Thalia volta a narrar.

–-----------------/------uma semana depois-------/----------------------

– Thalia, sua mãe disse que... - A voz de Annabeth invadiu meu quarto. Com os olhos fechados, tentei capturar pelo som qual era seu próximo movimento.

– Que diabos ... ? - esse era o tipo de palavreado "ofensivo" que Annabeth usava. Ela jogou a mochila na cadeira, e andou até mim. Seus dedos tocaram minha pele gelada.

– Você jurou que estava bem.

Quem jura, mente.

– Às vezes eu acho que nasci ao contrário.

– Isso é Skins.

– Frases são feitas para serem ouvidas e repetidas.

Annabeth ficou em silêncio por longos dez segundos.

– Abra os olhos.

– Para?

– Enxergar, claro.

A princípio, não obedeci. Continuei com os olhos fechados, desfrutando a escuridão em que eu me encontrava. Então, devagar, abri os olhos. As imagens foram lentamente entrando em foco. Annabeth estava ajoelhada do meu lado, com uma expressão sombria. Vi a bagunça que estava meu quarto. Folhas, CDs, livros, tudo espalhado e bagunçado pelo chão. Algumas bebidas alcoólicas e água estavam presentes para completar o festival.

– Tenho que arranjar outro quarto - murmurei - as frases não cabem mais na parede.

Para quem não está entendendo, minha forma de desabafar é escrever na minha parede. Trechos de músicas, palavras, frases e até desenhos. É minha terapia, o modo como eu desabafo.

Annabeth se levantou, sentando- se numa parte da cama sem muita bagunça.

– Você passou a semana toda aqui? - concordei com a cabeça - Cinco dias inteiros?

Dei de ombros.

– Você viajou para aquela feira da escola. Percy também.

– Você conhece mais gente.

– Mas só vocês são meus amigos.

Não conseguia decifrar a expressão de Annabeth. Cautelosa? Triste? Séria, raivosa, nervosa, assustada, com pena, irritada? Tudo e mais um pouco.

– Nem sempre posso ficar aqui pra cuidar de você, Thalia.

– Eu sei. Já sou...

– Grandinha? - fechei os olhos novamente. Lá vinha bomba. - Sendo assim você deveria saber que beber até desmaiar faz mal. Que se isolar do mundo por cinco dias inteiros faz mal! Você sai do quarto pra comer alguma coisa?

– Uma maçã. Depois um sorvete.

– Você quer morrer?

Neguei com a cabeça.

– Tá parecendo.

Olhei-me no espelho. Eu parecia um demônio de tanto que meus olhos estavam inchados e vermelhos, a maquiagem de cinco dias estava borrada e espalhada pelo meu rosto.

– Foi assim que sua mãe começou.

"Você perdeu sua vida meu irmão, você perdeu sua vida meu irmão. Essas palavras vão entrar no coração, e eu vou sofrer as consequências como um cão."

Fuzilei Annabeth com os olhos e corri pro banheiro, chorando. Minha mãe não. Drogada, bêbada, vendendo seu próprio corpo para conseguir um prato de comida. Do quarto pro puteiro, do puteiro pro quarto. Depressão. Condenada a uma vida de merda.

A água escorreu pelo meu corpo, levando parte da dor junto. Depois arrumamos meu quarto. E acabamos assistindo filme, comendo pipoca e brigadeiro.

Irônico, não acha?

– Duvido – eu disse, algumas horas depois.

– É sério!

– Tão sério que você está rindo.

– Estou rindo da sua reação. Você tá feliz... Animada.

Joguei em Annabeth a primeira coisa em minha frente, ou seja, meu sutiã. Annie ria mais ainda, o que a deixava com aspecto de retardada. Ela era séria a maioria das vezes, sempre focada em seus livros de arquitetura ou mitologia. Era dela, sabe? Mas não podíamos a considerar antisocial, pois ela se socializava melhor do que eu. A única exceção era quando Annie se apegava a um de seus livros.

Adeus vida social.

– Ele chega semana que vem.

– Já? – gritei.

– Prepare-se, você vai ver seu ex-peguete.

Ele não era meu peguete. Nós ficamos apenas uma vez, o que resultou num olho roxo e um lábio inchado, logo depois que Luke descobriu. E quem era ele? Nico Di Angelo. Primo de primeiro grau de Percy.

– Thalia...

– Diga.

– Tem algo muito importante que eu preciso te dizer.

Me desesperei. Quase nunca as palavras “muito importante” e “preciso te dizer” saiam da boca de Annabeth. E quando saiam, não era coisa boa.

– Nico arranjou uma namorada? – perguntei.

– Oque? Não!

– Ufa – acabei soltando. Annabeth levantou uma das sobrancelhas, tentando não sorrir.

– É sobre mim... E Percy.

– Annie querida, você sabe o quanto você fica irritante enrolando. Fala logo, desembucha.

– Ele me pediu em namoro... E eu aceitei.

– GLÓRIA DEUS!

Annabeth sorriu.

– E com Nico aqui... Você não ficará de vela.

Mordi o lábio.

– E o melhor - Annabeth continuou - Luke estará viajando com Hermes. - Hermes, pai de Luke, trabalhava com a mãe de Annabeth - Por obrigação, mas vai. Ou seja... Thalico total.

Sorri. A brincadeira de "shippar" novamente.

– Você não era Thaluke?

– Na verdade, sou ThaFelicidade.

Sorri novamente, e aquela frase "É bom demais pra ser verdade" veio a minha mente. Mas logo a afastei, sempre trazia má sorte.

E eu realmente necessitava de paz e felicidade.