Logo eu estava olhando para a forja dos ciclopes no Palácio de meu pai. Tyson estava debruçado sobre algo, trabalhando. Quando se levantou para admirar seu trabalho, pude ver o que produzira: uma belíssima lâmina de espada dourada, provavelmente feita de ouro.

A arma reluzia e parecia cortar ao menor toque. Eu certamente não gostaria de ser inimigo de alguém que portasse uma arma como esta.

Então, Tyson olhou para o lado e me viu. Um sorriso imenso tomou conta de seu rosto e ele adiantou-se com os braços abertos, querendo me abraçar. A imagem tremulou.

– Ei, ei, grandão! - gritei, sorrindo - É apenas uma mensagem de Íris!

Ele recuou, envergonhado.

– Desculpe, irmão -disse.

– Tudo bem - sorri - E aí? Como vão as coisas no Oceano?

Uma expressão sombria cruzou seu rosto, mas foi logo suprimida.

– Nada bem - explicou - Oceano,o Titã, está se fortalecendo e papai não está mais conseguindo derrotá-lo. Nossos guerreiros estão morrendo. A situação está complicada, Percy.

Um calafrio percorreu minhas costas. Na última vez que vi Poseidon, ele aparentava estar mais velho à medida que seu reino era destruído. Eu não gostaria de ver sua aparência agora.

– Tudo vai se resolver, grandão - consolei-o - Logo isso tudo terá acabado.

Ele assentiu e parecia prestes a chorar. Então, sorriu repentinamente.

– Annabeth está por aí? - perguntou

Ótimo, teria que decepcioná-lo.

– Não, Tyson. Ela está cuidando de uma campista.

Ele olhou para baixo, triste. Ficamos em silêncio por algum tempo. A imagem começou a se dissipar.

– Tyson, preciso ir - gritei, torcendo por apenas mais alguns segundos da mensagem - Vai dar tudo certo! Cuide-se!

Então, Tyson desapareceu, ainda triste.

Joguei outra moeda na fonte e solicitei à Íris que me mostrasse Rachel.

Quando a imagem se tornou nítida, pude distinguir minha amiga deitada na cama em seu quarto, ouvindo música com os olhos fechados. Tive que praticamente gritar para que ela me notasse.

Quando percebeu a mensagem, levantou-se e desligou o aparelho de som.

– Percy! - ela parecia preocupada - Você está bem? Não me mandou nenhuma mensagem ontem.

– Estou bem. Apenas tive assuntos importantes para resolver ontem e acabei não tendo tempo para mandar uma mensagem. Está campista nova parece ser algo maior do que parece.

Rachel parecia querer saber do que eu falava, mas sabia que eu não poderia falar algo tão importante em uma Mensagem de Íris. Ela apenas limitou-se a assentir.

Conversamos durante algum tempo, sobre o pai de Rachel obrigá-la a frequentar um Colégio de Moças e outros assuntos amenos.

Em determinado momento, Rachel assumiu uma expressão preocupada.

– Percy, preciso te contar algo importante. Eu...venho tendo visões. Antes que me pergunte, não sei o que significam. Algumas imagens apenas vêm à minha mente. Eu não contei antes porque achei ser algo sem importância - ela me olhou para mim - Entretanto, ontem vi algo que creio ser de seu interesse.

Eu ouvia tudo abismado. Rachel nunca me contara nada parecido. E que visão poderia ser de meu interesse? A opção que veio à minha mente era a de que ela poderia ter visto algo de minha profecia. Ou me visto morto.

Ela fechou os olhos e apertou as têmporas. Então, falou:

– Percy, eu vi Luke prestes a matar Annabeth...

Eu não sei o que ela disse depois, apenas sei que um misto de raiva e medo me invadiu e turvou minha visão. Eu não podia suportar isso.

Luke, eu sempre soube que ele faria algo assim, mas Annabeth aparentemente estava iludida, não percebia o óbvio. Não conseguia aceitar que Luke não era mais seu amigo, que era ruim.

– O que você exatamente viu? - perguntei

– Percy, não confie demais em minhas visões, não são exatas...

– O que você viu? - gritei

Eu não queria ser grosso com Rachel, mas precisava de respostas.

Ela me olhou assustada e explicou.

– Ele pressionava uma lâmina no pescoço de Annabeth.Na verdade, a parte de Luke lutava contra a de Cronos, mas estava se rendendo, conformando-se com a morte de Annabeth. Apoiando a morte dela pelo bem de seus planos.

Eu não podia acreditar no que ouvia. A única coisa que tinha certeza era de que, se isso realmente acontecesse, Rachel teria uma visão minha com a Lâmina no pescoço de Luke.

Eu precisava pensar, arrumar um jeito de evitar que isso acontecesse.

– Rachel, preciso ir. Tenho coisas a resolver na Casa Grande.

Sem esperar pela resposta, agitei a mãe e a imagem se dissipou.

Sentei-me na cama e tentei colocar os pensamentos em ordem.

Eu não poderia simplesmente contar a Annabeth que Rachel tivera uma visão de Luke prestes a matá-la. Entretanto, tinha que avisá-la de alguma maneira.

Não havia como esperar mais, levantei-me e fui à Casa Grande, sem ter noção do que ia dizer.

Percorri todo o caminho em um ímpeto e, ao chegar, fui direto ao porão. Annabeth lia um livro de arquitetura, baixando-o ao perceber minha chegada.

– Preciso falar com você - falei

Peguei um banco e sentei-me em frente a ela, que me olhava com uma expressão confusa.

– O que foi? - perguntou

– Eu preciso lhe pedir. Não, suplicar-lhe algo. Mas, por favor, antes de recusar-se, pense pelo menos em meu pedido.

Ela ainda me olhava confusa. Provavelmente, esperava que eu dissesse alguma coisa idiota e fizesse uma brincadeira. Mas isso não aconteceria dessa vez.

– Annabeth, eu te suplico: não confie em Luke, por nada que ele diga ou fale. Não confie nele.

Ela assumiu uma expressão furiosa.

– Por que você sempre retorna a este assunto? Se quer me provocar, parabéns! Você conseguiu! Agora, se veio aqui apenas para falar isso, por favor, me deixe sozinha.

Ela me olhava furiosa. Eu tinha que explicar-lhe ou minhas palavras não valeriam nada. Eu contaria a verdade, mas tentaria omitir as partes desagradáveis.

– Posso explicar meu pedido? - indaguei

Ela não respondeu, o que deduzi significar um "sim".

– Primeiro, peço que escute tudo pacientemente, sem precipitações - fiz uma pausa para checar se tinha seu consentimento. Então, continuei - Uma amiga minha vem tendo visões e, em uma delas, viu Luke prestes a ferir você.

Agora Annabeth estava realmente furiosa.

– Agora Rachel também vê o futuro? - ok, ela descobrira de quem eu falava - E você confia nela, como sempre. Eu não sabia que tínhamos um novo Oráculo! Obrigada por me avisar.

– Você pode parar um pouco e pensar no que eu acabei de te dizer? Sem precipitações, lembra?

– Percy, você é lento demais para perceber que isso é um plano? Já pensou que sua querida amiga pode estar mentindo?

Agora, eu começava a ficar furioso. Annabeth não estava colaborando com minha tentativa de protegê-la de Luke.

– Por favor, Percy - ela apontou para a porta - Deixe-me sozinha.

Eu queria continuar a conversar, mas, pela expressão de Annabeth, isso não seria possível. Sem outra opção, saí da sala.

Como eu previra, Annabeth não havia me escutado.