Ghostwriter escrita por Moona


Capítulo 3
Parte III




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Parte III


 


 


Ghost nunca foi de apreciar hotéis, até porque eram caros, repletos de pessoas hipócritas e, o pior de tudo, não havia privacidade. Sempre tinha uma camareira para entrar no quarto e remexer suas coisas, mesmo que deixasse um aviso claro na recepção. Por esses e outros motivos que Ghost sempre ficava em um dos quartos da pensão Dália Branca, próximo ao prédio editorial de seu querido e odiado editor, o desgraçado que lhe oferecera aquela vida desconhecida em troca do talento. Ghost era demente, esquizofrênico e não sabia viver entre pessoas, detestava lugares fechados e multidões, logo não servia para o papel de escritor famoso. Outro desnaturado qualquer com cara de vendedor de artigos religiosos caberia muito melhor nesse papel, não? Pelo menos Ghost não reclamava... Tinha o dinheiro que precisava para sobreviver e o trabalho que sempre quis: Ser escritor.


Havia mais dezenove quartos além do que estava pensão atrás do posto de gasolina e parecia ser um lugar calmo, como ele preferia. Entregara durante a tarde seu magnífico manuscrito e recebera o cheque de cinqüenta mil, pouco perto do que realmente poderia receber, mas muito melhor do que nada. Depositou novamente o laptop sobre a mesa e analisou o braço enfaixado, não foi fácil explicar como acabara daquela forma... Vira o avião cair e na realidade não vira. O quão doentio era sua doença? Esquizofrenia para ele sempre fora ver seus amados gêneros de histórias, nunca situações que não existiam. Retirou a faixa do braço e para sua inevitável surpresa, as cicatrização de seu ferimento parecia um tanto avançado. Tocou uma das letras com o indicador e recolheu-o em seguida, grunhindo de dor. Toda a história do que vira estava cravado em sua pele... Marcado eternamente por cicatrizes que o tempo jamais curaria, ou pensava que seria assim.


Pensou em Terror... A vira pela última vez quando deixara o avião, então a perdera de vista até então. Quem era ela afinal? Parecia ser algo fora do conceito de normal. Olhou no relógio de pulso constando que não passava das nove horas da noite ainda. Somente duas horas depois terminara de escrever seu valoroso princípio do que seria a história terrífica que tanto queria, relatando o que vira e sentira na ilusão presenteada por Terror. Terminou o texto com certo orgulho próprio... Seria aquele seu primeiro passo para o sucesso? Estava cedo para dormir, ou talvez não estivesse com sono... Então porque não partir para o próximo foco da história? Coçou o queixo enquanto anotava mentalmente que deveria pedir algo para comer depois.


Exatos quinze minutos depois Ghost se via mais uma vez sem inspiração para continuar os contos. Precisava de Terror e não queria admitir... Fechou os olhos, suspirou e levantou da cadeira, andando de um lado par ao outro do quarto. Os ventos noturnos uivavam em sua janela de vidro, o que o obrigou a fechar antes que congelasse pelo sereno. Parou no meio do quarto quando ouviu o que parecia ser uma briga no quarto vizinho... Conseguia escutar perfeitamente as vozes através da passagem de ar embutida na parede, próximo ao teto. Humanos eram detestáveis... Adoravam brigar. Aproximou o rosto da parede e pode ouvir com clareza: Eram um casal discutindo e provavelmente uma criança assistindo.


- Sua desgraçada! – Gritou o homem com raiva.


- Não me trate dessa forma! – Retrucou a mulher no mesmo tom. – Saia daqui!


- É um lixo... Lixo é o que você é! – Ralhou ele. – Não sairei até ter o que quero!


O pranto copioso da criança que assistia a briga lembrava uma trilha sonora tenebrosa. Porque diabos era obrigado a ficar ouvindo aquelas tragédias familiares? Era terrível. Sim... Terrível lembrava terror de alguma forma. Apalpou o bolso e sentiu a caneta que usara para furar a própria carne e fechou os olhos, começando a entrar em uma espécie de catatonismo. E, no estante seguinte, estava parado de pé no canto do quarto ao lado. Olhou assustado para a cena: O homem estava diante da mulher e lhe apontava o dedo indicador, já está parecia um pouco chocada e com um grande hematoma no olho direito. A criança chorava baixinho encostada na cama com o rosto inchado. Ele era alto, forte e com um cavanhaque ralo, seus olhos vermelhos revelavam um estado deturpado de inconsciência devido a droga que injetara anteriormente. Já ela tinha os cabelos escuros, o rosto bonito apesar de pálido e cansado. Uma cicatriz antiga deformava o lábio inferior que anteriormente já fora muito belo por sinal. A garota era como a mãe: Aparentemente frágil.


A mulher olhou em sua direção, mas não o viu. Estaria tento mais uma das visões de Terror? Aquilo, de certa forma, não era real. Era sua mente... Ghost tinha certeza disso ou queria acreditar que fosse. Achava que começava a entender como aquilo funcionava, mesmo que fosse ainda uma experiência nova.


A mulher deu um tapa no dedo do homem e este retribuiu agarrando seus cabelos e puxando para perto, encarando-a com uma fúria demoníaca.


- Aonde está seu marido? – Perguntou ameaçador.


Ela abriu e fechou a boca, engoliu a seco e meneou a cabeça negativamente. As lágrimas escorriam em abundância de seu rosto.


- Eu não direi aonde ele está! Vai matá-lo! – Grunhiu ela apavorada. – Por favor me deixe em paz!


- Ei! – Exclamou Ghost em voz alta, mas ninguém o ouviu ou percebeu. Então era isso... Como no avião. Uma história irreal baseada nas marotisses de Terror.


Analisou a cena afim de captar a essência do que acontecia. Em sua visão no avião, Terror usara seus próprios medos para tentar impressioná-lo. Precisava entender quais eram os medos humanos, dessa forma acessaria seu pânico e recriaria uma história. Quando certa segurança tomou conta de seus pensamentos, algo estranho aconteceu: Sua mão esquerda, a que segurava a caneta e também estava enfaixada, rasgou a manga do outro braço fora e tocou a ponta da caneta na pele. Ghost relutou, porém seu corpo não se movia por conta própria.


- Você é um escritor de verdade agora, Ghost. – Murmurou a voz de Terror as suas costas.


Não conseguiu virar para vê-la, porque seu corpo parecia enrijecido e fora de tato. Suas pernas fraquejaram e tombou de joelhos, apoiando o braço limpo na coxa e começando a escrever. Grunhiu de dor quando a ponta da caneta afundou na pele, mas por incrível que parecesse não quis parar.


- Entenda a essência humana, Ghost. Aprenda que o medo é a força que rege todos os outros sentimentos! Ele lhe ajuda a viver... Lhe diz o que é perigoso e o mantém longe do que é ruim. Inteligente essa parte da natureza, não? Veja de perto o que o Terror é capaz, meu caro... Ele está em todos nós. Não se engane pelas aparências... Não acredite que há lugares aonde eu não possa habitar. A mente mais benéfica pode carregar a essência mais profana e ruim...


Ghost arregalou os olhos enquanto observava as palavras cravarem na pele feito aço. O sangue escorria para o assoalho velho e empoeirado, embrenhando-se nos sulcos enquanto carregava a sujeira por onde passasse.


- Pessoas são livros e escrevem suas próprias histórias... A menos que alguém possa escrever por elas. – Disse Terror ao cruzar os braços. – Mostre-me do que é capaz! Estou lhe dando as peças... Quero o jogo por completo... Mostre-me do que seu Terror é capaz.


Tudo... Tudo para fazer aquela dor parar. Ghost começou a sentir um pânico interno... Algo ruim que parecia nascer de sua essência. Arregalou os olhos quando viu que seu sangue não estava mais vermelho, e sim negro. Negro como a noite ou qualquer pesadelo infantil. Uma mão negra irrompeu da poça de sangue aos seus pés, Suas garras afiadas e compridas eram maiores do que o braço de Ghost por inteiro. O sangue negro era sua fonte e dele irrompeu a fera. Deveria ter mais de dois metros de altura, até porque sua cabeça precisava ficar abaixada para caber no cômodo. Não tinha olhos, nem expressão... E muito menos um rosto, quem a olhasse diretamente nada mais veria do que um borrão negro com duas extremidades pontudas que mais pareciam orelhas caídas para trás do que chifres. Duas esferas amareladas pairavam fantasmagoricamente aonde deveriam ser os olhos e produziam uma iluminação bizarra no ambiente. Suas pernas eram curvas e concêntricas, pequenas em comparação com o corpo largo e triangular. A textura de seu corpo era líquida como o sangue e toda a vez que se movia, gotas ficavam no caminho. Sua respiração ofegante ecoava como um motor ruidoso trabalhando em tempos intercalados.


A besta ergueu as duas mãos gigantescas e agarrou as laterais do corpo de Ghost, cuspindo para fora uma fumaça vermelha rubra que penetrou suas narinas e desceu ardendo por todo o seu corpo. Cada minucioso centímetro de carne pareceu ir direto par ao inferno. Quando reabriu os olhos, estava parado diante da mulher com o olho roxo. Ou melhor, estava dentro do corpo do homem que a espancada. Podia sentir suas emoções, seus transtornos e pensamentos. Sua carne ainda ardia de alguma forma...


O homem agarrou a mulher pelo colarinho e a atirou sobre a cama, montando sobre ela como um animal selvagem. Segurou seus pulsos contra a cama enquanto a vontade incontestável de possuir o que não era seu tomava conta de seu ser. Ghost não relutou e permitiu que sua imaginação fluísse... Tudo o que acontecia com o homem eram emoções de seu desejo. Quanto menos relutava, menos a dor ardia... Era hora de provar para Terror que sabia como contar uma história.


- Aonde está seu marido!? – Retrucou o homem.


- Me solte!


Ele era um traficante de meia tigela pelo que Ghost podia perceber. O marido daquela mulher era um drogado que estava lhe devendo uma boa grana e, ao que tudo continuava a indicar, havia fugido para longe e deixado a esposa. A mulher sabia aonde ele estava, mas não contaria por amor... Porém até onde o amor chegava? Alguma hora seu Terror apareceria. Até que não era tão ruim experimentar o sentimento de poder e liberdade, poderia fazer o que quisesse com aquela vida... Era sua agora. A garotinha levantou e correu para acudir a mãe, porém Ghost a afastou com uma bofetada que a atirou sobre a cômoda e a fez cair quase desacordada.


- Não! – Gritou a mulher em pânico. – Por favor, pare! Nos deixe em paz! Filha!


Ghost ergueu a mão e desferiu uma bofetada em seu rosto. Inflou os pulmões como se pudesse sentir os cheiros dos sentimentos e degustou: Medo e humilhação. Sorriu desdenhoso e segurou seu queixo, pressionando-a contra a cama.


- Me diga o que quero saber, mulher...


Ela se contorceu em silêncio enquanto o choro entupia sua garganta. Aquele homem era um monstro... Um assassino que iria fazer tudo o que tinha direito com sua vida. E ela estava disposta a isso desde que seu amor sobrevivesse... O homem que apesar de deixá-la para trás com a filha e tratá-la como um lixo merecia continuar existindo. Talvez ela não fosse boa o suficiente para continuar existindo... Grunhiu de raiva e frustração, tentando se soltar e conseguiu morder o dedo de Ghost. Liberou uma das mãos e desferiu um tapa no rosto do monstro sobre seu corpo, empurrando-o para o lado e correndo de encontro a sua filha.


Ghost rugiu de raiva. Não era um homem com raiva... Mas o homem que habitava aquele corpo era muito orgulhoso. A mulher segurou sua filha como se fosse a coisa mais importante do mundo e a puxou para longe, chorando como se aquilo fosse lhe poupar do mal maior.


- Nos deixe em paz!


E era assim que o mal começava... O ódio e a raiva. Ghost se sentiu tentado a destruir. Não se importava com nada e nem com ninguém, pois o corpo que habitava sentia isso. Quem estava ali para dizer que era errado? Desferiu um chute na mobília que estava em seu caminho e a fez se espatifar contra a parede. Queria destruir... Acabar com aquelas duas malditas existências afim de poder se sentir melhor. A garota havia despertado do transe e chorava presa a mãe, segurando suas vestes e ocultando o rosto contra seu ombro. Nada lhe comovia... Nada lhe impedia de usar todo o poder que possuía.


Segurou os cabelos da mulher e a puxou para si, arrastando por todo o quarto até atirá-la contra o chão.


- Fique ai... Pois é o seu lugar. – Disse com raiva na voz. – Uma vez lixo, sempre lixo.


Ninguém se importou com a existência daquele homem... No entanto que se tornara o que era. A garotinha tentou tapar os ouvidos enquanto ouvia a sua mãe gritar, espernear e sangrar diante daquele mostro. Apesar de tudo, Ghost não queria parar. Via o sangue marcar suas mãos... Ouvia os gritos estourarem contra seu tímpano... Mas era como música... O cheiro era indescritível, atraindo-o como uma droga. Um vício cruel e impertinente. Pânico, medo, terror... A sensação de impotência diante de alguém maior, sucumbindo enquanto era humilhada diante dos outros.


Quanto mais doesse nos outros, menos doeria em si. Ergueu a mulher do chão e analisou seu rosto banhado em sangue, os olhos apesar de não encontrarem um ponto para se fixar, continuavam se movendo nas órbitas, como se buscassem acordar do pesadelo. Atirou-a no chão e agarrou pelos cabelos, arrastando até os pés da cama. Amarrou suas mãos com o cinto que usava e a prendeu contra a carcaça metálica, mantendo-a imóvel.


O cheiro de medo ficava intenso e indescritível... Ghost estendeu a mão e a enorme criatura parada no canto do quarto se moveu, arrastando os pés grudentos no chão até alcançar a garota. Ela cobriu o rosto, chorou, esperneou e cobriu os olhos e ouvidos, como se pudesse encontrar alguma saída para o perigo, mas a besta estendeu uma das mãos e a segurou ao fechar as garras ao redor de seu corpo.


- Desperte. – Ordenou ela.


Sua voz era rouca e grossa, vibrando em uma terrível freqüência sobrenatural. A garota repentinamente parou com o olhar vazio, como se entrasse em um estado de choque. A fera afastou a cabeça para o lado com um dos dedos e com a garra do outro, cortou-lhe a pele por sobre a jugular. O sangue morno escorreu abundante por sobre a roupa, empapando suas vestes e quando tocou o chão, começou a jorrar negro. A garotinha pareceu voltar a si e olhou aterrorizada para as próprias mãos enegrecidas pelo líquido da vida e gemeu horrorizada quando percebeu a pequena criatura que emergia do corte de seu pescoço, usando as patas para saltar e atingir o chão, arqueando o corpo como um monstro selvagem. Era idêntico a besta maior, porém em uma versão que não passava dos trinta centímetros.


A criatura pôs a pata na poça de sangue e pareceu sorrir através do olhar maroto, erguendo a mão par ao alto. Repentinamente a garota ficou de pé e estendeu a mão, comandada por uma força maior e muito mais forte.


- Mamãe... – Grunhiu ela em pânico.


- Veja... – Ordenou Ghost virando o rosto da mulher na direção da garota. – Veja o que você criou!


A garota empalidecia conforme o sangue se esvaia pelo ferimento. A criatura virou para o lado e caminhou em direção ao grande espelho situado ao lado do armário, que ia do chão ao teto. A garota acompanhou como se a besta fosse sua sombra ou reflexo, mesmo que não significasse nada disso. Ergueu o pulso e desferiu um soco na superfície. Seu toque não fez nada, porém o da garota ao imitá-lo contra- gosto sim, despedaçando o espelho em milhares de pequenos cacos e pedaços afiados.


- É isso que acontece quando se é mal... Ou quando se permite que o Terror exista dentro de você. – Murmurou Ghost encostando a testa na bochecha da mulher. Farejou o ar para degustar o desespero... Era sua história, seus personagens... Seu fim.  – Existe uma força dentro de todos nós... Aquela que se cria quando temos medo, receio ou fazemos algo do qual nos arrependemos. Ela se alimenta daquilo do qual não gostamos, mas no final das contas fazemos... A angústia, o sofrimento e a dor... Há um dia em que ela não agüenta viver em nossas entranhas, e é quando o monstro nasce. Ele é real, ele é o terror. Ele é aquilo que você não quer encontrar, mas que almeja encontrá-lo acima de todas as coisas. A vergonha que você se torna o alimenta... Não podemos tocá-lo, não podemos evitá-lo... Porque ele sempre viverá no fundo de nossas mentes...


A criatura abaixou e apanhou um caco. A garota o imitou e olhou apavorada para a mão ensangüentada.


- ...Enquanto dorme, está sozinho ou com medo ela virá, porque é quando tem mais força.


A mulher tentou gritar, mas não conseguiu. Estendeu a mão em direção a filha, porém antes que conseguisse sequer pronunciar uma palavra, ela enfiou o caco de vidro no próprio peito. A criatura abaixou e juntou um amontoado de cacos de vidro e enfiou na boca, mastigando sem se importar com a dor. A garota não conseguia gritar, nem se mover... Seus pensamentos desejavam milhares de coisas, mas a única intenção era aquela... Cravou o caco no próprio rosto e fez movimentos simétricos, projetando cortes brutais e que perdiam sangue. Deslizou a ponta afiada pelos braços e pernas, exatamente como a criatura negra fazia. A dor lhe consumia o corpo e as entranhas, o pânico invadia seus pensamentos... E quanto mais terrível se sentia, mais o Terror se apossava. Sua visão turvou e a respiração entrou cortada pelo peito, a fazendo se atirar sobre o armário e procurar algo em que segurar.


E então a escuridão veio... A mesma que estava presente no terror.


- A humilhação... – Murmurou Ghost agora a observando de perto. – Aquela dor que arde na alma e reflete na carne.


Ghost sacou o punhal da cintura apreciando os grunhidos que irrompiam de sua garganta. Lambeu a lateral de seu rosto enquanto deslizava as mãos sem pudor pelo corpo dela, rasgando seus pulsos com a lâmina da outra mão. Largou o punhal no chão, degustando o odor de morte... Banhou as mãos nas poças de sangue que sujavam o chão e deslizou-as pelo próprio rosto, afim de buscar o clímax para aquela situação cruel e ao mesmo tempo prazerosa. Quando ouviu o último suspiro sair da carcaça abaixo de si, ficou de pé e encarou de frente o monstro de seu próprio Terror. De perto parecia muito maior...


Estendeu a mão e tocou seu abdômen mucoso, puxou os dedos e admirou a lista grudenta que se estendeu no ar. Arregalou os olhos quando a dor mais uma vez ardeu em seus ossos. Arquejou e antes que pudesse abaixar, a fera o agarrou pelo pescoço, içando no ar como se não pesasse nada além de merdas gramas. As garras afiadas prensavam e feriam a carne... Não que Ghost sentisse medo, mas aquele corpo tinha o terror... Tinha medos apesar de tudo.


 A angústia do ar que faltava apertou seu peito e lacerou a carne, enquanto lutava para se livrar daquilo. A pele avermelhou, os olhos esbugalharam e as pernas dançaram no ar. Era inevitável... Como a morte. Estendeu a mão para tocar a face da besta e perdeu as forças muito antes disso, mergulhando naquele estado terrível de dor. Ofegou, brigou e cedeu a sensação de claustrofobia, como se o enfiassem em um quarto escuro sem janelas ou portas, obrigando-o a passar a eternidade acordado no pesadelo.


 


Quando Ghost conseguiu abrir os olhos o sangue vermelho já escorria por seus braços e manchava o chão e suas vestes. Olhou para a caneta preta partida entre seus dedos que pintava não apenas seu corpo como as palavras escritas na superfície da parede. Marcas de dedos e palavras escritas por uma mescla de sangue e tinta gotejavam no chão e marcavam listras finas. Seus dedos estavam quase em carne viva de tanto pressionar contra a parede e por muito pouco não perdera uma das unhas. Algumas frases foram escritas em seu antebraço, já o resto descrevia detalhadamente tudo o que vira, sentira e passara no quarto ao lado. Escorou as costas na parede perpendicular aquela e sentou no chão, respirando fundo enquanto grunhia de dor. Largou a caneta e suspirou, transtornado com o mal que a humanidade tinha. E o pior de tudo... Talvez estivesse realmente tentado a descobrir mais daquilo.


A porta do quarto abriu e Terror entrou carregando uma bandeja com café e alguns biscoitos. Ghost arregalou os olhos quando viu as luzes vermelhas e azuis piscando no batente de madeira. Um policial passou rapidamente pela entrada carregando um alto-falante e com a mão na cintura, preocupado demais com o desenrolar do quarto ao lado do que com Ghost.


- Você viu? – Perguntou Terror fechando a porta. – Um homem endoidou e matou a mulher do quarto ao lado, lhe cortou os pulsos, mutilou a garota e depois se enforcou.


 


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