Ad Limina Portis escrita por Karla Vieira


Capítulo 2
Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde galera! Feriados são bons né? Para mim, a única parte boa é que não precisei acordar cedo, porque tenho provas para estudar e tudo o mais! Mas enfim, espero que gostem desse capítulo.



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Marie Jean POV – Tarde de 25 de Setembro.

Eu estava sozinha andando pelos corredores da biblioteca, que havia sido ampliada e estava com o triplo de estantes com livros, DVDs, CDs e vinis. Ethan estava procurando um emprego, já que não possuía mais Mestre para sustentá-lo e não conseguir permanecer em um emprego por mais de duas semanas. Já Fred e Andrew tinham o emprego deles e os três lidavam com as contas da casa deles. Como estava um dia chuvoso, eu não tinha muitas opções de lugares e resolvi permanecer na biblioteca, como sempre fazia.

Mesmo com a luz elétrica, estava mais escuro do que usualmente, devido à escuridão do lado de fora. Parecia que iria cair o céu em forma de chuva, relâmpagos e trovões. Eu não me importava. Comecei a olhar a estante de vinis, fascinada por aquilo. Estava sozinha naquele andar, para variar.

- Marie Jean... Marie... – Ouvi um sussurro arrepiante vindo da minha esquerda. A pulseira com a pedra azul que Ethan me dera começou a arder, indicando que havia algo sobrenatural e perigoso por perto.

- Quem está aí? – Perguntei em alto e bom som. Nenhuma resposta, apenas o silêncio perturbador. Um trovão ressoou ao longe.

- Marie Jean... – O sussurro se repetiu a minha direita. Recuei alguns passos. – Marie...

- Quem está aí?! – Perguntei mais uma vez, amedrontada. A biblioteca parecia estar mais escura agora, e outro trovão ressoou, desta vez muito mais perto. Vi um vulto cinza azulado passar atrás de uma estante a minha direita. Depois, o mesmo vulto passou na minha esquerda. A pulseira ardia demasiadamente, e eu sabia estar machucando meu pulso. – Quem está aí?! Mostre-se!

Então ele apareceu.

Os cabelos castanhos bagunçados, arrumados naquela franja de lado feia. Os olhos verdes com o brilho psicótico. O sorriso maquiavélico e de escárnio. A figura daquele homem era assustadora quando ele estava vivo. Agora, nessa aparição cinza azulada, era mil vezes pior. Gregory Fletcher.

Recuei alguns passos, trombando em uma mesa e cambaleando, segurando-me em uma estante.

- Eu vou pegar você, queridinha. – Disse ele, sua voz ressoando por todos os cantos, aumentando o terror e a adrenalina circulando no meu sangue. A sua voz gelou a minha alma como naquela noite.

- Marie? – A voz de Ethan ressoou em algum lugar, mas eu não conseguia vê-lo. O fantasma de Fletcher, se era isso o que ele era, riu cruelmente e se desfez naquele vulto, vindo em minha direção e atravessando meu corpo como um vento gelado. O vento gelado mais frio e aterrorizante que já havia visto, que congelava meus órgãos e fazia meu coração parecer parar de bater. A minha vista escureceu, e eu não conseguia ver mais nada, e só conseguia ouvir a risada de escárnio daquele monstro. Gritei, perdendo a força no corpo e indo ao chão, com as costas na estante. – Marie!

Tudo clareou e eu pude ouvir a chuva caindo com força do lado de fora, e vi Ethan correndo na minha direção, preocupado. Ele se ajoelhou na minha frente e segurou minhas mãos.

- O que houve? Você está bem? – Perguntou exasperado.

- Ethan... Eu vi... Eu vi...

- O quê?

- O Fletcher. – Consegui dizer. A expressão de Ethan transformou-se em genuína preocupação. Ele não estava entendendo nada, assim como eu.

- Como? Ele está morto! Você estava sonhando? – Perguntou ele, acariciando minha face.

- Não, Ethan, eu juro, ele estava ali... – Apontei para onde o fantasma estivera. – E pareceu bem real... Tirando pelo fato de que ele era cinza azulado e flutuava.

- Um fantasma?! – Exclamou ele, confuso. – Como...? Não é possível...

- Me tira daqui, Ethan, me leva pra casa. Por favor. – Eu pedi, com lágrimas nos olhos. Ele assentiu, totalmente perturbado. Aquela aparição me fez lembrar tudo o que havia acontecido na noite em que o Mestre morrera, assim como Fletcher. O terror voltou a minha mente com força, e eu estava frágil. Ethan me ajudou a levantar e foi me abraçando lateralmente, me sustentando até o carro. Ele deu a partida, e nós estávamos em silêncio, tentando assimilar o que estava acontecendo. Distraída, não estava vendo a rota que estávamos tomando, apenas pensando e encarando a estrada a nossa frente, mas sem realmente ver. Até a pulseira arder novamente e um vulto cinza azulado surgir no meio da estrada e fazer Ethan dar uma guinada brusca para a esquerda, desviando daquilo.

- Eu vou pegar você, queridinha... – Ouvi aquela voz cruel e fria dizer em lugar nenhum, mas ao mesmo tempo, em todos os lugares. Ethan, após recuperar total controle sobre o carro, acelerou e só parou quando estávamos na frente de casa. Entramos e fomos direto para o meu quarto, dando um “olá” simpático – e bem falso – para tia Denise e minha mãe que estavam no sofá. Mas mamãe já nos olhou diferente, como se soubesse que algo estava errado.

Sentei-me na cama, apoiando a cabeça nas mãos, enquanto Ethan fechava a porta.

- Agora eu vi. – Disse ele. – Mas o que, diabos, está acontecendo?! Era para tudo ter acabado faz dois meses!

- Eu não sei. – Respondi baixinho, sentindo as lágrimas voltarem aos meus olhos. Ethan se ajoelhou na minha frente e me abraçou.

- Shh... Não chore. Vai ficar tudo bem. Ele não pode te procurar aqui, lembra? Enfeiticei tudo para evitar essas coisas. – Disse. Ethan se afastou um pouco, apenas para me olhar nos olhos. – Ele não vai te machucar, está bem? Ninguém vai machucar você, eu prometo.

Assenti, concordando, me jogando em seus braços novamente. Era estranho como ele conseguia me acalmar, como só os braços dele me faziam sentir segura. E somente ele tinha esse efeito sobre mim.

- Dorme comigo hoje? – Perguntei baixinho.

- Claro. Se a sua mãe concordar.

- Como se você não tivesse dormido aqui antes... – Eu dei uma leve risada.

- Mas é sempre bom perguntar. – Disse ele, sorrindo, se afastando. – Vá tomar um banho, tentar relaxar, que eu vou perguntar para ela se posso, e então vou buscar minhas coisas em casa. Ok?

- Ok.

- Te vejo daqui a pouco. – Disse ele, beijando minha testa e meus lábios e saindo. Então me levantei, peguei meu pijama, e fui tomar um banho.

Ethan Williams POV

Marie estava arrasada. Aquilo lhe fazia lembrar-se de tudo o que havia acontecido há dois meses. Dentre todos nós, ela foi que lidou pior com todo o terror. Durante um mês inteiro teve que tomar calmantes e poções do sono sem sonhos para poder dormir em paz, e ainda comigo ao seu lado. Nem o filtro de sonhos enfeitiçado foi capaz de bloquear os pesadelos dela, tamanho foi o terror que sentiu.

Não é para menos. Ela foi estuprada, depois agredida e enfeitiçada, quase morreu, e me viu morrer na frente dela. Depois matou um homem, viu a própria mãe matar outro. Pessoas normais, com sentimentos e escrúpulos, não lidam bem com tanta coisa. Eu já estava acostumado com terror, morte, medo, e mesmo assim, não foi fácil me recuperar de tudo.

A mãe de Marie permitiu, mais uma vez, que eu passasse a noite ali. Entretanto, eu entendi seu olhar de “vou querer saber o que está acontecendo”. Ela sabia que algo estava errado. E quem sabe poderia nos ajudar.

Fui até em casa, e pelo visto não havia ninguém, pois estava tudo fechado e escuro. Os rapazes deviam estar em algum bar, alguma festa com alguma garota, ou em algum lugar atrás de uma. Pelo menos Fred deveria estar, já que Andrew estava apaixonado pela tal da Kensi, uma morena muito, muito linda e sedutora. Posso estar com Marie Jean, e a amo com todas as minhas forças, mas não sou cego, qual é!

Abri a porta de casa e ouvi barulhos de beijos e suspiros vindos da sala. Dei um sorrisinho malicioso e maquiavélico, ao mesmo tempo, e acendi a luz.

- Que pouca vergonha é essa?! – Gritei, surpreendendo um Andrew sem camisa e uma Kensi usando roupas amassadas, ambos descabelados, envergonhados, surpresos. E eu ria.

- Ethan! Porra! Que susto! – Exclamou Andrew, passando a mão pelos cabelos, olhando para Kensi que estava extremamente corada.

- Desculpem interromper seu momento, mas, se quisessem que ninguém os visse, deveriam ter ido para o quarto. Não fica muito longe daqui... – Eu disse. – Oi, Kensi.

- Oi. – Ela respondeu.

- Não se prendam por mim. Só vim pegar algumas coisas, porque vou passar a noite na casa da minha namorada.

- E depois somos nós os sem vergonhas... – Resmungou Andrew. Eu dei risada.

- Não sou pervertido assim. Sou um santo cheio de ingenuidade e inocência!

Andrew e Kensi me olharam como se dissessem “conta outra, vai”.

- Mente que eu finjo que acredito, Williams. – Disse Andrew. Dei risada e subi as escadas. Reuni uma muda de roupa, tomei um banho rápido e peguei escova de dente e essas coisas necessárias, além de um frasquinho de poção do sono sem sonhos, pois acho que Marie irá precisar e coloquei tudo dentro de uma sacola de papel marrom e desci. Andrew e a garota não estavam mais lá. Deviam estar no quarto terminando o que começaram ou ido para a casa dela, mas isso não importa. Pelo menos, não para mim.

Ao chegar à casa de Marie, um cheiro muito bom chegou as minhas narinas, vindo da cozinha. O jantar estava sendo preparado, e até me senti animado, pois a comida da tia e da mãe dela é muito boa. O irmão estava no sofá da sala jogando Xbox, e me convidou para jogar com ele depois do jantar – fizemos bons avanços depois que ele aprendeu a confiar em mim, e até a gostar, eu acho. Concordei com o convite e subi. Encontrei Marie de pijamas, sentada na cama e abraçando seus joelhos.

- Ei, o que houve? – Perguntei baixinho, fechando a porta.

- Você sabe... – Respondeu ela. – Mas vai passar.

- Eu trouxe um frasquinho daquela poção, você vai querer? – Perguntei, sentando-me ao seu lado na cama de casal e acariciando de leve sua face.

- Quero... Pode ser agora? Não quero jantar, nem fingir pra eles que tá tudo bem...

- Sua mãe já está entendendo que tem algo errado. Para ela, eu vou falar, ok?

Marie assentiu, e entreguei o vidrinho para ela, que tomou a poção de um só gole. Abracei-a e ela se deitou recostada no meu peito, e fiquei cantando baixinho para que ela dormisse.

- I know now, just quite how my life and love might still go on in your heart and your mind, I'll stay with you for all of time. If I could, then I would, I'll go wherever you will go, way up high or down low I'll go wherever you will go…

- Você tem uma voz linda, sabia? – Murmurou Marie, e logo em seguida passou a respirar fundo e calmamente, e eu sabia que ela tinha caído no sono. Continuei ali, abraçado com ela, enquanto ela dormia calmamente. Ouvi uma batida de leve na porta, que se entreabriu e surgiu a cabeça da mãe de Marie ali, sorrindo ao ver a cena.

- Quer jantar, Ethan? – Perguntou baixinho. Assenti e delicadamente, deixei Marie deitada na cama, com a cabeça no travesseiro. A cobri e deu um leve beijo em sua testa, e pude jurar vê-la dar um indício de sorriso. Então, saí do quarto, e a mãe de Marie fechou a porta.

- Ok. Agora você pode me contar o que aconteceu. – Disse ela. – Sei que algo está errado.

- O fantasma de Fletcher está aterrorizando ela. – Fui direto ao ponto. Ela ficou surpresa, e ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto assimilava o que eu havia acabado de dizer.

- Nós vamos dar um jeito nisso. – Disse ela, e eu assenti. Enquanto descíamos, ouvi-a murmurar: - Espero que não piore...

Como isso poderia piorar?


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?