Blackout {hiatus} escrita por Santana


Capítulo 23
Apaixonada


Notas iniciais do capítulo

Queria começar a agradecer pela marca que alcançamos: 7.500 visualizações! Muito obrigada por isso.
E, é claro, a linda e perfeita recomendação que recebi do TheKingFanfiction (u/540067). Se apresente nos comentários, eu quero conversar com você!
Aproveitem o início de uma bomba. Nos vemos nas notas finais!



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Minha mão escorregou pelo colchão seguindo em direção à minha cabeça, encontrando os fios embolados do meu cabelo castanho que algumas horas atrás estavam perfeitamente penteados em um trança. A sensação do meu corpo era cansada e pesada, como se eu carregasse o mundo nas costas e isso me impedisse de levantar da cama. Rolei olhando para o teto e me esquivando dos raios solares invasivos no cômodo que ousavam entrar pela janela. Fechei os olhos por um segundo e um lapso de memória me veio à mente.

Sorri com as lembranças dos dedos de Dylan embrenhados no meu cabelo me puxando para mais um beijo de tirar o fôlego. As suas mãos deslizando pelas minhas que me deixavam insanamente arrepiada. Poderia ser a minha imaginação, mas meus lábios ainda estavam quentes pelos seus beijos e tudo que eu queria era que as nossas bocas estivessem coladas mais uma vez, presas naquele nosso momento perfeito. Eu poderia contornar o seu rosto com os meus dedos apenas com a minha mente, só pelo fato de que a sua imagem estava bem viva dentro de mim. Aqueles olhos castanhos, a pele pálida... tudo parecia gritar o meu nome e tudo me levava a pensar que eu estava à beira da loucura.

Então me dei conta que era mesmo aquilo que as pessoas chamavam de Amor.

O problema não era ter me dado conta disso e sim simplesmente admitir que eu estava errada na maior parte do tempo. Perceber que fugir não era uma boa resposta para o rumo que a história havia tomado foi uma constatação um tanto óbvia que viera tarde demais e também ter perdido todo aquele tempo afirmando para mim mesma que Dylan não sentia nada por mim e que o que fazíamos era um bom sexo casual foi o que me levou ao fundo do poço. O fato era que agora eu estava escalando-o pelas paredes e cada vez que eu parecia chegar mais perto do céu alguma coisa parecida com fogos de artifício se acendia dentro de mim.

Também tinha toda aquela história de triângulo amoroso envolvendo o Darwin, mas agora estava tudo resolvido.

Foi com pressa que levantei assustada da cama assim que percebi que o céu não estaria tão claro às cinco e meia da manhã. Meu celular, que peguei debaixo do travesseiro, dizia que eram nove e oito, o que significava que se eu não corresse perderia a aula do professor Leeroy às dez e cinco, porque ele sempre se atrasava cinco minutos para arrumar as cores das suas canetas por ordem de freqüência, vai entender. Corri para o banheiro e me enfiei debaixo do chuveiro por pouco menos de sete minutos e logo saí de lá para vestir alguma camiseta perdida no armário. Não antes de tropeçar na fantasia de Julieta perdida no chão, entrei em uma calça jeans velha e apertada, logo depois me equilibrando para calçar sapatilhas azul marinho jogadas debaixo da cama.

Meu cabelo foi o que consumiu dez minutos do meu precioso tempo enquanto eu tentava tirar os nós dele. Confesso que foi um pouco difícil, mas sorri aliviada quando peguei a minha mochila sem nem verificar o que havia dentro e bati porta do quarto, descendo as escadas com tanta pressa que nem ouvi alguém chamar o meu nome. Só parei, já com a mão na maçaneta, quando passos pesados fizeram-se ecoar pela sala.

— Eu disse: espera.

Dylan desceu as escadas tão preguiçosamente quanto a sua feição denunciava que acabava de acordar. O cabelo parecia bem rebelde, mas ele teria que pentear, já que pelo calor, colocar uma touca parecia inviável.

Ele foi até a cozinha e quando voltou para subir as escadas de novo, bebericando um copo com água, fez questão de dar uma volta e passar por mim, me dando um beijo molhado e encarando meus olhos confusos enquanto, obviamente, morria de surpresa apenas com a porta apoiando as minhas costas e evitando uma possível queda.

— Linda. – ele sorriu antes de subir para o quarto.


Eu juro que tentei acordar cedo para conversar com o Stev, mas não consegui.

Era o terceiro bilhete que Dylan me mandava e que eu me recusava a responder. Isso porque havíamos conversado um pouco sobre o assunto a caminho da universidade. Eu só queria prestar um pouco de atenção na aula do professor Leeroy. Ele já havia me lançado uma centena de olhares assustadores enquanto dava a sua aula.

Quem estava mesmo se divertindo nisso tudo era Ron, que servia de mediador e me entregava os bilhetes de Dylan que estava sentado atrás dele, no patamar de cima, longe o suficiente para que o seu braço não alcançasse o meu assento. Ronald fazia questão de colocar os seus conselhos super aproveitáveis como resposta para Dylan, que ria para o meu amigo sempre que recebia o bilhete de volta.

Ronald Honor estava pronto para gracinhas mesmo com a ressaca que seus óculos escuros sendo usados em plena sala de aula denunciavam.

Quando o professor Leeroy se virou para anotar os tópicos das relações entre as novas mídias e a sua matéria, Comunicação e Expressão, notei que Ron e Dylan faziam manobras para trocarem de lugares. Ron tinha as pernas longas e conseguiu subir sem muito esforço, fazendo pouco barulho ao se sentar na nova fileira, já Dylan...

— Espero que, com a turma toda voltada para você, tenha uma boa contribuição para a minha aula, Sr. Thorne. – indagou o professor quando Dylan derrubou o meu caderno de cima da bancada. Abaixei para pegá-lo evitando os olhares e os risinhos dos meus colegas.

— Um outro dia, quem sabe. – eu voltei a tempo de ver Dylan piscar para o Sr. Leeroy que voltou a atenção para a lousa, provavelmente resmungando.

Aos poucos a turma foi voltando as suas posições iniciais e Dylan se inclinou para o lado, repousando o seu braço sobre o meu caderno e se aproximando da minha orelha, deixando sua respiração quente sobre o meu cabelo.

— Eu falo ou nós dois juntos? Assim que chegarmos em casa...

— Dylan, eu já falei. A gente só chega em casa e fala pro Stev. Não tem mistério nisso. – revirei os olhos.

— É que ele é meu melhor amigo e a gente ta morando na mesma casa – ele sorriu – claro que seu irmão vai ficar grilado com isso. E temos que contar à mamãe.

Olhei para Dylan, abaixando as sobrancelhas enquanto ele sorriu.

— A sua mãe ou a minha mãe?

— As duas, mas eu estava falando mesmo da Amélia.

— Por telefone? Acho que isso não seria bom para a saúde dela – imaginei o ataque histérico da minha mãe quando déssemos a notícia – É necessário gente suficiente para carregá—la desmaiada.

Dylan pegou uma mecha do meu cabelo e enrolou-a no dedo, brincando com ela enquanto eu me voltava para as explicações do professor Leeroy. Era diferente de tudo o que havia sentido, Dylan tão perto de mim e eu podendo sentir o seu cheiro sem me condenar por nada. Acabei saindo de órbita com Dylan encostando a cabeça no meu ombro e só realmente voltei a mim quando vi o professor falando do último trabalho do semestre, aquele mesmo que poderia salvar toda a minha nota.

Eu que tivesse ficado em casa dormindo e não vindo para aula!

Enquanto o professor saía da sala e o barulho do pessoal conversando e caminhando para a próxima aula se fez presente eu anotei compulsivamente todas as minhas ideias antes que chegasse em casa e não lembrasse de mais nada. A primeira etapa era individual, mas a segunda era um seminário e eu não sabia bem como a turma seria dividida, então era melhor me preparar para qualquer coisa que viria e garantir a minha nota, mesmo que tudo fosse tão complicado quando se tratava do professor Leeroy.

— Criatura, eu tenho que conseguir uma boa nota ou eu mesmo como o meu fígado – Ron dramatizou já ao meu lado esperando eu jogar tudo dentro da mochila.

— Você não disse que estava passado nessa matéria? – Dylan perguntou.

— Mas tem coisa mais humilhante do que ter notas ótimas durante o semestre e no último trabalho ser uma negação? – Ron colocou as mãos na cintura, indignado com a posição de Dylan – O que o professor vai pensar? Que foi cola? Que eu só sei o decoreba? Não, meu amor.

Eu ri olhando para os dois e colocando a minha mochila nas costas enquanto estendia a mão para roubar os óculos escuros muito femininos de Ronald.

— Devolve os meus óculos, Julia, estou parecendo o Po do Kung Fu Panda. – fiz uma pose com os óculos enquanto Ron fazia cara de choro – Sua namoradinha sempre faz isso, Thorne. Trate de tirar essa mania dela.

Fui surpreendida quando Dylan riu e me puxou pela mochila, fazendo com que eu tombasse contra o seu peito. Ele me virou ainda rindo e não me deu tempo de raciocinar quando os seus lábios vieram contra os meus, me fazendo lembrar o gosto do seu beijo e da sensação que era ter a sua língua na minha.

— Uou, me ignorem – Ron nos interrompeu – Queridinhos, sem demonstração de afeto em púbico! Se larguem e me respondam se eu vim etiquetado com o nome vela!

Rimos de Ronald e de como ele parecia afetado com o beijo que Dylan me deu. Eu estava meio sem graça porque não conseguia parecer normal com o simples fato de que o meu coração parecia querer sair pela boca depois daquele beijo tão repentino, rápido e, ainda assim, apaixonante.

— Baby, preciso ir para a próxima aula – Dylan segurou as minhas mãos entre as suas – Se for ficar aqui, me espera no refeitório e a gente vai junto pra casa. – me deu um beijo rápido e murmurou um tchau avulso para Ron enquanto descia a escada para correr pelos corredores.

Eu só conseguia pensar que ele havia me chamado de baby.

Eu sou tão patética!

— Melodramática, alou! – Ron sorriu para mim.

— Acho que estou doente. – respondi boba, enquanto descia as escadas. Não estava falando do que Dylan estava causando em mim, quer dizer, também, mas o caso era que o meu nariz estava com uma coceira estranha.

— Doente ou apaixonada? Será que vou perder a minha amiga para a doença do amor? Tenha misericórdia. – dramatizou Ron, com o seu sarcástico meio sorriso.

— Ha, Ha, Ha – ri sem humor, fazendo uma careta para ele. O corredor do prédio estava movimentado pela troca de turmas e algumas pessoas que simplesmente estavam desocupadas, como era o meu caso e o de Ron.

— E da onde você tirou essa roupa, Collins?

— Do armário?! – respondi como se fosse muito óbvio — Minha mãe trouxe algumas roupas da última vez que veio.

— Pra tudo! Temos aqui uma evolução?

Sim, tínhamos ali uma evolução, não que eu fosse admitir assim tão abertamente.

— Olha, eu vi como ele te chamou de baby.

— Quem chamou a Jus de baby?

Cora pulou em cima de nós enquanto andávamos, entrando no meio da gente com as mãos rodeadas em nosso pescoço. Pulei de susto.

— Meu cabelo, sua anta! – Ronald empurrou Cora, fazendo a mesma cambalear para o lado e se esbarrar em mim que também perdi um pouco do equilibro.

— Gente, eu tô aqui! – falei alto.

— Desculpa – Cora sorriu exibindo o aparelho nos dentes – Quem te chamou de baby?

— O Dylan – Ron respondeu vitorioso.

— Uou! Já estão no estágio amorzinho?

Revirei os olhos para os dois, mas acabei sorrindo.

— Já contaram para a minha sogrinha? – Cora indagou e me cutucou com o cotovelo.

Meu nariz começou a coçar novamente.

— Cora, você não deveria estar do outro lado do campus? – perguntei passando a palma da mão na ponta do nariz.

— Deveria, certíssimo.

— É sério.

— Entrega de trabalho, fui dispensada assim que o fiz.

— E porque você não vai pra casa ao invés de ficar aqui enchendo o saco? – Ron pirraçou enquanto puxava uma cadeira de uma das mesas do refeitório.

— Ron, tenho coisas que posso usar contra você, me trate muito bem, escravo! – Cora sorriu vitoriosa e Ron se levantou sem dizer uma palavra, mas visivelmente irritado.

— O que aconteceu?

— Scott Thomas aconteceu, mas você saberia se não tivesse ficado o tempo todo grudada no Dylan.

Senti mais uma vez o calor da minha bochecha se avermelhar enquanto abaixava a cabeça envergonhada. Senti o espirro vir e me dei conta de que era por aquilo, ter ficado o tempo todo agarrada em Dylan dentro da piscina, que eu estava sentindo a coceira estranha nas minhas narinas.

Eu estava começando a ficar resfriada.

— Está todo mundo comentando – Cora sussurrou, como se fosse uma confissão –Sobre o que aconteceu com o Ron, você não ouviu?

— Na verdade hoje só assisti à aula do Sr. Leeroy. Ele estava normal, brincou comigo e com o Dylan, não comentou nada. Não parece ter acontecido nada.

Eu conhecia Ron. Era aquela a maneira que ele encontrava de se fazer forte mesmo que estivesse se sentindo um caco por dentro. E ele conseguia disfarçar tão bem que era raro alguém descobrir.

— Eu vou falar com ele – disse me levantando assim que o vi dobrar a grande árvore do campus esverdeado.

— Julia!

Tarde demais. Eu já havia me virado para sair do refeitório quando esbarrei em uma mão delicada. Olhei para o vale dos meus seios, onde a mão perfeitamente cuidada de Antonia Green me interceptou, exibindo suas enormes unhas pintadas de um verde perolado.

— Oi, Collins.

Meu coração deu um salto maluco de nervoso. Eu tinha aquele instinto louco e selvagem no corpo, mas era uma boa e velha covarde.

— Oi. – respondi.

— A gente precisa ter uma conversinha, prometo não demorar. – ela sorriu de lado, exibindo os dentes perfeitos e esticando os lábios carregados de gloss exageradamente rosa. – Meus parabéns pelo namoro.

Seu olhar, que antes estava na ponta de seus dedos, se ergueram até o meu rosto, contorcidos em uma expressão de desgosto e, provavelmente, de uma vontade ímpar de cometer um assassinato. Aquela era Antonia Green, eu não poderia me deixar intimidar. Exatamente por isso eu ergui as minhas sobrancelhas e lhe devolvi o sorriso carregado de sarcasmo.

— Obrigada, Toni.

— Eu não sabia que você gostava de restos, Julia. Aproveite o que sobrou do Dylan. – indagou, sorrindo vitoriosa.

Fala sério, eu não deixaria me abater, até por que, quem havia saído por cima daquela situação? Eu tinha o Dylan agora, e, por mais que eu tenha admitido só agora, tinha fogos de artifício dentro de mim ao saber que nunca mais iria precisar me corroer de ciúmes ao vê-lo para cima e para baixo segurando os livros da ruiva.

— Acho que precisa rever conceitos – a desafiei – Afinal, era eu quem estava dormindo com o seu namorado esse tempo todo, logo, é você quem gosta de restos.

Cora não se conteve e gargalhou enquanto eu controlava a minha vontade de espirrar para não perder a pose de vadia da história toda, que era o que eu estava fazendo ali.

— Alguém vai precisar segurar o meu poodle ou posso bater na sua cara até que os pelos dele saiam na sua bochecha bem feita.

Ron se enfiou entre mim e Antonia e eu sorri, só agora percebendo o quanto o meu coração estava acelerado pela perspectiva de uma briga de verdade ali no meio do refeitório, que não estava tão cheio, mas que tinha um público considerável para que boatos de espalhassem pelo campus em poucos minutos.

— Não será preciso, ela já se deu conta de a tentativa dela de me ofender foi fracassada. Afinal, fui eu quem roubei o namorado dela.

Vadia. Vadia. Vadia.

Eu conseguia encarnar o papel perfeitamente, embora as minhas pernas estivessem tremendo. Antonia nos olhou de cara feia antes de marchar decidida para fora do refeitório e eu me largar na cadeira onde estava sentada antes do alarde.

— Pode me dizer o que baixou em você? – Cora sorriu – Me senti em Meninas Malvadas, fala sério. Só faltou O Livro do Arraso.

Sorri amarelo. Depois da adrenalina da discussão o meu nariz passou a coçar ainda mais e eu estava meio que tremendo, o que sempre acontecia quando era posta a provas de nervoso maiores do que frequentemente.

— O namoro está fazendo bem! Finalmente terei uma amiga a minha altura.

Pisquei para Ron.

— Acho que são as roupas – opinou Cora.

— Ela simplesmente está se dando conta do quão sem graça é a vida sem um barraco.

— Só estava cansada de ser sempre a encurralada da história. – admiti – preciso de um copo d’água.

Ia me levantar para ir até o bebedouro quando me dei conta do olhar triste de Ronald. Eu encostei as minhas costas na cadeira, o olhando fixamente enquanto ele batia a ponta dos dedos na mesa, distraído.

— Eu preciso ir agora – ele se levantou de repente – vocês não se importam não é?

Ele estava escondendo algo, o que tinha a ver com o que Cora me falava alguns minutos antes.

— Também estou indo, tenho que tirar xerox de uns gráficos e plantas que o professor deixou. – a morena se levantou.

— Vou ficar aqui sozinha? – fiz um bico, chateada.

— Acho que não – Cora sorriu cúmplice, apontando o queixo para o janelão de vidro que separava o refeitório da relva do campus.

— Parece que o namorado de alguém está matando aula – Ron piscou para mim, mas ainda tinha aquela aura triste, aquele peso estranho sobre os ombros, quando eu sorri para ele e eles me deixaram só, encarando Dylan Thorne me chamar para fora.

Eu segui uma linha imaginária, hipnotizada por sua beleza e o sorriso encantador delineando os lábios. Meu namorado. Dylan Thorne era o meu namorado.

— Oi – ele segurou o meu rosto com as duas mãos inclinando a cabeça para olhar os meus olhos.

— Você está faltando aula, posso saber o por quê?

— Não conseguia parar de pensar em você.



Eu ouvia os murmúrios de Pat Solitano saindo do sanatório, se negando a acreditar em tudo o que havia acontecido em sua vida. Na verdade eu amava Silver Linings Playbook e achava maravilhosa toda a sua história, embora não estivesse com tempo suficiente para ler o livro e ver tudo o que fora cortado em suaj produção cinematográfica. Naquele momento tudo estava perfeito: as janelas fechadas, impedindo que a claridade da tarde invadisse a sala pelas persianas, o som da respiração de Dylan incessante em minha nuca, se negando a prestar atenção no início do filme e a iluminação pálida da TV enfrentando o escuro cômodo.

— Queria fazer cinema, sabia? – confessei.

Dylan desviou a atenção, ou melhor, a desatenção para o meu rosto, mas meus olhos ainda fitavam o drama de Pat Solitano e do amigo que ele tentava acobertar.

— Sério?

— Sério.

— Porque não fez? – perguntou se sentando ereto. Olhei para seu rosto, as sobrancelhas grossas estavam descobertas pelo seu cabelo bagunçado, seus olhos ainda mais negros.

— É complicado, era criança e não sabia se era o queria da vida.

— Eu entendo. Somos inclinados a essas coisas loucas quando somos pequenos, eu, por exemplo, queria ser o Hellboy.

Inclinei a cabeça para trás para rir quando imaginei Dylan no lugar de Ron Perlman.

— O que foi? – sua voz era confusa, como se não entendesse o motivo do meu riso.

— Nada.

Consegui me controlar quando Dylan passou o braço ao redor da minha cintura e cheirou os meus cabelos. Me senti protegida naquele momento e virei o meu rosto para me lembrar o sabor que tinha a sua boca.

Suas mãos brincaram com a minha cintura descoberta e seus lábios eram espertos, mas carinhosos, enquanto desvendava mais um dos meus beijos. Não ouvia mais o que acontecia no filme ou ao meu redor, parecíamos em uma bolha só nossa imersa no vácuo, mas estávamos no sofá da sala, com as pernas entrelaçadas e os cabelos bagunçados, deitados sobre as almofadas sem nos importar que estava fazendo muito calor.

Ouvi o toque do meu celular, mas não quis levantar para atender, tampouco quis abrir a porta quando alguém tentou girar a maçaneta alguns minutos depois.

— Julia. – Dylan tentava falar e eu o puxava para mais um beijo no qual ele desviou.

Investi em seus lábios novamente, mas ele teve resistência.

— Julia.

— O que foi, droga? – perguntei nervosa quando Dylan se levantou de cima de mim.

— O Steve deve ter chegado.

Levantei depressa, abrindo as persianas ao meu alcance e as janelas, deixando o vento abafado entrar na sala e o som das ruas se misturarem com as vozes do filme.

Quando eu abri a porta tive vontade de nunca ter me levantado da cama. Meu ombro foi empurrado para trás, as mãos grandes de Stev me seguraram antes que eu pudesse cair mas eu estava assustada com o primeiro esbarrão. Meu irmão me olhava em um misto de raiva e algo que eu pensei que nunca sentiria: decepção.


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Notas finais do capítulo

O Nyah está cortando as notas finais... Então, nos vemos nos comentários! Vamos chegar aos 200? *-*
Comentem o que acharam desse capítulo