10.09.07 – 07h00min

Mais uma vez estávamos ali reunidos para o início do ano letivo, mas dessa vez era diferente, essa cena não se repetiria no próximo ano, não para a maioria de nós. Um sentimento de dúvida preenchia a sala e isso era facilmente perceptível. As novidades das férias não pareciam tão interessantes quanto às dos anos anteriores e o futuro não aparentava ser tão promissor.

Meu nome é Chloe. Moro no condado de Palm Beach, Flórida e tenho dezessete anos. Provavelmente há muitas coisas que eu deva falar sobre mim, mas com o tempo elas virão. Meus melhores amigos estão nessa turma, a de Literatura. Thomas, que está sentado a minha frente, é um garoto muito atraente com seus olhos verdes e cabelos ruivos. É calmo e não liga muito pra esportes, a não ser que andar de skate seja considerado um. Thalia, que se encontra ao meu lado, é um tanto agitada e intimidadora. É capitã do time de vôlei e um pouco agressiva às vezes. Seus cabelos castanhos causam um forte contraste com os olhos azuis, o que faz qualquer um admirar sua beleza. Michael, que prefere ser chamado de Mike, dispensa a maioria dos adjetivos conhecidos. Basicamente, é loiro, assim como eu, e tem um físico muito bom. Seus pais provavelmente nunca vão saber a quantidade de cigarros que ele fuma por dia e seus olhos negros nunca vão entregá-lo. E por último Logan, que está sempre atrasado. Seus cabelos pretos são arrumados em um corte lateral, seu rosto exibe feições fortes e seus olhos se não da mesma, são praticamente da mesma cor que seus cabelos. Meus quatro companheiros desde que me entendo por gente. E nada melhor do que começar meu último ano escolar do lado deles. A não ser não começar.

10h30min

– E então ela entrou na sala e todos começaram a rir, aquela vadia nunca aprende.

– Não acha que tá sendo muito malvada? Foi na oitava série, Thalia. Max nem estuda mais aqui, por que não esquece a Spencer?!

– Você por acaso está tendo um princípio de defesa em relação a ela?

– Não, mas é o primeiro dia de aula. – tento colocar todos os livros em meu armário ainda mais rápido, não quero prolongar essa conversa. – Dá um tempo.

– Dar um tempo em quê? – uma voz masculina pergunta atrás de nós.

– Logan! – Thalia o abraça como se não o tivesse visto ontem. Apesar de nunca ter admitido, sei que tem uma paixonite por ele. Todas temos.

– E aí? – aponta pra mim.

– Nossa querida amiga estava tendo mais um ataque por causa de Spencer A Corna.

– Eu não já lhe disse que posso te fazer esquecer Max em um segundo? – mesmo sendo brincadeira, era uma proposta muito tentadora para a menina em nossa frente. – Sabe, depois de catorze anos, esse é o último! Deviam estar preocupadas com o fato de que não vão mais me ver todo dia!

– E você devia estar preocupado em calar a boca. – Mike entra na conversa.

Thomas, que está logo atrás dele, pega minha mão e me puxa para o fim do corredor, onde fica o refeitório. Pelo visto não sou a única com fome.

15h00min

Acabei de chegar em casa e minha cama parece doida para me abrigar, mas tenho que arranjar comida para dois vagabundos.

– Cara, definitivamente você devia se apressar.

– Vai se foder, Mike.

– Só se você me acompanhar.

– Caralho Logan, tire esse imbecil daqui. – fecho a porta.

Meu quarto é um dos poucos lugares em que gosto de estar. As quatro paredes são completamente estampadas por fotos, adesivos, pôsteres, notas, artigos de revistas ou qualquer coisa que tenha boa aderência. Os móveis são brancos e há uma estante repleta de livros, CDs e DVDs. Pego um pijama e tomo banho devagar, sem me preocupar com as crianças famintas no andar debaixo.

15h34min

– Então chefe, o que tem pra hoje?

Caso esteja se perguntando o motivo deles almoçarem na minha casa, bem, Michael é meu primo e gostamos de algo chamado troca de favores. Os pais de Logan trabalham o dia inteiro e da última vez que tentou cozinhar sua mãe ganhou uma panela queimada e três pratos quebrados. Como eu já teria que fazer almoço pra dois, não me importei de começar a fazer pra ele também. Depois de um tempo, criamos uma zona de conforto e fazemos isso sempre. Gostamos da companhia um do outro.

– Algo especial, afinal hoje tivemos o nosso último primeiro dia de aula em uma escola. Que tal tacos?

– Por favor! – Logan implora.

Eles se sentam na bancada e comem um biscoito qualquer que acharam na gaveta enquanto cozinho.

– Então, esse ano eu tava pensando em fazer uma coisa diferente, como somos ganhadores do show de talentos há décadas, podíamos pedir pra nos apresentarmos no baile de primavera.

– Thalia não vai querer... – comenta Logan.

– Acha mesmo que se todos nós nos comprometermos a se apresentar ela vai ficar de fora?

– Talvez se chamarmos Max pra ser parte da banda...

Tento evitar o riso, mas é impossível a essa altura.

– Pega leve, Mike.

Em pouco tempo os tacos ficam prontos e comemos devagar enquanto fazemos algumas lições.

17h15min

Thomas me liga perguntando se pode vir me visitar, respondo que sim sem pensar duas vezes. Checo o quarto de visitas e vejo os meninos dormindo lá. Tudo bem, fique calma. Provavelmente só quer conversar sobre o que aconteceu sábado. A campainha toca. Mencionei que ele mora na casa ao lado? Desço as escadas o mais rápido que consigo. Aliso meus pijamas, merda, e passo a mão em meus cabelos. Abro a porta. Tom está lá, parado, com sua blusa dos Beatles de sempre e uma bermuda jeans.

– Oi... – diz meio desajeitado.

– Oi, pode entrar.

Sento no sofá da sala e ele se acomoda na poltrona. Não me dou ao trabalho de oferecer bebida ou comida porque sei que vai negar.

– Então, sobre aquela noite... – seus olhos verdes me encaram suplicantemente. Thomas nunca foi bom em formular frases decisivas.

– É melhor não levarmos adiante, porque somos muito amigos e não queremos estragar isso? Foi só um momento de fraqueza da nossa parte? – tento completar apesar de não concordar com uma palavra se quer que sai da minha boca.

– Isso! É... Tá fazendo alguma coisa? Eu queria tocar um pouco, só que lá em casa tem minhas irmãs...

– O violão e a guitarra tão lá em cima, no meu quarto, você sabe o caminho.

– Não vai me acompanhar?

Sem perceber o encaro por alguns segundos. Seus olhos estão mais escuros e cansados, um sorriso não está estampado em seu rosto e parece que não come há um tempo.

– Chloe?

– Tom, tá tudo bem? Você tá diferente. – levanto do sofá. – O que aconteceu?

– Não posso te contar.

– Claro que pode, para de bobeira.

– Não vou te contar, já me magoei o bastante, não preciso te magoar também.

– Thomas, você não sai daqui até me contar.

E então ele faz a coisa mais inesperada e aguardada por mim. Me beija. Mas dessa vez não é como sábado, quando foi doce e gentil. Agora ele é agressivo, como se precisasse disso urgentemente, assim como eu. Envolvo meus braços em seu pescoço e encaixo minhas pernas ao redor de sua cintura. Thomas me empurra contra a parede. Suas mãos acariciam minhas costas, o que me causa arrepios.

– EPA! – com certeza isso não saiu nem da minha boca nem da de Tom, então nos afastamos e quase caio no chão.

– Oi, Mike. – Thomas acena. Suas bochechas estão vermelhas.

– Desde quando vocês guardam esse segredo?

– MICHAEL, SAI DAQUI AGORA!

– Não precisa ficar irritada prima, não quero seu ruivo pra mim.

Mostro-lhe meu dedo do meio e caminho em direção ao jardim. Deito na grama e observo o céu, um hábito que tenho desde pequena. Os pensamentos rapidamente invadem minha mente, de uma vez só.