Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 31
Capítulo 31 - Linguagem Corporal




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         Ao tirar a venda, Miguel, de certa forma, decepcionado, vê que a pessoa a sua frente não era exatamente quem estava planejando.
       - Então é você, Leandro? - pergunta Miguel não muito animado
       - Miguel? Haha. Olha só. Acho que vamos encarar juntos essa
       O rapaz coloca os óculos e olha ao redor. As duplas formadas foram Camila com Sandra e Toni com Danieli. Toni com Danieli? Mas ele não quis ficar com a Camila?
       - Puxa, então seremos nós duas? - pergunta Sandra animada.
       - Parece que sim - Camila responde
       - Ah, parece que é a gente, né? - diz Toni se dirigindo a Dani
       - Uhun - a garota concorda com um sorriso.
       Não era exatamente a configuração que Miguel esperava, mas andar de olhos vendados sem poder ouvir a voz ou os passos não era tão simples assim.
       - E então? - pergunta professor Platão com um sorriso no rosto - Eram essas as duplas que vocês imaginavam?
       Ninguém diz nada. Ao que parece, ninguém pegou a dupla que realmente quis. Toni realmente estava pensando em ser aliado de Camila e Sandra tinha planejado fazer dupla com Leandro. De qualquer forma, o professor prossegue com a aula.
       - Bem, agora que vocês sabem que perceber o ambiente não é assim tão fácil - diz ele - Vamos continuar com nossa segunda atividade. Agora, acho que tem um pouco mais a ver com teatro
       - O que seria? - pergunta Leandro
       - Mímica
       Miguel se arrepia. Mímica? Então as coisas já começariam a complicar desde agora. Mímica é uma das piores coisas para pessoas tímidas e quietas como ele. Mesmo que não se fale nada, se comunicar com o corpo é ainda mais difícil do que falar.
       - Mímica? Ai, caramba - exclama Toni, torcendo para que nunca nenhum conhecido descobrisse o que ele estava fazendo ali
       - O que foi? Você não gosta de mímica? - pergunta Danieli, estranhando a expressão desaprovadora de Toni
       - Bem, eu nunca fui muito bom nessas coisas
       - Relaxa. Isso aqui é só treino - diz ela, tentando animá-lo.
       Já Miguel estava ainda mais tenso com tudo aquilo.
       "Mímica", pensa ele, "Agora que eu me ferro de vez...na frente do Toni..ele vai rir de mim até cansar...e da Dani também. Putz!"
       - Acho que todos vocês sabem o que é mímica, não é? - o professor continua sua explicação - Vocês devem interpretar algo sem usar a fala
       Todos estavam atentos à explicação
       - Em teatro, saber se expressar com o próprio corpo é tão importante quanto falar bem. Não basta vocês decorarem falas de personagens se não souberem passar com o próprio corpo todas as características desse personagem.
       - Entendo...e a gente vai fazer que personagem? - pergunta Leandro, impaciente de novo.
       - Calma, calma...tudo a sua hora.
       Eles voltam a ficar em silêncio.
       - É realmente uma pena que só tenha seis pessoas aqui...esse jogo é bem mais divertido com mais gente, mas, enfim... - Platão continua - Eu poderia pedir para vocês imitarem animais ou pessoas famosas, ou coisas parecidas...mas isso seria fácil demais
        - E então o que a gente vai imitar? - pergunta Leandro
        O professor tira três cartões do bolso e entrega um a cada dupla.
          - Estou entregando um cartão para cada dupla. A palavra desse cartão será o tema da mímica de vocês. Apenas não falem alto o que vocês pegaram.
        Todos pegam o cartão e leem interiormente o tema de cada um.
        - Temos que fazer alguma cena baseada nesses temas? - pergunta Sandra
        - Exato - responde o professor - A dupla pode interagir da forma que desejar. As outras duplas terão cinco minutos para adivinhar o tema da mímica.
        - Dá para adivinhar um tema desses em cinco minutos? - pergunta Toni
        - Bem, talvez sim, talvez não. O importante é que vocês pensem bem no tema
        - Puxa...o nosso parece difícil - comenta Camila
        - A gente pensa em alguma coisa. Relaxa - diz Sandra, animada
        - Bem - diz Platão olhando para o relógio - Vocês tem dez minutos para pensar na mímica. Fiquem cada um em um canto do salão e pensem bem no que vocês vão apresentar. Boa sorte
        Miguel olha para seu cartão e mostra o tema para seu parceiro. "Amor". Essa era a única palavra que aparecia no cartão
        - Que zica...um tema desses para dois machos fazerem...isso não vai dar certo... - lamenta Leandro
        - Olha, tô contando com você, Leandro! - diz Miguel, colocando toda a responsabilidade nas costas do amigo.
        - Quê? Eu? Não tenho a menor ideia! - diz o loiro, realmente sem nenhuma ideia sobre o que fazer.
        - É cada uma que a gente se mete...Mímica sobre amor...Putz. Como a gente vai falar de um tema desses?
        - Falar...na verdade a gente tem que interpretar com o corpo, não é?
        - É, é isso. Como?
        O professor passa por ali. Leandro imediatamente tenta tirar alguma satisfação   
          - Professor. Como diabos a gente vai interpretar um tema desses? É abstrato demais! - diz ele
        - Realmente. A ideia é essa. O que essa palavra diz a vocês.   
          - Hã? O que ela diz para a gente?
        - Exato. E o melhor. Como vocês podem dizer isso em linguagem corporal
        - Olha, professor...se a gente fosse um casal até seria mais fácil. Mas dois cuecas interpretando esse tema é embaçado
        - Então pensem em alguma coisa que supere essa dificuldade. Lembrem-se que vocês tem só dez minutos para pensar em uma cena.
        - Tsc...assim não ajuda muito - lamenta Leandro
        - Se ajudar....vocês também podem usar qualquer objeto dessa sala para a cena. Vocês só não podem falar.
        Nisso, Miguel parece ter pensado em alguma coisa.
        - Hmm...acho que dá para fazer alguma coisa, sim - diz o rapaz, observando os objetos ao redor - Mas vou precisar da sua ajuda, Leandro
        - Opa, pode falar. Tira a gente dessa
        Miguel explica brevemente sua ideia. Mas Leandro não parecia estar gostando tanto.
        - Tá zuando. Vou ter que fazer isso?
        - Bem, se você tiver alguma ideia melhor
        O loirinho tira os óculos, esfrega os olhos e, por fim, concorda
        - Tá, beleza. A gente acaba logo com isso
        Os dez minutos se passam e o professor logo apita o final da preparação.
        - Muito bem. Todos já tiveram seus dez minutos. Apresentem o que vocês tem.
        - Professor, é difícil pensar num tema desses em dez minutos - observa Camila
        - Vocês não tem nada?
        - Bem, temos, mas..
        - Apresentem o que vocês tem. Se vocês conseguiram pensar em alguma coisa, já tá valendo. Quem vai primeiro?
         Leandro levanta as mãos e se oferece
        - Melhor a gente acabar logo com isso - diz o rapaz, não muito animado
        - Opa. Seu Leandro. Manda a ver.
        Mal começa a interpretação de Leandro e várias risadas já são arrancadas do público. Ele usa um tipo de peruca loira na cabeça, para que se tenha a impressão de que fosse uma mulher. Ele anda pelo cenário e, em certo momento, age como se tivesse encontrado uma fruta ou algo assim. Ele morde a fruta invisível e desmaia. Nisso, Miguel chega, observa a "donzela" caída (embora não colocasse muita emoção na interpretação, ele estava fazendo o máximo que podia), finge uma mistura de raiva e tristeza, age como se pegasse uma faca, enfia no peito e morre. Todos aplaudem e riem
        - Aí, Leandro. Não quis um beijinho, não? - comenta Toni, não perdendo a piada. Leandro se segura para não rir também.
        - Muito bom - diz o professor - E aí? Qual é a cena?
        Todos começam a citar títulos famosos como "Romeu e Julieta" ou "Branca de Neve", outros dizem morte ou tragédia. Mas ninguém acerta o tema em específico.
        - Cinco minutos, gente - diz o professor - Ninguém adivinhou o tema?     
        - Era amor. A - mor! - diz Leandro, acabando com a brincadeira
        - Amor? Haha. Que tema caiu para vocês dois, heim? - diz Toni
        - É? Queria ver você no nosso lugar! - retruca Leandro
        - Isso mesmo. Amor. Mas, o que exatamente vocês queriam dizer com essa cena?
        Leandro olha para Miguel que, meio encabulado, responde
        - Bem, é verdade que eu lembrei de Romeu e Julieta...acho que essa história de morrer pela pessoa amada algo que realmente expressa o que é o amar
        Todos ficam em silêncio
        - Nossa, que lindo - exclama Sandra
        - Normalmente as pessoas fariam alguma cena de beijo ou de afeto para explicar o amor, não? - comenta o professor
        - É verdade. Mas pelo que eu lembro da sua aula de Filosofia, professor...segundo Platão, o amor é muito mais do que apenas atração física. Isso é apenas o primeiro nível do amor, não é? - continua Miguel, ainda sem jeito.
        - De fato. Muito bem, seu Miguel. Vejo que é um bom aluno
        Ele sorri. Todos aplaudem. O professor reassume a turma.
        - É isso aí, gente. Quem é o próximo?
        Danieli e Toni assumem o palco. Dani parecia uma garota frágil, sentada cabisbaixa no chão. Toni chega como uma espécie de carcereiro que finge abrir a porta (também meio sem-jeito, mas ainda conseguia colocar mais emoção do que Miguel). Dani sorri e se levanta. As feições de tristeza e felicidade que ela fazia mostravam realmente que ela sabia se expressar corporalmente e que levava mesmo jeito para atriz. Todos citam nomes como prisão, cadeia ou Rapunzel. Mas, em cinco minutos, também ninguém conseguiu determinar o tema.
        - Era liberdade - diz Danieli sorrindo - A cena é o dia que a prisioneira é solta de seu cativeiro.
        Fazia sentido, mas era difícil dizer exatamente a palavra liberdade.
        - Leva jeito para carcereiro, heim, Toni? - comenta Leandro
        - Você também é uma bela Julieta - retruca o rapaz.   
          Todos riem. A última dupla era Camila e Sandra. A loirinha imita uma garota que acabava de ganhar um sorvete e Sandra, após ver isso, saía de cena e voltava com um sorvete ainda maior. Era basicamente isso. Palavras como sorvete e doce surgiam, mas é Miguel quem dá a palavra final
         - Inveja - diz ele
         - Isso. Inveja - diz Sandra sorrindo - Como você adivinhou?
         - Bem, todos os temas eram bem abstratos. O de vocês só podia ser inveja
         - Hehe. O Miguel pega bem essas coisas, não é? - comenta Dani
         Miguel sorri, encabulado de novo. Afinal, tendo um professor de Filosofia como instrutor de teatro só podia ter essas coisas mais abstratas mesmo. Se bem, que essa última nem foi tão difícil assim.
         - Mas gostei de ver - comenta professor Platão satisfeito - Vocês tem uma boa expressão corporal. Claro que alguns ainda precisam de mais treino
         - Sério? Legal. Sabia que a gente levava jeito pra isso! - comenta Leandro
         - Ai, ai, você é metido mesmo, heim? - retruca Sandra
         - Poxa. Deixa eu curtir o elogio!
         Miguel também estava satisfeito. Apesar de não ter sido lá essas coisas, até que conseguiu fazer a mímica razoavelmente. Tudo bem. Ali estavam poucas pessoas e, pelo menos, Leandro e Camila estavam ali para dar algum suporte. Mas encarar um público maior não seria muito fácil. Será que era hora de sair dali?
         - Bem, meus alunos - comenta o professor - Hoje vocês viram que interpretar envolve mais do que decorar falas. Vocês tem que sentir o ambiente e utilizar todos os recursos que vocês tem no próprio corpo. Não apenas a boca, mas o corpo de vocês também fala
         Toni ouvia isso sem muita seriedade. Mas Danieli parecia estar bastante atenta às palavras dele. Miguel também estava prestando muita atenção.
        - Além disso, vocês viram que muitas vezes, interpretar um tema não é tão simples assim. Afinal, como dizer algo abstrato como amor ou liberdade? São temas bem filosóficos
        - E isso nem é a sua praia, né professor? - brinca Sandra
        - Pois é. Filosofia e teatro são minhas maiores paixões. Por que não juntar os dois, não é verdade?
        Todos sorriem
        - Bom - o professor continua - Com isso, nós terminamos essa aula inaugural, mas espero vê-los novamente na semana que vem. De qualquer forma, vou vê-los na escola, não é?
         - É verdade
         "Semana que vem. Será que eu volto?", pensa Miguel
         - Pode apostar. A gente volta aqui, sim! - diz Camila
         Toni levanta a mão e completa
          - É verdade. Podem contar comigo
          - Ele vai mesmo continuar? - Leandro comenta baixinho com Miguel - Não acredito
          - Bem, ele não parece ser uma pessoa tão ruim assim - Miguel responde no mesmo tom.
          - E é bom mesmo que vocês continuem. Afinal, já estou pensando em uma apresentação com todos vocês! - diz Platão, com um sorriso no rosto.
          "Apresentação?", pensa Miguel,"Uma apresentação com centenas de pessoas te vendo? Ele está falando sério?"
           - Exatamente. Vocês vão ter o seu momento - comenta o professor
           Parece que as novidades na vida de Miguel não paravam de surgir...
 


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