Assim que vi Cleisson e Kadu se beijando, logo pensei que era só o que me faltava: o mulatinho beijando o troll face. Não mereço. Olhei para Roberto em busca de algum olhar, alguma resposta que dissesse o que eu deveria fazer. Notei que não havia nada a ser feito. Deveria voltar para o quarto com Roberto e discutir o que realmente importava: Rafael.
Assim que nos acomodamos novamente no quarto, nos encaramos por uns 5 minutos, em silêncio. Após isso fui eu quem preferiu quebrar o silêncio:

"O que você sabe do meu deus metrossexual?" Fui curto e grosso, afinal, era por isso que Roberto estava aqui. Para me ajudar.

"Primeiramente gostaria de esclarecer uma coisa: eu só vou te ajudar com uma condição." Ele parecia sério. Não havia tom de brincadeira em sua voz.

"O que foi?"

"Vai ter que me conceder mais horários com aquele seu amiguinho (risos)" O tom de brincadeira era ligeiramente sobreposto com o de seriedade.

"O cu é dele mesmo." Foi minha maneira de concordar. "Mas voltando ao assunto, o que você sabe sobre o Rafael?"

"Bom, eu era amigo dele. Na verdade colega de trabalho, mas conversávamos um pouco. Uns meses atrás ele comentou algo sobre visitar a família, mas não tenho certeza." Ele estava falando com os olhos fechados, pois seu corpo estava em posição de meditação e ele estava captando as auras ao redor para tentar descobrir o que aconteceu com Rafael. Ele estava tão concentrado que achei que seus cabelos ruivos começariam a pegar fogo.

Fiquei uns minutos em silêncio, esperando que Roberto conseguisse mais alguma informação. Não precisei esperar muito e logo a órbita de seus olhos começou a rodar, seu corpo começou a tremer, e veio a jorrada de palavras:

"CANDIOTA!!!! TREM!!!! SUL!!!! DOR!!! MEDO!!!" E então ele desmaiou.

No momento eu lembrei de quando Rafael tinha comentado comigo que era de Candiota, o problema é: parece que a família dele tinha se mudado pra outro lugar.
Evitei de ir na cozinha para pegar água e jogar em Roberto, então uni minhas mãos em forma de conchinha, abri a torneira e recolhi o necessário de água.
Quando Roberto acordou, ele pareceu não se lembrar de nada, estava meio confuso, e suas calças estavam… MOLHADAS???

"PORRA ROBERTO CE MIJO NA MINHA CAMA ROBERTO, ROBERTO EU NÃO ACREDITO ROBERTOOOOOOOOO" Ninguém além de mim mija na minha cama.

"Não, eu… Me desculpa!" Não demorou muito e lágrimas começaram a transbordar de seus olhos cor de avelã. Confesso que tive vontade de falar "MEU PARA DE CHORAR MEU SÓ VAI MOLHAR MAIS A CAMA" mas não tive coragem, afinal, ele já tinha feito um favor enorme para mim. A única coisa que eu fiz foi dizer que ele podia tomar banho e que eu emprestaria minhas roupas para ele.
Enquanto Roberto tomava banho, eu colocava os lençóis para lavar. A minha sorte é que quando eu cheguei na cozinha Cleisson e Kadu já não estavam mais, e eu realmente não quero saber onde eles foram parar. (Acho válido comentar que Roberto me fez prometer que eu não o espiaria durante o banho.)
Depois de ter arrumado a cama fiquei sentado, aguardando Roberto e tentando tomar uma decisão.
Roberto abriu a porta do banheiro com uma cara meio transtornada. Não demorei a entender por que. Minhas roupas estavam extremamente grandes nele. Seu corpo magro parecia servir de cabide para minha enorme blusa azul. Para minha calça parar em seu corpo foi preciso fazer um nó. Ele parecia uma vadia anoréxica usando aquelas roupas.
Após uma rápida discussão, decidimos que usaríamos roupas do Kadu.
O armário de Kadu é uma coisa realmente interessante, pois você abre e só tem blusas com estampas com o rosto das ex namoradas virtuais dele, então você procura por mais uma camada e acha roupas íntimas femininas. Roberto concordou que seria melhor roupas do Cleisson.
O guarda-roupa do Cleisson pode ser resumido em apenas uma palavra, que acredito que todos já sabem qual é: Beatles. Lá você encontra todos os tipos de estampas, acredite ou não, até uma com Paul McCartney dando o cu para o John Lennon. E pensar que esse tempo todo ele me enganou dizendo que era hétero.
Por sorte, o número do Cleisson é aparentemente o mesmo de Roberto, pois as roupas ficaram perfeitas. Ele escolheu uma blusa com a estampa daquele Submarino Amarelo for loserzzz, e uma calça que tinha o rosto do Ringo Starr na bunda. Após tudo resolvido, fomos até meu quarto para discutir o que faríamos.

"Roberto, é o seguinte, mijão: nós vamos juntar o pessoal e ir até Candiota procurar o Rafael. Se não quiserem ir a gente inventa que tem algum cofre com barra de ouro lá na casa dele, simples. O Cleisson eu duvido que acredite, mas aí a gente diz que tem uma foto do John agredindo a Yoko, ele vai topar na hora" Sim, já desenvolvi o plano na minha mente, mas não pude evitar, eu já não podia espiar o Roberto tomar banho, algo eu tive que fazer para me distrair.

"Concordo plenamente. Podemos usar o carro de um amigo meu para ir. É um micro-ônibus, e melhor de tudo: Ele é especialista em caça de pessoas." Fiquei alguns minutos aguardando a risada e o tom de brincadeira, mas ele não veio.

"Como assim caçar pessoas? (risos) Ele é tipo um Van Helsing dos humanos, é? (risos)" Inevitável.

"Tsuna Tiras do Papel, eu não estou para brincadeiras! Pelo contrário, estou tentando te ajudar. E se tem algo que você não vai se arrepender é pedir os serviços dele." Roberto ficou realmente ofendido.

"Ai tá bom, tá bom. Só temos que esperar minhas vadias chegarem para convencê-las."
Enquanto Kadu e Cleisson não chegavam, eu percebi que desde manhã eu não tinha comido nada. Eram 7 da noite e meu estômago estava vazio. Eu estava blasfemando contra meu corpo.
Fomos comer o leitão que tinha na geladeira, e, finalmente, ao dar a última garfada os meninos tinham chegado. Nem me dei ao luxo de perguntar aonde tinham ido e logo soltei:

"Vocês querem ganhar grana?" Comecei a manipulação.

"Quem não quer, né bicha?" Foi Kadu quem respondeu.

"Se vocês me ajudarem a achar a casa do Rafael no Sul eu prometo que vão conseguir uma da boa" Os olhos de Kadu já estavam brilhando, mas como imaginei, Cleisson estava mais do que desconfiado.

"Olha, não sei não."

"Sem contar que tem uma foto do John Lennon agrendindo a Yoko." Ele pareceu se animar de maneira bem perceptível.

"Quando partimos?"

Após isso eu tive certeza do que deveria fazer: Falei para Roberto contatar o amigo dele. Resolveram tudo por telefone e só tínhamos que aguardá-lo
Esperamos cerca de uma hora quando ouvimos a campainha. Atendi a porta e me deparei com um homem alto, de cabelos castanhos liso e rosto delicado. Fiquei brevemente encantado mas foquei em Rafael.

"Olá! Antes de tudo, vamos nos apresentar. Meu nome é Tsuna Tiras do Papel, e o seu?" falei parecendo animado demais.

"Cohen. Thiago Cohen."