A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 1
O Despertar


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo. É muito importante que deem aqui suas opiniões e tal. Faria minha vida melhor, é sério. Espero que gostem e qualquer coisa, MP.



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Ariella

Doze anos atrás

– Vitória, não confie em ninguém. – Minha mãe sussurrou, levantando-se de seu leito. Ela ainda estava machucada, com queimaduras nas pernas e nos antebraços, mas iria melhorar, segundo os curandeiros. Melhorar do corpo, não do coração. Não, isso seria impossível.

Eu não sabia por que ela me dissera aquilo. Eu não entendi.

– Mãe, onde estão meus irmãos? Onde está o pai? Mãe, eles não estão mortos, não podem estar! Eles vão voltar...

– Vitória...

– Eu vou até o limite da cidade e os encontrarei brincando lá, como sempre fazem. Meus irmãos devem estar lá...

– Vitória Ariella! – Ela chamou um pouco mais brava. Eu nem notara suas próprias lágrimas ou seu olhar perdido. – Eles realmente se foram...

Minha mãe estava louca. Era essa a verdade. Louca. Seu olhar estava vazio como um espelho, que refletia apenas as minhas emoções. Todo o meu desespero e a minha tristeza. Ela pousou a mão em meus cabelos. Eu estava sentada a seus pés, os braços envolvendo seus joelhos.

– Mas...

– Não há o que fazer filha. Não há o que fazer, não há o que fazer, não há o que fazer...

Um soluço saiu de minha garganta.

Por que ela se repetia? Por quê? Por que ela olhava para o nada como se lá a nossa família estivesse escondida?

Então, eu mesma olhava para o nada. Meus irmãos... Meus irmãos tentaram me ajudar... Eles tentaram me salvar... Tentaram me tirar daquele lugar, para que eu não morresse. Eles morreram. Nohan e Calais morreram. E meu pai. Meu pai foi com eles. Meu pai não está aqui, porque ele está morto. E os mortos não voltam mais.

A porta se abriu e minha tia entrou no quarto. Ela era rechonchuda e em nada se assemelhava com a minha mãe, que possuía uma beleza única, era gentil e amável.

– Sente-se melhor, irmã? – Minha tia perguntou. Segurava uma vasilha de água nas mãos. Minha mãe não expressou, no entanto, eu sabia que ela se irritara com a interrupção de seu luto. Mas a casa pertencia a sua irmã, assim não tinha o que reclamar. Nosso lar permaneceu intacto, porém não havia ninguém lá. E ninguém haveria quando retornássemos. Eles não estariam lá...

– Fisicamente, sim. Irei ao campo com minha filha, se me der licença. Precisamos conversar sobre o que aconteceu.

– Claro, apenas tomem cuidado. – Frase desnecessária. Ela não se importava conosco.

Saímos do quarto e eu ajudei minha mãe a descer as escadas. Não estava tão machucada quanto ela. Um arranhão aqui e ali. Foram três dias difíceis desde o ataque dos persas.

Saudamos o marido de minha tia e nos dirigimos para fora. Eu ainda pude escutá-la sussurrando para ele:

A fama e o poder que ganharíamos seriam grandes ao casarmos uma linda mulher com estes cabelos loiros e olhos azuis. Ela já encanta as pessoas agora, imagino quando crescer.

Não me importei. Sentia uma dor terrível no coração, uma dor que queimava, que ardia em meus olhos na forma de lágrimas. Contudo, as guardei para quando eu e minha mãe estivéssemos sós.

Não olhei para a cidade parcialmente destruída, para as pessoas correndo para reconstruírem suas casas, para os soldados andando com ataduras pelas ruas. O pior já passara e agora vinha a dor e a desolação.

Entramos fundo no campo de trigo, o qual ultrapassava minha altura e me ocultava. Minha mãe me segurava pela mão e não olhava para trás. Seus cabelos castanho escuros balançavam soltos. Eu me peguei os observando.

Então, numa minúscula clareira circular do campo, ela se sentou ao meu lado.

– Filha, olha para mim. É importante que escute e obedeça tudo o que eu mandar, entendeu?

Eu assenti. Consegui ver que ela mostrava uma expressão de coragem, de determinação, segurando seu pranto.

– Vitória Ariella - ela acariciou meu rosto – Há uma coisa que precisa saber sobre seu nascimento.

– Meu nascimento?

– Sim. E também há coisas no mundo que você não sabe e que precisa conhecer. Coisas sobre magia.

– Magia?

– Sim. Você precisa acreditar. Ouça bem: Não confie em ninguém, deus ou mortal, amigável ou não, até encontrar seu caminho. Não se renda e não pare por nada. E não acredite em tudo que as lendas dizem. Você acredita?

Eu pensei no que ela falou e me perguntei por que ela estava me falando aquilo. Por que não chorava a morte da nossa família? Ao olhar para ela, para sua expressão séria, entendi o que ocorria. Entendi que algo importante iria acontecer. Entendi que ela precisava me dizer aquilo por algum motivo.

– Sim, eu acredito. Vou seguir o que a senhora instruiu que eu fizesse.

Ela sorriu um sorriso triste e passou a mão em meu rosto e cabelos.

– Eu te amo, Ariella.

Um barulho de passos cortou a calmaria do campo. Não, não eram passos. Era uma corrida. Minha mãe se pôs de pé, mas eu permaneci sentada e oculta pela altura do trigo. Vi o rosto de mamãe empalidecer e levantei-me, contudo, não consegui enxergar o mesmo que ela.

Meu coração saltou. Eu reconheci o som. Soldados. Soldados estavam nos perseguindo. Mamãe olhou para mim, séria.

– Filha, corra para longe e se esconda. Eu vou ficar aqui e distraí-los.

– Mas mãe...

– Cumpra a sua promessa e obedeça ao que eu mandar. Você sente o caminho, siga-o. Seja corajosa, Ariella.

Assenti, assustada, e corri. A plantação alta me escondia de demais olhos. Eu estava nervosa, confusa. Eu não compreendia e principalmente temia por minha mãe.

Cheguei a uma elevação do terreno. Ali do alto, conseguia ver o pasto inteiro. Podia ver a silhueta dos soldados que cercavam minha mãe. Dois deles seguravam seus braços enquanto um terceiro postava-se a sua pela frente.

Arfei quando o soco a atingiu no estômago. Eu queria gritar. Queria correr até ela e salvá-la, mesmo sabendo que seria um esforço inútil. De alguma forma... Eu iria...

Meus olhos se encheram de lágrimas. O brilho da espada chamou minha atenção. A espada era empunhada por um homem. A espada perfurou minha mãe. A espada levou a vida dela.

Meus joelhos dobraram e meus olhos se arregalaram. Mãe! Eu não acreditava. Eu não poderia acreditar. Nem no momento que o corpo despencou, sem vida, no chão. Meu grito ficou preso na garganta. Eu tremia, tremia muito.

Ao longe, avistei a silhueta dos escravos da minha tia penetrando no campo. Eu teria que correr até eles e me salvar. Eu poderia correr até eles e me salvar. Talvez eu devesse fazer isso.

Mas não o fiz.

Senti que a ordem da minha mãe não se tratava disso. Meu lugar não era ali. Eu não ficaria com a mulher fútil e viveria no luto para o resto da vida. Eu não queria.

Então, dei as costas àquela cena e corri, as lágrimas escorrendo no rosto. Eu sabia que eles não me veriam. Eu sabia que não voltaria.

Tempo Atual

Passaram-se duas semanas desde que eu recebera a notícia. Na verdade, acho que eu suspeitava havia mais tempo, mesmo assim não me pronunciei. Existem ocasiões que o silêncio é melhor.

Formaríamos uma grande equipe, embora os infiltrados de verdade fossem apenas eu, Caeliora, Dreah, Valentine e Kyros.

A ideia me animava estranhamente e eu me repreendia por isso. Uma guerra acontecia e eu aqui, animada?

A verdade é: Eu adorara o fato de que verei o mundo um pouco, farei algo de útil. Foram muitos anos desde a última vez que pisei fora da ilha.

E nessa ocasião que Circe nos chamara.

Os deuses passaram dos limites, e nós precisávamos interferir.

Ouvimos rumores de nossos espiões, que certos imortais tramavam a queda de Zeus. Não sabíamos quem, ou se seriam vários, apenas que a guerra era certa.

Incrível é ver como combates entre deuses sempre refletem no mundo mortal. A quantidade de mortos era altíssima, e o número de cidades envolvidas também. Poucos locais entre os que falavam o idioma grego permaneciam intactos. Atenas entrou em rixa com Esparta novamente, e o fato piorava tudo ainda mais. Os macedônios desta vez também participavam e suspeitávamos que os deuses que causaram a guerra estavam entre eles.

Não que defendêssemos Zeus. Nós defendíamos a ordem, os mortais inocentes e toda essas pessoas que não tinham culpa de nada.

Então, se os deuses causavam uma guerra cujas escalas feriam a população, sabíamos que a hora de interferir chegara.

– No que tanto pensa, Ari? – Dreah me chamou. Ela e Caeliora apelidaram-me assim.

– Estou estranhamente animada, Dreah. Suspeito encontraremos lá fora bem mais que uma guerra. – Respondi com sinceridade.

– Também partilho disso, irmã. Posso ver sobre todos nós os ventos da mudança. Desconheço se bons ou ruins.

– Dreah, você acha que estamos realmente aptas para isso?

– Se não pensasse assim não iria. Ariella, você é uma das mais poderosas daqui, então, por que não estaríamos aptas para tal coisa? Treinamos durante anos.

– Estou ciente deste fato, mas verei novamente onde tudo acabou. – Declarei com tristeza. Irônico que a minha única insegurança quase impedia-me de ir era uma coisa tão pequena, tão fútil.

– Você vai conseguir ser forte, irmã. Venha, vamos dormir. Amanhã já partimos.

Caminhamos pelos corredores de pedra claros e transpassamos o templo dedicado a deusa Hécate, uma das poucas que reverenciávamos. A deusa da magia.

Dreah não é realmente minha irmã, contudo tínhamos laços suficientes para nos dizermos assim. Ela perdeu os pais para os mesmos soldados que tiraram minha família. Chegamos aqui juntas.

Caeliora é também minha irmã. Ela já vivia aqui quando aparecemos. Ela nos ajudou muito.

Eu estava no auge dos meus dezessete anos. Dreah, com seus cabelos cor de terra que caíam por suas costas como uma cascata, e a pele linda como um pêssego, aparentava jovialidade, era uns meses mais nova que eu. Caeliora era apenas um mês mais jovem.

Corremos, agora, por entre o local de refeições. Avistamos o homem viril e de aspecto simpático, o qual eu adorava, nos acenar enquanto comia alguns bolos. Ele nos treinara em luta com facas.

Respondemos o aceno e íamos correndo para fora, quando estancamos no lugar ao ver quem entrava no local. Circe, a mulher mais linda que eu conhecia.

Neste momento, porém, sua beleza amenizava-se por suas feições preocupadas.

– Minhas filhas – ela disse – Precisamos conversar.


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