Vitor era o namorado perfeito: fiel, querido, fofo, bonito, educado, gentil... O cara que jamais a faria sofrer, diferente de seu ex, mas não parecia ser suficiente. Lia continuava se sentindo vazia, a mesma sensação de sede que a assombrava desde a partida de Dinho e não entendia o motivo. Talvez por carência física, afinal, Vitor era tão “príncipe” que a tratava como uma donzela, apenas com beijinhos e abraços. A roqueira estava subindo pelas paredes há quase um semestre sem sexo e precisava urgentemente de um homem, ou melhor, dEle. Dinho a agarrava como ela gostava, com fome e fúria e, ao mesmo tempo, amor e carinho. Sabia beijá-la como ninguém. Tentou esquentar as coisas com Vitor, mas o garoto parecia tentar fugir, tirava as mãos de Lia como se quisesse preservar sua pureza, mas a namorada queria justamente o contrário. Não agüentava mais, iria transar com Vitor aquela noite! Nem Marcela pôde convencer Lorenzo a deixar o garoto dormir com Lia, mas desde quando ela precisava de autorização e tinha que ser à noite? Dinho jamais pediu autorização e eles viviam dormindo juntos, arranjaria um jeito com o moreno de olhos azuis. Transaria com ele à tarde, trancados no quarto, enquanto Lorenzo estivesse trabalhando, mesmo sob protestos do motoqueiro, que não era de quebrar regras.

Estava com Vitor em seu quarto, era agora ou nunca. Beijava o garoto tentando convencê-lo, segurando suas mãos em seu corpo para que o moreno não as tirasse de Lia, quando uma voz e o grito surpreso de Marcela a fizeram se afastar bruscamente.

-DINHO??? – Marcela não podia conter a alegria de ver seu ex-aluno outra vez, mas se preocupava com a reação que sua enteada teria ao vê-lo.

Lia se aproximou da porta para ouvir melhor, enquanto a voz distante de Vitor a questionava.

-Você tem certeza disso? – perguntava o pai da garota, apreensivo.

-Mais do que tudo, dr Lorenzo. – respondeu o aventureiro, olhando diretamente para Lia, que havia entrado na sala sem perceber, hipnotizada pela voz que tanto sonhara escutar outra vez.

Dinho estava mais bronzeado, efeito da África, com os cachos mais curtos e sua barba falha menos aparada do que se lembrava. Seguia magro, como antes, mas parecia menos saudável, provavelmente culpa da alimentação de marujo. Apesar das mudanças, o brilho no olhar ao vê-la seguia o mesmo, mas com uma melancolia que não era exatamente a tristeza de quando terminaram, mas uma aparente fragilidade e saudade visível de sua marrentinha.

Era um sonho? Só podia ser um sonho, como tantos outros que tivera. Hipnotizada por seus sentimentos e pelo olhar do garoto, não mais agüentando a sua falta, Lia não pôde se conter e correu para os seus braços. Os braços fortes e seguros de Dinho, não os titubeantes de Vitor. Não conseguiria estar mais um minuto longe daquele abraço. Ignorando todos os presentes e acreditando ser uma ilusão do mundo de Orfeu, levou o ex-namorado a seu quarto, correndo, e lá o beijou como tanto desejara. Dinho a beijava com tanta paixão quanto ela e logo a estava jogando contra a parede e beijando seu pescoço, enquanto a garota tentava tirar sua camisa. Em poucos segundos, estavam na cama, esquecendo completamente o mundo à sua volta, mergulhados no “sonho” que os perturbou por tantas noites.

Deitava sua cabeça no ombro de Dinho, abraçada por seu corpo nu, deitados em sua cama. Fechou os olhos por um momento, cansada, e os abriu novamente. Estranhou a presença de Dinho ao seu lado, pensava ter acordado do sonho. Ou era mesmo um sonho?

-Dinho, por favor, me diz que isso não é verdade.

-Como assim?

-Eu não estou sonhando, quer dizer, eu não estava sonhando!

-Lia, por mais que eu seja realmente um sonho, você estava perfeitamente acordada até alguns segundos atrás. O que é inacreditável, nunca pensei que você fosse me perdoar tão rápido e tão... bem! – riu.

-Eu não te perdoei!!! – Lia se afastou de um salto da cama e começou a se vestir, arrependida e vermelha.

-Não foi o que pareceu... – Dinho também já começava a se vestir.

Da sala, ouviu-se o grito de Lia e todos se acalmaram: ainda estavam vivos e, de fato, conversando - ou melhor, discutindo. Lorenzo, no entanto, para surpresa de Marcela e de Vitor, preocupou-se e decidiu intervir. Adentrou o quarto sem pensar duas vezes, sem sequer reparar na cama desfeita e no estado bagunçado de Dinho e Lia, restando essa observação silenciosa para um Vitor surpreso e decepcionado.

-Lia, você não pode gritar assim com o Dinho! Eu sei que você o odeia e que tem todo o direito de descontar sua raiva, mas não é o momento!