Sempre acontece. Eu já devia saber. Eu já devia prever isso.

Sempre e sempre. Sempre que eu começo a me aproximar mais de uma pessoa, levo um choque. Claro que não amava Sam. Claro que não sentia mais nada além de desejo e afinidade. Mas, no fundo, queria sentir mais. Queria amá-la. O subconsciente que não permitia, e ele estava certo.

Toda vez que me permito realmente sentir, isso me destrói. E não vou deixar isso acontecer de novo.

–Benson! Tá com a cabeça aonde?

Ouvi a voz de Jeremy, lá no fundo, me puxando para a realidade. Estava sentado no refeitório, em cima da cadeira, e lá estava todo o time de futebol americano.

–Foi mal, cara. Nem dormi hoje.

–Fica tranquilo, Benson. Nós damos conta do jogo contra os Bulls sábado. Não se preocupe.

Não era com isso que estava preocupado. Mas será que eu já não estava sentindo? Será que eu já não tinha me permitido sentir algo mais intenso por Sam?

Tanto faz. O sinal da troca de aulas quase me ensurdeceu. Esses intervalos escolares estavam ficando cada vez mais curtos, isso é um fato. A cada dia, diminui dez segundos. E antes, que era meia hora, agora não passa de dez minutos. Não sei se isso é bom ou ruim, mas não tinha visto Sam ainda. Admito, procurei por ela. Mas não achei.

Jeremy me deu um cutucão, e eu segui para a aula de Inglês, desapontado. Qual é, Benson? Qual é seu problema?

A professora, como sempre, não tinha parado de falar. A aula até que passava rápido, considerando que fiquei a maior parte do tempo jogando videogame no fundo da sala. O que mais me surpreendeu foi a hora da saída.

Meu Porsche azul escuro estava na vaga B16. Os outros garotos já tinham ido para o bar da esquina, almoçar e beber cerveja. Mas hoje não estava afim. Hoje só queria ir pra casa e dormir a tarde inteira.

–Freddie! Freddie, espera!

Me virei para trás, automaticamente. Os olhos arregalaram, as mãos tremeram, as pernas se quebraram. De novo, Sam estava irresistível. Os cabelos trançados, e usava uma saia preta e regata, além de um belo par de saltos altos. Eu ri com ela vindo em minha direção, correndo. Parecia desesperada, e sorria. Era o jeito que eu mais gostava de vê-la: sorrindo. Ainda mais por saber que esse sorriso estava lá por minha causa.

–Sam?

–Sim, eu mesma. Aquela que você evitou no almoço. – revirou os olhos, depois riu.

–Não evitei ninguém, louca. Você que não apareceu. Mas enfim, o que precisa?

–Ah, isso... Ainda está disposto a sair comigo, não importa para onde for?

Eu hesitei. Sim ou não? Sim, estava desesperado para isso. Mas não, não queria me envolver com ela.

A cabeça não pensou. Só respondeu.

–Claro. Onde vamos?

–Nossa, que rápido. Então... – ela deu uma pausa. – a melhor amiga da minha mãe vai casar,e sou obrigada a ir e levar um acompanhante. Tá afim?

Eu sorri, na hora. Sam Puckett me chamando para sair. Incrível.

–Aham. Que dia vai ser?

De repente, ela corou e olhou para baixo, rindo.

–É nessa parte que a coisa fica bizarra. Minha mãe quer falar com você antes da gente ir pro casamento. Coisa de classe e outras baboseiras. Não tem problema pra você, né? – ela sorriu torto, o que me fez gargalhar.

–Claro, sem problema. Tenho que levar flores e um sabonete personalizado? Parece até que é nosso casamento...

Sam fez careta, e me deu um soco no braço. Depois, virou as costas e foi embora, dando um tchauzinho e entrando naquele carro sedan prata do outro dia. Fiquei paralisado por um momento, olhando para o carro, e o vidro se abaixou. Ela sorriu.

–Te vejo amanhã às três!

Eu acenei de volta, e o carro acelerou rapidamente, saindo de minha vista. Sorri de novo, involuntariamente, e entrei no Porsche.