Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 50
Capítulo 50 - Desvantagem




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Enquanto Mateus comemorava mentalmente seu primeiro encontro em uma sala, Miguel estava na outra sala, observando a caneta que girava entre os dedos enquanto a voz do professor entrava em seus ouvidos e saia pelo outro. Mal sabia ele que Mateus tinha conseguido uma grande vantagem naquela disputa com Danieli como prêmio. Como seria sua reação? Bem, ele saberia logo.
- Tsc! Acho que não tenho mais nada pra decorar das minhas falas - comenta Leandro, que tampouco estava prestando atenção na aula.
- Sério? Que bom, já tá com tudo pronto? - pergunta Miguel, apesar de não parecer muito animado.
- Acho que sim...o difícil é representar mesmo...todas aquelas expressões e tal...
- Não quer ensaiar com a gente?
- O que? E atrapalhar vocês? Claro que nãããoo!!! - responde Leandro, num tom provocativo.
- Tsc. Como se acontecesse alguma coisa..
- Ainda não falou nada com ela, não é?
- Não...simplesmente não consigo falar. É muito mais forte do que eu...apesar de eu ter levado ela pra casa ontem
- Sério? E aí?
- Foi só isso..só descobri onde é a casa dela
- Bem, saber isso já ajuda no dia que você for fazer uma serenata pra ela
- Serenata? Eu não sei nem tocar latinha
- Hahuaha. Bem, mas se não fizer alguma coisa rápido aquele cara pode fazer
- Tsc. Nem me lembre - Miguel olha para o outro lado, numa expressão mal-humorada - Ele tinha que aparecer só para ferrar com a minha vida
- Calma. Se não fosse ele, provavelmente seria outro
- Você não tá me animando em nada, sabia?
- Tá. Tudo bem. Mas você disse que esse cara também não tem a menor ideia de como chegar nela, não é?
- É. Pelo menos isso
- Viu? Tudo tem um lado positivo
- Lado positivo? É...se parar pra pensar
- Claro que se vocês dois demorarem um terceiro com mais iniciativa pode aparecer e levar a mina...
Miguel já olha com uma cara de reprovação.
- Tá bom, tá bom. Parei
Sim. Miguel sabia do risco que estava correndo. Sabia que tudo aquilo poderia ser resolvido se ele simplesmente contasse tudo para a garota. Mas seus medos e paranoias sempre o impediam. Mas não dava tempo de procurar um terapêuta: se não agisse rápido, aquele Mateus, aparecido do nada, poderia tirá-la dele. Isso significaria vê-la nos braços de outro, sem poder fazer nada. Ver sua imaculada Danieli junto com outro não seria nada agradável. Tudo bem. Mesmo que ele não falasse nada até o dia de se formarem, provavelmente iria cada um para o lado e, automaticamente, Miguel esqueceria dela. Ela poderia ficar com quem quisesse, desde que longe dos olhos dele. Mas ali, na escola, todo dia, seria difícil. Isso não. Ele tinha que pensar num jeito de evitar que aquele dois conversassem de novo, mas como iria fazer isso? Sem contar que ele já estava bem atrasado nas notícias.
Na hora do intervalo, Miguel saía normalmente, olhando para o nada, até que, no meio do caminho, ele ouve uma voz o chamando.
- Ei, Miguel
Ele olha para trás e vê a Dani. Danieli. Ele abre um sorriso imediatamente. Só de ouvir sua voz, já animava seu dia.
- Bom dia - ela cumprimenta - Nem falei com você hoje
- Cheguei um pouquinho mais atrasado - ele responde encabulado.
- Ah, tá. E aí? Já melhorou?
- Melhorei?
- É. Ontem você estava tão avoado
- Ah, sim. É. Acho que hoje já estou bem melhor
- Que bom.
- E você? Ensaiando muito?
- Bastante. Mas esse fim de semana vou relaxar um pouquinho
- É?
- Já assistiu "Mistérios do Lago Noturno"?
- É um filme que acabou de lançar, não?
- Isso. Vou assistir esse fim de semana. Aquele seu amigo, o Mateus, me convidou - ela comenta, inocentemente.
Miguel fica pálido. Um suor gelado escorria sobre sua nuca. O que ela disse? Mateus a convidou? Impossível...aquele cara não era tão lerdo quanto ele pensava!
- Se quiser vir com a gente...nesse sábado à tarde. Vai ser divertido!
- Hã? Bem...eu...acho que poderia - ele mal conseguia pronunciar as palavras
- Se puder vai ser ótimo! Bom, deixa eu comprar alguma coisa, senão morro de fome. Até
- Tchau
Nos próximos dois minutos, Miguel ainda estava em estado de choque. O que ela disse? Aquele Mateus, aquele cara surgido das trevas, chamou-a para sair. Assim, na cara de pau? Como pode? Realmente não podia subestimar ninguém. E agora? Se ele tinha a manha de chamá-la para sair, ficar com ela seria um pulo!"Droga! Droga!", ele pensava, freneticamente, "Como pude perder assim?", pensava Miguel, como sempre, antecipando o sofrimento.
Nisso, ele ouve um estalo de dedos. Quem era?
- Ah, é você
- Sou eu - diz Paula, já com um rosto sério e entediado ao olhar para Miguel - Tá fazendo o que aí parado?
- Nada. Só descobri uma coisa
- Uma coisa?
- Pode ficar contente...a Danieli nunca vai ficar junto comigo afinal
- Hã? Tá falando do que?
- Um outro cara a convidou para ir ao cinema. Daí, o final é fácil de prever. Droga
Miguel já ia saindo, mas Paula o segura pelo braço
-Você deve estar falando do Mateus, não é?
- Você conhece ele?
- Sim. Eu estava perto na hora que ele a convidou.
- Que? Então você já sabe de tudo isso. Deve estar feliz da vida, não é?
- Você bebeu o que? Tá me acusando assim
- É claro...você nunca quis me ver junto com a Dani, não é?
- Nunca disse isso. Só disse minha opinião...e se quiser saber minha opinião sobre esse Mateus
- O que tem?
- Eu diria que ele também não combina em nada com a Dani
- Como? Então, você também é contra ele?
- Eu não sou contra nem a favor de nenhum de vocês. Eu só digo o que eu penso, baseada no relacionamento horrível que eu tive
Ah, claro. Aquela mesma ladainha do ex-namorado de sempre.
- Eu conheço aquele Mateus da época que era da equipe de xadrez. Assim como você, ele gosta muito mais de tecnologia e computadores do que livro e cultura clássica, coisas que a Danieli gosta
- Hã? Então
- É um cara igual a você. Ele convidou a Dani para assistir o filme "Mistérios do Lago Noturno"
- É. Era esse o nome do filme
- Esse filme tem várias indicações de crítica, mas o público-alvo das pessoas que possuem interesse nesse filme é, em sua maioria, feminino
- Feminino? Então
- Quando ele convidou a Danieli estava, por coincidência, segurando o livro que esse filme foi baseado. Na certa ele deve ter assistido o trailer do filme, achado bom e a convidou por impulso.
- Você acha?
- Já vi cenas parecidas antes...eu não conheço bem aquele cara, mas dá para perceber que ele também não é ele mesmo.
Miguel fica em silêncio por alguns instantes. Aquela Paula tinha uma habilidade formidável de ler as pessoas. Seria uma psicóloga tão boa quanto a Camila. Se pelo menos fosse mais simpática.
- Em resumo, você também acha que esse Mateus não serve para a Dani
- Você fala como se eu fosse a mãe dela. Olha, eu só falo a minha opinião. Com quem a Dani sai ou deixa de sair é problema dela. Eu só não queria que ela sofresse como eu sofri - diz Paula, provavelmente lembrando do passado.
- Você...desculpa eu falar...mas você julga as pessoas baseando no que uma única pessoa fez
- Hã?
- Só porque seu ex-namorado era falso, não quer dizer que todos sejam. Uma pessoa não pode estar interessada em aprender com a outra? Ela não pode se interessar por coisas novas?
- Você se interessa pelas coisas da Dani?
- Hã? - agora Miguel que estava na parede
- Responde se você é sincero consigo mesmo. Fala que você está fazendo teatro, sendo protagonista daquela peça, passando por tudo isso, porque você realmente está gostando, está se interessando. Se a sua resposta for sim, ignore tudo que eu falei e tenha todo o meu apoio para ficar com ela...mas se for não, eu continuo a dizer, você é falso, egoísta e infantil.
Miguel fica tenso. Por que ela sempre conseguia dominar totalmente o diálogo? Droga! Ela não era facilmente abalada.
- É claro que nem todas as pessoas são falsas - ela continua - Há muitos relacionamentos que dão certo. Mas, nesse caso, eu simplesmente não acredito que vocês estejam sendo sinceros. Não só com a Dani, mas com vocês mesmos.
O rapaz continuava ouvindo o sermão dela. Sinceridade consigo mesmo....tudo que ele queria era ter a Dani por perto. Só isso. Mas ao mesmo tempo era bem mais complicado que isso. Seja como for, toda essa imagem já estava ameaçada com aquele convite de Mateus. Mas, espere...e se ele? É...era possível. Sim. Era possível.
- O que foi? Ficou com um sorriso bobo de repente? - repara Paula, no rosto de Miguel
- Nada...só tive uma ideia
- Ideia?
- Eles vão se encontrar sábado à tarde, não é?
- É o que parece...
- Ótimo. É tudo o que eu preciso saber.
- Hã?
Miguel sai dali, rapidamente, sem dizer qualquer palavra para Paula.
"Esse moleque...é mais doido do que eu pensei", pensa a garota, enquanto ajeitava os óculos, "Mas...ele não é uma má pessoa...só precisa se encontrar. Se encontrar...acho que até eu preciso me encontrar também". Ela tosse um pouco e vai embora.
Era uma questão de tempo até esse encontro acontecer...

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