Me levantei cautelosamente da cama e acendi o abajur. As batidas na porta se intensificaram, portanto, decidi ver quem era, coloquei umas pantufas que estavam ao lado da cama e caminhei até a porta, abri-a e dei de cara com Akazawa.

– O professor Atsushi morreu em um acidente preso no elevador. - ela disse rapidamente e fria, como sempre. - A diretora, Reiko Mikami, mandou que todos os estudantes descessem para a biblioteca para assistir á uma reunião do conselho escolar.

Assenti, um pouco absorta, e a segui até a biblioteca do colégio. Era uma biblioteca muito espaçosa e lotada de estantes cheias de livros de todos os assuntos imagináveis, suas mesas redondas, que geralmente ficavam espalhadas em alguns cantos de leitura, agora, estavam postas em fileiras e muitos dos estudantes já estavam acomodados. Os estudantes estavam assustados e todos tinham uma expressão de preocupação na face. Fui até as cadeiras, escolhi uma ao fundo e me sentei para esperar á reunião.

Todos os professores, coordenadores, funcionários e estudantes já pareciam estar presentes. A diretora Reiko estava de pé em frente aos alunos sentados, conversando com um homem que eu não conhecia. Era alto e ligeiramente magro, usava óculos quadrados de grande armação e tinha cabelos negros curtos e espetados, não parecia velho, mas também não era jovem demais. Reiko terminou sua conversa com o homem e se aproximou dos alunos.

– Hoje, infelizmente, presenciamos a morte do novo professor da classe da nona série. - começou séria. - Gostaria de deixar claro que o professor morreu por um infortuno acidente e não devemos nos culpar por isso ou ter qualquer tipo de mágoa. Os alunos da nona série voltaram a ter aulas normais depois de amanhã com o professor Kubodera. - ela apontou para aquele homem que conversara com ela antes. - E aqueles estudantes que optarem por deixar a escola, peço que se dirijam para minha sala. Dispensados.

Me levantei da cadeira e me encaminhei até Reiko.

– Ainda vai ter o passeio de férias? - perguntei sem muito caso.

– Claro que sim, não iremos deixar que um acidente nos atrapalhe, não é mesmo, Akemi? - ela concluiu me encarando como se quisesse uma resposta.

– Sim. - concordei e me afastei dela.

Avistei Sakakibara e Teshigawara conversando perto da porta de entrada da biblioteca, eles me viram e Teshigawara veio até minha direção.

– Ei, Akemi! Nem falei com você hoje mais cedo na aula. Como foram suas férias?

– Nada de extraordinário para se comentar. - eu disse.

– Fria como sempre, não é Akemi? - ele comentou rindo. - Você já deve conhecer o Sakakibara aqui, ele está na nossa sala.

Assenti sem dar muita importância e levei meus olhos até ele. Sakakibara me fitava como se eu pertencesse á outro mundo. Novidade.

– Dá para parar de encarar meu tapa-olho assim? - perguntei grossa e direta.

– Eu ... - ele gaguejou. - Me desculpe, eu só o achei diferente.

Dei de ombros e segui para o refeitório escolar a fim de comer alguma coisa, estava faminta. Atravessei os corredores infestados de estudantes e desci algumas escadas. O refeitório estava praticamente vazio, com exceção de duas garotas mais novas que estavam sentadas á uma mesa conversando. Me dirigi até o balcão e escolhi um sanduíche grelhado e um suco de laranja, paguei a conta e me sentei na primeira mesa.

Enquanto comia, decidi ficar lendo um livro que comprara ano passado, chamado " A profecia". Terminei de comer e fechei o livro, mas quando fui pegar a bandeja, deixei-a cair e as duas garotas caíram na gargalhada. Sujei todo meu uniforme e meu rosto de comida e estava parecendo uma palhaça pintada, as garotas não paravam de rir e apontar. Acabei me irritando e me aproximei das duas e perguntei á elas se não gostariam de dar uma olhada no meu olho falso costurado, assim, ambas saíram correndo e me chamando de psicótica. Ótimo.

Deixei o refeitório e dei uma volta no colégio para alcançar meu quarto, enquanto passava, percebi que alguma coisa em meu bolso balançava. Coloquei a mão lá dentro e retirei de lá um lenço branco com marcas avermelhadas. Revirei o lenço e percebi que não eram simples manchas e sim, sangue. Mas eu nunca havia o visto em toda minha vida, o que ele estava fazendo ali? Foi aí que me lembrei. O professor Atsushi usou um lenço parecido com este durante a aula. Mas, como ele teria parado em meu bolso? É claro que alguém poderia ter o colocado lá, mas depois da aula eu segui direto para o dormitório e não falei com ninguém. Só quando eu acordei com as batidas na porta que... Akazawa. Será que ela o havia posto em meu bolso? Parei um pouco com esse pensamente e comecei a imaginar que, talvez, aquelas manchas de sangue fossem de Atsushi e, se fosse isso, teríamos um assassino á solta em Yomiyama novamente.