Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 49
Mães


Notas iniciais do capítulo

CHEGUEI!!!!!!! Semanas de provas, 7 fics e os meus próprios vícios em novos ships podem tomar muito do meu tempo, mas abandoná-los, jamais. Não queria entregar um capítulo por entregar, então levei umas boas semanas tentando fazer com que a minha ideia gerasse mais frutos do que estava apresentando. Agora sim posso dizer que esse capítulo valeu a pena, que fiquei orgulhosa dele.

https://www.youtube.com/watch?v=w2Au5CStx0s - Primeiro Dia - Manu Gavassi - ouvi por acaso e me lembrou tanto LiDinho quanto JuLia
https://www.youtube.com/watch?v=lK9eKXyoOKg - Poema - Cazuza, porque o Dinho sempre vai ser meu projetinho racional de Cazuza (interpretada por Ney Matogrosso) - Dinho e Alice



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– Aconteceu alguma coisa? –Juliana questionou a sogra, preocupada.

– Na verdade, sim, aconteceu. Ju, eu sei que talvez você não se sinta confortável pra tocar no assunto, mas... Você tem alguma ideia de como era a relação da Alice com a Lia?

– Ah. – Surpreendeu-se. - Bom, é... Até onde eu lembro, a Alice nunca gostou muito dela, inclusive queria que eu voltasse com o Dinho de qualquer maneira. Ela chegou a propor unir forças pra separar os dois, ela definitivamente não gostava deles juntos. Eu pensei que elas tivessem se entendido depois...

– É, pelo que a Lia falou, ela chegou a ser aceita pela Alice, mas agora é como se nada tivesse mudado.

– O que aconteceu? – Repetiu a pergunta.

– Ah, bom, a família do Dinho foi visitá-lo lá em casa e a Alice deu piti porque viu eles juntos.

– Ainda? Eu, hein...

– É, e agora a Lia sabe o que ela falou dela e tá furiosa. Bom, não é por menos.

– Por isso ela saiu correndo?

– É.

– Bom, acho que a Fatinha é a melhor amiga com quem ela pode contar agora, já que é ela que entende de sogras implicantes. – Juliana riu.

– Bom saber!

– Que isso, sogrinha, você não se compara. – Sorriu para a professora.

– Ah, você que é a nora que eu pedi a Deus pro meu Gil. – Abraçou Juliana orgulhosa. – Mas voltando ao assunto, pelo visto você a Alice aceitava?

– A Alice sempre gostou de mim.

– Ótimo.

Juliana a observou, confusa.

– Isso significa que você ela vai escutar. O que você me diz de vir comigo conversar com a sua ex-sogra?

A garota sorriu, enfim compreendendo onde a professora queria chegar.

–x-

– Marcela? – Confusa, Alice deu espaço para que a visita entrasse.

– A gente precisa conversar.

– Se for sobre a Lia, Marcela, você vai ter que me desculpar, mas... Ju?

– Oi, Alice. – Respondeu timidamente.

Nós viemos falar com você sobre a Lia, sim.

– Pode parecer estranho, eu sei, mas a Lia é a minha melhor amiga, e eu não quero que você a julgue pelo que aconteceu entre eles.

– Me surpreende você defender os dois.

– É... Até pouco tempo atrás eu também me surpreenderia... Eu não poderia imaginar que estaria defendendo a Lia depois de tudo o que aconteceu, mas...

Mas? Ju, o que ela fez com você foi um absurdo!

– Foi, foi um absurdo. Um absurdo que não apagou os nossos mais de dez anos de amizade, assim como eu ter namorado o Dinho não sumiu com os sentimentos que eles nutriam um pelo outro. Eu mesma já sabia que a Lia gostava dele há anos, só não queria admitir. Ela negava, e eu preferia acreditar no que ela dizia e não no que eu sabia. Nós éramos muito próximas, eu a conhecia como ninguém, e preferi ignorar que ela gostava do Dinho porque me era mais cômodo. Sim, Alice, a Lia gosta do Dinho há anos, e provavelmente ele já correspondia desde o começo. O que a Lia sente pelo Dinho não é uma paixonite, um capricho de adolescente que quer manipular o ex-namorado até sugar o último sopro de vida dele. – Por mais difícil que fosse pensar na doença de Dinho, continuou. – A Lia ama o Dinho, de verdade, ou ela jamais teria me traído com ele. Ela pode ter vários defeitos, é verdade, eu bem sei, mas a Lia valorizava o que a gente tinha acima de qualquer crise.

– Você está sendo ingênua, Ju... A Lia manipula, ela não presta. Ela sabia que vocês estavam namorando, que você gostava dele, assim como agora ela sabe que ele só vai estar aqui por um tempo e logo depois ela vai poder voltar pro namoradinho como se nada tivesse acontecido.

– Como você se atreve?! – A professora se descontrolou.

– Marcela. - Juliana a freou. – A Lia não só me traiu, Alice. Ela se traiu. Como eu já disse, eu conheço a minha melhor amiga. Ela não só não trairia a nossa amizade, como também jamais trairia a sua consciência. Quando a Lia quer fugir do que sente, ela é profissional, cria barreiras como ninguém.

– Então como ela não se controlou? – Cobrou, cética, a mãe de Adriano.

– Porque descobriu um sentimento mais poderoso que tudo que já conhecia. A Lia tentou se proteger como pôde, mas, conforme se aproximava do Dinho, dava pra perceber o quanto ela era consumida por aquilo. De repente, a amiga de pedra que eu tinha começava a temblar, a ruir ao primeiro movimento. Ela estava transbordando, e o meu mal foi não perceber a tempo que a Lia estava prestes a implodir com a pressão que ela mesma havia criado. Amor, culpa, ódio pelo que ele a fazia sentir, ódio pelo que ela mesma não conseguia lutar... O beijo da peça era um beco sem saída, nenhum dos dois terminaria aquela peça de outro jeito, eles não iriam se controlar, e eu sabia. De certa forma, eu sempre soube. O que eu estou querendo dizer, Alice, é que não só a Lia ama de verdade o seu filho, como também é inevitável. Ela não está enrolando o Dinho, ela seria incapaz de controlar o que sente por ele a ponto de conseguir manipulá-lo. E, claro, eu também vim pra defender a Lia como melhor amiga. Ela é uma garota incrível, que sempre me apoiou e que nunca me faltou. Só eu sei o quanto ela não merece o tanto que sofreu em tão poucos anos.

Alice buscou palavras que pudessem argumentar contra o que Juliana lhe havia dito. Elas teimavam em escapar-lhe por entre os dedos. Sentia-se traída, a morena devia ser tão contra o namoro de Lia com Dinho quanto ela.

– Você fala em sofrimento, mas esquece o quanto essa relação fez ambos sofrerem. Desse namoro, eu recebi um filho partido em pedaços. Eu tentei e tentei repará-lo, ele sequer se lembrava que tinha família. Simplesmente nos abandonou. Só ela existia pra ele. O meu filho fugiu de nós por medo dela, rodou o mundo por culpa, voltou com essa maldita doença, que não deixa de ser efeito desse namoro. Você faz parecer que a Lia te ama quase como ama o meu filho, e isso não a impediu de te fazer sofrer, de te destruir na primeira oportunidade. Você me desculpe, Juliana, mas mesmo você sendo tão próxima da Lia, ou justamente por isso, eu não vou mudar a minha opinião acerca daquela garota. Ela só vai complicar as coisas, ela só vai fragilizar ainda mais o meu filho. Ele já está sensível o bastante.

– Pois é justamente por causa dessa fragilidade que o Dinho precisa da Lia, Alice, você não percebe? A Lia dá forças ao Dinho, ela em alguns dias conseguiu implantar um sorriso naquele moleque que eu e o Lorenzo não víamos há semanas! O seu filho brilha perto dela! Ele se ilumina, ganha vida, que é justamente o que ele precisa. Não faz sentido implicar com os dois logo agora!

– Marcela, você é mãe. Aliás, e foi a própria Ju que me contou, você também teve que consolar o filho por causa da Lia, não teve? Sim, agora eu lembro bem... A Juliana estava se aproximando do Gilberto na mesma época em que aconteceu a traição... Eu me lembro de estarmos no sofá do meu apartamento e de você me dizer que tinha um quarto envolvido na história. Depois vocês até se juntaram pra atrapalhar os dois, não foi? E acabaram namorando...

– Coisa de adolescente, Alice. O Gil gostava da Lia, sim, mas ela sempre foi clara em relação a isso. Inclusive quando eles namoraram por um tempo o Gil sabia que era de mentira, que era justamente pra que ela fugisse do Dinho.

– E mesmo tendo um filho usado por ela, você insiste que a Lia não está usando o meu?

– Ela sempre deixou claro pro Gil que o namoro era de fachada. Ele me contou, não ela. O meu filho sabia onde estava se metendo.

– Olha, Marcela... Eu não sou você. Você pode ter sido conivente com esse tipo de comportamento da sua enteada, mas eu não serei. Eu não vou deixar que o meu filho sofra pela Lia de novo, sabendo que esses dias podem ser os últimos dele.

– Alice, separar o Dinho da Lia agora só vai piorar as coisas.

Marcela baixou o tom de voz gradualmente conforme percebia a fragilidade crescente de Alice. Era um assunto pesado para uma mãe. A professora se arrepiava só de pensar que poderia ser ela a passar por aquilo.

– Se era isso que vocês tinham a dizer, já podem ir embora. – Respondeu com a voz abalada.

Juliana e Marcela se entreolharam brevemente e consentiram. O que podiam fazer estava feito, estava dito, agora tudo dependia de Alice. Retiraram-se do apartamento, incertas quanto ao que esperar.

–x-

– Lia, a sua sogra não é fácil! – Marcela anunciou ao chegar em casa.

Ex–sogra. E não, ela não é...

Sentada à mesa de jantar, a roqueira ainda tentava digerir a conversa que tivera com Fatinha. Sentira-se mais leve ao se deixar assumir aquilo contra o qual lutava, mas não podia. Ainda não era hora.

– Lia, eu espero que você não se importe, mas a gente foi atrás da Alice. – Ju confessou-lhe.

– Vocês o que?!

– É, pareceu ser o certo a fazer... Eu não podia deixar que a Alice seguisse contra vocês.

– Marcela, da minha relação com o Dinho e do que pensam dela, cuidamos nós.

– Lia Martins, a Marcela só quis ajudar. Não é assim que se agradece.

– Da sua relação com o Dinho? Então você já está falando abertamente disso? – Ju provocou.

– Não é da sua conta, Juliana.

– Olha, até onde eu me lembro, é bem da minha conta, sim, dona Lia.

– Que seja, eu vou tomar banho. – Resmungou irritada.

Lorenzo tentou conter o riso. Sua filha conseguia ser tão dramática mesmo sem querer...

– Alguém trocou de idade com a Tatá... – Ironizou.

–x-

– Lembrou que tem mãe? – Alice recebeu o filho friamente em seu apartamento.

Tico e Mario se retiraram assim que perceberam o tom severo na voz de Alice.

– A sua sogra veio com a Ju falar comigo. Eu fiquei me perguntando em que eu falhei como mãe para até a sua ex-namorada, que você traiu na frente do colégio inteiro, diga-se de passagem, e a mãe do outro corno da história virem me visitar e você não.

– Mãe, não é bem assim... A gente passou várias tardes junto...

– Ah, sim, aquelas tardes... Enquanto isso você passa dias e noites com eles, que nem sua família são.

– A senhora pode ter esquecido, dona Alice, mas o Lorenzo é o meu médico, eu preciso estar perto dele caso aconteça, e, quando não for possível, perto da Raquel. Eles me deram esse dia de folga pra que eu passasse com vocês, mas é uma exceção. Eu preciso estar sob cuidados médicos, infelizmente.

– Ah, sim, cuidados médicos... Realmente, você deve estar tendo um ótimo repouso dormindo com a Lia.

– Mãe, por favor, não entra nesse assunto...

– Olha, Adriano, eu não aguentei as duas defensoras da sua namorada falando desaforos aqui em casa pra não entrar no assunto.

Ex–namorada.

– Ah, é, eu me esqueço que ela sequer tem coragem de assumir o que vocês têm... Meu filho, eu só não quero que ela te faça de palhaço.

– Isso não vai acontecer.

– Ah, não? Não vai? Então por que ela continua se afastando quando você chega mais perto? Por que eu a encontro em cima de você naquele sofá e horas depois você me diz que vocês não têm mais nada? Vocês estão morando juntos há sei lá quanto tempo e ela ainda não se deu ao trabalho de assumir o que quer?

– A Lia é assim, ela é muito insegura em relação a essas coisas, não sem razão.

– Você já não pagou um preço alto demais pelo que vez? – Alice protestou com a voz embargada. – O que custa a ela deixar de te ver como, deus me perdoe, um brinquedinho com o qual ela pode brincar até estragar de vez?

– Não é assim... – Arrepiou-se ao notar o tom trêmulo que sua voz adquirira. – Ela... A Lia, ela... Bom, eu... Eu errei muito e... Ela já era difícil, lembra? Antes... Tem toda a questão da Raquel e... E...

– Dinho, me dói muito dizer isso, mas quanto tempo você acha que ela vai ter pra ser mulher de verdade e tomar uma atitude? Porque, do jeito que ela brinca com isso, ou ela sabe que não terá tempo algum e só quer te usar enquanto ainda pode, sem ter que assumir o risco de sofrer por isso depois, ou por algum sentimento de culpa, ou ela acha que você tem todo o tempo do mundo, e isso, infelizmente, nem o doutor Lorenzo pode garantir. – Controlou a voz até que segurar o choro se tornasse uma tarefa impossível. Detestava tocar no assunto, mas era indispensável. Precisava fazer com que Dinho entendesse, nem que tivesse que lembrar da fatídica doença e do motivo pelo qual se desesperava por ele.

– Eu não... O que você quer que eu faça? Eu não vou forçar a Lia a nada, nem vou usar essa maldita doença como chantagem. – Esfregou o braço contra os olhos, tentando disfarçar o quão frágil as palavras de sua mãe lhe haviam deixado. Como cobrar de Lia que agisse como uma mulher, quando ele mesmo ainda era um moleque apavorado?

– Nem eu quero que você baixe o nível a esse ponto, meu filho, eu só quero que você bote a Lia contra a parede, de uma vez por todas. Se ela te ama tanto quanto a Marcela, a Ju, e até a própria Lia diz que te ama, se esse sentimento que elas juram que existe for real, ela vai te responder. Ela vai ter que tomar uma atitude. Desse jeito não dá mais! Vocês só vão se ferir mais ainda! Ela, por não ter amadurecido a tempo, e você, por amargar essa dúvida, esse relacionamento pela metade, até... deus sabe quanto tempo você ainda tem! – Alice quase não terminou a frase, desabando em frente ao filho, completamente despedaçada.

– Tempo suficiente, mãe... – Dinho a abraçou com tanta força quanto carinho. – O que for pra ser, será. Se eu sobreviver a isso vai ser maravilhoso, e eu torço muito por isso, e se não der... Se eu morrer amanhã, ou depois de amanhã, eu só não quero que você pense que eu deixei vocês por ela, ou que eu não sei o que eu to fazendo. Eu cresci. Eu sei que você gosta de acreditar que eu ainda sou aquele garotinho da idade do Tico que brigava com o Orelha até na hora de escolher com qual bola jogar futebol, mas eu cresci. E que é difícil de acreditar, eu entendo. Eu ainda sou o mesmo que preferiu fazer uma viagem à África ao invés de enfrentar a merda que deixou aqui. Fisicamente... Tá bom, eu sei que eu tô mais magro e que o cabelo... Tá levemente diferente, digamos. – Sorriu ao escutar a risada discreta de Alice. A mãe passou a mão pela sua cabeça áspera, agora totalmente coberta pelos fios mais curtos. Tão curtos que sequer se saberia se eram lisos ou crespos. – Se eu mudei pra pior fisicamente, eu definitivamente amadureci. Pode soar meio pretensioso, mas é verdade. Olhando pra trás, eu mal acredito no quão criança eu era até o ano passado.

– Pior? Você continua lindo, meu filho. – Alice o interrompeu.

– E você continua a mãe coruja de sempre... – Sorriu. – Você sempre vai ser única pra mim, dona Alice. Mãe eu só tenho uma.

– Você continua o mesmo conquistador e eu ainda não aprendi a te dizer não... Eu só espero que você realmente saiba o que tá fazendo, ok? Se eu tiver que te consolar por causa dela de novo, ela vai se ver comigo.

– Pode deixar. Se a Lia aprontar, ela vai se ver com todos vocês, eu deixo.

– Você vai falar com ela?

– Talvez. – Respondeu para uma Alice cética.

– Em todo caso, você pede desculpas a ela por mim? Eu me sinto sem graça de ir à casa do Lorenzo depois do que eu falei da filha dele...

– A gente vai dar um jeito também nisso, dona Alice, relaxa.

– Você continua sendo o melhor filho do mundo.

– E você a melhor mãe, mesmo quando apronta contra a minha namorada.

Ex–namorada.

– Isso. – Sorriu meio sem jeito. Gostava de esquecer a primeira parte.


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Notas finais do capítulo

Espero que pra vocês tenha valido a pena esperar, como pra mim valeu esperar a ideia chegar. Vou tentar atualizar todas nessas férias, vamos torcer. Bjos e muito obrigada por seguirem com a fic, estou louca pra reencontrar vocês nos comentários. Um shout out pra Cris e pra Luiza que ficaram implorando pela atualização