Não Olhe Para Trás escrita por Mnndys


Capítulo 10
A verdade




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Não é como se os dois não desconfiassem, mas eles verem ou quase verem algo era diferente. Era constrangedor. Deviam estar pensando o que estava acontecendo entre mim e Ethan, algo que nem eu mesma sabia.

Kate começa o caminho de volta para sala e Ethan faz o mesmo seguindo-a. Ficamos eu e Elliot na cozinha.

- Nenhum comentário. – Digo assim que eu vejo um sorrisinho em seus lábios. – Pega o sal para mim.

Ele faz o que peço e logo estamos conversando sobre a festa, distraindo-nos dos recentes acontecimentos.

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Era óbvio que ao final do filme estávamos cansados e com sono. Elliot sugeriu que todos dormissem em casa, no inicio Kate foi contra, estava sem graça, mas por fim acabou cedendo. Ficou acertado que ela e Elliot dormiriam no antigo quarto dele, e Ethan no quarto de hóspedes.

Subimos todos juntos e entramos nos quartos.

“5 minutos.” Leio a mensagem no celular, foi Ethan quem enviou. Fico feliz de que a proposta continue em pé. Coloco um vestido mais soltinho e saio. Ele está lá parado do lado de fora do quarto.

Nós tentamos sair em silêncio para não sermos surpreendidos por ninguém. Me sinto uma adolescente saindo escondida de casa para encontrar um namoradinho.

Vamos com o novo carro de Ethan, o seu adorado Kia Cadenza.

- Você ainda não disse aonde vamos? – Pergunto assim que o carro começa a andar.

- Passear. – Ele diz casualmente.

- Está tentando me deixar curiosa?

- Isso não é muito difícil Mia.  – Diz e eu faço beicinho. – Não faz beicinho.

- Ou então o que?

- Ou levo você de volta para casa.

- Duvido. – Digo para provocá-lo.

- É eu não levo. – Confessa. Só que em seguida complementa: - Mas talvez eu morda esse lábio com tanta força que você nunca mais vai querer fazer esse beicinho. – Ameaça.

O pensamento de Ethan fazendo isso me desperta totalmente e meu corpo fica em chamas. Aproximo-me sugestivamente dele, praticamente oferecendo meus lábios.

- Eu estou dirigindo, isso com certeza ia tirar minha atenção. – Ele diz.

Dou um sorriso pra ele, para depois me encostar de lado no banco, a fim de que pudesse ficar o admirando.

Minutos depois está estacionando o carro. Olho pela janela e vejo que estamos em Alki Beach.

- Praia? – Pergunto.

- Eu gosto de praias. Me acalmam.

Ethan pega uma garrafa de espumante que estava no banco de trás do carro e caminhamos até as rochas que cercam o mar. Abro os braços, fecho os olhos e inalo o ar.

- Adoro o som das ondas. – Falo.

- Eu também.

Ele está sentado já e eu me junto a ele. Parece meio nervoso.

- Ethan você não precisa falar nada, se não quiser. – Digo, querendo evitar que ele se sentisse pressionado.

- Eu te magoei? Te fiz chorar em algum momento? – Ele pergunta, parecendo ignorar minhas ultimas palavras. – Seja sincera.

Talvez eu devesse mentir, mas não é algo que eu considerasse naquele instante.

- Sim. – Respondo. – Lá em casa, no dia do pneu. – Completo. – Mas já ficou para trás Ethan.

- Não, não ficou. Me desculpe. – Ele diz suavemente enquanto passa a mão em meu rosto. Estamos sentados um de frente para o outro. – Eu fiquei tentando evitar isso e nem percebi que já havia feito.

- Por que quis evitar? – Falo. Ele abaixa a cabeça e fica assim por um longo tempo. – Olhe pra mim.  – Peço.

Ele não me atende e começo a ficar agoniada. Sentia que estava invadindo o espaço dele, que estava fazendo-o se aproximar de algo que não queria lembrar.

Pego o espumante que está entre suas pernas, abro e tomo um gole no bico da garrafa. Ethan começa a me olhar, então ofereço a garrafa. Ele a pega e bebe.

- Na faculdade eu tinha uma namorada, eu era louco por ela. – Começa a contar. Me sinto desconfortável de repente, não sei se era bom ouvir ele falando da ex dele. – Estávamos fazendo planos de nos casarmos e eu achava mesmo que estava tudo ótimo. Até que ela me traiu.

Minha boca se abre em O surpresa. Não acreditava que existia nesse mundo uma mulher que fosse capaz de fazer isso com Ethan.

- É óbvio que a gente terminou. – Ele prossegue. – Mas eu fiquei muito mal, e não me orgulho disso. Estava comendo mal, dormindo mal e bebendo um pouco demais, até que fui parar no hospital. – Diz tudo meio sem jeito, com vergonha.

Ethan frágil não era algo que eu pudesse imaginar facilmente, mas só de pensar eu me sentia triste e piedosa, quero abraçá-lo, mas me contenho, não acho que ele iria gostar disso.

- Depois que sai daquele hospital, veio uma nova fase, não é muito difícil se deixar influenciar quando você quer isso. Eu só me tornei um típico mauricinho idiota, saindo todas as noites e pegando todas as mulheres possíveis. Eu só queria ser livre e recuperar todo o tempo que havia perdido preso a outra, mas acabei indo longe demais com a brincadeira. – Ele faz uma pausa. – Cheguei a usar drogas, mas como já disse eu não me orgulho.

Imagino se meus pais e irmãos soubessem disso, julgariam Ethan uma má influência, eles tinham aversão a drogas. Eu também. Em outra situação estaria dando um discurso sobre o quão idiota é alguém que faz isso, mas não podia fazer isso agora.

- Para minha sorte tive meus pais e a Kate. – Ele sorri quando diz o nome dela. – Eles não me deixaram ficar pior. Nesse momento descobri que não precisava ser o chorão e nem o cara mal, só precisava achar um meio termo.

- E o meio termo foi ficar longe de relacionamentos? – Pergunto sem pensar muito. Mais um de meus impulsos.

- É. – Ele admite. – E foi fácil, porque não olhei para ninguém, nesse tempo todo, de modo especial, para mim todas as mulheres que conheci depois da... – Ele para. – Depois dela não significavam nada, só sexo. Estava tudo bem até conhecer você.

- Ai você queria se afastar. – Deduzo.

- Exatamente. Eu não consigo pensar em relacionamento sem pensar em traição, enfim, em sofrimento. – Diz.

Fazer Ethan sofrer, traí-lo, ou outras coisas do tipo estavam fora de cogitação. Apesar disso sabia que não ia convencê-lo só com palavras, porque era uma questão de tempo e de confiança. Eu não poderia exigir isso de um dia para o outro.

Me movo lentamente para o seu lado, tiro a garrafa de sua mãos e a coloco de lado, para então me sentar ali de costas entre suas pernas. Encosto minha cabeça em seu peito.

- Você não vai falar nada? – Ele pergunta enquanto me abraça.

- Quer que eu fale alguma coisa? – Pergunto.

- Acho que não. – Ele diz.

- Que bom. – Digo e vou me aconchegando ainda mais nele. – Gosto de ficar assim.

- Eu também gosto.


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