Lia estava hipnotizada outra vez. Não sabia como reagir à presença de Dinho no colégio. Tinha raiva de vê-lo na quadra e, ao mesmo tempo, queria correr para abraçá-lo, com o resto. O garoto percebeu sua presença e também paralisou. O tempo parecia não existir para os dois, que se olhavam fixamente, com os olhos úmidos e um misto de emoções que nenhum deles entendia. Adriano nem percebeu quando seus pés o guiaram até a roqueira, que também seguiu em sua direção. Tudo a sua volta parecia girar em câmera lenta e em silêncio, até que o sinal de início das aulas despertou Lia. A garota já estava frente a Dinho, mas agora voltava à clareza e a raiva a consumiu.

-Lia, eu- Dinho não conseguiu terminar a frase. Sentiu o peso da mão de Lia em sua face, que ardia.

Os alunos do Quadrante estavam todos assistindo à cena desde que perceberam a alteração no comportamento de Dinho e perceberam quem havia chegado. Sabiam por experiência que o ex-casal sempre resultava em espetáculo e não estavam enganados. Ninguém sabia o que esperar dos dois quando se encontrassem no meio da quadra, mas todos se surpreenderam com o tapa. A “platéia” foi à loucura, alguns aplaudindo, outros gritando, até que as exclamações foram interrompidas pelo apito de Robson.

-Mas o que é isso, meus amores? Todos já para a sala de aula, vamos lá, circulando!

Todos seguiram a ordem do inspetor e saíram da quadra em direção às salas. Dinho estava contente em rever seus amigos, mas seu coração parou ao ver Vitor sentar com Lia. Em questão de segundos, lembranças de quando ele sentava atrás da namorada passaram por sua cabeça e o garoto se imaginou expulsando o moreno à força de seu antigo lugar. Orelha percebeu a mudança no comportamento do melhor amigo e segurou seus ombros, para acalmá-lo. Dinho não percebeu como havia mudado bruscamente, nem como estava quase ferindo as mãos de tão fechados que estavam seus punhos. Sentou-se com os amigos e fez o possível para prestar atenção na aula e não na ex e seu atual.

No intervalo, Dinho a avistou nas arquibancadas com Vitor, Ju e Gil. Sentiu-se incomodado outra vez, ao ver os dois juntos, mas sorriu ao pensar em como poderia aproveitar a situação para provocar o namorado de Lia. Aproximou-se do grupo sem ser notado e parou atrás da roqueira.

-Aí, marrentinha, você até que bate bem pra uma garota!

Lia continuou de costas para Dinho, embora sua expressão tivesse mudado. Ficou nervosa por alguns segundos, mas era profissional em esconder suas emoções. Fechou a cara, revirou os olhos e voltou-se para o ex, enquanto Ju a observava e Vitor e Gil encaravam Dinho como se quisessem atacá-lo.

-O que você quer?

-Eu queria conversar com você, pode ser?

-Eu não tenho nada pra falar com você.

-Ok, então a gente pode só continuar o que começou ontem, se você prefere assim.

Lia expressava um misto de vergonha, raiva e surpresa, enquanto Vitor era segurado por Gil e Fera em seu lugar. Juliana estava chocada com a abordagem do aventureiro, havia esquecido como era o excesso de sinceridade de Dinho.

-Ontem foi um erro.

-Pelo visto o namoradinho não tem dado conta... Eu mal cheguei e você já veio com tudo! Não que eu não tenha gostado, pelo contrário. – Dinho piscou para Lia e sorriu debochadamente.

-Uuuuuuuh – vários alunos já estavam em torno dos dois e exclamavam como se fosse jogo de futebol.

-Iiiiih rapaz – Pilha riu, mas logo se recompôs lembrando que tinha que defender seu parente.

-Boa, pegador! - Orelha filmava tudo com um sorriso estampado no rosto.

-Dinho, pelo amor de deus, eu não vou ficar aqui discutindo a minha vida sexual na frente do colégio inteiro! E você não tem nada a ver com isso!

-Como não tenho, Lia? Pelo seu desespero ontem, tenho certeza que o único que faz parte da sua vida sexual sou eu!

Mais uma vez a platéia foi à loucura e Vitor quase não pôde ser contido. Lia sentia cada vez mais ódio de Adriano, não queria deixar fácil para o garoto. Para sua irritação, foi interrompida pelo apito de Robson, que mandava todos voltarem para suas salas, abismado com a cena. Enquanto os alunos se afastavam, Lia voltou sua atenção para Dinho.

-Eu te odeio! – falou pausadamente, com a voz baixa, mas grave.

-Eu sei! – respondeu o garoto no mesmo tom.

Os dois se encararam, tendo a mesma lembrança. Lia tentou ignorar o passado e começou a caminhar em direção à sala.

-Eu te amo. –Dinho disse baixo, mas suficiente para que ela ouvisse.

-Conta outra! – Gritou Lia, já passando pela cantina.