Olhei pela amurada e vi Charlotte e William correndo no gramado, Chace corria atrás deles, e s dois gargalhavam empolgados.

Eu ri com o divertimento deles e coloquei uma mecha dos meus cabelos ruivos atrás da orelha.

Charlotte corria meio aos tropeços, a fralda não deixava que ela se movimentasse com liberdade, Wil tinha a mesma rapidez que o pai tinha quando jogava futebol no colégio, há nove anos, apesar de Wil só ter quatro anos, ele era extremamente rápido, e minha sogra dizia que quando ele crescesse ou viraria maratonista, ou jogador de algo que envolvesse velocidade, meu pai queria que ele fosse médico, minha mãe queria que Wil virasse ator, como os avós paternos, meu sogro queria que ele fizesse o que o deixasse feliz, assim como eu.

Charlotte tropeçou e caiu, Chace correu até ela e a pegou no colo antes que a pequena começasse a chorar, revirei os olhos.

Chace era o tipo de pai superprotetor, que não gostava nem de quando as crianças tropeçavam, eu só me preocupava com seus ferimentos quando eles passavam de ralados nos joelhos ou palmas das mãos.

- Pai! – gritou Wil exigindo a atenção de Chace.

- Já vou! – gritou ele e correu até a varanda, onde eu estava, ele beijou a mão machucada de Char e me entregou ela.

Peguei a pequena de dois anos e a sentei no meu colo, então limpei suas mãos.

- Mamãe, bincar – disse ela errado.

Eu sorri e beijei sua testa.

- A mamãe vai arrumar seus cabelos, aí você vai  - falei sentando-a no meu colo e soltei seus cabelos castanhos, então os amarrei num coque para que não ficassem na nuca, ela não gostava quando ficavam na nuca, seus olhos azuis olhavam meus cabelos, ela adorava mexer nos meus cabelos.

- Chaaar – cantarolou meu marido e a pequena o olhou.

Eu ri e a coloquei no gramado, ela saiu correndo em direção ao pai e ao irmão mais velho.

William tinha os cabelos da mesma tonalidade dos meus, e seus olhos eram da mesma cor dos de Chace, e sei jeito era uma mistura da minha timidez com a bondade de Chace.

Já Charlotte era sociável, ela conversava com todos e sempre sorria, mas só quando estava em casa ou quando conhecia as pessoas a algum tempo, quando estava na rua era quieta.

Chace havia saído da carreira esportiva após terminarmos o colégio, hoje ele era ator, como seus pais.

.-.

Olhei para o gramado, era outono, as arvores estavam sem folhas já.

Eu estava enrolada num cobertor, sentada nos velhos degraus da varanda, meu Chace estava deitado ao meu lado, com a cabeça no meu colo.

Havíamos completado recentemente cinqüenta anos de casamento.

- Hey, lembra desse dia? – disse ele erguendo uma foto da velha caixa de fotos de família.

Desviei o olha de Charlotte, e seu marido Ben, que brincavam com meu quarto neto, Rick. Wil estava num outro canto, com Gabriela, sua segunda esposa ao seu lado, abraçados, ela estava grávida de uma menina, sua primeira filha com Wil, e o terceiro filho dele.

Fitei a foto que já estava embolorando, lá aparecia um Chace jovem, sorridente, com os cabelos sujos de sorvete e uma casquinha de sorvete ao contrário sobre seus cabelos castanhos.

Eu ri me lembrando do episódio.

- Ei crianças, venham ver!  - chamou ele se sentando, nossos netos e filhos foram até nós e Chace mostrou a eles a foto – Essa foto, Mel tirou a anos atrás, quando mal havíamos nos conhecido ainda...

- Me lembro que você tinha feito algo para mim e eu pedi que me levasse para tomar sorvete para que te perdoasse –falei puxando isso do fundo da memória, Chace riu, todos nos escutavam com atenção.

- É, não me lembro o que era, só lembro que você estava bem brava – disse ele e nós rimos.

E eu nunca imaginei que eu ficaria mais de cinqüenta anos ao lado de Chace, cinqüenta apenas de casado, e ainda teríamos que adicionar os dois de namoro, e mais os muitos que planejávamos viver lado a lado, até o fim de nossas vidas, e lembrar que eu tinha medo de que não déssemos certo...

Fim.