- Não sei se acredito nisso.

- O que veio fazer aqui fora?

- Está um dia muito bonito.

- Você gosta do sol?

- Gosto.

- E por quê?

- Por que não gostaria?

- Então não gosta da lua?

Gisele se sentou e olhou para Estevão, com expressão de dúvida e ironia.

- Por que você está dizendo isso?

- Eu gosto mais da lua. Apenas isso.

- Não é apenas isso.

- Tá bom, tá bom... – Os dois riram. – quero te encontrar aqui hoje à noite.

- E por que eu deveria?

- E por que não deveria?

- Porque você não se importa comigo. Não me mandou nenhum recado nessa semana que fiquei doente e... – Ela se lembrou que Fernan lhe deu um soco para evitar que Estevão a machucasse. Será que ela aguentaria sentir dúvida sempre que Estevão lhe fizesse algum convite? Por que o medo dela tinha que andar junto com o mistério dele?

- E...?

- Não é nada.

- Pode falar.

- Não é nada. – Ela se levantou e foi em direção a mansão.

Estevão segurou seu braço e seus olhares se encontraram.

- Eu te vejo mais tarde?

- Veremos. – Ela sorriu e ele sorriu de volta.

***

Estava de tarde. Estevão estava em seu quarto, descansando para ficar a noite inteira acordado com Gisele, enquanto ela e Fernan estavam na cozinha, conversando sobre qualquer coisa que vinha na cabeça deles.

- Acho que ele está tentando se aproximar mais de você.

- Será, Fernan?

- Pelo que conheço dele, talvez sim.

De repente, o telefone tocou. Fernan foi atender. Gisele estranhou, pois o telefone só tocava quando pediam pizza ou outra coisa, mas não sem motivo.

- Alô? – Fernan disse. Era tão raro de se atender ao telefone que o que se dizia ao atender era muito informal.

- Olá. Eu gostaria de falar com a Gisele.

- Quem gostaria?

- Passe o telefone para ela, por favor.

- Diga quem és e passarei o telefone para ela.

E desligou.

- Desligou. – Fernan disse.

- Não disse quem era, né?

- Não. – Fernan voltou a fazer o que estava fazendo e Gisele pegou uma maçã da fruteira.

A cada mordida que dava pensava nas possibilidades. Sua maior suspeita era de que a voz do outro lado da linha daquele telefone fosse Bruno. Um ex-namorado que foi seu primeiro amor, mas nunca se sentiu tão livre quando terminaram tudo aquilo. Ele era como um peso para Gisele porque, quando Bruno estava por perto, problemas também estavam por perto. Foi dele que Estevão a salvou e é um dos motivos para que continue protegendo Gisele.

Nesse momento, ela tinha quase certeza de que era ele que estava atrás dela. Ela temia de que ele fosse capaz de alguma loucura porque sabia que seria muito difícil Estevão deixá-la se comunicar com ele. Já é difícil se comunicar com qualquer pessoa fora daquela casa, imagine com um de seus ex-namorados!

Depois de terminar de comer a maçã, Gisele subiu para seu quarto para se arrumar para a bela noite que teria com Estevão.

Escolheu um vestido azul claro que ia até os pés. Era colado apenas em seu busto, mas, em outras partes do corpo, era bem solto. Colocou sandálias em seus pés e desceu em direção ao jardim. Percebeu que Fernan estava na cozinha, assistindo à televisão e tentou passar sem incomodar.

- Boa noite, Gisele.

- Boa noite, Fernan. – Ela voltou e entrou na cozinha. – Já que você está acordado... Sabe me dizer se Estevão está no jardim?

- Não o vi passar por aqui.

- Ah... – Ela abaixou a cabeça.

- Mas acho que é melhor esperá-lo por lá.

- Será?

- Se ele combinou de encontrá-la no jardim...

- Bom, é que...

- Talvez ele já esteja lá e eu não o percebi passando.

- Pode ser. – Ela sorriu. – Obrigada, Fernan. – Saiu correndo, sorridente, em direção ao jardim.

Andou, andou, andou e não achou quem procurava.

- Estevão? – Ela gritava. – Cadê você?

Depois de tanto procurar, pensou em desistir, até que sentiu uma quente respiração em seu ombro. Seu vestido continha alças bem finas e isso fazia com que parte de seus ombros ficassem amostra, o que atraía Estevão.

Gisele estava com medo de se virar para trás porque ainda tinha medo de Estevão e algo na sua cabeça lhe dizia que talvez não era ele. Mas por que não seria?

- Você veio... – Estevão disse, em tom baixo.

- Sim. – Ela disse. Sua respiração estava rápida e Gisele arranjava coragem para virar para ele.

- Olha pra mim, Gisele. – Ele sorria, sutilmente e esperançosamente. Ela não respondeu.

Gisele colocou suas mãos em seus braços. Estevão pode perceber que seus braços estavam gelados quando, primeiramente, tocou suas mãos e sentiu seus braços quando Gisele tirou as suas mãos de encontro com as de Estevão.

- Por que está com medo de mim? – As mãos de Estevão iam dos ombros de Gisele até seus cotovelos.

- Não estou com medo.

- Não é verdade.

Gisele sentiu a necessidade de olhar nos olhos de Estevão e, por algum motivo, teve coragem de olhar.

- Por que você está tão assustada?

E, depois de olhar naqueles olhos negros, disse:

- Você teria coragem de me machucar?

- Por que está dizendo isso?

- Apenas responda! – Ela gritou. – Apenas responda. – Repetiu, em tom mais baixo, quase chorando.

- Se você tivesse perguntado isso há alguns dias atrás, eu não teria coragem pra lhe responder que sim.

- E hoje? – Ela derramou uma lágrima.

Estevão acariciou seu rosto, removendo a lágrima. Gisele olhou para baixo, esperando a resposta.

- Eu tenho coragem pra lhe dizer que não.

- E por quê?

- Porque não tenho coragem de ferir uma moça tão delicada, gentil, doce, sensível, frágil e linda como você.

- Nossa... – Ela sorriu e o olhou. – Com tantos elogios, vou achar que é verdade.

- E é. – Ele segurou seu rosto com as duas mãos, olhando em seus olhos.

Estevão aproximou seu rosto ao de Gisele. Seus lábios quase se encontraram, quando Gisele desviou o rosto.

- Me dê uma chance Gisele. – Estevão quase sussurrou.

- Eu... – Ela tentou se soltar dele.

Estevão a puxou com força e isso fez com que seus corpos se encontrassem. Gisele o olhou, meio assustada, meio atraída. E então, se beijaram.