Aliaqua escrita por Gabriel Hefesto


Capítulo 3
Respostas.


Notas iniciais do capítulo

Eles sempre tiveram nos observando...



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Haziel


Existem coisas que somente algumas pessoas presenciam em suas vidas, algumas ficam a mercê do medo de forma patética, pois não aguentariam viver sendo criticados por outros seres humanos e por este motivo são vistos como pessoas comuns mesmo tendo o poder de ser maior que os outros. Alguns, como no meu caso, decidem esconder os vestígios que lhe mostraria a sua diferença, ou como prefiro dizer, superioridade, até o momento certo, em um lado para defender algumas pessoas e em outro para surgir no mundo em seu devido lugar, acima de seres viventes.

Desde pequeno, era capaz de ver o mundo de uma forma diferente, enquanto pessoas normais somente viam a forma física um dos outros, eu era capaz de ver um pouco além. Antes eram somente formas disformes, mas com o passar do tempo podia ver criaturas transparentes, ou melhor, fantasmagórica, com um tom arroxeado assim como a aliaqua. Estas criaturas, a qual eu não sabia o nome, mas os chamava de fantasmas quando era mais jovem, vivia ao lado de um ser vivo, humano ou animal, por toda a sua vida. Uns como a minha família viviam sem os seus fantasmas o que era um mistério para mim até um incidente ocorrer.

Com um tempo fui percebendo que uma pessoa que residia na mesma casa que eu estava acompanhado com um fantasma, todo dia esta pessoa cuidava de mim por ordens de meu pai, Robert vivia acompanhado por um ser arroxeado. Só duraram semanas e neste meio tempo uma forma disforme se transformou em praticamente em um ser humano, uma cópia idêntica ao de Robert. Pude perceber que o meu mordomo estava mais apático que o normal, até que ele parou de falar comigo ao invés disto outra pessoa, ou melhor, coisa assumira seu posto.

A primeira vez que aderi contato com este “novo Robert” foi no meu aniversário de 15 anos, acordei e lá estava o meu mordomo para me servir, porém, ele não estava mais acompanhado com o seu fantasma habitual, ao invés disto seu corpo emanava um brilho arroxeado. Ele, assim como o original, fazia tudo perfeitamente, porém, eu sabia como ele era de verdade e por isto poderia ver depois de muita concentração Robert em forma de fantasma, enfim ele havia se apossado do corpo de meu servo completamente.

“Meu senhor, tenha um bom dia.” Fui cumprimentado por Robert ao acordar, mas quando eu olhei para ele tudo que eu vi foi o seu fantasma, olhava para mim de uma forma debochada sorrindo sarcasticamente enquanto eu avaliava o mesmo assustado.

“O que é você?” Foi a primeira coisa que saiu de minha boca sem o meu consentimento, porém eu não me corrigi, pois eu realmente tinha aquela dúvida, estava cansado de chama-los de fantasmas. Ele mostrou-se confuso com a minha pergunta, porém, respondeu assim mesmo.

“Eu sou o seu mordomo, Robert senhor.” Disse ele se sentando na cama também, levantando de onde eu estava disse para ele em um tom firme.

“Chega de brincadeira, eu consigo te ver, sei que não é um humano e sei que não é o Robert.” Ele então olhou para mim profundamente, direto em meus olhos, sustentei o seu olhar para não mostrar fraqueza ao mesmo e em seguida ele começou a rir. Isso deveria ser alguma coisa, pois ele já não tinha a postura de um mordomo.

“Eu não sou o Robert? É claro que sou ele. O que você sabe Haziel, quem é realmente o dono deste corpo, humano?” Ele disse sorrindo para mim, seus dentes agora eram pontudos, não sabia se sempre fora assim ou se mudara agora, porém, percebi a forma dos mesmos quando ele abria a fechava a boca com uma ferocidade no olhar, parecia pronto para me matar a dentadas. Seus olhos mudaram de cor também, os olhos negros de Robert agora eram da mesma cor dos ‘fantasmas’, arroxeado, elas brilhavam maliciosamente sempre que se pousavam em mim.

Mas o que mais me preocupava não eram os seus dentes ou os seus olhos, era o seu pequeno comentário. ‘Quem é realmente o dono deste corpo, humano?’, então quer dizer que esse ser que agora ocupava o corpo de meu mais leal servo sempre fora o dono dele? Eu não podia aceitar isto, eu queria respostas e que fossem do jeito que me agradasse.

“Como assim? Eu ordeno que me explique tudo... Robert.” Falei colocando o máximo de desprezo que conseguia em seu nome.

“Você não me comanda humano.” Ele respondeu, dava para perceber a frieza que continha em sua voz, pelo jeito ele não gostava de receber ordens. “Porém, eu fiz um trato com o outro Robert, então lhe responderei.”

“Nós vivemos neste mundo desde que fora criado, muitos disseram que foram por uma explosão universal, outros por uma intervenção divina, bom na verdade foi por causa...” Ele começou mas eu o interrompi.

“Quem são vocês?” Perguntei curioso, como ele estava sentando em minha cama, fui em direção a cadeira que ficava perto de minha mesa de trabalho aproximei-a do local onde ele estava e sentei lá.

“Não me interrompa ou não terá suas respostas.” Ele sibilou furioso, respirou uma vez e disse. “Respondendo a sua pergunta, nós somos vocês.”

A sua resposta me deixou em choque, como assim eles são a gente? Como seres tão desprezíveis podem se nomear humanos? Esperei ele continuar o seu monólogo, desta vez quieto.

“Como estava dizendo antes, vivemos com vocês desde que o mundo fora criado, sempre à surdina e sempre ao seu lado, mas especificamente somos a parte que vocês querem esquecer. Você já deve ter reparado que mesmo quando não gosta de uma coisa, se sente tentando a fazer aquilo, o motivo somos nós. Durante muitos milênios vivemos sussurrando nos seus ouvidos, isto mesmo, somos a sua curiosidade e o oposto de vocês, mas não deixamos de ser vocês.

Agora você deve estar se perguntando, como foi que nunca notamos vocês antes? Eu lhe respondo, sim, vocês nos notaram muitas vezes, sempre que vocês estão dormindo, estamos ao seu lado te assistindo, sempre que estão sozinhos estamos juntos com vocês, é claro que tem uns... você nos nomeou como fantasmas né? Bom, claro que tem uns ‘fantasmas’ que abusam disto, e por este motivo vocês sentem medo de ficarem sozinhos ou de dormir, porque, bem, eles estão se alimentando de suas almas para enfim se apoderar de seus corpos.”

Eu estava de boca aberta, quer dizer que estes fantasmas sempre viveram conosco? Isto era impossível de se acreditar, o que me fez fazer uma pergunta ao tal Robert.

“Mas então porque ninguém havia visto vocês antes?” Perguntei curioso para ele.

“Quem disse que ninguém nos viu antes, uma pessoa nos viu é claro e pediu a nossa ajuda.” Ele falou se levantando, devagar foi em direção à porta e complementou. “Temos que descer, lembre-se do café da manhã.”

Mas eu ainda tinha muitas perguntas para fazer, levantando continuei o interrogando.

“Quem o encontrou?”

“Não estou autorizado a te dizer.” Respondeu com rispidez.

“Porque a nossa família não tem um fantasma também? Não consigo vê-los.” Perguntei desconfiado.

“Claro que vocês possuem, só não estão aqui, faz parte do acordo com aquela pessoa.” Ele disse começando a descer a escada. Estávamos no quinto andar, ainda dava para fazer algumas perguntas.

“Porque vocês são arroxeados?”

Ele parou então de repente, virou-se para mim sorrindo, seus olhos mais uma vez faiscando de prazer.

“Isto faz parte do acordo.” Disse ele satisfeito e depois continuou. “E tenho que te avisar uma coisa, agora que sabe o que eu sou, você só pode me dar sete ordens, e creio que você já gastou uma lá em cima.”

“O que acontecerá quando minhas ordens acabar?” Perguntei para ele mostrando indiferença, imaginei que teria algo desagradável vindo quando ele sorriu para mim.

“Segredo.” Ele respondeu abrindo um largo sorriso. “Mas até o momento que for precisar realmente de mim...” Ele fechou os olhos e começou a se concentrar, sua forma tremeluziu em minha frente e lá estava o Robert fantasma separado do corpo do Robert.

“Senhor? Como viemos parar aqui?” Disse o meu mordomo com os seus olhos voltando à cor original, seus dentes, fiquei aliviado por isto, eram de um humano comum.

“...eu estarei sempre observando você.”


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Notas finais do capítulo

...e jamais havíamos sentido suas presenças.



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