Ad Limina Portis escrita por Karla Vieira


Capítulo 3
Apenas o começo


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, galera, tudo bem com vocês? Estou feliz que estejam gostando até agora. Inclusive eu estou gostando. E vou pedir desculpas pela demora, mas já avisar que provavelmente todos os capítulos demorarão a sair, pois estou sempre ocupada com coisas do colégio, então, espero que entendam. Terceirão, Enem, vestibular, coisas pessoais... Não é fácil. Me perdoem desde já, então. Bom, vou deixar vocês lerem o capítulo, que está curto, mas está bom.



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Marie Jean POV – Entardecer de 28 de Setembro.

Maldita escola. Maldita física. E maldita recuperação de física que me faz vir no colégio em uma sexta feira ao entardecer para entregar um trabalho, caso contrário, eu pegaria dependência do segundo trimestre. Nada agradável.

Estava no terceiro andar, em direção ao escritório do professor Kwalski, que fica no mesmo corredor dos laboratórios de química e biologia. O corredor estava vazio, as luzes acesas devido à escuridão que se encontrava do lado de fora. Parecia que ia cair uma tempestade novamente, como geralmente acontecia nessa época do ano. A sala do Sr. Kwalski era a última do corredor, e a luz estava acesa. Eu só ouvia meus passos ecoando, e era uma sensação esquisita. Eu parecia estar sendo observada.

Parei na frente da porta do Sr. Kwalski, e olhei pela pequena janela de vidro. Não havia ninguém dentro do cômodo repleto de estantes de livros, alguns aparelhos de física, um quadro negro com fórmulas e contas, e um pôster gigante do Albert Einstein. Abri a porta devagar, e coloquei a cabeça para dentro.

- Sr. Kwalski? – Chamei, e ninguém me respondeu. Delicadamente, abri mais a porta e entrei no cômodo, deixando o trabalho no centro da mesa dele, acima de um livro aberto em um capítulo sobre a primeira lei de Newton. Assim não haveria riscos de ele não ver o trabalho e me deixar na dependência. Estava saindo devagar quando a luz começou a piscar freneticamente, e eu fui andando mais rápido para a porta, a fim de sair do prédio o mais rápido que eu pudesse para voltar para casa. Ao colocar a mão na maçaneta da porta, a luz caiu. Ótimo. Que maravilha.

Fechei a porta, e a me virar, meu coração quase parou.

- Olá, queridinha! – Disse o fantasma de Fletcher, materializado a minha frente, sorrindo com escárnio e os seus olhos fantasmagóricos mil vezes mais cruéis e assustadores. – Sentiu minha falta?

Gritei exatamente na mesma hora que um trovão ressoou, e desatei a correr.

- Você pode correr, mas não pode se esconder, queridinha... – Disse ele. Logo em seguida, se materializou na minha frente, interrompendo minha corrida e fazendo eu deslizar no corredor. Virei-me e corri para o outro lado, e ele apareceu logo mais a frente. – Indo a algum lugar?

Voltei a correr na direção contrária, procurando as escadas.  Tropecei nos meus próprios pés e acabei caindo de lado, esbarrando na porta de um dos laboratórios que estava entreaberta. Recuperando-me, engatinhei para dentro da sala, escondendo-me atrás de um dos balcões. Tudo ficou em silêncio de repente, apenas sendo cortado pelo som do trovão e da chuva que começava a cair – lembrando-me de Ethan que me esperava no carro, e que eu odiava essa época do ano. Principalmente agora.

Controlei minha respiração, tentando acalmar também meus batimentos cardíacos que soavam aceleradíssimos. Por uns cinco minutos, tudo o que escutei foi o som da chuva, dos ocasionais trovões e da minha respiração. Resolvi levantar, pensando que Fletcher havia ido embora.

Mas lá estava ele, flutuando ereto no meio do laboratório. Sorrindo.

Voltei a me esconder atrás do balcão.

- Sabe, Marie, eu tenho todo o tempo do mundo para brincar disso. Eu estou morto, lembra? Não tenho limitações físicas. E tenho muita, muita disposição para te aterrorizar.

- Por que você está fazendo isso? – Perguntei, sentindo a voz trêmula de medo.

- Por que você foi a responsável pela minha morte, Marie... Você e o seu amorzinho contrariaram o destino, e me fizeram morrer no lugar de vocês. E agora, vocês tem que pagar por isso!

- Por favor, não...

- Implorar não vai me fazer parar, Marie. Apenas inflará minha vontade de te matar.

- Você não pode tocar em mim! É um fantasma! – Exclamei, apavorada.

- Tem razão. Eu não posso tocar em você. Mas posso tocar em outras coisas que podem ferir você... Como isso! – Ele exclamou, e ouvi o barulho de vários vidros se quebrando, e senti estilhaços de vidros caindo sobre mim. Encolhi-me, escondendo o rosto nos braços, sentindo os cacos de vidro perfurarem minha pele exposta nas blusas de meia manga. Quando os estilhaços pararam de cair, tentei me levantar, mas uma estante de um metro e meio de altura caiu sobre mim, fazendo minhas pernas ficarem presas embaixo dela, e meu corpo ficar por cima de estilhaços que me machucavam ainda mais. A risada maligna de Fletcher ecoava no laboratório, e eu percebi que estava chorando.

- Oh, isso são lágrimas? Você está chorando, ó doce e corajosa Marie Jean? – Perguntou ele, sarcástico. – E sabe de mais uma coisa? Isso é só o começo...

Ergui a cabeça e vi pinças e outros objetos pontiagudos e metálicos levitando. Tentei erguer um escudo protetor mágico, mas falhou.

- ETHAN! – Gritei com todas as minhas forças, rezando para que ele me ouvisse.

Ethan Williams POV – Entardecer de 28 de Setembro.

“ETHAN!” A voz de Marie Jean ecoou na minha cabeça, tão cheia de medo e terror que meu coração quase parou. Por um milésimo de segundo tive um vislumbre dela no terceiro andar, presa em algum lugar. Saí do carro correndo o mais rápido que podia, sentindo o vento gelado e a chuva me açoitando até entrar no prédio. Subi as escadas saltando de três em três degraus, até chegar ao terceiro andar. E então, parei. Estava tudo escuro e em silêncio. Onde ela estaria?

Ouvi o barulho de algo se espatifando e o grito abafado dela. Corri na direção do som, e cheguei em um dos laboratórios, tentando abrir a porta e constatando que ela estava trancada. Chutei a porta com a maior força que pude, e ela se abriu, revelando o laboratório virado do avesso, com várias coisas quebradas e reviradas, e o fantasma de Fletcher parado rindo diabolicamente, olhando para um ponto fixo no chão, atrás de um balcão. Eu sabia que Marie estava ali.

Percebi também que havia vários objetos pontiagudos, entre eles pinças e facas pequenas, flutuando em um canto.

- Adeus, Marie... – Disse o fantasma de Fletcher, e riu. As coisas metálicas avançaram na direção onde estava ela, e Marie gritou. Concentrei meus poderes naquilo, e, perto de acertar seu alvo, os metais pontiagudos foram desviados, batendo com força na parede oposta e se fincando lá.

- Ora essa... Williams! Veio salvar seu amorzinho eterno? – Perguntou Fletcher. – Que interessante... Pena que você não pode salvá-la, eu vou pegá-la do mesmo jeito! E vou pegar você também.

- Só por cima do meu cadáver, Fletcher!

- E o que você vai fazer contra mim, Williams? Você não pode me tocar, não pode me machucar de nenhuma maneira, porque  eu sou um espectro! Um fantasma! Já eu posso matá-lo! Que coisa, não? – Seu tom de voz era puro sarcasmo e ironia.

- Vade ad lucem! – Exclamei, apontando a palma da mão esquerda para o fantasma, e uma luz branca ofuscante saiu de minhas mãos, e o fantasma gritou.

- Não será o suficiente, Williams! – Gritou, e em seguida, desapareceu. Corri em direção a Marie, que estava caída atrás do balcão, presa pelas pernas por uma estante pequena. Seus braços estavam machucados com cacos de vidro e sangrando, assim como parte de seu rosto, e, provavelmente, seu busto. Livrei-a do peso e a peguei no colo rapidamente, murmurando uma palavra para que o laboratório ficasse todo em ordem, e saí correndo com ela no colo.

- Eu estou aqui, eu estou aqui, vai ficar tudo bem. – Eu disse.

- Obrigada... – Disse ela, trêmula e fraca.

- Eu vou dar um jeito nisso, Marie, ele vai sumir.

- Ele não foi de vez, ainda? – Perguntou, com medo, enquanto atravessávamos parte do estacionamento até o carro, embaixo de chuva. Abri a porta do carro com magia e a coloquei dentro do veículo, logo entrando no lado do motorista.

- Não. Mas eu vou fazê-lo sumir. Isso vai parar Marie, eu prometo. – Eu disse, e ouvi-a soluçar. Meu coração estava se partindo em dois. Dirigi para casa o mais rápido que eu pude com toda aquela chuva, e durante o caminho, pude ver alguns vislumbres do fantasma, ainda incapacitado de fazer algum mal a nós por causa do meu feitiço fraco e improvisado. Estacionei na frente da casa de Marie, e murmurei umas três ou quatro vezes a palavra curare para que os ferimentos na pele dela sumissem parcialmente, e a ajudei a sair do carro, praticamente a carregando no colo. Por sorte, não havia ninguém na casa dela, a não ser a mãe. Ao entrarmos na casa, ela veio correndo até nós, como se tivesse pressentido que estávamos em apuros.

- O que houve? – Perguntou, fechando a porta e vindo atrás de nós. Coloquei Marie com cuidado no sofá, e ela chorava compulsivamente, e eu não sabia o que fazer para consolá-la.

- Fletcher. Novamente. – Eu disse. Amelia empalideceu, mas parecia ter algo formado na mente.

- Eu sei como resolver isso. Precisaremos de Andrew, Fred e Harry para isso. E não poderá ser hoje, precisamos elaborar um plano.

Assenti em concordância, louco para ouvir o que quer que fosse que ela tinha para dizer, mas a mãe de Marie pareceu guardar isso para si mais um pouco. Pensativa, preocupada e ainda pálida, sentou-se ao lado da filha e a abraçou, murmurando algumas palavras de consolo, enquanto eu as olhava, me sentindo impotente. Ajoelhei-me na frente de Marie, e segurei sua mão, olhando as cicatrizes dos ferimentos recentes e murmurei “curare”. A pele voltou a ser lisa e macia, e eu olhei diretamente nos olhos de Marie.

- Nós vamos dar um fim nisso, ok? Eu prometo. Esse cara nunca mais vai te fazer mal, Marie, eu juro por tudo o que é mais sagrado. – Eu apertei sua mão de leve, e ela eu um fraco sorriso.

- Obrigada, Ethan... Obrigada por salvar a minha vida.

- Eu salvei a minha própria. Sem você, eu não teria como viver. – Eu disse, e Amelia sorriu, enquanto Marie se soltava do abraço da mãe e se jogava nos meus braços. Fechei os olhos e apenas senti o corpo de Marie junto a mim, seu perfume de pêssego misturado com cheiro de chuva. Abracei-a junto a mim, como quem quer proteger seu bem mais precioso.

E eu queria. E eu iria protegê-la, não importando o custo. 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?