Quando terminei de juntar tudo voltei a me olhar no espelho, porém não era o meu reflexo que eu via.

           Afastei-me do espelho, sentindo a porta da cabine nas minhas costas, meu peito subia e descia, abri a boca para gritar, mas o som não saiu. Na parede, uma garota ruiva com Iris de jade, me encarava, porém eu não conseguia desvendar sua expressão, estava com muito medo para olhar diretamente para seus olhos.

-Q-quem é você? – Gaguejei, a menina me olhou com espanto.

- Não me reconhece Keira? – Seu rosto demonstrava indignação, agora conseguia olhar para ela, e eu não tirava os olhos de lá.

-Eu deveria? – Perguntei.

-Sou Sophia, A Primeira. – Ela estufou o peito, minha atenção se desviou para a suas roupas. A ruiva usava uma armadura dourada, uma faca estava presa nas suas costas e ela tinha braceletes de couro dos braços.

-S-Sophia? Desculpe, mas não me lembro de você. – Ela revirou os olhos e apontou para o livro em minhas mãos.

-Olhe no livro. Em alguma página está escrito: Sophia, A Primeira, com oito anos descobriu ser a princesa do reino perdido de Capalásia, depois, aos 17, vingou a morte de seu pai o Rei Thomidas II, devolvendo o reino e governando com sabedoria.

         Folheei as páginas procurando por algum parágrafo perdido. Na minha mente o nome Capalásia era familiar. Parei em uma folha rasgada, a caligrafia era de quando eu tinha sete anos de idade e acabara de ganhar aquele diário.

         Eu lembrava, Sophia fora minha amiga imaginária, umas das minhas primeiras histórias. Descolei-me da porta do reservado e soltei o ar. Soph não me faria mal.

- Eu criei você. – Sussurrei.

-Exato. E agora preciso da sua ajuda. Nos precisamos.

-Como?

-Você é a única humana que pode entrar e sair de Amarantha.

-De onde? – Perguntei. Quais eram as chances de eu estar louca mesmo?

-Amarantha. – Olhei o livro novamente.  – Não está ai. Tecnicamente não existe, mas o reino é real. Amarantha é a terra onde todos os personagens criados existem, não importam quem são, ou quem os criou, todos vão para lá. Quando uma criança nasce a Marca de Amarantha vem impressa nela. Mas você, Keira, você nasceu com um pedaço de Amarantha dentro de você.

-E vocês querem esse pedaço de volta? – Perguntei, a faca de Sophia brilhava.

-Não. – Ela negou.

-Então, o que tudo isso significa?

-Que você pode ser a herdeira do nosso reino. Uma princesa perdida, assim como eu!

-Desculpe, mas não posso acreditar em você. – Por uma primeira vez tirei os olhos do espelho, o banheiro parecia tão vazio.

-Não estou pedindo que acredite, estou pedindo que venha comigo e salve Amarantha. – Ela estendeu a mão, saindo do espelho.