexão, a que me disse que não havia mais ninguém no mundo a não ser ele. E enquanto éramos envolvidos por todo aquele desejo, senti uma de suas mãos se enrolando no meu cabelo, enquanto a outra tinha entrado por debaixo da barra da minha blusa, tocando minha barriga.

Então, cedo demais, ele se afastou.

"Temos que parar aqui" ele disse com a voz embargada de emoção. Eu assenti, minha respiração ainda acelerada. "Você vai para o banho primeiro"

Como combinado, eu tomei meu banho primeiro, e quando foi a vez dele, eu decidi entrar na cabeça de Lissa.

Para encontrá-la novamente com Avery. Lissa estava em seu quarto, abraçada em um de seus travesseiros. Seus sentimentos novamente me inundando.

“Ele não pode fazer isso,” Ela diss. “Ele não pode fazer isso comigo.”

“Ele está chateado,” disse Avery. “Ele não está pensando direito. Espere ele se acalmar, e ele vai mudar de ideia.”

Lissa lembrou-se da figura de Christian partindo, seu coração partido. “Eu não sei. Eu não sei se ele vai. Oh Deus. Eu não posso perder ele.”

Algo a levou nessa ladeira espiral, e eu deveria estar lá para ajudar. Era isso que melhores amigas faziam. Eu precisava estar lá.

Lissa virou e olhou para Avery. “Estou tão confusa... eu não sei o que fazer.”

Avery encontrou os olhos dela, mas quando ela o fez... A coisa mais estranha aconteceu.

Avery não estava olhando para ela. Ela estava olhando para mim.

Oh cara. De novo não.

A voz passou pela minha cabeça, e eu sai de Lissa.

Ali estava, o empurrão mental, o toque na minha mente em ondas quente e frias. Eu olhei ao redor do meu quarto, chocado com o quão abruptamente a transição aconteceu. Ainda sim, aprendi algo. Eu soube então que não foi Lissa que me empurrou para fora antes e agora. Lissa estava muito distraída e muito confusa. A voz? Não tinha sido dela também.

Cuidadosamente, eu repassei o que tinha acontecido com Lissa. Mais uma vez, eu vi aqueles últimos momentos. Olhos azuis acinzentados me encarando – eu, não Lissa.

Lissa não me expulsou de sua cabeça.

Avery expulsou.



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Notas finais do capítulo

Oi gente! Me desculpem pelo sumiço, mas é que além da inspiração ter sumido, eu estava sendo constantemente arrancada do pc (leia-se familia td em casa) e para fechar o pacote, o HD do meu notebook queimou e eu perdi metade do capítulo (essa cena da casa do Boris). Por isso mil desculpas pela demora e também se no caso o capitulo ficou muito simples, ok?

Queria agradecer todos os 32 comentários que recebi! Eu li todos e amei todos *----* e amanhã estarei respondendo o restante!!! ♥ ♥ Sinto-me mal por não ter postado antes e ter deixado todos vocês super curiosos :( desculpa mesmo!!

Manu, MUITO obrigada pela recomendação *---* eu AMEI de verdade!!! Mt obrigada mesmoooo ♥♥♥

Bem, vcs viram que adc bastante cena de BP ai,né? É que não vi necessidade de cortá-las, especialmente pq decidi manter algumas coisas do livro! Quanto a essa parte do espírito: não coloquei nem o Mark nem a Oksana aí porque senão ficaria um tanto estranho, sabe? Mas coloquei os mesmos diálogos dele com a Rose, só que pelo Alexander. Espero que não tenha problemas...

Ah, me contem o que acharam do capítulo, ok?? Esse já é o penúltimo capítulo =(

Vocês viram minha one com a Agnes? The Broken Soul?
Estou sendo Co. Ela será narrada apenas no POV do Dimitri. E por ser bem complexo, nós decidimos postar uma prévia dela! Para quem quiser ler, abaixo tem o link! Será um final alternativo de Spirit Bound!

Espero que gostem! E se puderem, contem pra gente o que acharam! Precisamos saber se estamos conseguindo escrever no POV dele, mantendo sua personalidade!

Link: http://fanfiction.com.br/historia/389142/The_Broken_Soul/

Obrigada Mands por revisar,postar e me aturar ♥

Bjs e até o próximo cap!!

P.S: Vocês viram o POV dele que a Richelle postou? O que vocês acharam?? EU AMEI! Ficou perfeito e cheio de emoções!