Era apenas mais um dia de aula, um dia particularmente terrível. Hoje teria um teatro e como minha classe -que iria apresentar o teatro- é muito organizada, a decoração estava sendo feita hoje.
Eu só esperava que o pessoal que iria atuar tivesse decorado as falas. Sinceramente, fazer um roteiro dava trabalho. E muito.

Me assustei quando a professora Trinket veio correndo até mim dizendo:

-Katniss, querida, você poderia vir comigo por favor?
É completamente urgente!- ela parecia estar desesperada.

-Claro professora.- falei, embora meio desinteressada, não era como se eu tivesse feito mais do que o roteiro.

Rapidamente chegamos ao ginásio, onde havia uma espécie de palco que era o local em que iriamos fazer a peça.

Peeta Mellark, o garoto mais lindo a popular da escola lia atentamente sua parte do roteiro. Ao menos um popular que pensa.
Já Glimmer, a loira mais linda -e burra, diga-se de passagem- do colégio andava de um lado para o outro, gesticulando a gritando:

-E eu lá vou me preocupar com algo tão insignificante como um teatrinho?! Eu tenho mais coisas para fazer! Eu tenho que fazer minhas unhas, arrumar meu cabelo, ir ao shopping e assistir televisão!
Acham que eu realmente tenho tempo para ficar decorando as falas de um peça idiota?!

Suspirei. Como alguém podia ser tão fútil como Glimmer?
Ela se acha só porque seu corpo faz sucesso com os garotos da escola.
Talvez o único com quem ela não conseguiu ficar tenha sido Cato, que aliás é meu melhor amigo e apanharia se ficasse com ela.

-E agora, Katniss, o que nós fazemos?!- perguntou a professora Effie, desesperada.

-Ãhn, eu não sei, Glimmer foi a única que leu o roteiro do papel dela... Eu sinceramente estou sem idéias.- Glimmer aliás foi quem a sala escolheu para contracenar com Peeta, que estava no papel principal.
Quem dera eu tivesse a sorte de ser bonita como ela e finalmente ser notada por ele. Acho que isso é um clichê, sabe?
A nerd sem graça da sala se apaixonar pelo popular lindo e maravilhoso.

Ele já foi meu amigo, quando nós erámos crianças. No meu primeiro dia ali ele foi o único a falar comigo. No mesmo dia ficamos amigos, passando a andar para todos os lados juntos. Alguns diziam que éramos namorados na quarta série. Olhando agora, isso é hilário. Depois de algum tempo nos distanciamos e isso fez com que eu ficasse sozinha até a chegada de Cato na escola, na oitava série.

-Professora, eu tenho uma idéia- Percebi alguém atrás de mim falando. Me virei rapidamente, vendo Peeta, que me encarava. Senti meu rosto esquentar, mas ignorei.

-Sim, Peeta, querido? Qual a sua idéia?- perguntou Effie, ela tinha essa mania de nos chamar de "querido" ou "querida".

-O que a senhora acha de Katniss ficar no lugar de Glimmer? Ela com certeza sabe todas as falas, já que foi ela quem fez o roteiro.-ele falou, me surpreendendo. Eu não sei atuar.

-E-ei, mas eu n- Effie me interrompeu.

-Sim sim sim, com certeza é uma ótima idéia.
Rue, você poderia levar Katniss até o camarim e mostrar a roupa que ela vai usar, por favor?

-Claro professora- falou uma menina que parecia ser um pouco mais nova que eu. Talvez dois ou três anos.
Fui guiada rapidamente até uma sala atrás do ginásio que estava cheia de roupas.
Rue pegou um vestido azul e me entregou. Murmurei um "obrigada" e fui para o banheiro feminino me trocar, pensando na enrascada em que havia me metido.

Logo que entrei no ginásio comecei a tremer. Realmente, eu havia entrado eu uma bela enrascada, mas pensando por outro lado, talvez essa fosse a grande chance para que Peeta me notasse.
Apesar de tudo, eu era apaixonada por ele.

Caminhei lentamente para o palco, subindo a pequena escada. Sorte que era apenas um ensaio.

Uma música começou a tocar de um piano perto do palco .
Just a kiss - Lady Antebellum.

Eu sabia que tinha que cantar, por mais que quisesse sair correndo dali.

Comecei, com a voz clara:

 

Lyin' here with you so close to me

It's hard to fight these feelings

When it feels so hard to breathe

I'm caught up in this moment

Caught up in your smile

E então Peeta começou a cantar, sempre me encarando enquanto andávamos formando um circulo:
 

I've never opened up to anyone

So hard to hold back when I'm holding you in my arms

Nessa parte nos aproximamos, ele nunca deixava de me encarar. Pegou minha mão rapidamente, e girou comigo pelo palco.

We don't need to rush this

Let's just take it slow

Just a kiss on your lips in the moonlight

Just a touch in the fire burning so bright

And I don't want to mess this thing up

I don't want to push too far

Just a shot in the dark that you just might

Be the one I've been waiting for my whole life

So baby I'm alright, with just a kiss goodnight

Comecei a cantar sozinha, ao me separar dele, que já estava do outro lado do palco.
 

I know that if we give this a little time

It will only bring us closer to the love we wanna find

It's never felt so real

No, it's never felt so right

Agora estávamos cantando juntos, enquanto nos aproximavámos.

Just a kiss on your lips in the moonlight

Just a touch in the fire burning so bright

And I don't want to mess this thing up

I don't wanna push too far

Just a shot in the dark that you just might

Be the one I've been waiting for my whole life

So baby I'm alright, with just a kiss goodnight

No I don't wanna say goodnight

I know it's time to leave

But you'll be in my dreams

Tonight

Tonight

Tonight

Logo estávamos perto novamente, dançando como no início.
 

Just a kiss on your lips in the moonlight

Just a touch in the fire burning so bright

And I don't want to mess this thing up

I don't wanna push too far

Just a shot in the dark that you just might

Be the one I've been waiting for my whole life

So baby I'm alright

Oh, let's do this right

With just a kiss goodnight

With a kiss goodnight

Kiss goodnight

Peeta sorriu ao final da música e murmurou:

-Eu senti sua falta, Kat.

-Eu também senti sua falta.- murmurei, com um sorriso leve.

Logo a professora nos interrompeu, dizendo que havia ficado lindo, perfeito e maravilhoso.

As outras pessoas que iriam fazer parte da peça ensaiaram em cerca de vinte minutos.

A peça começaria em dez minutos, e eu tinha certeza que eu conseguira interpretar melhor que a loira aguada -ou seja, a vaca da Glimmer- jamais iria interpretar.

Percebi que as pessoas estavam chegando rapidamente, todas se empurrando, tentando achar um bom lugar. Ótimo, eu estava ficando nervosa novamente.

Respirei fundo.
Percebi que Glimmer me encarava com raiva. Provavelmente a idiota nem sabia que iria contracenar com Peeta. Ponto para mim.

Tudo começou a passar rapidamente, e logo eu estava sobre o palco, cantando aquela música novamente. Estranhamente, eu nem percebia a platéia nos assistindo, apenas conseguia prestar atenção em Peeta. Mais precisamente, nos olhos dele, que sempre tiveram o estranho poder de me acalmar. Sorri, ao perceber que a música havia acabado.

Nós saimos do palco e fomos para a sala que estava sendo usada de camarim.
Me sentei em um sofá minusculo que havia ali e ele se encostou na parede a minha frente.
Um silêncio tenso entre nós. Ninguém falava, ninguém se encarava.

Suspirei. Eu não sabia o que falar. Talvez perguntar se ele havia gostado da música, ou o que achava do penteado da professora. Sim, perguntas ridículas.

Ele riu, parecendo lembrar de algo.

-O que foi?
-Eu estava lembrando de quando você quase desmaiou ao ter que cantar na frente da sala em uma das aulas de música.

Revirei os olhos.

-Não precisa me lembrar de momentos constrangedores.
-Momentos, aliás que você tem de sobra.- falou andando em minha direção e se jogando no sofá ao meu lado. Mal havia espaço para mim!
Ele se espremeu, passando o braço ao redor dos meus ombros. Como fazia quando éramos crianças.

-Como tudo mudou?- perguntei, me arrependendo logo em seguida. Ele suspirou, fechando os olhos.

-Eu sinceramente não sei... Talvez tenha sido quando os grupinhos começaram a se formar e os populares me arrastaram para o grupo deles... Eu realmente... Não sei.- fechei os olhos, não queria ver seu rosto agora.
Não sei porque, mas às vezes me sinto meio culpada por termos nos distanciado.

Após um momento de silêncio, ele disse:

-Hey, você acha que poderiamos voltar a ser amigos como antes, Kat?
-Acho que sim.
-E mais que amigos?
-O que você quer dizer?- perguntei, abrindo os olhos rapidamente.

Ele lentamente abriu os olhos, me encarando.
Sorriu. Devo admitir, senti muita falta daquele sorriso. Um sorriso que era somente meu.

Ele simplesmente se aproximou e me beijou. Sim, exatamente isso.

Você deve estar se perguntando o que aconteceu depois disso.
Depois disso nós começamos a namorar, terminamos a escola e cerca de quatro anos depois nos casamos.
É obvio que brigamos, e bastante, mas isso não nos impediu de continuarmos juntos.

Talvez, isso seja o amor.