_ Marquei de curtir uma balada com o Thomas e o Henrique mais tarde, vamos? - Guilherme convidou.

_ Acho melhor não.

_ O que vai fazer de melhor?

_ Vou dormir na minha antiga casa.

_ Na velha mansão Roccher?

_ Sim, acho que Bernardo e Valentina tão precisando de apoio , ficar naquela casa sem minha mãe , deve está sendo difícil.

...                                                            

O vento entrava pela janela do carro e fazia um leve arrepio em meu rosto no caminho percorrido por algumas lágrimas. A rua era  escura e estreita, com os galhos de árvores que invadiam a rua e cobriam a lua cheia no céu, em alguns minutos cheguei a entrada da mansão e o segurança da casa logo abriu o portão ao perceber minha presença, entrei e tive a sensação estranha de nostalgia e só então me dei conta que fazia um bom tempo que não pisava naquela casa.

No interior da casa, a sensação só intensificou. Cada parte e objeto de decoração da casa me lembravam de Clarisse, os jarros exuberantes de rosas perto do sofá, a luminária enorme estendida perto das escadas trouxe lembranças de quando criança  que consegui quebrar com um avião de brinquedo e Clarisse ficou furiosa.

Me distrai das lembranças com o celular vibrando no bolso da minha calça , com agilidade e facilidade o puxei e o visor indicava uma mensagem de Eduarda.

“ Vou dormir na casa da minha mãe , terei uma prova final do período na faculdade e não poderei pegar Nicolas na  creche  amanhã então essa missão fica para você.”

_ João? – Bernardo disse surpreso ao descer as escadas.

_ O que faz aqui?

_ Fiquei com saudade.

_ Não, sério. O que faz aqui? – Bernardo disse rindo.

_ Briguei com a Duda.

_ Parece que essa onda de azar nunca acaba não é?  - ele disse me servindo um copo de bebida e sentei no sofá ao seu lado.

_ Maldição da família Roccher?

_ Deve ser algo assim. Mas o motivo da briga foi Felipa? – Bernardo indagou.

_No inicio sim, mas depois ela veio com o papo que sou um irresponsável, imaturo , imprudente e etc.

_ Mas você é .

_ Obrigado pelo apoio, irmão.

_ Não me leve a mal, João. Mas seja sincero com você, tudo bem que ser desobediente e rebelde é seu estilo , você é ousado e isso bom , sempre foi uma das características que mais admirei em você , sempre tomou suas decisões e fez o que achava certo e nunca deixou nem nossa mãe influenciar você , eu sempre quis ter essa ousadia , mas nunca fui assim.

_ Eu sei e pensei que ela gostasse de mim por esse motivo também.

_ Ela gosta , sua ousadia é uma ótima característica , mas é diferente de ser irresponsável e imprudente. Você é pai agora e ela precisa que aja como um, ela precisa desse apoio.

_ Não sei se consigo ser assim, a parte do responsável e correto você sempre foi melhor.

_Claro que consegue, você é dono e presidente de uma grande empresa, conseguiu até colocar a empresa da nossa mãe no chinelo , isso não é mais difícil que ser um pai  ?

_ Eu não sei , eu não sou assim . Talvez ela escolheu o cara errado.

_ O que você ta querendo dizer com isso ? Não seja idiota . – Bernardo disse indignado.

_Acho que ela ta arrependida de..

_ Nem completa essa frase absurda , a Eduarda te ama sempre te amou , sempre foi você, João Vitor . Desde o primeiro dia de aula daquele ano , sempre foi você.

_ Nós dois sempre fomos diferente, você o irmão correto e eu o rebelde.

_ Ela ama você e admira sua ousadia, mas está na hora de amadurecer, não somos mais adolescentes.

_ Droga , ela disse a mesma coisa.

_ Então ? – ele riu e subiu as escadas e parou no meio dela.

_ Seu quarto ainda está do mesmo jeito , nossa mãe nunca mexeu nele , acho que ela tinha esperança de você voltar para casa . Seja bem vindo de volta irmão . – Bernardo voltou a subir as escadas e fiquei sozinho na sala.

_ Pena que voltei tarde demais . – falei enquanto tinha o retrato de Clarisse nas mãos.

...

Bati na porta do quarto de Valentia e como não tive respostas eu abri, ela estava dormindo tranquilamente, deitei ao seu lado e dei um leve abraço nela que acordou.

_ João Vitor ?

_ Desculpa , não queria te acordar.

_ Se eu soubesse que você voltaria para casa e me daria mais atenção teria pedido pra me sequestrarem  antes.

_ Não fala besteira , sua boba.

_Você está fedendo a bebida. – ela disse me empurrando da cama e cai no chão.

_ Ah garotinha insuportável. –falei pulando na cama e fazendo cócegas nela.

_ Para Vitor , por favor!! – ela gritava enquanto morria de rir.

_ Ei da para parar com o barulho , to tentando recuperar a matéria que perdi da faculdade. – Bernardo entrou no quarto irritado.

_ Desculpa, Bê. – Valentina disse carinhosa.

_ Desculpa ? Que nada! – Joguei uma almofada na cara de Bernardo que me olhou furioso.

E começamos uma guerra de travesseiro ali mesmo que se prolongou durante a noite.

...

Acordei e estava rodeado de plumas, Bernardo dormia no outro lado da cama e Valentina estava em cima de mim, a tirei com cuidado e caminhei ao andar de baixo da casa, havia por ali uma nova governanta que não conhecia que me recebeu com um bom dia e depois sumiu para outro cômodo da casa , sentei no sofá tranquilo e passava os canais da TV , olhei o relógio que estava pendurado na parede da casa e com o susto que tive deixei o controle cair.

Sai correndo e peguei a chave do carro e tentei dirigir o mais rápido possível, cheguei na creche de Nicolas , e  tentava me ajeitar olhando pelos vidros das janelas das salas que tinham no corredor do local , eu sai rápido demais e minha camisa ainda estava um pouco desabotoada e meus cabelos caiam sobre  a testas de tão bagunçados.

_ Oi , eu sou João Vitor pai do Nicolas , desculpa o atraso , eu vim pega... – disse meio que atropelando as palavras ao encontrar a mulher responsável pela creche.

_ Desculpa senhor, mas é que estava atrasado demais , então liguei para a mãe dele e ela já veio pegá-lo.

_ Ah tudo bem , obrigado pela informação. – disse saindo da sala e a mulher me respondeu com um sorriso simpático.

_ Ai, eu to ferrado. – exclamei ao imaginar a reação de Eduarda.

Respirei fundo e entrei no apartamento, Eduarda brincava com Nicolas com uma bola e me lançou um olhar frio ao perceber minha presença.

_ Eduarda , me perdoa. Eu não me lembrei e acabei me perdendo com o horário.

_Não fala nada , João.

_ Claro que tenho que falar . Eu errei me desculpa, não vai mais acontecer.

_ Sabia que o professor tomou a minha prova respondida pela metade porque tive que atender o telefonema de Pilar.

_ Eu perdi o horário é que acabei dormindo tarde, pois...

_ Pois devia estar em um bar bebendo com os meninos até tarde, considerando seu estado.

_ Não, Não... Eu to assim porque sai apressado pra ir à creche. Eu dormi na mansão com Bernardo e Valentina e dormimos tarde porque...

_ Não mente pra mim .

_ Espera , eu não to mentindo que papo é esse ?

_ Eu sei que estava em um bar ontem , o Gui foi até atrás de você.

_ Sim , mas não fiquei lá a noite toda. Nem acredito que acha que to mentindo pra você.

_ Você gosta de esconder muitas coisas de mim, porque não mentiria ?

_ Escondi muitas coisas de você pra te proteger, é diferente. – elevei a voz.

_ Não é tão diferente, no quesito confiança. – ela falou mais alto ainda.

_ Goool! – o grito de Nicolas entoou a sala quando ele chutou a bola e dizia rindo alegre e nos calamos diante a cena.

_ Eu não quero mais discutir ta ? – falei sentando no sofá observando Nicolas chutando a bola.

_ Eu também não.

_ Ótimo . – falei me levantando e aproximando dela.

_ Eu tenho que fazer um trabalho para recuperar a péssima nota que com certeza vou tirar na prova de hoje. – ela disse pegando Nicolas do chão que começou a chorar por ter que parar com a brincadeira.

_ Vou levar Nicolas pra ficar com a Camila . –ela disse pegando sua bolsa.

_ Eu não vou pra empresa ,hoje. Eu posso cuidar dele.

_ Acho melhor não. – ela  caminhou para perto da porta .

_ Qual é Duda? Eu posso cuidar do meu filho.

_ Será que pode mesmo ? Não foi isso que me mostrou pela manhã.

_ Eu não aguento mais essa situação entre nós dois. – falei a agarrando com cuidado pois Nick ainda estava em seu colo e a beijei, mas ela se afastou e recuperou o fôlego.

_ Eu tenho que ir , João. –ela disse fria.

_Duda , eu te amo.

_ Eu vou dormir na casa da minha mãe de novo, amanha ou outro dia nós conversamos. – ela abriu a porta.

_ Você não respondeu.

_ O que ?

_ O meu “ eu te amo”        

_ Eu ..Eu acho melhor nós..

_Nós o que ? – falei assustado.

_ Nós ficarmos um pouco separado por esses dias e  ficarmos mais calmos para conversar.

_ Eu não quero ficar longe de você.

_ Você supera , João .- ela disse fria.

_ Eu não consigo.                                             

_ Eu to atrasada. – ela disse fria e se soltou de meus braços e fechou a porta ao sair.

Sentei no sofá ainda abalado com tudo que estava acontecendo e o celular começou a tocar ignorei , mas o toque irritante persistiu e resolvi atender era Rogério:

_ Fala tio !

_ Ta sabendo que a audiência de Daniel foi marcada para semana que vem?

_ Já tão rápido?

_ Sim, eu tive influencia nisso, quero ver esse bandido logo condenado.

_Ótimo.

_ Você e Bernardo serão testemunhas então se prepare.

_ tudo bem.

_ Que voz é essa? Aconteceu alguma coisa?

_ Problemas com a Eduarda.

_ Tem algo a ver com a Felipa?

_ Também e por muitas razões.

_ Quais?

_ Por acaso virou meu guru do amor?

_ To tentando te ajudar garoto.

_ Ela disse que sou muito irresponsável, imaturo e outras coisas mais.

_ Só agora ela percebeu.

_Isso porque está tentando me ajudar.

_ Mais tarde eu passo ai para conversamos, agora tenho que resolver alguns assuntos com o seu pai.

_ Espera , meu pai?

_ Sim, vamos dar continuidade  a empresa Roccher , ela não pode acabar sua mãe não iria gostar.

_ Serão meus concorrentes?

 _ Falando nisso, poderíamos unir as empresas, o que acha ?

_ Desculpa, tio, mas minha sociedade é apenas com Manu.

_ Que pena, seria uma boa unir a família e acabar com essa guerra que criou com sua mãe.

_ Eu não sei , irei pensar nisso outra hora , não estou com cabeça pra isso.

(http://www.kboing.com.br/maria-gadu/1-1064198/)

Desliguei o celular e me joguei sobre o sofá e me concentrei na aliança de noivado na minha mão, e rapidamente enxuguei a lágrima que ameaçou percorrer meu rosto. Andei até a sacada do apartamento e lá embaixo Eduarda entrava em um táxi com Nicolas. Entrei no quarto e abri o guarda roupa e percebi que poucas roupas de Eduarda tinham ali e me dei conta que talvez o tempo separados pudesse ser mais que um ou dois dias.

O culpado de tudo era eu, e eu não saberia como viver mais sem Eduarda , nada vali todo dinheiro que eu tinha sem eles , minha felicidade se encontrava neles. Desci rapidamente e entrei no carro e segui o táxi de Eduarda que parou em frente do apartamento de Camila , Sua face ficou surpresa ao me ver descer do carro.

_ Aconteceu algum problema? – ela perguntou assustada.

_ Sim , um problema muito grave. – disse nervoso.

_ O quê ? – ela disse ansiosa

_ A mulher da minha vida ta me deixando.

_ É só um tempo pra gente se acalmar , essa nossa briga não ta fazendo bem pro Nick.

_ Eu vou mudar por você , mas não fica longe de mim , eu preciso de você.

_ João Vitor eu não to terminando tudo entre nós , é só um tempo.

_ Pra mim essa analogia de tempo é terminar, se não fosse assim suas roupas estariam ainda lá.

_ Eu não to terminando , mas respeita o meu tempo e se você disse que pode mudar, não muda por mim , muda pelo seu filho. Agora , eu tenho que ir . – ela disse entrando no apartamento.

_ Que droga , Eduarda ! – falei sentando na calçada.

Esperar no tempo os nossos destinos 
Não olhar pra trás, esperar a paz 
O que me traz 
A ausência do seu olhar 

Traz nas asas um novo dia 
Me ensina a caminhar 
Mesmo eu sendo menino aprendi 

Oh meu Deus me traz de volta essa menina 
Porque tudo que eu tenho é o seu amor 
João de Barro eu te entendo agora 
Por favor, me ensine como guardar meu amor ...