No entanto, ninguém parecia se importar, ou pior, notar. A luminária piscava freneticamente e cada vez com mais velocidade, as janelas do local se abriram com um enorme estrondo, Sarah chegou a pular da cadeira de tanto susto que levou. As diferentes canecas enfeitadas de porcelana começaram a se mexer de um lado para o outro, em razão do vento forte repentino. A cafeteria ficou fria, como se não existisse felicidade no mundo e nenhum cliente, exceto Sarah, deu algum sinal de manifestação.

" O que está havendo, estou imaginando isso tudo? " pensou ela enquanto tombou da cadeira numa falha tentativa de ir embora. As portas pelo qual entrara se fecharam, impossibilitando a saída.

Sarah decidiu tentar, em vão, pedir ajuda a uma mulher idosa que permaneceu lendo o noticiário local sem, ao menos, notar sua presença.

– Está me ouvindo, senhora? Por favor dona! O que está acontecendo aqui?!

Ninguém a ouvira, num silêncio de dar arrepios, todos continuaram em seus mesmos postos, feito estátuas humanas.

Em mudança quase que instantânea, os clientes voltaram a se mover e falar normalmente como se nada tivesse acontecido, então Sarah olhou ao seu redor, a procura das janelas, aliviou-se ao perceber que o sol se abriu e tudo voltava, aos poucos, ao normal.

Sem esperar mais um segundo, tomou um gole de seu cappuccino, pagou a conta e seguiu ás pressas para casa, sem ousar olhar para trás. No caminho, as lembranças atormentaram sua mente. Aquilo não podia ter sido real, não podia. Atordoada com seus pensamentos, Sarah se entregou a suas emoções, lágrimas começaram a escorrer em sua face, indo parar nas suas roupas, enquanto ela corria desamparada tentando alcançar uma resposta. Deixou que seu corpo esbarrasse em várias árvores enquanto corria, ferindo-a cada vez mais. Sarah desistiu repentinamente e desmaiou, assim que chegou ao chão, permaneceu imóvel em uma poça de seu próprio sangue.

Um rapaz de cabelos castanhos, que passeava pelo local, encontrou Sarah banhada em sangue, ainda desmaiada. Curioso, sobre como uma garota poderia ter se ferido tanto em meio ao nada, decidiu verificar se ainda estava viva. Ao notar que, a menina sobrevivera, rapidamente agachou-se e estendeu seus braços para sentir seus batimentos. Eram fracos, fracos até demais para um ser humano comum. Mesmo estranhando a situação, pôde notar, agora que estava perto, que reconhecia aquela garota. Era aquela garota de antes, a que deixou-o hipnotizado por tamanha diferença. Ela era linda, linda mesmo, entretanto não só pela sua beleza e, sim pelo seu jeito fechado, que a tornava incrivelmente desejável.

Decidiu tocá-la novamente, pousou a mão em seu rosto macio e pálido e retirou um grito estridente da garota, fazendo com que se levantasse parcialmente. A garota ainda estava muito tonta, não conseguia se movimentar direito, só tentava, em vão, segurar o nada. O rapaz a segurou em seus braços e a levou para dentro de uma casa verde rodeada por um imenso jardim florido, ali perto.

Assim que adentrou em casa, subiu um pequeno lance de escadas e a colocou deitada em uma baixa cama de madeira, com grossos cobertores brancos preparados para o inverno frio da Inglaterra. O garoto a deixou descansando enquanto seguiu para outro cômodo.

– Dennis, preciso que me ajude. - disse ele abrindo a porta e adentrando no quarto.

– O que houve, Nicholas, de novo seus problemas amorosos?

– Deixa de graça, isso é sério, encontrei uma menina desmaiada na rua hoje e a trouxe para casa.

– Você ficou doido? - Dennis encarou-o surpreso.

– Não esperava que eu a deixasse lá, não é? - falou Nicholas cruzando os braços.

– Me leve até ela, se for sério, temos que chamar a ambulância.

Nicholas agarrou o braço de Dennis e o puxou rapidamente até o cômodo em que Sarah estava. Era um quarto pequeno, continha apenas uma cama de casal coberta de travesseiros pretos, uma mesinha de canto branca, onde havia inúmeras revistas de esportes e um armário entreaberto, deixando transparecer várias roupas masculinas, algumas arrumadas em cabides, outras jogadas.

O queixo de Dennis caiu.

– Sarah ! - gritou espantado.

– Como a conhece?

– Não importa agora, temos que levá-la para o hospital, chame a emergência. - disse ele correndo em direção a Sarah e segurando-a pelos braços fortes. Acariciou sua cabeça e disse num tom consolador:

– Vai ficar tudo bem.

Nicholas já havia saído do quarto e estava telefonando para a emergência, quando ouviu um grito agudo vindo de cima.

Sarah acordou, parecia mais saudável agora. Sarah olhou assustada para os dois meninos e se embrulhou na cama com os joelhos dobrados.

– Sarah, você está melhor? - perguntou Nicholas, preocupado.

Ela negou e revirou a cabeça. Dennis olhava fixo para ela.

– Nós vamos te levar para casa, está bem? - Dennis tentou acalmá-la.

– Eu consigo... Não precisa. - ela disse enquanto se levantava com dificuldade. - agradeço.

Nicholas assentiu e a acompanhou até a porta.

– Qualquer coisa, pode contar comigo. - ele disse tocando-a no rosto levemente. - não se aflija assim,Sarah.

Sarah desmoronou, estava deixando se levar por seus sentimentos e deixou que a tocasse. Nicholas de despediu levando seus lábios avermelhados a testa de Sarah. Ele era muito atraente, qualquer menina se despedaçaria por ele.

Ela não sabia muito bem como lidar com esse pensamento, mas um pouco receosa, disse:

– Obrigada por tudo, Nic.

E saiu da casa, indo á passos largos para sua casa. Contudo, Sarah encobriu suas feridas com seu casaco quando chegou, evitando qualquer tipo de suspeita.

Subiu os degraus da escada e adentrou em seu quarto. Se lançou na cama e permaneceu lá por um bom tempo, até que suas emoções levassem a adormecer, sonhando com explicações para os acontecimentos.