Lágrimas Do Tridente escrita por Icaro Pratti


Capítulo 8
Capítulo 8 - Descobertas


Notas iniciais do capítulo

Gente demorei um pouquito... tinha combinado sexta mas aqueles imprevistos aconteceram e até outros né Lu...Ela quem me ajuda a revisar o capítulo, agradeçam bastante para ela...
Então devido algumas circunstancias, gostaria de dedicar esse capítulo para duas pessoas.. a Lu (Luiza Caser) e para a Li Bueno pela primeira recomendação sua linda!! FICOU P-E-R-F-E-I-T-A! Eu gamei demais, sério.. assim você me mata T_T



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Vou matá-lo, vou fazer de tudo para destruí-lo. A risada soluçante e incomodante dos ‘olhos de cobra’ perfura meus ouvidos. Volto meu olhar para o corpo de Annie e seus olhos mórbidos fazem uma lágrima escorrer pelo meu rosto e cair em uma de suas bochechas.



– ...nick, Finnick – ouço quando levanto abruptamente.




Minha visão é ofuscada pelos movimentos e pela quantidade de tapas que estava a receber no meu rosto. Não consigo entender nada. Não foi real, digo para mim. Não foi real – continuo a repetir. Maggs está prostrada em minha frente, os tapas vieram de suas mãos, agora frágeis. Ela tem uma expressão séria e seus olhos se encontram com os meus.




Uma dor de cabeça excruciante aperta meus pensamentos, meus olhos ardem e não consigo entender tudo que está acontecendo. Ela me abraça e faz com que qualquer coisa que eu tente pensar cesse. Não consigo conter minhas lágrimas. Quanto tempo não tinha pesadelos... Agradeço por ela estar aqui ao meu lado.


Segurando-me entre seus braços, sinto um conforto instantâneo, uso seu ombro de apoio e mais lágrimas escorrem pelo meu rosto em meio aos soluços ocasionais que não consigo manter. Ela tenta acariciar meus cabelos e minhas bochechas na tentativa de me acalmar. Ela sabe que vai demorar, mas uma hora obterá efeito. Estou sem chão. Ela também sabe que Annie vai morrer, que vão fazer de tudo para matá-la.

Minha visão ofusca com as lágrimas, consigo sentir a respiração dela próxima aos meus ouvidos, não quero sair dali. Ela me afasta e pede para que me acalme, mas estou descontrolado. Levanta-se, levianamente, e caminha até a porta do quarto saindo para o silêncio absoluto. Agora a única coisa que sou capaz de ouvir é a minha respiração, pesada e descontrolada, e apenas uma imagem passa diante dos meus olhos: a cena de Annie morta.

Vou até o banheiro e me jogo debaixo do chuveiro, fico sentado no chão um bom tempo tentando obter respostas e alternativas para tudo que está acontecendo. Não há respostas, não há alternativas – penso, com lágrimas que escorrem pelo meu rosto. Alguns murros dou no chão descontroladamente, a raiva percorre todo meu corpo. Não suporto pensar em qualquer coisa hoje.

Saio do banho e apenas coloco uma bermuda e uma camiseta, o frio não está tão intenso como na noite de ontem e... No pesadelo – estremeço. Meu corpo está respondendo aos meus comandos. Não sei como reagir caso encontre novamente os olhos de cobra. Voar em seu pescoço, enfiar um tridente em sua garganta, as possibilidades de me agarrar a uma expectativa de sua morte, ouvir sua última respiração e um pedido de desculpas para toda Panem. Tenho tudo em minha cabeça.

Aproximo da bancada da pia, acalmo minha mão sobre ela e fico um tempo parado, observando meu reflexo no espelho. Meu rosto aparenta estar um pouco inchado, meus olhos estão um pouco vermelhos e meus cabelos parecem não querer obedecer ao penteado que costumo usar. Uma onda de raiva percorre meu corpo, aproximo minha mão do primeiro objeto que encontro e miro-o no chão fazendo-o despedaçar e causar um enorme barulho com os estilhaços que atingem o vidro e o assoalho. Dou uns murros na bancada e sinto uma fisgada na lateral do meu pulso. O sangue começa a escorrer pelo meu braço e algumas gotas caem no chão, mas não dou a mínima para isso.

Caminho até a porta, fecho-a e sigo pelo corredor. A cada passo um arrepio percorre a minha coluna, cada movimento, cada sussurrar. O frio intenso não está mais presente, o reflexo no espelho contém apenas a minha imagem. Não há Snow, não há pacificadores, não há armas... Não há morte – suspiro.

Chegar até a sala de jantar é a pior parte, está calma e silenciosa. Ninguém acordou ainda, com exceção de Maggs, que deve estar se arrumando em seu quarto. Olho para o relógio tentando desviar a atenção, ainda é cedo. Meus olhos se encontram com o local da morte e uma lágrima escorre pela minha bochecha. Não há morte – repito.

Caminho até os nomes que se encontram na parede. Lembro-me perfeitamente de cada detalhe do pesadelo, cada momento de agonia e de escolhas mal feitas. Eu sou o responsável caso ela morra, sei disso. Caminho minha mão até meu nome cravado na parede. Minha visão esvai-se no momento em que retiro a mão de cima do meu nome e o sangue, que antes correra pelo meu pulso, agora corre um pouco sobre meu nome. Está se tornando realidade – hesito – nada disso é real – contraponho.

– FINN, FINN – os gritos de Alfred me apunhalam.

– Oi – digo desconcertando.

Ele apenas olha para a parede e depois encontra o machucado na minha mão, suspira e logo depois começa a dar seus gritinhos. Algo relacionado à televisão, preparar, fama, como lidar com isso, assuntos da Capital, beleza física acima de tudo. Ele corre para um cômodo da ponta, volta com alguns curativos e começa a trabalhar no corte.

– Nada profundo – suspira ao concluir o curativo.

– Obrigado – respondo.

A Avox caminha pelo corredor com uma espécie de máquina perto dos seus pés que roda e volta a deixar o assoalho brilhando por onde passei enquanto gotas de sangue caíam da minha mão. Sinto-me um idiota por ter feito isso. Na parede ela começa a passar um pano com alguns produtos e retira todas as marcas. O sangue de Annie também seria retirado dessa maneira da parede e seu corpo jogado para bestantes da Capital. Esse pensamento faz com que toda a raiva volte a percorrer meus pensamentos. Vou matá-lo, vou matá-lo – repito mentalmente sem ouvir ou entender o que Alfred estava tentando dizer.

Sento-me na mesa evitando a cabeceira que foi ocupada por Snow. Não quero ficar perto daquele lugar. Alfred senta-se ao meu lado e não para de falar sobre roupas. Ele comenta aleatoriamente todos os tributos, criticando algumas roupas e principalmente soltando gargalhadas com a eletrocutada. As risadas de Panem hoje devem estar voltadas para seus estilistas e provavelmente algumas piadas além dos distritos, apesar de achar impossível essa última opção.

Não consigo prestar atenção em nenhuma ideia completa de Alfred, como sempre, coisas aleatórias ele consegue falar. Paro para observar suas maquiagens. No seu pescoço o enorme tridente está pintado de cor prata, do outro lado uma sereia é realçada em tons azuis e rosas e sua maquiagem tem detalhes da mesma cor. Não tinha reparado quaisquer detalhes antes, devido à minha raiva.

Uma nova moda vai estourar na Capital: a combinação de azul e rosa estarão presentes em meio ao tridente. O tridente e a sereia, a combinação perfeita de Panem. Eis mais um motivo para eliminar a sereia e deixar apenas o tridente indefeso, sem qualquer chance de manusear sua arma.

– As ideias de Maggs foram magníficas! – ele ressalta.

– Quais? – foco meus olhos no dele.

– De como ela queria que finalmente usássemos nosso protótipo criado há alguns anos. Ela disse que essa era a hora. É lógico que pensamos que podia dar errado, ainda era um estudo. Ela disse que independente disso era hora de brilhar, ela estava certa. Nunca a vi colocar tanta positividade em algum tributo – termina com alguns gritinhos retirando uma foto de sua carteira.

Maggs, o quão magnífica ela foi, pensara em tudo para o meu desfile revendo a reação das mulheres da Capital e, agora, pensara em mim novamente, estava determinada a me ajudar com Annie. Ela quer mais do que tudo que Annie saia viva de lá. Está lutando para isso enquanto estou redimindo-me pelo que nem aconteceu e não vai acontecer. Ele não irá matá-la, nós iremos vencer – sussurro.

– Disse alguma coisa? – questiona Alfred em meio às suas risadas.

Meus olhos encontram a fotografia que não havia dado a mínima até então e uma sensação de alívio percorre o meu corpo. Uma montagem simbólica, as duas maiores vitórias dos estilistas do Distrito 4: meu desfile e o desfile de Annie. E logo no canto existem alguns dizeres de agradecimento.

– Recebi diretamente do grande presidente – ele conclui em lágrimas.

Sua última fala me causa um arrepio, meus olhos arregalam-se encontrando a fotografia. A montagem perfeita do tridente com a sereia... Não consigo ler os dizeres no canto da foto, Alfred segura-a com tanta convicção, um amuleto.

– Posso ler? – aponto para a fotografia.

– Claro – vangloria-se com gritinhos.

Os gritinhos passaram a incomodar após encontrar a fotografia. É comum ouvi-los quando nos encontramos na Capital, eles realmente acabam por tirar do sério todos os pensamentos. Seguro a fotografia em minhas mãos, que ainda estão trêmulas. Com muita dificuldade vou encontrando às pequenas palavras do canto. Consigo controlar as mãos que mexem involuntariamente e estremeço ao ler: “A vitória é alcançada por aqueles que estiverem determinados. O tridente e a sereia sempre terão o que merecerem. Um abraço, Coriolanus Snow”.

As mãos voltam a tremer e as palavras distraem-se, embaralhando enquanto tento lê-las novamente. A fotografia é retirada da minha mão por Alfred, que não percebe os meus movimentos de tremor. Meu corpo estremece e minha cabeça começa a latejar. A vingança está próxima, ele já está me usando.

Alguns passos são ouvidos do final do corredor, seguido de algumas portas fechadas. Ainda assim sinto minha respiração pesada e o descontrole das minhas mãos, que demonstram meu pânico. Ele está tentando usar todos os meios para me atingir, ele quer me destruir antes mesmo de dar o xeque-mate, ele mesmo quer gritar vitória ao final de tudo isso. Eu sou uma ameaça para ele, ele cortará as ameaças quando puder.

Volto meu olhar para a mesa, só então posso ver que todos já estão ali e começam a comer e a pegar algumas comidas que nunca tive a coragem de comer. O silêncio é uma coisa que não existe mais, Annie é a única que está cabisbaixa e comendo tão pouco. Declan está atacando todo o tipo de comida que vê pela frente, mal termina de colocar uma coisa na boca, já coloca outra.

– Sobre hoje... – começa Maggs. – Aprendam coisas novas, sem brigas – conclui.

Annie continua imóvel. Declan tenta falar algo, mas logo é abafado por gritinhos de Alfred e por uma jarra de suco derramada sobre a mesada que acaba por distrair-nos. Maggs levanta e faz um sinal com o rosto para mim, entendo os movimentos e caminho ao seu lado até as duas poltronas distantes.

– Antes de sair, quero que me diga o que pensou para Annie na preparação – diz enquanto retira almofadas das duas poltronas.

– Não pensei em nada – entristeço-me sentando na cadeira brutalmente.

– Confia em mim? – ela pergunta encostando-se a meu braço.

– Sempre – assinto com a cabeça.

Ela se levanta, coça a garganta em um barulho comum entre nós, vira para mim e apenas faz um sinal com a cabeça.

– Obrigado – sussurro.

Ela pode não ter ouvido, mas ela sabe disso, sabe o quão sou grato pelo que está fazendo por mim. As escolhas dela são as melhores e sei que dará ao máximo para ajudar a Annie, assim como fez comigo ao mandar aquele tridente que me salvou. A dádiva mais cara já enviada para algum tributo.

Logo o barulho silencioso do elevador pousa em nosso andar e a negação de Maggs para Alfred ir junto é audível. Ele sabe que não pode, mesmo assim, tenta insistir várias vezes. A porta do elevador se fecha e não vejo Annie ou Maggs, estamos apenas eu e Alfred. Não sei para onde a outra estilista foi. Desde o começo não me toquei da presença dela, só então paro para imaginar onde ela possa estar.

– Onde está a outra estilista? – pergunto.

– Segredinhos – grita enquanto corre para o corredor. – Um beijo meu grande... Grande Finn – conclui antes de bater a porta do quarto.

Não consigo evitar que um pequeno sorriso se monte em meu rosto. Fico ali sentado um bom tempo, não consigo pensar em nada. Todo momento voam pensamentos e pesadelos quando paro muito tempo focado em algum objeto. Sequer consigo olhar para a cadeira em que ele esteve sentado, muito menos para o lugar em que ela foi morta. Isso não aconteceu, repito várias vezes.

– Precisamos conversar – Maggs anuncia olhando para mim assim que a porta se abre.

Não pronuncio qualquer palavra até ela, silenciosamente, caminhar ao meu encontro e sentar na poltrona próxima. Ela faz alguns barulhos com a garganta, organiza uns papéis em suas mãos, pega algumas revistas e dá umas pequenas olhadas, numa forma de organizar seus pensamentos. Começa a escrever tudo em um papel agilmente e só então termina uma incansável linha de escritas e desenhos.

– Hoje começam os patrocinadores. Você dessa vez não servirá apenas de imagem, não serão frases curtas ou algo do tipo, a maioria das coisas você quem dará entrada e finalizará, não é só conquistar as mulheres agora, é algo maior que isso – surpreende-me.

Apesar de estar ao lado de Maggs estes últimos anos, a busca por patrocinadores não era uma coisa comum para mim, apenas acompanhava-a e ajudava a convencer, na sua maioria, pessoas escandalosas ou mulheres. Era mais fácil conseguir isso mostrando a imagem de um vitorioso tão jovem. Parece que não fui mentor em nenhum destes últimos anos... Essa é realmente minha primeira tarefa como mentor, é a primeira oportunidade que tenho para corrigir meus erros, falar para as câmeras era um ato de conquistar as mulheres e tentar ser amigável.

– Está tudo aqui – entrega-me o papel. – Acho que já é hora de você começar a fazer isso, você conquistará muito mais patrocinadores do que eu – conclui.

Começo a ler as escritas e símbolos no papel. Possui algumas frases e nomes de diferentes mulheres e alguns slogans de grandes marcas. Logo ela me entrega um envelope com diversas fotos e nomes, os nomes das mulheres que terei que conquistar para serem nossas patrocinadoras.


***


Mesmo de dentro do carro, caminhar por Panem se torna uma tortura. Cada esquina representa uma nova aventura, novos gritos de meninas e novas câmeras voltadas para o meu rosto que logo brilha em alguns telões ao longo do grande caminho. Somos os mentores com mais deveres nessa edição, agora que criamos uma grande imagem de nossos tributos.



O conforto é instantaneamente aliviado no momento que Maggs segura minhas mãos com força. Tudo é repetido com os movimentos regules e calmos de seu polegar nas costas da minha mão, um movimento simples mas com grande valor sentimental. Pouso minha cabeça em seu ombro e fecho os olhos na esperança de tudo isso voltar a ser como antes. Voltar para o Distrito 4, jamais ter sido um vitorioso, jamais ter participado desses jogos, evitar fazer parte disso tudo.


O carro estaciona próximo a uma grande construção e posso ver que é uma grande loja. Milhares de pessoas entram e saem, correm de um lado para o outro com vendedores. Cores rosa e azuis brilham para todos os lados, o tridente está presente em roupas, maquiagens, joias e placas. Todas as propagandas estão voltadas para nós.

– Conseguimos – arfa Maggs.

Ela sabe que não é necessária qualquer resposta. Assim que saltamos do carro várias meninas correm ao nosso encontro, vários gritos e objetos apontados para serem assinados. Gritos e mais gritos, logo uma multidão está em volta de nós. Todas demonstram uma coisa: estão conosco, Snow não acabará assim tão fácil com nossos tributos. Maggs apenas olha para mim e acena com as mãos num gesto. “Fale algo”, ela sussurra.

As palavras me apunhalam, é como um daqueles caldos que você leva quando tenta ultrapassar em cima da hora. A queimação no nariz, nos olhos e a dor em todo o corpo. O frio esvai-se, a tremulação começa em minhas mãos. Maggs segura-as e me encosta de leve no cotovelo, um sinal.

Olho para a frente e avisto uma câmera bem direta em meu rosto e a outra voltada para as fãs que gritam incansavelmente. Só então percebo que uma quantidade de pacificadores já chegou ao local e separam-nas de mim.

– Não precisa afastá-las – digo firme, olhando para as câmeras. Elas sabem o quão agradeço a elas, agradeço por todo esse carinho que sempre tiveram. Vocês são parte de mim, o Tridente. Cada uma carrega em seu corpo um pedaço do que fui... E sou – completei.

Gritos, gritos e mais gritos começam a ofuscar meus pensamentos, algumas começam a chorar e levantar papeis, gritam meu nome, gritam por mim. Não tenho qualquer reação, não sei o que fazer, estou perdido. Nenhuma palavra consegue sair da minha boca, as pessoas sabem que isso terá um efeito catastrófico, uma vez que falar em público nunca foi o meu forte.

– Tridente, temos uma pergunta – gritou um homem de cabelos espetados ao meu encontro. – O que acha dos grandes tributos desse ano? Quais são as suas expectativas? – perguntou sem que eu terminasse de entender a situação.

– Minhas expectativas são... As melhores! – exaltei. – Temos muito a esperar do pescador, já a pequena serei... Não sei, está perdida – bufei com os olhos lacrimejantes.

As palavras saíram pesadamente dos meus lábios. Perdi Annie mais que tudo, disso posso ter certeza. Maggs apenas olha para mim e faz seu reconhecível aceno com a cabeça e segura a minha mão. Os pacificadores abrem caminho em meio à loja e logo estamos em um corredor silencioso, onde posso ouvir apenas a minha respiração pesada e os passos incansáveis de Maggs que sobressaem os meus.

Caminhamos até um elevador onde Maggs aperta uma sequência de números e depois anuncia seu nome a um aparelho na parede. Só então o elevador começa a descer. Lembro-me de estar na altura da rua quando o elevador começa a descer. Um pânico toma conta de meu corpo, estamos indo para de baixo da terra.

O elevador para alguns segundos depois e logo entramos em uma sala silenciosa. Apenas uma mulher encontra-se atrás da cadeira e mexe em vários papéis e aparelhos ao mesmo tempo. Consigo focar na mulher e logo a associo com um dos rostos de uma das fotografias. A primeira possível patrocinadora está a poucos metros de mim, é hora de agir.

Meus passos tornam-se pesados à medida que me aproximo da cadeira que sentarei para discutir o possível futuro de Annie. O assento está gélido, assim como o cômodo. Maggs inicia a discussão, começa a falar de nossos tributos, da expectativa e das realidades relacionadas a eles. Tento ressaltar como Declan era um ótimo pescador no distrito, conhecido pela sua força e falo também das qualidades de Annie.

Ela não dizia nenhuma palavra, apenas analisava seus papeis e dados nos computadores. Parecia que a maioria das palavras não surtia qualquer efeito em seu emocional ou que estava disposta a nos ajudar. A me ajudar. Só quando Maggs termina de falar que pergunta se está disposta a alguma aposta ou ajuda para os tributos que ela volta para nosso olhar.

– O menino, a minha aposta – anuncia enquanto entrega um cheque para Maggs.

Me levanto da cadeira abruptamente e caminho até alguns quadros da sala e começo a analisá-los. Um enorme tridente está pendurado no canto da sala em uma base brilhosa dourada. Só então passo meu olhar para a pequena placa disposta em baixo do tridente.

“A maior arma já levada a um tributo que a imortalizou”

Perco meu chão. A poucos centímetros de mim está a arma que me salvou, que fez com que eu tivesse uma alternativa de vencer. A arma que fez com que eu tivesse a primeira e única oportunidade de vencer. Todas as mortes realizadas com ele passam por um flash na minha cabeça. Quantas mortes eu criei com essa arma, que agora é um objeto de exposição para essa sala.

– Vamos, Finn – chama Maggs que já se encontra próxima do elevador.

Só então observo o quão estava próximo do tridente. Meus dedos já estavam colados ao objeto que o segura na parede como forma de objeto para exposição. Aqui está uma das maiores dádivas dos Jogos Vorazes. Volto meu olhar para a mulher da mesa. Ela quem foi responsável por este feito? – me pergunto. Ela apenas acena com um sorriso para mim.

– Obrigado - sai dos meus lábios com efeito instantâneo.

Caminho com Maggs de volta ao carro. Passamos em mais algumas grandes lojas, não tão esplêndidas como a primeira que visitamos. Maggs não diz nenhuma palavra, apenas procura alguns papéis e endereços perdidos em meio aos envelopes. Patrocinadores e mais patrocinadores, mas apenas uma aposta: o Pescador.

Chegar até o apartamento que ficaremos por um dia tornou-se uma claustrofobia para mim. De cara encontro meu nome prostrado na parede e vejo a cena se repetir em minha cabeça diversas vezes, não suporto sequer passar os olhos próximo a cadeira. Maggs arfa ao sentar-se na poltrona e passa diversas vezes as fotos em sua mão. Ela não diz nenhuma palavra, apenas analisa também os cheques em suas mãos e parece não estar muito feliz com os resultados.

– Alguma conclusão? – insisto até tomar atenção dela.

– Uma... – ela tosse. – Meu plano está dando certo.

– Mattar Annie? – descontrolo-me. - O Pescador ser o grande campeão?

Ela não responde. Pela primeira vez fecha sua cara para mim e um olhar inexpressivo me toca profundamente, ela não gostou do meu comentário. Fui hipócrita e idiota. Não sei o que falar, apenas vejo-a remexer as papeladas e guardá-las em uma caixa próxima à mesa. Ela levanta e passa pro mim sem dizer qualquer palavra. Uma lágrima escorre de seu rosto e me estilhaça por dentro.

– Desculpa Maggs, não queria... – puxo-a para meus braços.

Ela fica entrelaçada em meus braços e só então a vejo chorar descontroladamente pela primeira vez. A paz que um dia pensou habitar meu corpo esvai-se a partir desse momento. Estou quebrado, perdi meu chão. Ela chora sem conforto em meus braços e não tenho qualquer reação, não sei o que posso fazer, a culpa dela estar chorando é minha.

– Estou tentando de tudo Finn, não está fácil – ela soluça. – Não sei se o que pensei pode dar certo, se não der logo de início... Tudo vai por água abaixo.

Não imagino quais planos ela está planejando para tudo isso. Alguns patrocinadores foram possíveis adquirir para Declan, não seria impossível conseguir alguns para Annie. Não é hora de perguntar qualquer coisa para ela. Tudo isso é culpa minha, jamais dela. O que ela tentar fazer aqui será, no máximo, uma tentativa de reverter meus erros.

– É hora de te contar algumas coisas – diz desvencilhando-me de meus braços e abrindo a caixa em que guarda a maioria das fotografias dos patrocinadores.

Ela volta com uma fotografia em mãos. Mãos trêmulas como nunca vi e seus olhos estão cheio de lágrimas. Uma pequena camada de maquiagem está marcada em sua bochecha e cada vez que dá um passo em minha direção, parece querer recuar.

– Não, não vou dizer-lhe isso – começa virando-se de costas e devolvendo a foto para a caixa.

Dou alguns passos em sua direção e seguro seu braço, que está muito trêmulo. No momento que escorrego meus dedos para os seus, encontro-os gélidos e com as mesmas formas de sempre. Passo meu dedo circularmente sob as costas de sua mão, tentando retribuir todo conforto que sempre me é dado.

– Deixe-me ver – encosto na fotografia.

– Não, por favor – ela suplica e uma lágrima escorre de seu rosto.

Pego a fotografia rapidamente de sua mão e logo vejo-me nela aos meus 14 anos. É uma fotografia minha da arena tirando o tridente na hora em que havia recebido. Consigo relembrar de cada momento como se fosse agora. Não entendo que respostas isso pode ter. Foco meu olhar no dela e ela apenas abaixa o rosto e mais lágrimas escorrem de seu rosto.

Começo a girar a fotografia na mão e a procurar alguns detalhes nela. No canto esquerdo encontro alguns dizeres escritos à mão, reconheço aquela letra e minhas mãos começam a tremer. Pouso a fotografia sobre a cômoda e começo a ler para que Maggs possa ouvir.

“Para lembrar-lhe que uma simples dádiva tem seus resultados quando um vitorioso destaca-se acima de todos os outros e não acima de mim, jamais. Um abraço, Coriolanus Snow".

Ainda sem entender o que tudo aquilo significa volto meus olhos para Maggs. Ela não movimenta seus lábios para nenhuma palavra, não entendo o que aquela frase representa. Eles querem me matar, sempre desejaram isso. Eu sou uma ameaça para todos eles – reflito.

– O que isso quer dizer? – pergunto erguendo seu rosto e focando seus olhos nos meus.

– Não, Finn... – suplica, tentando afastar-se de mim.

Seguro seus braços firmemente com minhas mãos, tentando não forçar. Quero entender tudo o que está acontecendo. Ela tenta afastar-se de mim mais algumas vezes, suplicando para que eu não pergunte mais nada. Ela sabe que agora não poderá esconder de mim o que escondeu todos esses anos.

– Por favor... – imploro.

Ela deixa mais lágrimas escorrerem de seu rosto e volta suas mãos mais trêmulas do que nunca para a tampa da caixa, abre-a e retira uma outra foto. Ela hesita antes de entregar a foto em minhas mãos sem dizer qualquer palavra. A foto mostra Maggs mais jovem ao lado de uma menina, que está com uma enorme marca vermelha demonstrando um ‘x’ sobre seu rosto.

“Para mostrar-lhe que uma vitória sempre acompanha a derrota de outro” – ela diz com os olhos cheios de lágrimas.

Viro a foto e vejo em seu verso as frases que ela acabara de pronunciar escritas à mão e com uma singela finalização: “Coronalius Snow”. Tento absorver as idéias. Elas parecem tentar formar algum significado em minha memória. Algo não se encaixa em tudo isso. Isso não pode ser verdade – tento suplicar em minha mente.

Ela pega a fotografia da minha mão e mais lágrimas incansáveis escorrem de seu rosto. Leva a fotografia até os lábios e beija o rosto da menina da fotografia. A cena me choca e tudo se encaixa. Maggs deu-me a chance de viver e mostrar que todos têm a chance de vencer, todos podem buscar a vitória. Ela arriscou-se enviando para um tributo uma arma, a mais perigosa de todas e esse tributo acatou aos ideais dela, matou e se tornou imortal para toda Panem. Minha vitória fez com que recorressem ao sofrimento, tiraram sua única filha, sua única esperança de viver.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem e sintam na pele o que senti escrevendo essas palavras finais... gostaria de terminar falando que amei os fantasminhas que deram as caras e conto com vocês, vou tentar começar o próximo capítulo! *--------*