Era 31 de Outubro, Dia das Bruxas, estava uma noite chuvosa e escura em Bristol, uma cidade populosa da Inglaterra. Raios e trovões infestavam o céu e tornavam a noite, um tanto, sombria.

Tibrya não conseguia suportar a dor que estava sentindo. Exausta, se sentou na cama com uma certa dificuldade.Deitado ao seu lado estava Raymond, seu marido. Apesar de estarem casados há dois anos, eles se conheceram quando ainda estavam no colegial, mas não eram íntimos e pouco conversavam.Raymond sempre foi magrelo e pouco atraente, e costumava frequentar a Biblioteca Escolar todos os dias e, pelas estantes de livros, observava Tibrya com suas amigas.Pode-se confirmar que Raymond sempre foi apaixonado por ela, mas nunca teve coragem suficiente para dizer no colegial, afinal, Tibrya não lhe dava a menor bola, era apaixonada por outro garoto, Charlie Figghs, eles namoraram por dois ou três anos e depois terminaram, já que Charlie se mudou para Sydney, na Austrália.

Tibrya olhou de relance para Raymond, que havia acordado devido aos fortes trovões da noite.

–Está se sentindo bem? - perguntou ele.

–Nem um pouco, sinto que vou desmaiar a qualquer momento.Não é possível eu sentir tanta dor assim, o bebê está para nascer só amanhã.

–Pode ser que ele venha antes, Tibrya. Melhor irmos para o hospital.

–Mas, a doutora me assegurou que ele só viria amanhã, não tenho disposição de ir até lá agora...

Tibrya foi interrompida pelas fortes dores, abaixada e com a mão na barriga, ela berrou de dor.Raymond, rapidamente, tirou o roupão e colocou um pulôver, estava decidido á levá-la para o hospital.

–Aguente firme, vou chamar um táxi!- disse ele, saindo ás pressas do quarto.

Tybria se apoiou na cabeceira da cama e se levantou lentamente, as dores já estavam começando a ficar insuportáveis. Ela andou até o cabide perto da porta e tirou de lá, um casaco marrom de renda, assim que o colocou, viu o chão do quarto todo molhado e desatou a chorar, a bolsa estourou, começou a pensar na possibilidade da perda do bebê.Nesse momento, Raymond entrou no quarto e a pega no colo, não se importando com essa possibilidade, simplesmente queria levá-la ao hospital de qualquer modo.

Havia um táxi esperando em frente á casa e não parava de buzinar, Raymond nem se deu o trabalho de pegar um guarda-chuva, colocou Tybria na traseira do táxi e se sentou á sua esquerda. O táxi estava indo devagar demais e o trânsito não ajudava.

–Senhor, você poderia aumentar a velocidade? Ela está para ter um neném!

O motorista aumentou ligeiramente a velocidade, na noite chuvosa e escura que estava, andar devagar era o melhor a se fazer. Após alguns minutos de viagem, chegaram ao hospital. Raymond pediu para que o motorista esperasse um minuto e saiu correndo em direção á porta do hospital, deixando Tybria dentro do táxi. Assim que entrou no hospital, saiu em direção á recepção, estava suando frio e parecia desesperado.

–Posso ajudar? - perguntou a moça da recepção

–Eu preciso de uma cadeira de rodas urgente, minha mulher está grávida, a bolsa acabou de estourar e precisamos de alguém que faça o parto o mais rápido possível!

A moça pegou o telefone e discou um número.

–Alô? Anne, mande Thomas se dirigir para a sala de parto número quatro imediatamente. Temos uma emergência aqui! Ah, e traga uma cadeira de rodas para a recepção urgentemente!

Ela desligou o telefone e olhou para Raymond, que, ainda estava em desespero.

– Se acalme, vá para a sala de parto quatro e o espere lá.

Anne trazia a cadeira de rodas pelo corredor do hospital.

–Ali, senhor, a cadeira de rodas já está aqui, pode usá-la. Obrigada, Anne.

–Agradeço muito. - disse Raymond

E sem ouvir o que a moça da recepção disse, saiu em disparada, levando consigo a cadeira de rodas, para o táxi estacionado na rua. Abriu a porta do carro e colocou Tibrya na cadeira de rodas. Estava virando a cadeira para voltar para o hospital, quando o motorista disse:

– Cadê meu pagamento?

–Sim, claro. - disse Raymond enquanto apanhava uma nota de vinte na carteira e entregando para o motorista

–Obrigado e ... Boa sorte.

Raymond agarrou com firmeza a mão de Tibrya e empurrou a cadeira de rodas até a sala de parto. Thomas já estava lá.

Tibrya deitou-se em uma cama na sala de parto. O nervosismo pairava no local. Raymond estava ao seu lado, completamente tenso. Acreditava que, com esse filho, Tibrya fosse começar a sentir algo por ele. Raymond podia ser qualquer coisa, mas não era cego. Ele via que Tibrya não o amava, mas, mesmo assim, se esforçava todos os dias para conquistá-la. Quando soube que sua mulher teria um bebê, a esperança dele se acendeu. Ele via que aquela criança traria algo de especial á suas vidas. Talvez, ela seja capaz de unir ele e Tibrya, talvez seja capaz de fazer algo mais. Não podia saber, mas sentia que seu bebê era especial. Deveria ser algo que todos os pais sentem, mas ele não parava de acreditar nisso.

Dr.Thomas terminou com os preparativos do parto. Pediu que Raymond se afastasse. Absorto em pensamentos, Raymond se pega com as mãos ao rosto. Levanta a cabeça e olha o relógio de pulso em seu braço. Era meia noite em ponto. Passara cerca de 8 minutos pensando em como sua vida poderia melhorar com essa criança e não ajudou sua mulher. Ficara parado cobrindo o rosto o tempo todo, enquanto Tibrya sofria a dor sozinha. Ele foi inútil.

–Se orgulhe, Raymond - disse Dr.Thomas, - é realmente uma linda menina.

Tybria ainda estava deitada, mas dessa vez, segurava um pedacinho de gente em suas mãos, sua filha. Uma menina bem diferente das outras, tinha cabelos negros, como a escuridão da noite e seus olhos eram um total contraste com seus cabelos, eram lindos olhos azuis, tão claros quanto o céu sem nuvens numa tarde de primavera.

E o nome dela era Sarah Rawling.