PDV – Christopher.

                Já faziam vários dias desde que Alice voltara para sua casa e desde que Ashley e Isabella não conversavam... Todos pensamos que elas haviam tido uma forte briga quando Ashley a seguiu para fora do sítio, mas, ela me dissera que foi apenas uma ‘conversinha’ amigável e que não houve troca de socos nem tapas ou puxões de cabelo... Confesso ter ficado desanimado.

                Sthefan estava melhorando e Felipe estava ficando animado também. Ele estava passando a maior parte do seu tempo com Isabella, que resolveu voltar a conversar com um de nós.

                Enquanto isso, Ashley e eu passamos nosso tempo livre jogando algumas partidas de vídeo-game com jogos aleatórios. Nós riamos, brincávamos, nos batíamos até e sorriamos... Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim, desde que aconteceu tudo aquilo nos Estados Unidos... mas o que mais doía era me lembrar de alguns velhos amigos... ainda mais me lembrar dela... e de meu melhor amigo John que morreu em um acidente de carro... Kristen estava no meio, mas, por algum milagre, ela sobreviveu...

                - Chris? – Ashley perguntou encarando-me. Ela me fez emergir de todos os meus pensamentos mais profundos em um instante.

                - Sim? Desculpe... Só estava me lembrando de umas pessoas... Alguns amigos... e

                - E a garota do celular... – Completou fingindo não se importar. – Foi a garota que você amou, certo? Então o que aconteceu com ela? – Perguntou.

                - Nada... – Dei de ombros, ninguém precisava saber daquela tragédia. Não agora e nem nunca, afinal, foi algo que meus ‘amigos’ e eu prometemos... Prometemos manter em segredo tudo aquilo e fingir que nada aconteceu... Então arrumamos um discurso idiota e contamos para os policiais... O pior de tudo foram as perdas daquele dia... Mas, tinha que ser daquele jeito, se não, todos nós seriamos presos por crimes que não cometemos... Principalmente eu... Sabia que não deveria ter me envolvido com eles...

                - Não acho que tenha sido “nada” – Tentou mais uma vez.

                - Olhe, aconteceu um acidente... E só. – Tentei menosprezar o acontecido. Mas, eu já havia criado novamente a imagem daquelas chamas em minha mente.

                                - Christopher... Confie em mim – Disse em um tom gentil. Novamente fui emergido daquelas lembranças mais profundas. Mas, dessa vez, seria impossível retornar a elas. Uma vez que as mãos de Ashley estavam sobre as minhas de um jeito completamente diferente.

                - Eu confio só acho que não preciso contar mais nada... – Murmurei.

                - Então relaxe... – Ela sussurrou docilmente deixando seu hálito fresco bater contra meu rosto. Suas mãos que outra hora seguravam as minhas, estavam em meu rosto afagando-me delicadamente.

                Nossos rostos estavam a poucos centímetros, era até possível sentir sua respiração. Entretanto, quando nossos lábios estavam prestes a se tocarem, um forte barulho rompeu nosso silencio e nos afastou um do outro em um movimento rápido.

                - Oooooi gente! – Isabella gritou bêbada da porta de entrada.

                - Ah, meu Deus... – Sthefan disse

                - Desgraçada – Resmungou Ashley.

                - Christopher! – Gritou meu nome e cambaleou até a minha frente. – Saudades de você... – Ela passou seu indicador sobre meu peito e puxou-me pela camisa tentando me por de pé. Como não fiz nada, ela se sentou no meu colo e roubou-me um longo selinho interrompido por um empurrão de Ashley que se deliciou com Isabella caindo de cara no chão.

                O resto daquela noite foi tensa. Cinco minutos após o ‘ataque’ de Isabella, Ashley decidiu parar de jogar e puxou Felipe para fora da casa. Eles demoraram muito tempo para voltar e quando regressaram, estavam com um sorriso diferente no rosto.

                Sthefan permaneceu lendo seu livro no outro lado da sala enquanto eu tentava terminar a partida de vídeo-game, mas estava cansado de tudo aquilo e resolvi ir para o meu quarto.

                Peguei meu celular e comecei a fuçar em sua lista de contatos tentando encontrar alguém para conversar. Entretanto, odiei descobrir alguns nomes ali. Pensei em ligar para Kate, mas não estava muito afim de ouvir seu drama todo. Então alternei para um outro velho amigo do Mississipi com o qual passei quase uma hora conversando. Ele me disse sobre nossos antigos amigos e para as escolas que eles estavam atualmente. Senti orgulho de alguns e choquei-me com outros. Mas, era a vida.

  Depois, achei o numero de Allyson, ex namorada de John, seu irmão e meu melhor amigo...

“Descanse em paz...” Sussurrei ao me lembrar de sua morte trágica.

Liguei para ela e passamos também um longo período conversando. Ela me disse sobre como estava sua vida após a morte de seu amor, a perda do nosso quarteto e da perda de contato com Kristen, sua quase cunhada... As duas arrumaram uma ligação especial após a perda de John, mas, até onde fiquei sabendo, elas acabaram se distanciando por uma série de problemas na família de Kristen.

                No final daquela conversa, decidi que iria falar com mais alguém, saber como estava a vida deles, então fui descendo a minha lista de contatos até encontrar o numero de Kristen...

                Queria ligar para ela, senti uma forte necessidade de fazer aquilo, mas, provavelmente ela não iria me atender e como conhecia também seus problemas com ligações e sua preferência por SMS... apenas escrevi:

Preciso conversar com você... Sei que faz muito tempo... Mas... é necessário... Sinto sua falta, sinto falta de como eu conseguia me abrir com você sem ser julgado... Me desculpe pela maneira que fui embora sem dizer adeus... Eu só tive que fazer aquilo... e gostaria de ter uma chance para me explicar..

                Ela realmente fazia falta para mim e aquele jeito dela era muito bom, me fazia rir em poucos segundos...E fui completamente um idiota por ter ido embora no momento em que ela mais precisou... No momento em que perdeu seu irmão e precisava de alguém ao lado dela...

             Esperei por muito tempo e não recebi nenhum sms de volta. Para falar a verdade, eu nem merecia depois de tudo o que fiz, mas, realmente queria me explicar e dizer que me mudei e que foi impossível voltar ao Mississipi... Então, deitei e dormi para poder ir para a escola no dia seguinte sem estar muito exausto...

                No dia seguinte, fui para a faculdade e foi tudo tranqüilo. Encontrei Cindy uma amiga minha que eu adorava passar meu tempo conversando porque ela não fazia perguntas e nem dava sua opinião, apenas me escutava e dizia alguns conselhos muito validos quando eu os solicitava, mas, apesar de tudo, ela não se parecia nada com Kristen e parecia ter uma queda por mim. Coisa que minha antiga amiga jamais teria...

                Cheguei em casa e propus uma partida de vídeo-game, mas Ashley não parecia muito amigável naquele dia, alias, havia desaparecido novamente com Felipe e retornara com aquele sorriso esquisito no rosto.

                Então, antes que pudesse falar qualquer outra coisa, senti meu celular vibrar em meu bolso. Peguei-o e notei ter recebido uma resposta de Kristen.

“Quando você vem?” - Ela esperava que eu fosse para lá?

            Iria responder um ‘Não vou’, mas me recordei de que Kate queria vim para cá para me arrastar até New Jersey e passar o natal com minha família e ela...

“ Final do mês. Você está em Harvard, não é? Falei com alguns amigos antigos... falei com Allyson e tenho muito para falar sobre ela...”

Bem, de acordo com meus cálculos, eu estava completamente errado, afinal, faltavam ainda mais de 40 dias para o Natal... Então deveria corrigir, mais tarde sobre meu pequeno engano... Mas, Kate talvez viesse para cá no final do mês para conhecer um pouco sobre a Itália e após isso, voltaríamos para os Estados Unidos... Sei lá, ela é muito confusa.

“Sim estou e sim... conte-me...” Foi o ultimo sms que trocamos.

Pensei em responder, mas seria algo que deveria contar pessoalmente...

                O resto da minha noite foi um pouco parecida com a anterior. Recordei-me dos meus amigos, principalmente daquele quarteto... Eu odiava ter que sair de NY, mas, em uma das minhas viagens com meus pais para o Mississipi, encontrei-os em um parque de diversões bagunçando – como sempre – deveríamos ter de 13 para 14 anos... E desde então viramos amigos inseparáveis dando inicio aquele belo quarteto. Mas, com o passar do tempo, fui levado cada vez menos para o Mississipi e, após a morte de John, nunca mais voltei para lá. Saímos de New York para New Jersey e então conheci alguns outros amigos, não muito agradáveis, por sinal, mas que eu gostava e conheci a garota que eu amei – a do papel de parede. Maneira como Ashley a identifica, as vezes – e, pouco tempo depois, a perdi por culpa de um maldito acidente...

                O resto da semana foi seguindo um pouco normal. Isabella voltou a conversar com todos, principalmente com Sthefan, mas, suas atitudes ainda eram as mesmas comigo. Hora ou outra ela surgia atrás de mim e roubava-me um beijo. Admito ter retribuído um ou outro... Mas não foi mais com aquele desejo que eu sentia por ela no inicio, foi, apenas uma pegação.

                Aos poucos, Ashley, que havia se apegado muito em mim, foi se afastando. Ela dava desculpas de estar fazendo trabalhos escolares ou de ter que fazer qualquer coisa do gênero e então desaparecia com Felipe e, como nas primeiras noites, voltava com um sorriso idiota no rosto que , admito, me tirar do sério.  Era como se eles estivessem aprontando e se comendo pelos cantos. Só de pensar já ficava estressado com aquilo. Ela não poderia e ela não era daquele jeito...

                Decidi que iria fazer algo a respeito. Afinal, amava Kristen como minha amiga e minha falta de atitude tirou-a de mim. Amava aquela outra garota de corpo e alma e por culpa da minha falta de atitude sua morte ainda não foi vingada. E sentia algo por Ashley... Ainda não sabia o que, mas sentia e iria tirar tudo isso a limpo.

                - Ashley... – Sussurrei seu nome. Não queria tira-la de vez de seus pensamentos.

                - Sim? – Perguntou tirando seus olhos do céu e observando-me meu caminhar até ela.

                - Preciso conversar com você... – Sentei-me ao seu lado no chão e lancei um fraco olhar para as estrelas.

                - Pensando na garota da foto?

                - Brenda?

                - Finalmente disse o nome dela! – Ashley sorriu e me deu um leve empurrão no ombro.

                - Ér... é que só de falar o nome dela dói... doía...

                - Como assim? – Perguntou confusa.

                - É que eu pensei que ela fosse a garota que eu mais amei em toda a minha vida, mas... Estou confuso... –  Admiti.

                - Isabella? – Disse o nome dela com um pouco de nojo.

                - Sim e não. – balancei a cabeça. Ela não me fazia muito bem, mas gostava de ficar com ela.

                - Cindy? – Quase vomitou o nome da outra garota.

                - Mais ou menos – Sorri fraco. Apesar dela sempre me ouvir, acho que não sentia nada por ela.

                - Quem então? – perguntou irritada.

                Toquei as costas de suas mãos com a ponta de meus dedos sentindo sua pele macia e quente contrastando contra minha pele quase fria. Ela olhou para meu toque e depois olhou para os meus olhos. Parecia que ela havia entendido e que também estava confusa, afinal, recuou um pouco. Mas, antes que ela tirasse completamente sua mão debaixo da minha, puxei-a para mim e aproximei nossos rostos. Poucos centímetros nos separavam até que resolvi acabar com tudo aquilo e deixar minhas emoções agirem por si só.

                Beijei-a da maneira mais doce e delicada que eu podia. Deixei meus lábios agirem livremente e apreciá-la da maneira mais completa que a situação me permitia. Ela retribuiu com a mesma intensidade antes de se afastar e olhar-me confusa.

                - O que foi isso? – Perguntou.

                - Gosto  de você...